Volume 1

Capítulo 47: Grande Investida

— Essa mulher é assustadora… Como ela ainda consegue se levantar? — Maísa arregalou os olhos. A troca de flechas com o mascarado havia cessado por um momento. — Posso usar Aurimagia para acabar com ela?

— Não, isso está ficando mais interessante… — Valdes sorriu, observando aquela mulher apontar a espada para eles. — Jaru, faça as honras.

Jaru sorriu maliciosamente. Valdes havia percebido sua cede em querer lutar contra aquela mulher que havia machucado e quase matado Valquires.

— Por que ele?

— Você já tem o seu oponente, Maísa — disse Jaru, enquanto descia da fonte. Retirando suas duas facas presas nos quadris, ele avançou em direção à princesa.

— Mas aquele ali não é muita coisa… — Maísa deu um suspiro aborrecido. — E pensar que aquele fracassado evoluiu bastante com o arco e flecha… Em tão pouco tempo.

— Conhece ele? — Valdes desviou seus olhos do Jaru, olhando para Maísa, que sorria com presunção enquanto retirava uma flecha de sua aljava.

Ah, ele foi o meu aluno.

— Seu aluno? — Valdes levantou uma de suas sobrancelhas.

Garfiel arregalou os olhos. Taris apenas observava friamente, no entanto, diante daquela revelação, seus traços haviam alternado um pouco.

— Explica isso direito — Garfiel exigiu, se auto questionando qual relação Maísa tinha com aquele mascarado.

Valdes formou um sorriso sagaz nos lábios, enquanto observava aquele mascarado que preparava uma flecha.

— Já entendi… A flecha direcionada para mim, a luta daquele dia…

Hum… — Maísa sorriu, direcionando sua flecha para o mascarado.

— Pelos vistos, vocês dois não vão me contar nada, não é? — Garfiel vagou seus olhos por aqueles dois que sorriam ardilosamente, concluindo que ambos eram farinha do mesmo saco.

Em contrapartida, Jaru enfrentava os olhos verdes daquela princesa na mesma intensidade em que ela o fitava, olhos de águia prestes a caçar sua presa.

Jaru deu um sorriso travesso, observando aquela pobre princesa que havia despejado muita quantidade de sangue pelo caminho, seus pés e suas mãos não estavam em condições para lutar e, mesmo assim, ela seguia com aquele olhar feroz e postura resiliente.

— Mesmo nesse estado tão lastimável, você ainda consegue se manter de pé. Devo parabenizá-la por isso.

O elogio de Jaru apenas atiçou as emoções negativas que tomavam conta daquela mulher. Veias rebentaram sua pele do rosto, suas sobrancelhas franziram e seus dentes cerraram de indignação.

— Não preciso de sua felicitação imunda, seu monstro!

— Calma, que eu também estou com raiva… — Jaru passou uma das facas na língua. — Afinal, você quase matou a minha amiga…

Quanto mais aquele homem falasse, mais Helena se contorcia de raiva. Tudo naquele homem a irritava.  Ela cerrou seu punho na alça da espada e franziu o cenho.

— Pouco me importa essa sua raiva, eu vou erradicar todos vocês!

— Como vai fazer isso? — Jaru lançou um sorriso convencido, mas recebeu um ataque vertical como resposta.

Cruzou duas de suas facas para se defender e, mesmo assim, ele foi obrigado a recuar. Jaru percebeu que não deveria subestimar aquela mulher, mesmo que ela tivesse seu corpo fraco pela perda de sangue e pela fadiga das batalhas que ela teve até agora.

— Seu vigor é impressionante. Mas, você está forçando seu corpo quando ele já alcançou o seu limite…

Antes que Jaru terminasse sua fala, Helena elaborou uma nova investida contra ele.

— Cala a boca e morre!

A espada de Helena foi direcionada horizontalmente ao corpo de Jaru, no entanto, ele conseguiu bloquear o ataque com sua faca esquerda, contra atacando logo em seguida com a faca direita.

Faíscas voaram pelo vento enquanto aqueles oponentes continuavam trocando golpes de lâminas extremamente afiadas.

Miomura, por sua vez, aproveitando que Maísa havia lhe dado um pouco de tempo para respirar, retirou da sua aljava uma flecha e colocou no seu arco enquanto ela estava distraída, apreciando aquele combate que ficava cada vez mais interessante.

Ele planejava ajudar a princesa Helena como havia feito na batalha contra Melquiore. Talvez assim fosse mais fácil derrotar aquele oponente dado o estado em que ela se encontra.

Mirou sua flecha naquele combate, mas antes que pudesse lançar, uma flecha passou raspando em um dos seus dedos.

Miomura arregalou os olhos, deixando cair a flecha no chão. O raspão em seus dedos fez verter uma pequena quantidade de sangue.

Ele sequer havia visto aquela mulher empunhar o arco, então como… Como ela havia feito aquilo? A única resposta que havia ocorrido na sua mente era que naquele momento de distração ela havia sido rápida demais.

— Não é só porque eu te dei uma pausa que você deve se intrometer nas batalhas dos outros. — Aquele olhar do dia do treinamento de arco e flecha… Miomura podia vê-lo novamente… Um olhar que causa pavor e intimidação, era como se aquela mulher pudesse acabar com ele a qualquer momento e pensar nisso apenas fazia o coração dele acelerar.

Ele suspirou, colocando outra flecha no arco, mas dessa vez não mirou em nada. Sabia muito bem que não podia fazer um movimento em falso. O número de flechas em sua aljava era limitado. Miomura arrependeu-se naquele momento de não ter levado mais aljavas consigo.

— O que eu faço?

Miomura começou a analisar todo o cenário e ambiente, tal como havia aprendido em seu livro. Começou pelos corpos dos soldados que ainda lhe causavam náusea e constatou que havia vários perfuros em muitos corpos, flechas espalhadas em alguns corpos e outras no chão.

Algo ali não estava bem.

Como uma mulher sozinha havia feito aquele todo estrago, se tinha apenas vinte flechas em sua aljava e pela quantidade dos soldados facilmente superava cem.

Reparou nos demais companheiros e nenhum deles tinha arco e flecha aos seus olhos, tinham apenas algumas armas escondidas por detrás dos seus mantos. 

Miomura chegou à conclusão de que aquela mulher, aquela única mulher, havia exterminado maior parte dos soldados ali. Porém, a quantidade de flechas era desigual à quantidade de corpos ( a não ser que ela tivesse de alguma forma reatualizado as flechas), o que era impossível, visto que aquela era uma frota de soldados que possuía espadas, escudos e entre alguns arqueiros que pôde identificar.

Miomura sentiu sua cabeça doer e decidiu parar de querer encontrar lógica naquilo tudo, precisava focar em arranjar um plano.

" Se pelo menos a Yara estivesse aqui… Não, Miomura…"

Ele balançou a cabeça negativamente. 

"Apesar de ela ser muito habilidosa, ainda assim é a sua irmã e você não pode envolvê-la em algo tão perigoso quanto isso."

O coração daquele pobre Mioriano começou a acelerar. Ele estava se sentindo impotente com aquela toda situação. Alcançar a vitória naquele momento era algo que estava longe de acontecer, talvez impossível.

— Mas eu não posso desistir… — Miomura direcionou seus olhos à princesa que lutava lá embaixo. Mesmo ferida, ela seguia lutando contra aquele oponente extremamente forte, que lhe causava danos em sua pele.

Ainda que não fossem tão profundos quanto a lâmina de uma espada, com aquela quantidade de sangue jorrando do corpo, ela não tardaria a perder as forças e cair morta.

Miomura suspirou ofegante. Um pensamento de fuga passou por sua mente, mas ele tratou de eliminar esse pensamento covarde da sua cabeça.

"Eu cheguei tão longe… Eu não aceito isso… Eu não aceito isso! "

Miomura mordeu seus lábios, seu semblante mesclava tristeza e raiva. Ele estava a um passo da liberdade e, para isso, precisava derrubar aquela pedra enorme que lhe havia aparecido no caminho… Mas como? Miomura não sabia dizer. Contudo, com todo seu fôlego, ele determinou diante de todos que estavam ali.

— Eu não vou desistir!!!

Maísa e Valdes apenas riram daquela declaração que o Mioriano havia feito. Garfiel e Taris apenas lançaram olhares silenciosos, querendo saber até onde isso iria chegar.

— Já estamos acabando aqui.  — Jaru observava princesa Helena paralisada, enquanto suspirava desesperadamente. Seu coração não parava de bater fortemente. — Parece que você alcançou o limite total, seu corpo não irá mais obedecer, princesa…

— Eu preciso… — Com a voz cansada, Helena tentava caminhar até Jaru com suas pernas bambas, mas seus passos estavam mais lentos que os de uma tartaruga. — Vencer… — Os olhos de Helena foram ficando turvos. Ela tentava forçar suas pálpebras para que não fechassem seus olhos. Não podia terminar ali, ela precisa continuar a lutar e lutar… — Até vencer…

— É um fim triste para uma guerreira como você, mas sabe, é assim que as coisas funcionam numa guerra… — Jaru começou a caminhar em direção a Helena, que estava a poucos metros de si, enquanto elevava sua faca para cima. — Aquele que com a espada mata, também pela espada é morto. Uma boa frase para finalizar a incrível trajetória da guerreira Helena. — Ele direcionou seus olhos frios contra aquela mulher, que mesmo diante da face da morte não deixava cair sua espada e sequer havia caído de joelhos. — Adeus…

Naquele mesmo instante, Miomura sequer se importou com o que a Maísa faria. Ele simplesmente colocou três flechas no arco e apontou para aquele homem que estava prestes a dar um fim na sua esperança.

— Então você também consegue usar três flechas… — Maísa arregalou os olhos, retirando exatas três flechas da sua aljava. — Nem acredito nisso… O quanto você melhorou?

Os olhos dela se encheram de brilho.

Miomura lançou aquelas três flechas em direção a Jaru, que sorriu maliciosamente, vendo aquelas  flechas arrastadas para bem longe pelas flechas de Maísa.

— O seu lançamento ainda deixa a desejar, mas não deixa de ser impressionante você ter aprendido isso tudo em tão pouco tempo… — Maísa sorriu para o mascarado, que não havia ficado nada feliz por ter visto suas flechas sendo bloqueadas. — No entanto, é uma pena você não ter tempo para aprimorar o arco e flecha… Se tivéssemos nos conhecido em outras circunstâncias, eu teria te aceito como aprendiz.

Miomura fechou os olhos ligeiramente, despejando lágrimas enquanto tremelicava suas mãos. Mesmo que tentasse tirar mais uma flecha da sua aljava para impedir a morte da princesa, não resultaria em nada. Aquela mulher estava em outro patamar, naquele momento não era possível alcançá-la.

— É o fim…

Miomura caiu de joelhos.

Jaru arrastou suas facas ao pescoço de Helena. Em questão de pequenos segundos, estaria tudo acabado e a cabeça da princesa cairia por terra.

Ao menos, foi o que todo mundo ali pensou. No entanto, naquele último instante, a luz de esperança havia raiado para aqueles dois…

Três flechas acertaram as mãos de Jaru, duas na direita e uma na esquerda. As duas facas caíram e Jaru gritou de dor, arregalando os olhos.

— O que está acontecendo aqui?! — Jaru cerrava os dentes enquanto reparava suas mãos ensanguentadas.

Toda DEA arregalou os olhos ao contemplar uma mascarada baixinha saltar de um telhado que ficava da outra extremidade daquela praça.

— Eu não consegui perceber as flechas dessa baixinha… Quem é ela?! — Maísa se auto questionava, tentando puxar à mente as memórias dos soldados que treinou no campo de treinamento para arqueiros.

Valdes logo percebera de quem se tratava, o que lhe deixou mais animado do que já estava.

— Preciso de vinho, isso está ficando mais interessante!

— Nesse reino só tem traidores? — Garfiel fitava aquela máscara que mascarada usava. Era a dos arqueiros de Aclasia. Suas indagações, não respondidas por aqueles dois, apenas aumentavam.

Taris, em compensação, havia arregalado os olhos, um leve sorriso emergiu no seu rosto por pequenos milésimos.

Enquanto Jaru se contorcia de dor, mascarada se aproximava em rápida velocidade com a espada horizontalmente direcionada ao seu pescoço.

— Droga!!! Depressa! Vai logo! — Jaru mordeu os lábios enquanto arregalava os olhos diante da rápida aproximação daquela baixinha que deixava rastros de poeira no ar. — 5, 4, 3… Não vai dar tempo! Eu vou morrer…



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