Volume 1

Capítulo 45: Doces Lembranças

"Só podiam ser Aclasianos..." , Miomura pensou enquanto observava aqueles corpos mutilados no chão. Todos estes eram Acacianos. Sua náusea havia piorado tanto, que por pouco vomitava ali. Mas conseguiu se segurar, engolindo em seco diversas vezes.

— Mantenha o foco... — Miomura colocou uma flecha sobre o fio do arco, apontando para Maísa. — E elimine aquela mulher. — Desprendeu os dedos do fio do arco, fazendo com que sua flecha fosse anulada pela contrária da Maísa. Uma chuva de faíscas tomava conta do vento. Todas as flechas que Miomura mandava, Maísa estava pronta para anular e revidar.

— Desse jeito não chegaremos a lugar algum. — Miomura direcionou os olhos para aquela princesa estatelada no chão. A esperança dele havia sido derrubada.

— Meus companheiros... — Helena olhava para o chão. A dor daquelas flechas presas à sua mão não se comparava à dor que ela sentia no coração. Seus olhos, tomados por lágrimas, observavam ao longe o corpo de seus companheiros caídos. — Ah, Léo...

                              (...)

                   Há alguns anos


Fiu... Fiu... — O som de assobio saía da boca daquele homem de cabelos castanhos enquanto cortava um pequeno pedaço de madeira largo com seu serrote. Aos poucos, ganhando um formato, enquanto ele continuava serrando.

Uma poeira amarelada ia se levantando, enquanto ele serrava sem parar com um sorriso de satisfação pelo trabalho que exercia.

Ufa — suspirou, passando sua mão sobre as gotas de suor que tomavam conta do rosto. — Terminei... — Seus olhos castanhos escuros contemplavam o formato que aquele pedaço de madeira largo havia ganhado. Era uma espada de madeira. — Que belezura!

Ele segurou a alça da espada de madeira, desferindo golpes contra o vento enquanto sorria.

— Léo!

O rapaz sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Seu coração foi tomado por fortes batidas enquanto pressionava a mão contra o peito pelo susto que sua mãe havia lhe dado.

— Mãe, que susto! — suspirou, atirando a espada de madeira para longe.

— Você sabe muito bem que em casa tem muitas coisas precisando de concertos e você fica brincando de fazer espadas de madeira?! — disse, encostando suas duas mãos à cintura.

— Não, mãe. Eu já ia arranjar hoje mesmo.

— Você sempre fala isso. Hoje eu vou, amanhã eu vou. É tudo a mesma coisa! Até quando pretende copiar os defeitos do seu pai?

— Mas hoje eu vou! Digo, agora... — Léo seguiu caminhando em direção à porta que levava ao interior da casa.

Aquela era uma espécie de garagem onde Léo exercia o ofício da carpintaria. Estava cheia de madeiras para tudo quanto é lado. Matérias jogados pelo chão, cadeiras e entre outras coisas inacabadas, o que deixava sua mãe irritada por ele estar demonstrando a mesma preguiça que o pai.

Ele podia fazer as coisas, mas demorava séculos para terminar. Os clientes só não abandonavam a loja, porque ele entregava um mobiliário de qualidade e duradouro, disso ninguém poderia reclamar.

— Finalmente!

Sua mãe sorriu.

— Depois, arrume essa bagunça toda aqui e finalize a encomenda dos clientes.

— Tudo isso para hoje, mãe? — Léo reclamou, suspirando.

— E quer fazer quando?

— Eu sou um adolescente, sabe? Tenho que aproveitar a minha mocidade antes de me tornar um adulto.

— Eu sei, mas seu pai não está mais aqui... E você sabe que agora estou desempregada, dependemos desse negócio que ele nos deixou.

— Estou brincando, mãe! — Léo sorriu meio torto. — Não é como se eu tivesse algo de interessante para fazer. É só ver como são os adolescentes de hoje em dia. Uns sem noção, que vivem sempre nos bares e nas bebedeiras. Eu é que não quero ser assim!

Sua mãe riu.

— E então, como pretende aproveitar a sua mocidade?

— Eu... Não sei.

— Há pouco falou com tanta convicção que queria aproveitar sua mocidade e agora não sabe?

— Esqueçamos esse assunto, mãe. — Léo empurrou sua mãe. — Ou eu nunca mais arranjo as mobílias de casa!

— Os meus ouvidos estão delirando, ou estou escutando uma ameaça do meu filho?

— Com certeza estão delirando!

Léo sorriu.

— Peguem o ladrão! Peguem o ladrão!

Os olhos daqueles dois foram direcionados para aquela entrada quadrada que dava acesso à rua afora. Puderam contemplar uma pessoa correndo enquanto carregava uma bolsa em suas mãos. Ele estava mascarado e com uma espada em mãos. Algumas pessoas que passavam por aquela rua ignoraram aquilo, não queriam se meter com um bandido armado.

— Essa rua está começando a ficar perigosa, já é o terceiro caso dessa semana. Escuta, Léo, acho melhor fecharmos por um tempo até esses roubos baixarem. Está me ouvindo, Léo?

— Eu vou atrás dele!

— O quê?!

Léo correu imediatamente em direção à saída, pegando sua espada de madeira pelo caminho enquanto ouvia os gritos da mãe para que parasse, pois era bastante perigoso. No entanto, aquelas palavras de apelo não o alcançaram. Ele estava determinado a caçar aquele bandido, custe o que custar.

— Léo! — Ela gritou, observando seu filho virar a esquina. — Ah, Arfeu, por que foi estragar seu filho?

Aquela mulher até tentou correr atrás do filho, mas não adiantou muito devido ao problema na perna direita. Há alguns dias, ela havia escorregado naquela garagem enquanto tentava limpar a bagunça que seu filho fizera, resultando naquele machucado.

— Por favor, Léo... Volte... — Lágrimas vertiam dos seus olhos enquanto contemplava aquele intervalo da rua, aguardando o filho com o coração disparando.

— Senhora! — Aquela mulher direcionou os olhos, vislumbrando uma jovem de capuz que corria em sua direção. Próximas, ela agachou.

— A senhorita está bem?

— Não se preocupe, eu estou. Mas o meu filho não...

— O que aconteceu?

— Ele saiu correndo atrás de um ladrão armado.

Oh, então ele passou por aqui?

Hã?

— Digo, o bandido. Ele passou por aqui, né?

— Mas foi o que eu disse.

— Tudo bem. — A encapuzada levantou-se. — Eu vou atrás dele.

— Não, moça. Chame algum soldado, é bastante perigoso!

— Tudo bem. — A mulher retirou o capuz, revelando seus cabelos dourados. Aquela mãe sofrida arregalou os olhos, conhecia aquele rosto. — Eu, a capitã do exército de Acácias, irei capturar o bandido.

— Mas o que a senhorita faz aqui?! Digo, justo, a princesa de Helena!

— Ora, mulher, não há tempo para isso. O mais importante agora é salvar o seu filho e capturar o bandido, estou errada?

— Se a senhorita puder fazer, por favor!

Hum... — Helena sorriu, passando o dedo em seu nariz e correndo, seguindo as pegadas daquele bandido e do jovem.

As pegadas, ainda frescas, não demorariam a se apagar, já que soprava muito vento por ali.

A mulher limpou as lágrimas enquanto observava aquela mulher de cabelos dourados virar a esquina.

Por outro lado, Léo, com a velocidade produzida por seus pés, havia alcançado o bandido. Agora estavam separados por apenas poucos metros de distância.

— Ei, pare! — Léo apontou a espada de madeira para aquele bandido que continuava a correr. — Eu disse para parar!

O bandido revirou os olhos. Percebendo que era apenas um jovem que tinha em suas mãos uma espada de madeira, travou. Eles estavam numa rua estreita e pouco acessível.

Hum... Se dá valor à sua vida, é melhor parar de me seguir. — O bandido apontou a lâmina da espada para aquele rapaz com uma espada de madeira. Léo sabia que estava em tamanha desvantagem, mas ainda assim, não quis recuar.

— Você não é digno de empunhar uma espada, seu bandido! — Léo apontou sua espada de madeira para aquele homem, que começou a surtar de risadas. Seus olhos lacrimejantes observavam aquele rapaz patético, nunca tinha rido tanto na sua vida.

— Do que está rindo? Saiba muito bem que essa espada de madeira foi forjada com dedicação, da madeira mais dura existente nesse reino. Essa sua ferrugem sequer é capaz de causar dano algum.

— Quer tanto assim morrer, garoto? Se esse é o seu desejo, não tenho nada contra.

— Eu, Léo Raia, aquele que luta pela justiça em defesa dos mais fracos, irei capturá-lo aqui e agora!

Dito isso, Léo avançou em direção ao bandido com a espada de madeira. No entanto, aquele bandido não era um qualquer, era um ex soldado que há muito era perseguido por estar envolvido em esquemas de roubo de armamentos do exército. Seus companheiros já haviam sido capturados, menos ele.

Sem casa, sem lar para onde voltar, ele agora levava a vida roubando os pertences dos outros enquanto se escondia em galpões abandonados.

— Um simples carpinteiro não tem como vencer um soldado de elite como eu!

As espadas daqueles dois friccionavam.

Com alguns golpes para ali e para cá, Léo tentava forçá-lo a recuar, mas a espada daquele ex soldado cortava sua madeira com bastante facilidade.

— Droga, se isso continuar assim...

O soldado retirou a espada da madeira, e Léo perdeu um pouco a compostura. Uma brecha se abriu, o soldado direcionou a espada dele ao abdômen daquele pobre rapaz. Léo arregalou os olhos, estava prestes a ser perfurado pela espada enquanto se recomponha...

Mas, repentinamente, uma pedra embateu contra a espada, desviando a trajetória da espada para direita. Léo suspirou, caindo sobre o chão enquanto via o soldado recompondo o equilíbrio depois daquela pedra cair sobre o chão.

— Você... — O soldado rangeu os dentes. Léo direcionou os olhos para aquela mulher encapuzada. — Droga! Preciso fugir daqui!

O soldado deu um leve agacho, tentando pegar a sacola que havia deixado no chão. Quando enfim colocou a mão na sacola, uma espada havia cravado em sua mão. Ele gritou de dor, observando seu sangue escorrer.

— Zacaris, já chega de fugir. Vamos se entregar?

Helena soltou um leve sorriso. Léo arregalou os olhos, contemplando aquela mulher de capuz. Um sorriso de admiração emergiu em seus lábios.

— Primeiro a pedra perfeitamente lançada, agora a espada… Quanta habilidade!

"Droga, não pensei que fossem colocar a princesa no meu alcance! Essa mulher é um monstro… Preciso arranjar uma maneira de a despistar e fugir daqui."

O ex soldado removeu a espada que havia acertado sua mão e ergueu-se, apontando a espada para aquele rapaz que estava no chão.

— Se você se aproximar, eu mato esse garoto.

— Vai começar com as chantagens?

— Não me leve a mal, mas eu não posso me deixar ser capturado. Dez anos confinado numa prisão é muito para mim.

— E mesmo sabendo da pena que o esperava caso praticasse o crime, ainda assim praticou. Você me decepciona, Zacaris.

— Eu fui envolvido no esquema, e quando… — Zacaris mal teve tempo de se explicar, pois com sua espada de madeira, Léo havia rebatido aquela lâmina de metal apontada para seu rosto.

Naquele momento, Helena agiu, correndo em direção ao ex soldado que tentava virar para fugir. No entanto, Léo havia atirado sua espada de madeira entre as pernas daquele bandido. Ele tropeçou, caindo no chão. E então, quando tentou se levantar, contemplou o pontapé de Helena a alguns centímetros de atingir seu rosto.

Arregalou os olhos, enquanto seu rosto era atravessado por aquelas sandálias de Helena cujas solas eram duras.

Helena retirou sua sandália do rosto daquele homem que se contorcia de dor e, então, deu um leve agacho perto do seu rosto apavorado.

— Por favor…

— Boa viagem! — Helena golpeou a nuca dele. O ex soldado foi perdendo a consciência, seus olhos se fechavam, contemplando por último o sorriso travesso daquela loira.

— Incrível!

Helena levantou-se, contemplando aquele rapaz que batia as palmas enquanto se levantava do chão.

— Sou, não sou?

— Presunçosa.

— Um pouco. Mas deixemos os elogios para trás. — Apontou o dedo para aquele rapaz. — Você, meu jovem, tem futuro!

Hã?

— Seis meses balançando a espada e você será o melhor soldado de Acácias.

— Está zombando de mim, não é?

— Claro que não, os meus olhos jamais se enganam. Sabe, aquele era um ex soldado muito habilidoso, e você… — Continuou apontando o dedo enquanto sorria. — Conseguiu o segurar por tanto tempo, mesmo sendo um carpinteiro.

— Não é para tanto. — Léo coçou os cabelos, constrangido. — Eu quase ia morrendo se você não tivesse aparecido.

— Não quer virar um soldado?

— Que pergunta! Não. Por que eu viraria um soldado?

— Em tempos de paz, soldados ganham muito bem e tudo o que tendem fazer é treinar.

— Mas e se a guerra chegar? Com certeza é morte na certa!

— "E se" "E se". — Helena encurvou dois dedos de cada mão e continuou sorrindo. — Viva o presente e esqueça o futuro. Sua coragem em perseguir um bandido é admirável. Com certeza carrega a alma de um guerreiro.

— Você é louca. Me deixe em paz, eu preciso voltar para casa. — Léo deu meia volta, mas Helena tocou em seu ombro.

Hum, hum, hahaha! — Helena riu. Léo ficou mais intimidado com o comportamento daquela mulher estranha. — Chegou a hora de usar o meu charme. Não queria ter que recorrer a isso, mas não posso deixar que o seu futuro seja despedaçado.

— O quê? Vai me dizer que é a princesa de Acácias?

— Como adivinhou? — Helena tirou o capuz, deixando aquele rapaz com olhos arregalados.

— Você é mesmo a princesa de Acácias!? Não creio! O que uma princesa estaria fazendo por essas bandas? E ainda próxima perseguindo um bandido!

— Eu sou uma capitã do exército, é normal.

— E os seus subordinados?

— Como estou de férias e não tenho nada de tão interessante para fazer, decidi me aventurar numa busca incessante pelo ex-soldado que o meu pessoal não conseguia apanhar.

— Você fala tão fácil como se isso fosse um livro de aventuras.

— Você disse livros? — Os olhos de Helena brilharam como estrelas do céu. — Eu gosto bastante de livros!

— Mas eu não perguntei…

— Quais os livros que gosta? — Interrompeu-o.

Ah… — Léo suspirou. — Foi mal, mas eu não gosto de livros.

Hã? — Helena ficou boquiaberta.

— Não vou repetir.

Ah, não gosta de livros… — Helena pegou a espada. Léo deu um suspiro pesado, pensando que seria morto, mas não, Helena guardou a espada na bainha na cintura e pegou o soldado pela gola, o arrastando por aquele chão enquanto o mesmo estava inconsciente.

— Até nunca, Sr. Não gosto de livros! — Helena olhou para trás por alguns segundos e continuou andando com uma expressão carrancuda enquanto arrastava aquele ex-soldado pelo chão.



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