O Retorno da Gula Coreana

Tradução: Teverrr

Revisão: Melo


Volume 1

Capítulo 22: Uma Estrela Brilhando De Novo (2)

“Um cerco? Esqueletos? Morte?”

Não era à toa que aquela missão permitia um grupo de até seis participantes. Era possível que Seol ficasse cercado por inimigos logo no início. Porém, não importava o quanto encarava aquele pedaço de papel, a coloração permanecia amarela. Logo, precisaria prestar atenção. No entanto, lembrou-se que Kang Seok também emanava aquela mesma cor.

“Se esses caras forem do mesmo nível do Nóia…”

Precisava arriscar, pois caso conseguisse a recompensa, poderia ganhar até 15000 pontos, quase metade dos 34000 que pretendia. Além do mais, os outros sobreviventes não pareceram muito interessados nesse objetivo, o que era perfeito.

“Mas eu tenho que ser cuidadoso.”

Decidiu tentar, colocou as mãos no bolso e puxou as bolas de feitiço que trouxe. Iria descobrir se veneno funcionaria contra aqueles inimigos na marra. Quando matou o Gaekgwi, conseguiu perceber que aquele gás venenoso possuía elementos explosivos e se combinasse isso com o Inflamar, talvez conseguiria uma forte arma.

“É melhor combinar esses dois mesmo…”

 Com cuidado, os dividiu em dois grupos — alguns seriam usados juntos, outros não. Estaria mentindo caso dissesse que não sentia-se nervoso. Enfiou-os de novo no bolso e agarrou com mais força a barra de ferro antes de rasgar o pergaminho com os dentes.

Tinha sido teletransportado para um local subterrâneo semelhante à uma caverna. De cara, não pôde deixar de perceber a altura do teto.

“Essa merda tá muito baixa pro meu gosto.”

Um pouco à frente de onde estava, vários esqueletos estavam parados o encarando.

O seu plano era começar com uma explosão. Puxou a combinação de Névoa Venenosa e Inflamar do bolso e estava prestes a arremessá-los, mas parou no meio da ação.

An?

Percebeu que estava em um ambiente totalmente diferente daquele em que derrotara o monstro no Tutorial. Atrás dele havia uma gigante parede. Não tinha espaço para correr e nem recuar, portanto, usar aquela combinação de feitiços ali seria quase suicídio. Engoliu em seco. Desde o começo, a situação mostrou-se mais difícil do que pensou.

— Kwaaahhaaa!!! — rugiu um esqueleto usando um capacete. Segundos depois, vários outros começaram a bater os seus dentes uns nos outros. Levantaram as armas e começaram a se mover.

Percebendo o perigo da situação, Seol jogou o Inflamar primeiro, causando uma pequena explosão e derrubando dois dos inimigos. Talvez por ter sido usado sozinho, o poder daquele item foi muito menor do que esperava. Tentou ficar calmo e logo pegou a segunda combinação que tinha: Teia de Aranha e Ácido Clorídrico.

Arremessou esses dois outros feitiços. O primeiro conseguiu prender a primeira horda que se aproximava, enquanto o segundo os derreteu quase que por completo. De maneira geral, o efeito foi bem melhor. O problema é que tinha que enfrentar outros 20, que continuavam avançando ao mesmo tempo que tremiam os dentes.

Precisava diminuir o número de inimigos o mais rápido que pudesse, pois logo ficaria encurralado contra a parede. Recuou um pouco e pegou mais bolas de feitiço do bolso.

Fortes raios de luz saíram da quarta bola que jogou. Com um zumbido alto, ela explodiu e emitiu eletricidade, fazendo uma reação em cadeia com os inimigos próximos. Os esqueletos tremeram um pouco antes de caírem no chão. Conseguiu derrotar a segunda horda.

— Guaaah — gritou de raiva o esqueleto que usava um capacete. Ele parecia ser o comandante daquele bando, então aquela explosão de ódio ao ver todos os seus subordinados sendo derrotados não era algo surpreendente.

Enfurecido, o líder segurou um machado, correu e deu um grande pulona sua direção, parecendo querer encerrar aquela luta com apenas um ataque.

Surpreso, Seol ficou imobilizado. Não esperava que o inimigo pudesse fazer um ataque daquele jeito. Estava prestes a pegar mais três bolas de feitiço, mas teve que usar a barra de ferro para se defender. Contanto que conseguisse se defender bem dos ataques, ele poderia acertar aquele esqueleto com alguma de suas combinações, mas antes…

CLANG!!

Balançou para o lado, estava surpreso. Aquele ataque era muito mais forte do que esperava. Conseguiu se defender, mas o impacto o fez perder a postura. O machado foi brandido novamente, desta vez fazendo uma linha diagonal e destruindo a barra de ferro como se não fosse nada. Antes que pudesse pensar, aquela arma já estava no meio de outro movimento, mas dessa vez iria atingi-lo no tórax exposto.

“Eu vou morrer aqui? Assim? Mas não era só ‘Atenção Necessária’? Sobraram alguns itens para usar e ainda não estou em uma posição muito ruim…!”

Um turbilhão de pensamentos passou pela cabeça de Seol, mas os seus instintos diziam que era tarde demais. Desistiu de contra atacar e decidiu fazer uma finta com o pouco reflexo que lhe restava. Enquanto deixava as costas expostas, ele agachou o máximo que conseguiu.

Corta!! 

A lâmina afiada do inimigo não cortou o inimigo, mas atingiu algo — uma bolsa que continha todos os mantimentos da loja de conveniência. De repente, uma forte luz apareceu e penetrou os olhos do esqueleto.

Kieeeeee — gritou.

Não havia se recuperado do impacto ainda, mas conseguiu se levantar apoiando as mãos contra a parede. Recobrou a postura e olhou para o adversário. Mesmo que estivesse um pouco zonzo, ele ainda conseguiu ver o inimigo gritando de dor enquanto derretia. Aquele pensamento rápido havia o salvado, mas não podia esconder o sentimento de surpresa pela rápida virada de mesa.

— O-o que aconteceu?

Conseguiu sobreviver, mas isso não significava que os problemas tinham acabado. Saiu correndo para pegar a bolsa e verificar o que sobrou. Ao analisá-la, pôde entender o motivo de ter vencido.

— Agora eu entendi…

O Espelho da Sabedoria, um item ESPECIAL que havia tirado da máquina, supostamente, era forte contra Mortos. Pegou aquele objeto e apontou a luz que emanava no capacete do esqueleto. Todos os ossos do corpo daquele ser começaram a mudar de cor quase que no mesmo instante. Em poucos segundos, aquele monstro se transformou em cinzas.

Porém, ele não foi o único. Todos os outros presos na Teia de Aranha, até os que estava recuando. No momento em que aquele brilho os tocava, todos se transformavam em meras cinzas enquanto gritavam em tristeza. Depois de eliminar todos os alvos, a superfície do espelho rachou, demonstrando que já havia cumprido o objetivo no qual fora feito.

Você completou uma missão de dificuldade “Difícil”.

1000 Pontos de Sobrevivência foram adicionados à sua conta.

Conta: 28100 PS

 

***

 

Quando retornou à Zona Neutra, um pequeno tumulto começou. Depois que o sobrevivente “número 1” desapareceu, a multidão foi verificar qual missão ele tinha escolhido, mas quando viram, ficaram embasbacados. Ninguém ali tinha ousado em tentar completar um pergaminho na dificuldade Normal, mas ele já estava indo atrás dos de nível Difícil? Sozinho ainda? As opiniões foram até divididas. Alguns diziam que ele tinha se achado muito, outros disseram que era melhor pagar para ver. No final, Seol havia retornado em menos de cinco minutos.

Como a única penalidade por não conseguir completar aquele objetivo era a morte, o seu retorno significava apenas uma coisa.

— Eu não acredito — murmurou Hao Win.

Era possível dizer que a expressão de surpresa dele era muito maior comparada a dos outros. Como já havia completado algumas missões, tinha montado um plano de mais ou menos como alguém deveria tentar sobreviver naquele local. Acreditava que, se alguém quisesse completar determinados objetivos, essa pessoa teria que fazer algumas preparações antes, comprando vários itens disponíveis nas lojas.

E, mesmo que formasse um grupo com indivíduos com os níveis de habilidades parecidas, nunca, em nenhuma circunstância, deveria tentar completar aquelas com uma classificação acima de “Normal”. Pelo menos não agora. Talvez fosse aquilo que Odelette Delphine estava tentando falar. No entanto, aquele cara da Coréia já tinha completado uma missão com o grau de dificuldade duas vezes maior do que “Normal”?

— Como? Ele já consegue usar magia? Hmm — Estava pensando em se aproximar de Seol e perguntar, mas acabou desistindo por agora. Aquele cara estava imóvel, no mesmo lugar que reapareceu. Uma atmosfera estranha o circulava, parecia que estava encarando um soldado que acabara de retornar de um campo de guerra sangrento.

Quando se aproximou para tentar entender melhor a situação, viu a bolsa dourada que tanto queria partida quase que em duas, enquanto a expressão do dono parecia ser de nervosismo e contemplação ao mesmo tempo.

Então, Seol começou a se mover. A multidão ficou o encarando, em silêncio, enquanto ele subia as escadas.

 

*** 

 

Não conseguiu lembrar como voltou para o quarto. A sua cabeça doía e ele se sentia tonto. Ao recobrar melhor os sentidos, pôde perceber que estava coberto de suor. Um calafrio correu pela espinha. Parecia estar mais calmo, porém o seu coração continuava acelerado. Pegou uma garrafa de água de dois litros e a bebeu sem parar.

Finalmente, a sensação de sair vivo do abismo o atingiu.

Toc, toc…

Ouviu alguém na porta e levantou a cabeça, mas decidiu não ligar e voltou a se deitar. Não queria falar com ninguém no momento. As batidas continuaram, mas como ninguém respondia, em algum momento elas cessaram. Ficou parado observando o teto.

“Quanto tempo passou?”

O silêncio continuava. Os seus olhos, ainda com medo e em choque, começaram a se fechar bem devagar.

“Será que eu coloquei muitas esperanças na minha habilidade?”

O pergaminho brilhava em amarelo. Pensou que poderia completar a missão sem muitas dificuldades a julgar pela experiência que teve com Kang Seok. 

“Ou eu fui muito descuidado?”

Não é como se tivesse pensado que seria muito fácil. Sabia que poderia ser bem perigoso, mas achou que conseguiria lidar bem com a situação.

“Acho que fui muito relaxado…”

Mas não havia se preparado? Checou todas as bolas de feitiço e até as dividiu em possíveis combinações…

“Fui muito precipitado…?”

Fechou os olhos por completo e quanto mais tentava analisar as ações que tivera, mais tolo parecia. Pelo menos tinha conseguido completar a missão, ou melhor, mal conseguiu completá-la. As decisões erradas que fez quase o mataram. Ter retornado vivo era quase um milagre.

O “Nove Olhos” não mentiu. Pensando bem, ele poderia terminar aquela tarefa se fosse muito cuidadoso. Tinha até o melhor item para isso. O que aconteceria se ele puxasse logo de cara o Espelho da Sabedoria? Esqueletos ou Mortos, os dois já não tinham mais vida. Por que não conseguiu ver essa semelhança tão óbvia? Ou o que aconteceria se ele levasse uma combinação diferente de bolas de feitiço? Confiar apenas no que aconteceu no Tutorial foi patético.

No final, a culpa era dele mesmo. Fingiu não estar relaxado. Fingiu não estar muito confiante. A sua mente e ganância estavam focando apenas em conseguir os pontos o mais rápido possível. Ainda não tinha sido tão presunçoso assim.

“Tem alguma coisa errada…”

Ele já tinha feito algo com a própria força? Mais e mais pensamentos fluíam em sua mente enquanto construía tal raciocínio. Não fora sua própria força que fizera o Gaekgwi fugir no auditório? E quando passou por todas as armadilhas na segunda missão? Foi tudo graças à sua “Visão Futura”, que ele nem sabia como ativar. Mais importante, não foi como se estivesse consciente o tempo todo. As ações foram reflexos gerados por toda a emoção que sentia em ocasiões tão críticas.

Matar aquele monstro só foi possível porque a zona segura o protegia. Também só estava com a maior pontuação devido às dicas do Diário de um Estudante Desconhecido.

Tinha ficado convencido. No momento em que pisou no auditório, foi reconhecido como o portador da Marca de Ouro e todos demonstraram respeito. Muitos tentaram segui-lo, e outros até o adoraram. A menor de suas ações atraía muita atenção. Todos diziam que ele era especial de alguma forma. Devia estar aproveitando a atenção e reconhecimento, mesmo que dissesse que não as queria, que não gostava…

 


Na realidade, ele era fraco. Já sabia muito bem quem era no momento em que perdeu a habilidade ainda na Terra. Sabia muito bem que tipo de lixo era. Não lhe foi oferecido muito desta vez?

“Seu filho da puta burro…”

Sentiu-se envergonhado. Levantou, pegou a garrafa que segurava e derramou água na própria cabeça.

— Você fica fodão e isso é tudo que pode fazer? — disse para si mesmo. 

Continuou parado um tempo com os olhos fechados. Estava tentando se acalmar. No momento em que as emoções se acalmaram um pouco, abriu novamente os olhos.

— Porra…

Não era mais o reflexo da ganância. Começou a refletir sobre os seus passos desde quando entrou na Zona Neutra.

“Por que eu quero tanto a Ambrosia?”

A obsessão começou no momento em que Maria entregou aquele panfleto…

Não. Não era isso. Já sabia da existência da loja VIP antes disso.

— Talvez você até consiga usar a loja VIP…

O Guia, Han.

Quando lembrou do rosto daquele homem, percebeu que havia esquecido de algo. Por que ele escolheu aquele momento para dizer aquelas palavras para Seol? Ainda podia sentir algumas gotas de água caindo do cabelo quando decidiu pegar a bolsa. A abriu e começou a procurar até achar três folhas de papel muito bem dobradas.

Pegou uma e a desdobrou.



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