Volume 1
Capítulo 41: A determinação de um soldado
Há alguns minutos
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— Divisão de extermínio de Aclasia?
Léo fitou severamente aquele homem que pegava uma garrafa de vinho ao lado da taça já vazia.
— Sim… — Valdes elevou a garrafa, encurvando-a em direção à taça. Aquele líquido carmesim que caia como água vertendo da torneira enfureceu Marco e os demais soldados. Era como se aquele homem estivesse zombando do sangue derramado de seus companheiros. — Quital, vai um pouco? — Valdes estendeu o braço que segurava a taça.
— Esse cara… Eu quero cortar ele em pedacinhos! — Marco franziu as sobrancelhas. Léo elevou a mão ao seu ombro.
— Calma, não sejamos precipitados.
Logo uma montanha de murmúrios começou a ressoar aos ouvidos do vice capitão. Os soldados cerravam seus punhos indignados, desejando eliminar aquele homem que apenas sorria, balançando a taça de um lado para outro.
— Você é mesmo hilariante — disse a mulher a poucos metros de Valdes. Ela sorria, observando aqueles jovens soldados. Pela aljava em suas costas, Léo podia afirmar que ela era arqueira responsável por eliminar seus companheiros daquela forma macabra.
— Hum… Estou apenas tentando dar uma recepção hospitaleira aos nossos convidados. — Valdes continuava balançando a taça. Vinho girava de um lado para o outro.
— Do que estamos a esperar, Léo?! — questionou Marco, impaciente. Léo mal teve tempo de responder seu companheiro de batalha, pois Valdes havia tomado a palavra enquanto olhava com um sorriso para aquela frota de soldados.
— Prestem atenção, porque após a minha formal apresentação, vocês serão exterminados.
— Hã?
Não apenas Léo havia ficado espantado, mas toda sua frota de soldados. Exterminar? Aqueles cinco? Era evidente a desvantagem numérica que havia ali. Eram apenas seis encapuzados com armas, apenas isso. Em contrapartida, eles eram um exército armado até aos dentes.
Risadas ressoaram das bocas dos soldados. Léo também não evitou a risada. Ele riu, moderadamente, enquanto colocava o punho sobre o lábio.
— Nunca ri tanto na minha vida! — Marco suspirou, limpando com o dedo as lágrimas ao redor dos seus olhos. — Esse cara fala a sério mesmo?
— Vice capitão Léo, veja só, ele acha que seis pessoas podem algo contra uma frota de soldados desse calibre! — Os soldados continuaram a rir. Ao passo que Valdes apenas continuava com
seu semblante calmo. — Só pode ser piada!
— De fato, ele parece estar delirando — Léo assentiu, mas não deixava de ficar incomodado com a calmaria que aqueles seis demonstravam.
— Bom, é bom ter um momento feliz, antes de desaparecer, certo? — Valdes pousou sua taça sobre o pequeno muro daquela fonte. Marco novamente riu ao lado dos seus companheiros.
— Agora acredito, realmente existem lunáticos para tudo nesse mundo!
— Muito bem… — Valdes suspirou. — Sou o capitão da Divisão de exterminação de Aclasia, também conhecida pelo acrônimo (DEA). Somos uma divisão secreta formada por soldados “especiais”, eu diria. Atuamos nas sombras com o objetivo de eliminar todo e qualquer empecilho que tente instalar a desordem no reino de Aclasia… — Valdes continuou falando sobre a divisão, que ficava menos secreta com a montanha de informações que ele ofereceria.
— Léo… — Marco chamou. Léo revirou os olhos. Alguns dos soldados bocejavam, reclamando daquele falatório.
— Somos mesmo obrigado a assistir essa apresentação ridícula?
— Por que não? Essas informações podem ser úteis ao reino de Acácias.
— Só não percebo onde que esse lixo que sai da boca desse cara é útil…
— Bem… Agora a apresentação dos membros. — Valdes sorriu, apontando para a mulher que tirava seu capuz, revelando suas madeixas pretas. — Essa é a Maísa Venila. Ela é um ser humano bastante frio.
— Isso só porque eu te recusei, capitão?
— Maisa, peço que por favor, não interrompa minha apresentação.
— Você é muito azedo — murmurou.
Em seguida, Valdes olhou para a encapuzada do seu lado esquerdo. Ela desceu o capuz, revelando seus cabelos brancos e seus olhos azuis finos que refletiam uma expressão de tédio.
— Essa é a Valquires. Ela é uma mulher de poucas palavras, mas de muita ação.
Valquires apenas olhou para Valdes, friamente.
— Ah, ela também é a vice capitã dessa divisão.
Os soldados continuavam ali, fazendo papéis de bobos, enquanto observavam aquela apresentação patética e infantil que aquele homem fazia.
Quantos anos ele tinha mesmo?
Era o que muitos se perguntavam. Se não fosse pelo comando do Léo de apenas observarem até que aquele homem terminasse de falar o que tinha a dizer, eles já teriam atacado.
— Temos o Jaru, o Garfiel e o Taris. — Apontou para aqueles três que desciam seus capuzes, revelando sua aparência.
O Jaru possuía cabelo preto tão semelhante a cor dos seus olhos. Carregava em seus quadris duas facas bem afiadas. Uma arma um tanto quanto diferencial para ser usada por um soldado, já que facas tinham pouco alcance.
Quanto a Garfiel, seus cabelos eram cinzentos quanto algumas nuvens que preenchiam o céu de Aclasia. Seus olhos castanhos observavam aquela frota de soldados, estando de prontidão com uma catana que ficava na lateral do seu quadril.
Taris, por sua vez, possuía cabelos azuis da cor da noite, seus olhos eram pretos que nem os do seu companheiro Jaru. Em sua mão direita, carregava uma lança afiada enquanto fitava severamente seus adversários.
— E nós seis formamos a DEA. — Valdes colocou mais vinho em sua taça enquanto olhava para Léo e seus soldados. — Vamos, agora é a vossa vez. Quero ao menos ouvir sobre os líderes antes de os dar um fim digno.
— Vai mesmo entrar na onda dele? — questionou Marco, revirando seu olhar para Léo. Ao passo que os soldados murmuravam, impacientes, para acabar com aqueles seis de uma vez por todas.
— Por que não? — Léo direcionou os olhos para Valdes, observando-o tomar seu vinho com tanta calmaria. — Eu me chamo Léo Raia, sou o atual vice capitão de Acácias. Estamos aqui para tomar Aclasia por razões que, creio eu, seja do vosso conhecimento. Honestamente, quero evitar mais derramamento de sangue, por isso peço para que se rendam e entreguem suas armas — Léo suspirou e então continuou. — E então prometo que não tomaremos suas vidas.
— Que fofinho da parte dele, capitão, não acha? — Maísa sorriu, direcionando seus olhos para Valdes, que agitava a taça.
— Receio que teremos que recusar seu pedido, Vice capitão Léo Raia.
— Por quê? — Léo segurou fortemente a alça da espada. — Sabem que estão em desvantagem, não sabem?
— De fato, estamos em desvantagem numérica — Valdes bebericou seu vinho.
— E então?
— Mas ainda assim, tal como esse vinho, refinado e delicioso, possuímos qualidades. Qualidades essas que não se equiparam a uma frota de soldados.
— Saiba que sua presunção não o levará a lugar algum. — Léo removeu sua espada de uma vez por todas, cerrando suas sobrancelhas. — É o meu último aviso: rendam-se antes que seja tarde demais!
— Aí, sim, Léo! — Marco sorriu com a espada pronta para fatiar cada um deles. — Nem precisa de último aviso, pessoas tolas e arrogantes como essas não merecem misericórdia!
Maísa retirou uma flecha de sua aljava, apontando para aqueles soldados em prontidão. — Parece que chegou a minha hora de brilhar.
Valdes direcionou seus olhos para Maísa.
— Bom, tanto faz.
— Esperem…
Todos os membros da DEA direcionaram seus olhos para aquela mulher de cabelos brancos, que sacava a espada presa à bainha no seu quadril.
— Eu vou lutar.
— Hum… Por quê? — questionou Maísa.
Valquires apenas começou a andar em direção àquela frota de soldados a alguns metros de distância. — Pensei que não gostasse de fazer o trabalho sujo.
— Por que não? — Valdes sorriu, revirando seus olhos para a arqueira.
Maísa baixou o seu arco, suspirando profundamente.
— Quando precisarem de suporte, me avisem.
Os olhos de águia de Léo fitavam aquela mulher que caminhava despreocupada em direção a uma frota de soldados. Muitos dos soldados começaram a chamá-la de louca, suicida, entre muitos nomes. Marco não evitou a risada ao contemplar aquela mulher, mas Léo sabia que tinha algo de errado. Aqueles olhos azuis… A maneira como aquela mulher empunhava a espada enquanto andava, indicava que ela não estava ali para brincar.
— Eu vou enfrentá-la! — Marco começou a caminhar. No entanto, um dos soldados que empunhava uma espada saiu do meio do exército.
— Estou cansado disso!
— Espera, Hartur! — Marco tentou pará-lo, mas não conseguiu. Mais soldados, cansados de esperar, passaram pelo Marco e pelo Léo, seguindo em direção àquela mulher que centralizava sua espada em uma postura ofensiva.
— Não vai mais nos parar, não é, Léo?
Marco voltou seu olhar para trás.
— Eliminem a todos.
— Agora, sim, você está falando como um verdadeiro vice capitão! — Marco sorriu, seguindo alguns dos seus soldados que haviam prosseguido àquela mulher de cabelos brancos.
A primeira investida havia sido feita por Hartur, que estava um pouco mais adiante. Sua espada foi direcionada horizontalmente ao pescoço daquela mulher. No entanto, Valquires elevou a sua espada verticalmente, bloqueando aquele ataque. Faíscas voaram pelo vento, uma troca de olhares aconteceu.
— Vejo que conseguiu bloquear o meu ataque… —Hartur sorriu, arrastando ainda mais sua espada contra Valquires. — No entanto, você não passa de uma mera mulher!
Valquires apenas manteve silêncio, seus olhos finos expressavam nada mais que frieza.
— Hum… Não fal... O quê? — Hartur arregalou os olhos, observando rachaduras tomando conta da sua espada à medida que colidiam. — Impossível... — Cerrou seus dentes. E no momento em que removeu sua espada, a espada de Valquires atravessou sua pele desde o peito até a barriga. Sangue jorrou da ferida que havia se aberto, manchando o metal que revestia a espada de Valquires.
Hartur se contorceu de dor. Nesta altura, seus companheiros direcionavam suas espadas com gritos de guerra contra aquela mulher que prepara sua espada horizontalmente para decepar Hartur.
Hartur, por instinto de defesa, elevou a espada, tentando bloquear o ataque, mas sua espada fora quebrada. Porém, Valquires não teve tempo de finalizar o ataque devido a um dos soldados que por pouco a tocava com sua espada, caso ela não tivesse direcionado sua espada contra ele. Ambas as espadas friccionavam.
— M-Matem... Matem ela!!! — gritou Hartur, gemendo de dor.
Nesta altura, Marco, que havia alcançado seus companheiros, executou um ataque vertical contra a brecha que Valquires havia criado.
— É isso que vocês chamam de soldados de qualidade? — Marco contemplava sua espada e a dos demais soldados sendo direcionadas contra Valquires.
Valquires piscou seus olhos ligeiramente, quebrando todas as espadas em um instante. Ninguém havia visto aquilo, foi tão rápido. Todos apenas arregalaram seus olhos, recuando alguns passos.
— O que você fez, sua louca!? — Um dos soldados contemplava sua espada pela metade, havia ficado no tamanho de uma faca.
— Se eu não me engano, essas espadas são feitas dos mesmos metais que a sua. — Marco lançou aquela espada, ou melhor, faca, ao chão. — Já que vocês Aclasianos importam os minerais de Acácias. Então, como você conseguiu quebrá-la? Sem falar naquela velocidade de reação... — Marco franziu suas sobrancelhas.
"O que aquela mulher fez?"
Os murmúrios começaram a ressoar entre os soldados que estavam atrás de Léo. Ele, por sua vez, analisava o que havia acontecido com a mão no queixo.
— Foi apenas força bruta — Valquires respondeu à indagação dos soldados ao seu redor.
— Força bruta, você diz? — questionou Marco, descrente.
Valquires apenas olhava para eles. Um olhar de tédio.
— Marco, Hartur e vocês três, recuem!
Léo ordenou.
— Por que a Valquires não acaba logo com eles? — indagou Maísa, observando-a deixar aqueles soldados recuarem, quando podia rapidamente executar um ataque impossível de se defender contra eles.
— Hum... — Valdes agitou sua taça. — Valquires só está brincando com sua presa, mostrando suas habilidades pouco a pouco.
Por outro lado, Marco se sentia indignado por ninguém ali querer lhe emprestar uma espada para que pudesse combater Valquires.
— Vai ter que esperar a gente acabar com ela!
Os soldados riram-se.
— Léo... — Marco revirou seus olhos com uma expressão suplicante.
— Ela vai quebrar a espada novamente. Não adianta atacarmos assim do nada.
— Na verdade, eu só estava me segurando por ela ser um pouco bonita. Prometo que não vai acontecer novamente! — Marco, todo confiante, bateu o punho direito contra o peito.
— Sei... — Léo entregou sua espada para Marco, que recebeu com um sorriso colgate no rosto.
— Muito obrigado!
Marco, todo animado, planejava obter sua revanche, no entanto, Léo segurou em seu braço.
— Espere.
— Hã? Por quê?
— Helena já havia feito algo semelhante antes, em um dos nossos treinamentos.
— Capitã Helena fez algo tão absurdo assim? Bom, não era de se esperar, afinal, é ela! — Marco sorriu. — Era só isso?
— Ouça os que os outros dizem primeiro.
— Estou ciente de que aquilo foi força bruta. E sei o que posso fazer para combater aquilo.
Léo deixou o braço do Marco.
— E, por favor, peço que impeça cada cabeça dura que quiser me seguir. Esse combate é meu! — Marco levantou sua espada ao alto, gritando. — Não quero que ninguém me siga, essa luta é minha!
Vozes de indignação se levantaram enquanto Marco caminhava em direção à mulher que permanecia parada com sua espada manchada pela cor carmesim.
— Valquires, não é?
Os lábios de Valquires sequer se moveram.
— Dessa vez, eu vou acabar com sua raça!