Volume 1

Capítulo 7: Partida

Após ter feito uma visita à floresta de Avarius, Helena prosseguiu ao palácio para descansar depois de tanta caminhada. Seu corpo começou a reclamar pelo esforço que havia feito.

Tendo chegado ao palácio, agora andava pelos corredores em direção aos seus aposentos. Pelo caminho, encontrou seu irmão caçula. Um menino de olhos azuis que compartilhava dos mesmos cabelos dourados que ela. Ele estava acompanhado de uma serva que encurvou a cabeça perante a presença da princesa.

— Irmã! — O menino correu a sua irmã com os braços abertos.

— Henrique! — Helena abriu um sorriso em seu rosto enquanto agachava para dar um abraço ao seu irmão. — Há quanto tempo?

— Verdade! — disse Henrique, envolto aos braços calorosos de sua irmã. Sentia de perto seu dócil cheiro, as madeixas dos seus cabelos dourados pousarem sobre seus ombros.

— Como foi a visita de estudos ao norte de Acácias? — perguntou Helena enquanto afagava seus cabelos dourados. — Foi boa?

— Foi. Eu gostei bastante! — Henrique sorriu.

— Que bom!

A serva, que havia se aproximado, encurvou a cabeça novamente e parou, observando aquele encontro entre irmãos.

— Pode ir — disse Henrique, olhando para serva. — Agora eu estou com a minha irmã.

— Então, com licença, jovem príncipe e princesa.

Helena assentiu e a serva seguiu caminhando pelo corredor. Henrique sorria para Helena. Faziam semanas que não a via desde que havia saído em visita de estudos ao norte do reino de Acácias.

— Eu fiz um novo amigo!

Um sorriso preencheu os lábios do garoto enquanto dizia isso.

— Sério?!

— Sim! Sim! — Balançou a cabeça. — Um dia eu trago ele aqui no castelo.

— Mal posso esperar!

— Queria que a irmã Sophia fosse assim comigo. — O sorriso de Henrique se desvaneceu. Helena tocava em suas bochechas macias, encarando-o com uma expressão terna.

— Assim como?

— Gentil! Atenciosa! Carinhosa!

— E ela não é?

— Não. Sabe o que ela disse quando eu lhe contei sobre o novo amigo que fiz na visita de estudos?

— Não. O que?

— Que bom. De uma maneira muito superficial. Nem ao menos um sorriso.

— Acredito que ela estivesse cansada.

— Quem fica cansado sentando em um trono dando ordens?

— Ser rainha é mais que isso, meu princepezinho. — Helena afagava os cabelos dourados de seu irmão. — Tenta entender ela.

— Nunca! Nunca! Nunca!

Ah, meu irmão... — Helena suspirou. Sabia bem que não tinha como defender Sophia. Ela havia se encolhido em sua esfera real, se esquecendo de sua família. — Vamos comer, tá bom? Eu estou com fome!

— Vamos! Também estou.

— Ótimo!

E assim, Helena e seu irmão caminharam em direção à cozinha real juntos, de mãos dadas.

Os dias foram passando. Dias de treinamentos intensos. Alguns dos soldados regressaram às suas cidades de origem para se despedirem dos seus entes queridos. Os preparativos estavam quase completos. Haviam espadas, pólvoras, caravanas, canhões e muito mais. A seleção dos soldados para guerra havia sido feita, nem todo mundo participaria. Alguns ficariam para defender o reino de quaisquer ataques.

Helena passava noites em branco acordada, organizando suas estratégias. Tinha vidas em suas mãos, precisava que seu plano de tomada de Aclasia fosse um sucesso.

A notícia da guerra logo se espalhou por toda Acácias, todo o povo sabia. Não precisou de nenhuma pronunciação por parte da rainha, no entanto, a rainha achou por direito que se fizesse um anúncio oficial e mandou com que um de seus governadores fizesse isso por ela. Ela não tinha tempo, nem cabeça para tal.

Pensava apenas nos assuntos da guerra. O orçamento seria enorme. Alguns cortes teriam de ser feitos ali e aqui para suprir os gastos de todo equipamento de que os soldados viessem a precisar. Se ela não ganhasse essa guerra, ficaria desfalcada. Era um investimento necessário, mas de riscos.

Ao fim de dias, Helena apresentou sua estratégia final à rainha. E foi aprovada, a rainha havia concordado e elogiado sua irmã por ter pensado em algo genial e infalível. No entanto, uma guerra era imprevisível. Tinham de ter cuidado com excesso de confiança.

— E esses papéis que nunca acabam — suspirou Helena, olhando para a pilha de papéis que estavam em sua mesa. Ali continham informações dos soldados de Acácias que participariam na guerra.

Ela estava ali conferindo se todos os documentos entregues pelos soldados estavam certos. Em seu escritório, pequeno, com um candeeiro fixado ao teto que lançava luz dourada sobre os papéis.

Toc! Toc!

Um som veio da porta.

— Entre.

Os olhos de Helena foram atraídos para a pessoa que abria a porta. Era o vice-capitão.

— Léo — Helena sorriu ao olhar o vice-capitão, que se aproximava de sua mesa a passos lentos.

Léo puxou a cadeira e sentou-se rente à mesa.

— Vejo que tem muito trabalho.

— É. Ser capitã não é só espada e luta.

— Eu vejo.

Helena pegou em outro papel, vagueando seus olhos esverdeados sobre.

— E o que te traz aqui?

— Vim só a ajudar.

— Não se preocupe. Eu estou dando conta.

— Não é o que o seu rosto aparenta. — Léo observava a aparência abatida de Helena. Ela estava com olheiras, resultado de noites não dormidas.

— Desse jeito, você nem terá condições para lutar.

— É. Mas eu preciso terminar isso aqui.

— Por que sua irmã não elege uma pessoa que cuida dos assuntos do exército sem ser a capitã? Acredito que aliviaria o seu fardo.

— Ela tem medo.

— Medo?

— É. Medo que a pessoa seja corrupta. Medo que a pessoa haja de mau coração. Por isso ela prefere confiar tudo as pessoas em que ela confia mesmo e que estejam realmente aptas ao serviço.

— Vendo por este ponto, ela tem razão.

— É. Ela é muito cuidadosa.

— Vamos entrar em guerra, não é?

— É. — Helena lia os papéis, ela nem ligava tanto para o que Léo falava. Algumas das suas respostas eram monótonas.

— Eu nunca participei. Como será que é? Matar alguém... — Léo engoliu em seco. Nunca teria tirado a vida de um mosquito sequer, quem dirá de uma pessoa.

— Depois de um tempo você acaba se acostumando.

— Céus, Helena!

— Digo, se acostumando a matar os inimigos. Sei lá, quando é inimigo não dói tanto assim. Tipo, você nem conhece a pessoa. Ela quer te matar e você, quer matar ela. O sentimento é recíproco, sabe? Nesses casos, não tem o porquê de você se culpar.

— Mas ainda continua sendo um ser humano, não?

— É.

— Que tem vida.

— É.

— É.

— Desculpa — riu Helena com os olhos focados nos papéis. — É que eu quero acabar isso logo.

— Eu disse que poderia te ajudar.

— Tudo bem. Eu aceito — disse Helena. — Pegue sua cadeira e sente aqui do meu lado para facilitar.

— A-A-Ao seu lado?

Um vermelho havia tomado conta das bochechas de Léo.

Hã?

— Nada. Eu já vou já! — Léo pegou sua cadeira e colocou-a do lado da de Helena.

— Toma. Esses são os papéis — disse Helena, retirando metade dos papéis daquela pilha e entregando-os a Léo. — Só precisa ler e ver se os soldados preencheram tudo corretamente com base nesse papel original, certo? — Passou um dos papéis ao Léo.

— Certo.

Assim, Léo ajudou Helena a ler os papéis e certificar-se de que tudo estava correto. Algumas horas depois, ambos haviam acabado. Tendo acabado, começavam a organizar os papéis em caixas feitas de madeiras. Ali ficavam todas informações.

— Certo.

— Muito obrigada, Léo!

— Não tem de quê — disse Léo, terminando de colocar a última pilha de papéis na caixa. Agora, todo trabalho estava terminando. Helena suspirou e esticou seus braços ao alto, seu rosto resplandecendo a pequena luz provinda da janela. Léo admirava sua beleza estonteante. Helena estava em seu vestido azul. Seus cabelos dourados estavam soltos, diferente de quando ela vestia sua armadura prateada e os prendia em coque.

— Está linda. — Acabou escapando de sua boca.

— O que? — Helena estava tão distraída que mal pôde ouvir esse elogio. Neste momento, ela fechava as cortinas marrom da janela do seu escritório.

Seus olhos se encontraram.

— É raro te ver de vestido.

— É. Eu estou tão habituada à minha armadura, que acabo achando estranho usar vestidos. Mas minha serva insistiu, dizendo que eu ficaria linda.

— E ficou.

Ah, obrigada, Léo.

Helena sorriu.

— Escuta...

— O que?

— Quando voltamos da guerra, eu quero te oferecer algo muito precioso. — Não era isso que Léo pretendia dizer, mas sua covardia o impediu. Ele, na verdade, queria ter dito: eu preciso te oferecer algo muito precioso agora. No entanto, acabou se perdendo em suas palavras.

— E por qual motivo? — Helena sorriu, observando o Léo com as mãos postas na mesa. — Não estou fazendo anos, estou?

Ah... Para celebrar a nossa amizade. Amigos não precisam de motivos para se presentear.

— Não é que faz sentido?!

— Sim. Tenho a certeza de que vai gostar.

— Já estou curiosa. Precisa ser depois da guerra?

Nervoso, Léo começou a gesticular as mãos freneticamente.

— Não. Sim. Ah! Digo, pode ser no meio da guerra.

Hã?

— Deixa estar. Depois da guerra é melhor, quando voltarmos triunfantes! Acredito que será o momento oportuno.

— Muito obrigada. — Helena pegou nas mãos do Léo, elas estavam tão quentinhas. — Sua amizade é muito especial para mim.

— Digo o mesmo — sorriu Léo, trocando olhares com a mulher a qual tinha tanto apreço. No entanto, aquele maravilhoso momento foi atrapalhado pelo ressoar do ronco vindo da barriga de Léo.

Um vermelho carmesim subia pelo rosto daquele jovem.

Helena riu, deixando aquele jovem mais constrangido.

— Vamos comer?

— C-Claro!

E assim, Helena e Léo saíram do escritório com sensação de dever cumprido. Depois daqueles dias, seguiram-se dias de treinamento. Helena treinava constantemente com sua espada numa sala real dentro do palácio. Ao passo que os soldados usavam o campo de treinamento e lá continuavam a praticar diariamente.

Faltavam apenas duas semanas para o ataque ao reino de Aclasia.

Como para chegar em Aclasia seria necessário uns dez dias a pé, os soldados reuniram-se no portão na metade do décimo primeiro dia para que pudessem chegar algum tempo antes da invasão prevista.

Várias caravanas que eram puxadas por cavalos estavam fora dos portões de Acácias. Essas seriam as caravanas que levariam os soldados de Acácias até Aclasia. Os soldados caminhavam em seu traje de batalha, enquanto o povo de Acácias acenava e sorria, desejando-lhes boa sorte na guerra.

Antes que partissem, a rainha Sophia realizou um pequeno e curto discurso aos seus soldados. Em suas palavras, dizia:

— Meus soldados! Saibam que o futuro de Acácias depende de vocês! Vocês são a espada e o escudo deste reino! Se vocês caírem, Acácias também cairá! Não quero derrotas, apenas vitórias! E tratem de voltar todos os vivos!

Os soldados ficaram tão motivados ao ouvir o pequeno discurso de Sophia, que ergueram os seus punhos para cima, dando um grito bem alto. Suas palavras serviriam de pilar e alicerce na guerra. Então, sob a liderança de Helena, partiram em direção ao reino de Aclasia.



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