Volume 1
Capítulo 38: DEA
Passos largos, espadas nas mãos, assim marchava o terceiro esquadrão que contornava a grande batalha que se desenrolava no centro.
— Caramba, o grupo do William fez uma grande confusão por aqui! — Marco balançava a mão de um lado para outro, tentando espantar aquela enorme poeira que ainda pairava no vento.
Aquela parte da muralha estava toda destruída, haviam sobrado apenas estilhaços de pedras sobre pedras. Um buraco de mais ou menos sete metros havia se aberto nas muralhas.
— Só acho que essa ofensiva foi um pouco exagerada — disse Léo, subindo em cima de um pedregulho com suas sandálias de couro. Seus soldados o acompanhavam na passagem pela entrada.
— Exagerada? — questionou Marco, que estava ao seu lado, enquanto subia mais um degrau daquelas pedras.
— Civis inocentes podem terem sido mortos.
— E o que tem? Isso é guerra. Todo mundo sabe que isso sempre acontece!
— Mas isso não quer dizer que devamos manter uma postura fria diante disso tudo.
Léo e seus companheiros haviam finalmente atravessado todos aqueles destroços. Seus olhos agora contemplavam casas destruídas, caindo aos pedaços. No entanto, não se encontrava nenhum corpo ou sangue escorrendo em meio aos destroços, tão pouco gritos de ajuda.
— Veja, é isso que acontece quando se envia uma carta de declaração de guerra com a data da invasão.
— Creio que esse fosse o plano de rainha Sophia, tomar Aclasia sem machucar nenhum civil.
— Pois é. Mas eu ainda preferia pegar eles de surpresa. — Marco soltou uma leve risada. — Mas bom, fazer o que, não é?
O exército continuava andando por aquela cidade, observando ainda a poeira provinda das casas.
— Ei, Léo…
Léo revirou seus olhos castanhos.
— Vamos fazer o sinal de fumaça logo, Helena já deve estar quase acabando lá.
— Não sei onde você apanha esse excesso de confiança. Helena pode ser forte, mas ainda é um ser humano. Eu, na verdade, estou preocupado com ela.
— Hum... Fala isso como se não conhecesse a Helena. Aquela mulher conhece a arte da espada melhor que ninguém. Ela foi obrigada a aprender espada desde criança.
— Conheço a história. No entanto, não acho bom subestimar o adversário.
— Você pode até não achar bom, vice capitão. — Marco olhou seriamente para seu companheiro. — Mas de uma coisa eu tenho a certeza, eu não vim aqui para perder.
— Ninguém veio, idiota. Mas nunca se sabe o que pode acontecer. Já dizia o meu pai: aquele que pensa estar de pé, cuidado para que não caia.
— Tudo papo furado — Marco suspirou, voltando a olhar para Léo. — Se você não fosse tão habilidoso quanto é, com esse seu coração de gelatina, eu nunca teria te aceitado como vice capitão.
— Coração de gelatina, é? — Após terminar essas palavras, Léo sentiu a presença de pessoas.
Quanto mais andavam por aquela cidade vazia, mais a sensação de que olhos estavam a espreita ficava forte.
— Apareçam! — gritou Marco, direcionando seus olhos para tudo quanto é lado.
O exército também estava aposto, com olhares afiados direcionados para todos os lados.
— E pensar que vocês entrariam na cidade de Aclasia... — Era a voz do Tenente Reville. Ele surgiu da lateral de uma das ruas da cidade de Aclasia. Uma frota de soldados armados até os dentes o seguia por trás.
— É de se louvar...
Outra voz ecoava, essa vinda dos telhados. Era o Tenente dos arqueiros que sorria, batendo palmas.
O exército de Léo pôde contemplar uma frota de arqueiros ao lado e atrás do tenente, todos com flechas apontadas para eles.
— Hum... Parece que estamos cercados... — Marco sorriu.
— Soldados! Formação!
Léo ordenou. Seus olhos estavam tão sérios quanto os de uma águia prestes a caçar um predador.
Os soldados fizeram conforme haviam praticado em seus treinamentos, caso houvesse uma investida surpresa por parte dos soldados Aclasianos. Tudo como sua capitã Helena havia planejado, já prevendo que uma situação dessas pudesse ocorrer.
Os arqueiros Acacianos protegiam as laterais da formação que se assemelhava a um triângulo equilátero. Com suas flechas já postas nos fios dos arcos, apontavam para os arqueiros por cima dos telhados. Os que tinham escudo ficavam ao lado dos arqueiros para que pudessem alternar entre ataque e defesa.
Os que tinham espada avançariam em linha reta enquanto eram protegidos pelos que tinham escudos e os arqueiros.
— Vejo que vieram bem preparados — Tenente Reville elogiou.
— É claro que sim, para dizimar o vosso reino — Marco sorriu, com a espada erguida para cima.
— Tenente Reville, vamos mostrá-los a força de Aclasia — disse o Tenente dos arqueiros, levantando seu braço para cima enquanto observava aqueles soldados na sua formação triangular.
— Mas é claro... — Tenente Reville elevou a espada ao alto.
— Ataquem!
Os dois Tenentes desceram seus braços em rápida velocidade. Dada a ordem, os soldados do Tenente Reville correram com gritos de guerra em direção ao Léo e seus soldados.
Um ataque frontal.
Enquanto isso, os arqueiros e escudeiros que formavam a lateral triangular contra atacavam o ataque de flechas vindas das laterais.
Flechas colidiram, faíscas voavam pelo vento. As que restavam, a equipe dos escudeiros repelia com seus escudos.
— TSE... — O Tenente dos arqueiros estalou a língua, observando alguns dos seus soldados que haviam caído pelo contra-ataque dos arqueiros Acacianos. Eles não tinham uma formação tão boa quanto a dos Acacianos, que lhes permitisse se proteger das flechas adversárias.
Sangue escorria pelo telhado, um lago carmesim aos poucos ia se formando.
Em contrapartida, um embate feroz era travado entre os soldados do vice capitão Léo Raia e o Tenente Reville. Olho no olho, espada por espada.
— Aqui só tem soldados fracos — disse Marco, rasgando o peito de um soldado horizontalmente. Ele caiu de joelhos enquanto cuspia sangue da boca. No momento em que sua espada caiu no chão, seus olhos se fecharam para esse mundo.
Léo, por outro lado, golpeava os soldados em seus pontos não vitais. Ele não pretendia matar ninguém ali, apenas os deixar impotentes e inconscientes, para que não pudessem mais lutar.
Havia estudado a anatomia do corpo humano para que, por descuido, não acabasse lesionando alguém mortalmente em suas batalhas. Os soldados eram derrubados ao som de sua espada, permanecendo inconscientes.
Sangue saltitava pelo vento.
Os soldados Acacianos estavam ganhando mais terreno, não era de se esperar, afinal, eles estiveram treinando há mais tempo que os soldados Aclasianos. Alguns se arrependeram naquele momento. Ao invés de passarem maior parte do seu tempo no treino, fugiam às escondidas e iam beber vinho, ou ainda, jogar jogos de azar.
Aquela toda diversão não serviu para nada naquele momento. Mais valia ter treinado o suficiente para lutar bem na guerra e sair vivo, do que perecer por causa de um curto momento de lazer.
— Eu realmente não soube dar valor ao que mais importava. — Com o semblante triste, olhos turvos, o soldado caiu em meio ao lago de sangue que havia se formado ao seu redor. Estava junto aos corpos dos seus companheiros, que assim como ele, não estavam bem preparados para essa guerra.
Marco balançou sua espada, fazendo com que o sangue que estava nela fosse ao vento e depois ao chão.
— Impossível... — Os traços do Tenente Reville se contorciam de pavor enquanto ele olhava seus soldados caírem um por um. Embora houvesse um e outro soldado Acaciano caído, o número dos soldados Aclasianos que haviam perecido a espada era maior.
Léo agachou-se, fechando os olhos de um dos seus bravos guerreiros que havia tido um triste fim. Enquanto isso, Marco apontava a espada para o Tenente Reville que ficava cada vez mais perplexo. Haviam sobrado poucos soldados e esses mesmo poucos, não queriam mais lutar. Recuavam com o rabo entre as pernas.
— R-Recuar! — O Tenente mordeu os lábios amargamente enquanto balançava sua espada ao vento. — Vamos recuar!
Os soldados corriam com as espadas nas mãos, no entanto, os Acacianos não permitiram que eles fugissem. Em vingança aos seus poucos companheiros caídos, algum deles perseguiram aqueles poucos Aclasianos que corriam deles apavorados.
— Então isso é tudo que Aclasia tem? — Marco direcionou os olhos aos telhados. O trabalho ali também já estava terminado. O único que havia sobrado de pé era o Tenente dos arqueiros, mas seu estado não era um dos melhores. Havia sido perfurado por duas flechas no peito e no seu abdômen. Segundos depois, ele caiu. O último arqueiro. Seus olhos se fechavam enquanto lembranças dos últimos treinamentos que ele teve com seus soldados passavam como um flash na sua mente.
No final, ele soltou um leve sorriso, fechando seus olhos já vazios ligeiramente.
— Meus soldados! — Léo levantou-se, guardando sua espada na cintura. — Peço um minuto de silêncio a todos os mortos. Sei que se trata de uma guerra, mas eles não passavam de peões de seu rei. Estavam apenas lutando pelo seu reino, assim como nós.
Alguns soldados ficaram indignados com as palavras do Léo, mas mesmo assim, todos obedeceram à ordem do seu vice capitão. Por cerca de um minuto, houve silêncio em memória de todos os soldados que haviam perdido a vida naquele local.
— Que estranho...
Léo olhou para Marco, que fazia um semblante de preocupação.
— O que?
— Os soldados que foram atrás do Tentene e os outros soldados Aclasianos ainda não retornaram. Não era para eles terem ido tão longe.
— Com certeza devem estar à nossa espera em algum canto — disse Léo enquanto levantava sua espada ao céu. — Vamos, meus soldados! Avancem!
Os soldados começaram a marchar com seu vice capitão e Marco na liderança.
— Não esqueçamos de fazer o sinal de fumaça — relembrou Marco.
— Ah, é mesmo, o sinal de fumaça... Mas vamos fazer um pouquinho mais para frente, depois que encontramos os demais soldados.
— Bom, se o vice capitão falou, tá falado.
Assim, Léo continuou sua marcha pela cidade de Aclasia. Toda aquela parte estava inabitada. Sem sinal de ser humano, o que, de certa forma, aliviou o coração de Léo.
No entanto, após terem cruzado mais um caminho, Léo e os seus companheiros sentiram cheiro de sangue mais perto.
Cada vez mais se intensificava.
Quando viraram a esquina, puderam observar corpos estatelados. Sem dúvidas, eram os cadáveres de seus companheiros.
Arregalaram os olhos, segurando suas espadas fortemente. Haviam seis pessoas um pouco mais em frente aos corpos. Estavam de capuz. Um deles estava sentado e os outros cinco de pé, em uma grande fonte prateada. No meio dela havia a estátua de uma mulher vestida de panos, que possuía dez metros de altura e segurava um grande jarro de água sobre seus longos cabelos.
— Hum... — O homem encapuzado, que estava sentado no meio da fonte, agitou a taça de vinho em suas mãos. — Então são vocês que colocaram os meus soldados para correr?
— Quem são vocês?! — Léo perguntou com o cenho franzido. Pôde constatar nos soldados cerca de dez perfuros feitos por flechas em cada parte dos corpos. Uma ou mesmo duas flechas acertadas no ponto vital já bastavam para eliminar um soldado, então isso só significou para Léo que o atirador havia torturado seus soldados, dando-lhes uma morte dolorosa.
— Nós? Ah, é claro... — O encapuzado pousou sua taça sobre o chão da fonte, retirando seu capuz. — Meu nome é Valdes Aryane. E nós somos a divisão de exterminação de Aclasia, conhecida como DEA.