Volume 1

Capítulo 42: O sobrenatural

Marco avançou com a espada até aquela mulher que mais parecia um robô em todos os aspectos. Ela não mostrara nenhuma emoção, era tudo frio.

— Toma essa!!

A espada rasgou o vento verticalmente, tombando contra a espada adversária. Uma fricção, uma troca de olhares que exalavam seriedade. Se bem que o da Valquires desde sempre permanecia sério e frio, então não havia mudado em seu aspecto. Marco é que aparentava estar mais decidido, diferente da última vez em que havia subestimado sua adversária.

Seus pés se moviam como passos de valsa no chão enquanto continuavam colidindo suas espadas uma vez a outra. Marco notara que, nas vezes em que colidia sua espada na ponta da lâmina, pequenos cortes acabaram por surgir.

— Já descobri... O seu truque... — Marco lançou um sorriso de satisfação, observando aqueles finos olhos azuis que o fitavam. — A superfície frontal da espada possuí pouca massa metálica em relação às extremidades da lâmina... Como? Não sei, mas você acaba achando uma brecha para acertar a superfície frontal da espada com sua força bruta acumulada.

Os lábios da Valquires continuaram imóveis, ela apenas recuou alguns passos.

— Se eu mantiver a minha espada na extremidade da lâmina, será mais fácil evitar que sua força bruta esmague ela de uma vez por todas, é por isso que a espada do Hartur estava se quebrando pouco a pouco...

Valquires posicionou sua espada.

Ah, e tem a parte de não estar sempre colidindo com sua espada!

— Parabéns por conseguir descobrir uma maneira de evitar que sua espada se quebre de imediato.

— Decidiu conversar comigo agora? — Marco avançou com a espada novamente. Eles friccionaram, faíscas rolaram pelo vento. Mais cortes continuavam envolvendo a espada de Marco.

— Falo apenas o que é útil.

— Útil? — Marco ergueu uma sobrancelha. — Não entendi.

— Não vejo necessidade em desperdiçar minhas palavras com assuntos e pessoas triviais. — Valquires removeu a espada, se esquivando do golpe vertical do Marco que rasgou o vento e então lançou um golpe de pontapé que arremessou Marco alguns metros atrás.

— Eu sou trivial, sabia? Às vezes, a verdadeira felicidade está escondida em algo tão simples e comum.

Com silêncio, Valquires seguiu avançando com a espada em direção a Marco, que lhe vinha de encontro. Valquires optou por desviar da primeira investida, que havia cortado um pouco das suas madeixas, e direcionou sua espada rapidamente ao pescoço do Marco. Este, que ergueu a espada rapidamente, bloqueou aquele ataque que estava prestes a decepá-lo. As espadas tremiam enquanto chocavam.

— Sinto pena de pessoas como você.

Marco apenas recebeu um silêncio e uma frieza no olhar.

— Essas palavras também não foram úteis para você?

— Sim. Mas você me ajudou a compreender uma coisa.

— E o que seria? — Marco, vendo que sua espada estava sofrendo rachaduras, recuou, saltando alguns metros.

— Que essa batalha também é trivial. — Com apenas um passo, Valquires estava frente a frente, na cara do seu oponente.

Marco arregalou seus olhos e até tentou reagir, mas sua espada quebrou de uma vez por todas, ficando do tamanho de uma faca. Com toda aquela brecha dada, Valquires cravou sua espada no abdômen de Marco, removendo logo em seguida, tentou cravar no peito. Porém, Marco, ainda em dor, ergueu seu braço até o peito, permitindo que a espada perfurasse o braço. Um grito ressoou da sua boca.

— Capitão! Capitão!

Os soldados clamavam para que fossem ajudar o Marco.

— Vão!

Léo cerrou os punhos. Estava ferindo o orgulho de guerreiro do amigo, mas não podia permitir que ele morresse. Volta de seis soldados foram ao encontro de Marco, mas tarde demais. Contemplaram o braço de Marco, caindo sobre o chão, seu peito sendo rasgado.

Ele caiu de joelhos, ensanguentado.  Valquires lançou sangue sobre o vento com um simples balançar da espada.

— No fim... Você falou... algo desnecessário...

Essas foram as últimas palavras de Marco. Em resposta, ele apenas havia recebido um silêncio e um olhar frio.

Léo ficou boquiaberto. Seus olhos arregalados contemplavam o corpo de Marco caído no chão, enquanto um lago de sangue o envolvia aos poucos. Não conseguia acreditar no que via. Um dos poucos soldados habilidosos que Acácias tinha havia caído.

Como um flash, memórias do seu companheiro de batalha passaram pela sua mente enquanto seus soldados tentavam vingar a morte do companheiro, acabando por ter o mesmo destino que Marco.

A espada da Valquires era impiedosa. Gritos ressoaram pelos ouvidos de Léo, no entanto, naquele momento, sua mente estava vagando por lembranças.

                             (...)

           Campo de treinamento
.

.

.

— Soldados! — Helena bateu nos ombros de Léo com um sorriso no rosto enquanto olhava para aquela multidão de soldados. — Apresento-vos o novo vice capitão, Léo Raia!

Hum... — Marco saiu dentre os soldados e se aproximou da montanha de caixas que formavam o palanque.  — Nunca vi esse cara na vida. Para começo de conversa, ele não é um soldado, como pode se tornar um vice Capitão?

— Acontece que o Léo já era um soldado, mas ele treinava em casa, apenas isso. E, como agora, eu o promovi para vice capitão, então ele terá que deixar a timidez para lá e mostrar as suas habilidades para todo mundo! Não é, Léo?!

Helena continuava sorrindo, mas muitos dos seus soldados estavam descontentes. Estavam ali há mais tempo, queriam aquele cargo de vice capitão, no entanto, um simples novato havia chegado à frente deles. Era inaceitável.

— Eu sei que é decisão sua, capitã, mas nós, soldados de Acácias, em concreto, eu, Marco, não aceito esse magrelo como vice capitão.

— Mas ele é mais forte que você, Marco. — Helena sorriu.

Léo arregalou os olhos.

— H-Helena, não diga mentiras!

— Cansei! — Marco removeu sua espada. — Eu quero um duelo! Para hoje! Aqui e agora!

— Vai que é tua, Léo! — Helena deu um tapa nas costas de Léo, o arremessando para baixo.

Os soldados levantaram seus punhos, clamando por luta. As apostas começaram, é claro que foram poucas pessoas que apostaram no recém-proclamado vice capitão.

No entanto, seus sorrisos e punhos foram abaixo depois que Léo havia imobilizado Marco. Ele tinha o joelho contra o peito, enquanto apontava a espada para o rosto de Marco, que havia aberto os braços.

TSE!

— Há alguém mais que queira enfrentar o novo vice capitão?!

— Helena! — Léo ergueu os joelhos, indignado.

Muitas mãos foram levantadas. Aquele foi um dia cansativo. Mas, com a maioria dos soldados veteranos perdendo para o Léo, os outros sequer tentaram duelar contra o novo vice capitão. Aceitaram-no na base do ódio.

Com o tempo, Léo foi ganhando mais aceitação entre os soldados.

— Léo, quer ir para o bar comigo hoje?! — questionou Marco.

Eles andavam pelas ruas de Acácias, depois de longas batalhas que tiveram no campo de treinamento.

— Não, Marco. Você sabe que eu não bebo.

— Mas tem comida e moças lindas.

— Só tenho olhos para uma. — Léo sorriu, passando o dedo no nariz.

— Você com esse papo furado de novo! Só te respeito porque você é mais forte que eu, caso não, te dava um soco para ficar mais esperto!

Léo apenas sorriu.

— Mas, cara, vou te contar. — Marco encostou seu cotovelo no ombro do Léo, sorrindo. — Eu queria ser um cara tão respeitável quanto você. Quem sabe assim, a minha família não tivesse mais orgulho de mim.

— Marco, "o respeitável", essa eu quero ver!

Hahaha! Vai sonhando!

Ambos riram-se.

— Mas pode ficar tranquilo, Marco. Você já tem o meu respeito.

— Vai dar uma de mestre agora?

Léo apenas sorriu, batendo em seu ombro.

— Mas sabe, até que não é nada mal receber um elogio do vice capitão!

                           (...)

As pálpebras de Léo se remexiam, seu semblante se contorcia em profunda tristeza. Muitas outras lembranças com Marco e seus soldados foram passando por sua mente enquanto uma maré de emoções negativas fazia seu coração acelerar.

Léo ergueu o braço direito, dobrando os dedos das mãos ligeiramente. Um dos soldados percebeu naquele momento que, Léo precisava de uma espada para lutar. Estava farto de ver os seus companheiros sendo mortos à espada por aquela única mulher.

Uma espada fora arremessada. Léo segurou com os olhos tomados por um profundo vazio.

— Vocês, recuem!

— Mas vice capitão...!

— Eu mesmo vou... — Léo correu abruptamente. Em questões de passos velozes, havia chegado àquela mulher que removia sua espada do corpo de um dos soldados que havia aniquilado. — Matar essa mulher!

Léo arrastou sua espada contra o pescoço da Valquires, chocando com a espada da mesma que foi direcionada àquele lugar.

As espadas friccionaram.

Léo não perdeu tempo, direcionou seu pontapé para a cintura daquela mulher. Ao ser atingida. Ela foi arremessada vários metros atrás, chegando perto da fonte onde se encontravam seus companheiros encapuzados.

— Mentira que você foi atraída, Valquires?! — Maísa sorriu, preparando seu arco. — Quem sabe agora...

Valquires apalpou suas vestes e olhou friamente para aquele oponente.

— Uma batalha de vice capitão contra vice capitão, essa eu quero ver! — Valdes agitou sua taça de vinho.

Maísa mirou sua flecha naquele homem. No entanto, Valquires pela primeira vez mudou sua expressão quando olhou para Maísa. Suas sobrancelhas cerraram, uma expressão que causava pavor formou-se em seu rosto.

— Lance essa flecha e você vai perder sua cabeça.

— Uau, parece que recebi uma ameaça de morte! — Maísa sorriu, baixando seu arco. — Já que tenho amor pela minha vida, não farei nada contra seu cavalheiro, Valquires.

Hum... Notavelmente, aquele oponente conseguiu ganhar a atenção de Valquires. Isso vai ser muito interessante. — Valdes sorriu.

— É a primeira vez que vejo Valquires assim por um mísero inseto... — disse Jaru, estalando a língua enquanto olhava com desdém para o vice capitão de Acácias. — Tse!

— Ciúmes? — questionou Maísa.

— Não diga bobagens.

— Não é o que parece, Jaru. — Garfiel, que estava próximo, lançou um leve sorriso.

— Me deixem em paz vocês dois! — Jaru cruzou seus braços.

Valquires correu imediatamente ao seu adversário, que a esperava com a espada na posição vertical.

Olho no olho, ambos trocavam golpes de espadas. O diferencial daquela luta foi aos poucos ganhando notoriedade entre os espectadores. A espada do Léo não quebrava ou mostrava alguns sinais de rachaduras, mesmo após ter trocado alguns golpes de espada com a Valquires.

— Parabéns, voc—

— Cala a boca! — Léo gritou, recuando com sua espada. — Cala a boca! — Logo ergueu a espada frontalmente, acima do ombro, suspirando pesadamente.

— Eu estava certa... essa postura... —
— Valquires arregalou os olhos, observando aquele jovem correr em sua direção com a espada frontalmente guiada ao seu peito.

Com um rodopio, que balançou suas madeixas, Valquires moveu a espada horizontalmente. As espadas friccionaram em suas pontas. Léo removeu sua espada, afastando-a para direita. Os olhos de Valquires foram direcionados para aquele rapaz que planejava um golpe em sua lateral.

— Você... — Uma troca de colisões de espadas fora feita. Valquires não lhe dava sequer uma brecha. No entanto, Léo não desistiu, continuou desferindo golpes contra a espada. De novo, ficaram próximos um do outro, como se um ímã os atraísse, friccionando suas espadas. — Quem é o seu mestre?!

— Você rouba a vida dos meus companheiros e isso é tudo que diz?! — Léo rangeu os dentes, erguendo seu joelho em direção ao abdômen de Valquires. Ele só não contava que ela faria o mesmo. Os dois joelhos se chocaram, assim como suas espadas entravam em fricção.

— Meus pêsames. — Com um salto, Valquires recuou.

— M-maldita!!! — Léo seguiu balançando a espada contra ela, só que no momento em que Valquires direcionou sua espada em defesa, Léo deu um agacho e arrastou a perna contra as pernas de Valquires.

Ela saltou.

Léo, ainda agachado, direcionou a espada para cima. Valquires, em pleno ar, deu um salto duplo para trás. No entanto, Léo não esperou ela se reajustar após pousar, contra atacou.

Valquires direcionou instintivamente a espada verticalmente, mas Léo afastou a espada dela, abrindo uma brecha.

— Me responda... — Valquires ergueu os seus pés para cima, chutando a espada de Léo. Aquele chute foi tão forte que sua espada teria saído a voar se ele não tivesse segurado fortemente a alça. Sua postura desequilibrada e seu corpo cambaleante logo foram reajustados.

— ... Quem é o seu mestre?

— Você não tem nada a ver com isso, apenas me deixe te acertar! Pague pela vida dos meus companheiros!

— Se isso for o suficiente para você responder à minha pergunta, permito que me acerte. — Valquires abriu seus braços.

Léo arregalou os olhos.

Hã?

Mas aquilo não deixou apenas Léo espantado, alguns dos companheiros de Valquires ficaram de boquiaberta.

— Ela enlouqueceu?! — questionou Maísa.

— Eu sabia, ela deve estar com febre. — Jaru saltou por cima da fonte, querendo caminhar em direção a Valquires, mas Valdes esticou seu braço como forma de o parar.

— Não estrague a diversão, Jaru.

— Diversão?

— Sim. — Valdes bebericou seu vinho. — Isso está ficando mais interessante, essa luta parece um vinho. Quanto mais, melhor.

Jaru apenas cerrou os punhos, observando com desdém aquele vice capitão.

Em contrapartida, os soldados de Acácias, que observavam aquela luta, levantavam seus punhos para que Léo eliminasse imediatamente aquela mulher que havia roubado a vida de muitos dos seus companheiros.

" Vice capitão, vingue todos os nossos companheiros!"

" Vamos! Do que está à espera, vice capitão? Acabe com ela!"

Léo revirou o olhar, rodeando a torcida de soldados a alguns metros de si. Ademais, baixou os olhos, contemplando os corpos dos seus companheiros. O de Marco era o que mais chamava sua atenção, já que era a pessoa com quem ele mais havia passado tempo.

— Não vai atender ao clamor deles?

— Por que... — Léo cerrou seus punhos na alça da espada, olhando para aquela mulher ainda de braços abertos. — ... Quer tanto saber quem é o meu mestre? O que isso importa?! Você matou os meus companheiros!

— Acontece que os golpes que você usa são semelhantes aos deles, o meu antigo mestre.

— E o que isso importa? Você tirou vidas!

— Aceitarei todos os meus crimes depois que eu o encontrar.

— Então está me dizendo que não pretende pagar por seus crimes até se encontrar com o seu mestre?

— Sim.

— Valquires!!! — Léo gritou, recuando alguns metros. Com a espada posicionada verticalmente, olhou severamente para aquela mulher que agora apontava a lâmina da espada para ele.

— Gritar meu nome não vai adiantar de nada, diga se conhece o meu mestre ou não, e eu o deixarei viver, Léo Raia.

Léo suspirou, mantendo seu olhar severo enquanto empunhava a espada. Veias extrapolaram a pele do seu punho direito, um suspiro saiu da boca. Seus batimentos cardíacos, que antes eram acelerados, agora estavam regularizados.

— Escutem, pessoal... — Léo falou, ainda mantendo os olhos naquela oponente de madeixas branca. — Esse é o meu último comando como vice capitão.  Sei que muitos sempre têm dificuldade em obedecer aos meus comandos, mas como este é o último, peço de todo o coração que obedeçam!

" Como assim, vice capitão?"

Os soldados começaram com as indagações perante as palavras proferidas por seu vice capitão. Estava claro para eles que ele queria se sacrificar por eles.

— Não vamos permitir que se sacrifique! — Um dos soldados ergueu a sua espada. Ele possuía um escudo em suas mãos. O outro, semelhante a este, que possuía o mesmo armamento, também levantou a espada em apoio aos seus companheiros.

— Sabe muito bem que nunca abandonaríamos um companheiro, vice capitão — acrescentou um soldado, batendo o punho direito no peito.

— Eu é que não quero correr com o rabo entre as pernas e deixar tudo para um menininho. Ainda que ele tenha muita força — disse um soldado veterano. Seu orgulho, assim como o de seus companheiros, não permitia que ele se rendesse e deixasse tudo nas mãos de um garoto que, ainda sendo deverás habilidoso, não passava de um soldado sem experiência no campo de batalha. Vergonha lhe perseguiria por toda sua vida.

Quase todos ali preferiam ter um fim honrado do que ser lembrado como um covarde que abandonou seus companheiros em campo de batalha.

— Estou fora. — Um dos soldados guardou a espada em sua bainha. — Sinto muito, mas tenho família para cuidar. Minha família depende de mim!

Este era um dos soldados que se propôs a desistir do combate. Ele, assim como muitos que pensavam como ele, haviam feito uma análise sobre a chance de vitória nessa guerra e perceberam que só aqueles soldados ao pé daquela fonte valiam mais do que uma frota. Só aquela mulher já havia exterminado muito dos seus companheiros, nem os soldados veteranos conseguiam dar conta dela.

Chegaram à conclusão definitiva de que era inútil lutar. Aqueles soldados estavam em um patamar diferente dos deles. Alguns queriam bastante lutar e morrer com honra, mas o medo corroeu seus corpos. Medo de deixar seus familiares que dependiam dos seus salários na profunda penúria.

— Familiares? Não me venham com essa! Vocês sabiam que o trabalho de um soldado tinha esses riscos!

— Deixem de ser covardes e assumam o vosso papel — acrescentou o outro em apoio ao seu companheiro. — Vejam todos aqueles corpos, são nossos companheiros... Acham que eles não tinham família ao seu aguardo?!

Uma discussão se instalou no meio daqueles soldados, suas opiniões divergiam.

Léo não sabia mais o que fazer naquela situação, suas palavras provavelmente não seriam ouvidas.

— Léo Raia...

Valquires ainda apontava a espada para seu adversário, que se encontrava em turbilhões de pensamentos enquanto os seus soldados discutiam lá atrás.

— Permito que os seus companheiros possam fugir, no entanto, terá que me responder quem é o seu mestre. Apenas isso!

— Tudo bem. — Léo sequer cogitou pensar, aceitou na hora. — Só espero que não volte atrás na sua palavra.

— Aparento ser uma mulher de falsas promessas?

De fato, aquela mulher não tinha cara de quem fizesse uma promessa e voltasse atrás, tudo nela emanava seriedade. Léo decidiu confiar nas palavras daquela mulher.

— O meu mestre é Helena Acácias.

— Helena? E quem foi mestre dela, então?

— Não te importava saber o meu mestre?

— Apenas responda. — O olhar daquela mulher ficou tão frio, que Léo pensou que, se ele não respondesse, ela poderia voltar atrás na sua palavra.

— É um velho que ela sempre chama de " mestre" ela disse que ele nunca contou o seu nome para ela.

— Ele está vivo?

— Sim. Satisfeita?

Valquires sorriu. Era o seu primeiro sorriso desde muito tempo.

Ah, pode pegar os seus companheiros. Vocês estão livres para deixar esse reino.

— Eu vou ficar. — Léo deixou os seus olhos sérios. — Eu só quero que eles fujam, mas eu vou ficar aqui e lutar.

— Se ficar aqui, sabe que vai morrer, não sabe?

— É, eu sei.

— Não valoriza sua vida?

— Eu preciso honrar os meus companheiros. Como vice capitão, é inconcebível que eu fuja de uma batalha.

— Se é o que deseja, não me oporei.

Léo ergueu sua espada ao alto.

— Companheiros!

Seus soldados pararam de discutir e voltaram os olhos para o vice capitão.

— Podem fugir! Eu consegui com que pudessem fugir! Se valorizam a felicidade da sua família, não os deixem tristes e fujam! Um soldado morto jamais pode recuperar sua honra!

Naquele momento, os soldados se lembraram, de quem os esperava em casa. Dos rostos de preocupação que suas mulheres e filhos fizeram na despedida, do choro das suas mães. Seus corações, neste momento, estavam em desespero. Alguns idosos provavelmente nem aguentariam ao receber a notícia de que um dos seus parentes havia perecido na guerra.

— Eu, Léo Raia, decidi ficar aqui e lutar! Não por sacrifício, mas por vontade própria!

Os soldados começaram a olhar uns nos outros e tiveram a ideia de fazer uma votação. Quem queria ficar, levantaria sua espada. Quem queria ir, não levantaria sua espada. Aconteceu que a maioria dos soldados não havia deixado sua espada baixada. Eles não queriam desperdiçar a hipótese de sobrevivência que lhes estava sendo concedida.

Ah... — Valdes balançou sua taça de vinho, olhando para aqueles soldados que planejavam fugir. — Mas acontece que ninguém pode fugir... — Direcionou seus olhos para Maísa. — Mate todos aqueles vermes. Sem sobrar nenhum.

— Mas isso não vai deixar a Valquires em mãos lençóis com seu cavalheiro?

— E o que isso importa? — questionou Jaru. — Valquires pode até ser a vice-capitã, mas não pode fazer o que lhe dá na telha.

— Isso me cheira a ciúmes. — Garfiel olhou para Jaru, mas ele ficou quieto quanto à provocação dele.

— Bom, nesse caso, vou usar aquilo.

— Todos vão morrer mesmo, então não importa tanto assim — assentiu Valdes, bebericando seu vinho enquanto lançava seus olhos para aqueles soldados que se preparavam para fugir dali.

Liberar Aurimagia do ar.

Maísa levantou suas mãos ao alto e, quando levantou, as expressões dos soldados entraram em pavor. Eles apontaram para cima, onde o sobrenatural acontecia. Flechas estavam flutuando. Elas saiam das aljavas de Maísa como se os céus as atraíssem como ímã e a gravidade tivesse sido invertida. Era uma loucura para seus olhos.

— Maísa, espera! — Valquires direcionou seus olhos para sua companheira, que apontava aquelas flechas, concentradas no céu, para aquela frota de soldados com os semblantes tomados pelo profundo pavor.

— Sinto muito, Valquires. Mas são ordens do capitão.

Valquires lançou os olhos arregalados sobre Valdes, que bebericava seu vinho. Mas logo, Léo, que ficava cada vez mais perplexo com aquilo, chamou sua atenção.

— O que vem a ser isso!? Isso vai muito além do que um ser humano pode fazer... Quem são vocês?!



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