Volume 1
Capítulo 48: Rendição
— Maísaaaaaa!
Abrindo mão do seu orgulho, como último recurso, Jaru recorreu a um grito de socorro.
— Francamente... — Com um suspiro, expressão entediada, Maísa lançou uma flecha que rasgou o vento em um som sibilante até o seu destino.
Os curtos cabelos de mascarada balançaram, seus olhos arregalados junto à espada foram direcionados para a pressão que vinha na sua direção. Rapidamente, ela arrastou a espada contra sua face numa tentativa de rebater aquela flecha, mas falhou miseravelmente e viu-se arremessada enquanto faíscas flutuavam contra seu rosto pela colisão entre aqueles dois metais.
Mascarada embateu numa parede, gerando uma grande poeira e som de parede ruindo.
Enquanto Jaru lançava suspiros de alívio, lá no alto de um dos edifícios, Miomura mantinha seus olhos arregalados para aquela cena; uma névoa que omitia o corpo de sua irmã.
— Yara... Não pode ser...
Miomura encurvou a cabeça e rangeu os dentes.
— Já chega...
Cerrou os punhos e apressou-se a correr enquanto seus passos eram observados por Maísa e os demais da DEA.
— Já chega!!!
Miomura saltou dali e aterrou no chão, sentindo dor aguda percorrer seus pés, mas tal dor não superava a que havia em seu coração.
— Eu já não tinha mandado ficar quieto?
— Aaaaaaah!
Com um grito que surpreendeu e reuniu a atenção de todo mundo, Miomura tomou um escudo e uma espada em mãos e correu até a parede onde o corpo de sua irmã repousava.
No entanto, de repente, Miomura se viu bombardeado de fechas no meio de seu percurso. Levantava seu escudo para se proteger, até que deu um sorriso triunfante quando viu que as flechas de Maísa haviam acabado.
" Droga, vou ter que recuar por enquanto."
Miomura mordeu os lábios por ter que fazer isso, depois de tanto esforço, tantas vidas que havia roubado para terminar assim, era muito frustrante.
" Droga!"
Quando cerrou suas sobrancelhas, aquela expressão nítida de descontentamento se transformou em espanto quando se viu caindo no chão enquanto uma dor percorria seu calcanhar.
Não havia tropeçado, algo pontiagudo havia perfurado sua pele.
No instante em que embatia seu rosto, Miomura se perguntava como aquela mulher que estava ali na fonte havia feito para arremessar uma flecha, quando não havia sobrado nenhuma. Naquele curto tempo, seus olhos puderam contemplar um sorriso malicioso no canto dos lábios daquela mulher.
Ele caiu e seu corpo rolou no chão até alcançar uma mulher completamente ensanguentada que não pretendia largar sua espada por nada.
Seus olhos se encontraram. Gotas de sangue que fluíam do rosto daquela mulher começaram a pingar na máscara de Miomura, percorrendo sua face enquanto arregalava os olhos.
De perto, aquela era uma visão aterrorizante.
Os lábios da mulher se moveram, tentando emitir algo, mas nada além de sílabas. No entanto, o que Miomura pôde decifrar foi "fuja enquanto há tempo"
— Não!
Miomura se recusou a isso, mas de repente viu a sombra de um homem atravessar seus olhos. Com uma expressão irritada, ele carregava duas facas que estavam precisamente miradas para a princesa.
— Escuta, Jaru!
Seus olhos foram atraídos para a voz daquela mulher.
— O mascarado é meu. Então, não faça nada nele.
— Não se preocupe. — Jaru carregou sua perna e enterrou sua sandália no rosto daquele jovem enquanto encarava a princesa ensanguentada. Com uma faca, cortou alguma de suas madeixas. — Estou interessado apenas nessa princesa que machucou minha preciosa companheira. Não é, princesa?
Jaru levantou o queixo caído dela com uma faca.
— Hum?
Jaru voltou seus olhos para baixo quando viu um pequeno inseto segurando seu pé com força, tentando-o tirar do seu rosto.
— Argrh!
Miomura rangia os dentes, mas sua força parecia ser insuficiente. Sentia como se estivesse tirando uma parede de cima de si, quando o corpo daquele homem era tão magrinho quanto o dele.
Então, por que, por que ele era tão forte assim?
Quando Miomura cessou seus braços, desistindo de tirar aquele enorme peso que machucava seu rosto, viu aquele homem sendo arremessado pelo pontapé dado por aquela princesa que até há pouco parecia ter perdido suas forças.
— Entendi, então você ainda tem forças sobrando! Interessante!
Jaru parou de deslizar pelo chão, contemplando a marca do pé ensanguentado na sua veste enquanto dava um sorriso sádico.
Miomura segurou seu nariz dolorido enquanto se levantava. Aquela mulher havia lhe ajudado a sair dali, então não poderia perder aquela oportunidade e só ficar parado. Ele pediu desculpas à princesa e começou a correr até onde estava sua irmã. No entanto, uma flecha quase passou raspando pelo seu pé. Dessa vez, ele se esquivou e afastou um pouco, encarando àquela mulher que tinha apenas uma das mãos levantada.
Definitivamente, algo não estava certo.
— Certo aqui, vou eu!!
Quando Jaru avançou até a princesa com as facas miradas horizontalmente com vista a decepar a cabeça dela, seus olhos foram direcionados para onde passos rápidos ressoavam. Era a garotinha de outrora, que corria com uma espada em mãos.
Um sorriso brotou no rosto de Miomura. Sua irmã estava bem; são e salva, embora sua máscara tivesse sofrido com inúmeras rachaduras.
— Certo!
Jaru cruzou as duas facas rente à sua face, recebendo de bom grado o ataque de espada daquela baixinha.
— Fuja!!!
— Nem pensar que farei isso! Acha mesmo que te deixaria se sacrificando aqui por mim?! Nem pensar!
Miomura rebateu a ordem de sua irmã com esse grito, enquanto ela trocava golpes com aquele homem. Ele pegou uma espada e um escudo no chão, encarando aquele grupo na fonte.
Eram quatro pessoas que ele precisaria derrotar para finalmente alcançar a liberdade, quatro pessoas, ele precisava que todas elas estivessem mortas naquele momento.
Mas como ele faria àquilo?
Era impossível.
Miomura sabia disso.
Ainda assim...
— Que escolha eu tenho?
Miomura deu um leve sorriso enquanto corria em direção àqueles dois, tendo em mente algumas estratégias de combate que havia aprendido no seu livro. Antes de mais nada, ele tinha como alvo Maisa, que estava um pouco afastada daquele grupo e, depois disso, avançaria para os outros dois.
Uma jogada arriscada, mas ele estava contando com a sorte de poder aniquilar aqueles quatro.
Após séculos, o sol tinha que brilhar para ele.
Os ventos tinham que soprar ao seu favor.
Ele rezava por isso enquanto seu coração acelerava a mil.
— Aqui vou eu!!!
Miomura arremessou um pouco alto o grande escudo enquanto retirava seu pequeno escudo ligado ao braço, lançando depois que aquele grande escudo caiu, aquele escudo pequeno contra Maísa, naquele curto momento de distração.
Não tinha como ela se defender daquilo.
Era o que Miomura pensava enquanto sorria confiante, ainda avançando contra ela para dar um golpe final, enquanto os outros o observavam silenciosamente, desejando ver onde aquilo iria dar.
Quando Maísa sorriu confiante enquanto esticava uma de suas mãos para o pequeno escudo, Miomura viu aquele pequeno escudo congelar no ar.
Esfregou os olhos diversas vezes para confirmar que não era delírio seu aquela visão, mas sempre voltava à mesma realidade.
— Está surpreso, né? Como eu queria ver a cara que você está fazendo.
Maísa deixou o escudo cair no chão enquanto Miomura permanecia naquele estado de transe.
" O que é isso?
O que ela acabou de fazer?"
Miomura balançou sua cabeça negativamente, tentando procurar uma explicação lógica para aquilo.
— Eu não te avisei naquele dia que eu podia ser perigosa? E mesmo assim, você quis brincar com fogo.
Miomura arregalou os olhos, apavorado.
— Bem, agora é tarde demais.
Quando as mãos daquela mulher subiram, Miomura sentiu seus pés deixarem o chão como se a força do vento o estivesse carregando para cima.
Espanto e temor passaram a tomar conta de seu semblante.
" Estou voando?"
" Não, o que está acontecendo aqui?"
" Isso só pode ser um sonho!"
Enquanto Miomura mergulhava em um abismo de profundo desespero em perplexidade do que estava acontecendo diante dos seus olhos, mais duas mulheres voltaram seus olhos arregalados para aquela cena que se formava ali em cima.
Yara deu um salto e recuou enquanto Jaru lhe lançava um sorriso malicioso.
— Como é possível aquilo?
Ela deu um suspiro frenético, as batidas do seu coração ressoando mais altos em seus ouvidos.
— Então era disso que ele estava falando? Nunca pensei que fosse tão assustador assim… — Os traços de Helena se contorciam enquanto tinha seus olhos fixos para aquela cena. — Léo, o quão assustados vocês devem ter ficado com essa visão? Isso é, isso é demais… — Helena começou a respirar super rápido, seu coração batia tão forte, como se quisesse deixar seu corpo.
Tudo o que aquele homem disse nunca fez tanto sentido como fazia agora.
"Tá explicado agora como esses soldados foram aniquilados. Faz tudo sentido agora."
Depois de tanto quebra-cabeça, Miomura havia finalmente chegado à resposta para todas suas indagações.
" Mas como humanos assim podem existir? Isso não deveria ser coisa de livros?"
Enquanto se recusava a aceitar aquela cruel realidade, doze flechas foram posicionadas diante do seu corpo, afiadas, com as pontas imbuídas com o sangue dos bravos guerreiros.
— Volto já.
Assim que Taris disse isso, recebeu olhares curiosos e algumas expressões confusas de seus companheiros, mas não tiveram tempo para sequer elaborar uma pergunta, pois com a velocidade dos seus pés já havia sumido dali, apenas restos de poeira haviam ficado.
— Ele vai ficar bem?
— Por quê? — Valdes questionou, recebendo uma expressão apreensiva do seu companheiro. Ele, então, sorriu e balançou sua taça vazia enquanto olhava para aquele jovem suspenso no ar. — Bem, isso está ficando muito interessante.
Dito isso, Maísa lançou seus olhos ao seu alvo.
— Vai doer um pouco, mas vai passar. Não morra, tá bom?
Com um sorriso sádico, ela arremessou uma das flechas que rasgou o vento e atravessou a parte do ombro de Miomura, roubando um grito agonizante de sua boca. Sangue deslizou pela flecha, se espalhando pela sua veste e caindo no chão.
— Irmão… Irmão!!!
Yara não conseguiu mais conter os gritos que ressoavam de suas entranhas enquanto observava aquela cena, as flechas penetrando a pele do seu irmão… Era demais para ela presenciar aquilo e apenas ficar parada, mas o que ela poderia fazer naquele momento de aflição?
Quando seu oponente não a permitia prosseguir.
— Concentre-se na luta. Não foi você quem provocou isso? Agora aguente as consequências!
Jaru iniciou uma sequência muito rápida de golpes com facas que não só faziam Yara recuar, colocando-a contra a parede, mas também roubavam arranhões na sua pele, que se convertiam em feridas abertas.
" Que droga"
Yara não sabia mais o que fazer e nem no que pensar, sua mente estava uma bagunça enquanto desviava e revidava aqueles ataques instintivamente.
— Agora, vamos, me conte, jovem. Quem é você?
Maísa lançou a última flecha suspensa no ar, partindo de uma vez a máscara daquele rapaz. Estilhaços caíram por terra, revelando seu rosto ensanguentado e coberto de ferida à luz de todos.
— Não é possível…
Maísa desceu seus olhos pelo semblante de Valdes que revelava espanto enquanto observava aquele garoto. A taça vazia que ele segurava entre seus dedos até caiu, se quebrando em pedaços ao mesmo tempo, em que as carapaças da máscara ricocheteavam no chão.
— O que foi, capitão? Conhece?
Os lábios de Valdes encurvaram, formando um sorriso malicioso no canto de seus lábios.
— Como o destino é interessante. Quem diria que nos encontraríamos novamente?
— Agora fiquei curiosa.
— Foi esse imundo que ousou me enfrentar. Pensei que Melquiore tivesse dado um jeito nele, mas vejo que não… Se ele ainda estiver vivo, vai ter que me explicar isso.
— Um escravo aqui?
Garfiel começou a rir, repentinamente.
— Então quer dizer que seu aluno sempre foi um escravo, Maísa! Que hilariante!
Em compensação, Maísa ignorou isso e lançou seus olhos gélidos para aquele jovem suspenso no ar, todo despedaçado, com o corpo imerso em um mar de sangue.
— Ei, você, como conseguiu se infiltrar na cidade?
Seus lábios continuaram selados enquanto seus olhos estavam voltados para o chão.
— Por acaso recebeu ajuda de algum soldado? Responda.
Maísa levantou uma das flechas e a arremessou a perna direita. Uma dor aguda permeou seu corpo, o fazendo soltar um grito agonizante.
— Eu disse, responda.
Maísa removeu uma flecha do corpo dele, voltando a acertar em outra parte.
— Responda.
Fez isso repetidas vezes, mas não conseguiu tirar nenhuma informação daquele rapaz que mordia seus lábios constantemente, tentando procurar um alívio para toda aquela dor que sentia.
— Eu não posso morrer aqui…
Um sussurro saiu de sua boca, à medida que sangue transbordava por seus lábios.
— Fale em voz alta, eu não consigo ouvir. Vamos, diga e quem sabe eu te deixe viver!
— Deixar viver? Nem por cima do meu cadáver!
Valdes disse isso enquanto olhava friamente para Maísa.
— É só conversa, para ele falar algo, sabe? E você estragou tudo, capitão.
Ela deu um suspiro.
— Temos a garotinha. Esse verme não precisa continuar vivo, mate-o logo.
— Não é bom guardar rancor, sabia, capitão?
— Não me faça repetir.
Maísa fez uma cara carrancuda e desviou os olhos, focando naquele rapaz enquanto movimentava mais de suas flechas em direção a ele.
— Eu não posso morrer. Eu preciso libertar o meu povo do jugo da escravidão. Por favor, Criador, se estiver me ouvindo, por favor, me ajude!
Miomura ergueu seus olhos ao céu.
— Eu não queria ter que matá-lo agora, mas ordens são ordens, fazer o quê?
Maísa lançou uma flecha que perfurou o peito de Miomura. Um suspiro saiu de sua boca enquanto seus olhos se fechavam imediatamente. Sua cabeça baixou enquanto sangue escorria do seu peito, manchando o chão.
— Já se sente melhor?
— Perfeito.
Valdes sorriu.
Em contrapartida, Helena, que contemplava aquela cena grotesca, mordeu seus lábios e deixou verter lágrimas misturadas com sangue enquanto se pergunta o porquê daquilo tudo.
— Tudo está se repetindo de novo, tal como naquele dia… Mais uma vez, eu não consegui fazer nada…
Seus músculos tremiam, seu punho cerrava diante de tanta impotência.
Um ranger de dentes, veias que espreitavam seu corpo surgindo abruptamente, Helena juntou suas últimas forças e correu até o homem que batalhava contra aquela baixinha. Saltou e pegou os pés dele, o deixando cair rapidamente.
— Fuja!!!! E avise para que todo o exército de Acácias recue imediatamente!
Helena gritou.
O homem começou rapidamente a encher a cara de Helena de chutes, à medida que ela se recusava a largar seu pé.
— Me solta, louca! Me solta!!! Aaaaaaah!
— Fujaaaaa!
Dois gritos tomavam conta da garota, que tremia de medo, não sabendo qual decisão haveria de tomar.
Em hipótese alguma, queria abandonar seu irmão.
Ao mesmo tempo, sabia que nada mais podia fazer ali.
— E-Eu não posso…
— Você vai morrer se continuar aqui! Fuja! Faça isso em memória do seu irmão, tenho a certeza de que ele não desejaria que ambos tivessem o mesmo fim!
— Fim?
Yara mordeu os lábios
enquanto temia. Relutante, vendo o sacrifício que àquela mulher estava fazendo para que ela pudesse se salvar, decidiu correr. Correr como nunca tinha corrido antes. Com passos velozes e inalcançáveis, para longe daqueles monstros.
Um sorriso se formou nos lábios de Helena enquanto era bombardeada de chutes no rosto.
" Que Droga…"
Com lágrimas fluindo dos seus olhos, os passos de Yara misturadas com as batidas de seu coração ressoavam como uma melodia agonizante.
Uma dor ardente asfixiava seu peito.
— Ah, mas ninguém pode sair daqui.
Todo mundo direcionou os olhos para o lugar vago onde supostamente deveria estar Valdes.
Quando Yara estava prestes a desviar de uma das ruas, travou seus passos instintivamente, contemplando uma espada próxima à sua garganta.
— Confesso que, se você tivesse se movido um centímetro a mais, sua cabeça não estaria mais presa ao seu corpo.
" Não… Como ele chegou até aqui? "
Yara engoliu em seco enquanto sentia seu pescoço ardendo, o pulsar do seu coração produzindo um calor asfixiante em seu peito que a fazia suspirar freneticamente enquanto arregalava os olhos, contemplando seu reflexo naquela lâmina.
— Parece que vossa festa acaba por aqui, vermes. — Valdes soltou um leve sorriso. Um arrepio percorreu o corpo daquela garotinha atemorizada.
"Quem de fato é esse homem? Como ele fez isso? E por que eles possuem habilidades sobrenaturais? Não pensei que o mundo fosse tão complexo!"
Eram tantas perguntas que perturbavam sua mente e todas elas fugiam uma resposta lógica que pudesse criar.