Volume 1

Capítulo 32: De volta a casa

Dias se passaram, dias de treinamentos intensos. A falta que a mascarada fazia foi notaria, no entanto, Miomura suplicou ao Florento para espalhar uma notícia falsa de que a mascarada havia perdido um dos seus familiares, sendo obrigada a regressar urgentemente ao norte de Aclasia.

Tão inocentes, os soldados caíram nessa mentira descarada que Florento havia espalhado. Era melhor assim, em hipótese alguma, os demais soldados podiam suspeitar que Miorianos haviam se infiltrado em Aclasia.

Bem, para muitos essa notícia foi conveniente porque a mascarada estava roubando o destaque de muitos veteranos. Se alegraram e desejaram que nunca mais voltasse, que ficasse lá por suas terras.

O campo de treinamento havia sido tomado por uma dita paz após a saída da mascarada.

Mais dias foram se passando, o sol e a noite alteravam sem parar. Faltava pouco tempo para a guerra, então os Miorianos com o conhecimento e a habilidade que tinham, foram obrigados a voltar para seu vilarejo a fim de ensinar tudo quanto sabiam aos seus conterrâneos.

— Então é aqui que nos despedimos. — Florento sorriu, apertando a mão do Gabriel. — Foi bom enquanto durou.

— Então… Acho que nos veremos novamente no campo de batalha, não é?

— Queria eu que não fosse, mas sim.

Miomura com uma sacola enorme nas costas, se aproximava com um sorriso daqueles dois.

— Não acha que essa sacola está bastante cheia?

Florento semicerrou os olhos para aquela sacola enorme.

Hã? Eu acho que não.

— O que tem aí, Miomura? — questionou Gabriel. — Supostamente, não deveríamos levar nada daqui.

— São só uns presentes que eu ganhei do meu amigo Caiju.

— Que presentes são esses?

— É segredo.

Gabriel e Florento olharam um no outro e então balançaram a cabeça positivamente, indo ao Miomura enquanto batiam o punho nas palmas de suas mãos. Miomura não resistiu ao ataque em conjunto daqueles dois, que tomaram a sacola de suas mãos.

— Não acredito que você roubou as armas do campo de treinamento! Isso é um crime grave! — Florento arregalou os olhos ao contemplar o interior da sacola; arcos e flechas, espadas e máscaras.

Tsc — Gabriel estalou a língua. — Você, por acaso, bate bem de cabeça? Se tivessem te pegado?

— Na verdade, eu não fiz nada. Foi o Caiju.

— Não me diga que ele perdeu para você de novo e você fez ele roubar para você.

— Bingo. — Miomura estalou os dedos, olhando para Florento.

— Bingo nada, seu burro. E agora… — Gabriel mordeu os seus lábios, observando aquelas armas na sacola.

— Vocês por acaso lembram do meu principal objetivo ao entrar em Aclasia?

— Conseguir armas para seu povo, não é? — afirmou Florento. — Não pensei que você ainda tivesse isso em mente.

— Mesmo que levássemos essas armas, o que acha que o povo pensaria? O que acha que os soldados Aclasianos dirão quando virem que o povo tem armas?! Hã?

— Isso é verdade — assentiu Florento.

— Quem se importa com isso? Usaremos na guerra. Acha mesmo que na guerra os soldados terão tempo para reclamar as armas? Ou eles estarão preocupados em assegurar sua vida.

— Ele tem um ponto — concordou Florento.

Gabriel suspirou profundamente.

— Não falo mais nada, você já faz o que te dá na cabeça mesmo.

Miomura sorriu e arrastou aquele ¹espólio de armas por todo o acampamento, caminhando por lugares obscuros para que não fosse notado. Seus conterrâneos também haviam levado consigo pequenas sacolas que continham ao menos uma espada e um pouco das iguarias de Aclasia.

Foi uma longa caminhada, mas com esforço conseguiram chegar em seu amado vilarejo sem serem interpelados por nenhum Aclasiano.

Os Miorianos observaram ao longe seu vilarejo, reluzente à luz de tochas. Lar doce lar, finalmente poderiam ver os seus familiares, abraçá-los e contar-lhes as aventuras que haviam tido em Aclasia.

Ao cruzar o portão do vilarejo, os dez se despediram com sorrisos e acenos. A partir daquele ponto, cada um tomou o caminho para sua casa, carregando sua sacola consigo.

— Finalmente em casa — Gabriel suspirou enquanto caminhava ao lado do seu amigo.

— Isso é verdade. Mas Gabriel, sua casa não fica mais para lá no fundo?

— Tenho medo de que você cometa mais alguma besteira essa noite. Por isso, vou tomar o caminho mais longo.

— Eu não sou uma criança.

— Mas se comporta como uma.

— Você é um exagerado.

— Ei, essa sua sacola… — Gabriel apontou para as costas do Miomura.

— O que tem?

— É melhor deixar na casa do chefe aldeão.

— Daquele ladrão? Nem brincando!

— Se o seu pai vir isso, vai zangar consigo. Ou você prefere explicar para ele sobre a história de como arranjou essa sacola enorme?

— Tem razão. Você ganhou.

Miomura suspirou de leve, não gostava nada da ideia de deixar a sacola na casa do chefe depois do que ouvira de sua irmã a seu respeito. Aquela imagem que ele tinha do chefe foi jogada na lama, agora ele só sentia desprezo por seu ex-amigo.

Toc… — Gabriel elevou sua mão direita que estava livre à porta, dando três batidas na porta da casa do chefe aldeão. Mas ninguém abria.

— Não é assim que se bate em casa de um corrupto! — Miomura pousou sua sacola enorme no chão e elevou o punho direito, socando a porta diversas vezes.

— Você ficou louco! — Gabriel teve que segurar o braço de Miomura, pois ele estava a ponto de esmagar a porta da casa do chefe aldeão.

A porta foi finalmente aberta por uma mulher que esfregava seus olhos de sono.

— Que jeito é esse de bater a porta, posso saber? — Quando abriu os olhos, arregalou-os. — Miomura… Gabriel?

— Como tem passado, Nora?

— Aquele, digo, o chefe está?

— Ele está dormindo. É até um milagre ele não ter acordado do jeito que estavam batendo a porta.

— Perdão. — Gabriel sorriu de leve, revirando o olhar para o seu amigo. — Não foi a nossa atenção, não é, Miomura?

— É, eu estava tentando matar uma abelha que havia pousado na porta.

— A-A-Abellha!? Onde?

Ela balançou a cabeça freneticamente, olhando para os lados, fazendo com que seus cabelos fossem arrastados ao som do vento.

— Não se preocupe, ela sumiu graças ao meu soco! — Miomura sorriu. Gabriel semicerrou os olhos enquanto olhava seu amigo se exibindo para Nora.

— Bem… — Gabriel tossiu, chamando a atenção dos dois. — Você poderia ficar com essa sacola? — Apontou para baixo.

— Sem problema algum. — Nora sorriu, observando aquela sacola enorme. — O que tem nela?

— São armas — respondeu Miomura.

— Armas, tipo espadas e arco e flechas?

Miomura balançou a cabeça positivamente.

— Espera… Como você sabe disso? — questionou Gabriel.

Miomura colocou a mão sobre o queixo, se perguntando o mesmo. Espadas era até normal, mas arco e flechas? Era suspeito que uma Mioriana que apenas ficava presa ao vilarejo soubesse disso.

— Ah, eh, é que um dia eu ouvi por aí, sabe… — disse, entrelaçando suas mãos enquanto o desespero tomava conta do rosto. — Com os oficiais, entendem?

— Ah, sim — Miomura semicerrou os olhos, descrente. — Entendi.

— Bom, já estamos indo.

— Tudo bem. E muito obrigada! — Nora acenou enquanto aqueles dois lhe davam as costas.

— Ela nem disfarça, sabe disfarçar que sabe dos podres do pai — disse Miomura enquanto revirava por segundos seus olhos para trás, observando a uma dada distância a filha puxar a sacola de armas para dentro.

— Pois é.

E, assim, continuaram caminhando até a casa do Miomura que não ficava tão distante da do chefe aldeão. Ao longe, já podiam observar a tocha que ficava perto da casa do Miomura.

— Bom, a partir daqui, não tem como eu fazer nenhuma bestei... Espera um pouco... — Miomura arregalou os olhos, colocando as mãos sobre a cabeça. — Eu deixe o livro na sacola! Eu preciso voltar... — Tentou dar meia volta, mas Gabriel segurou seu braço.

— Amanhã você leva. Não seja tão precipitado.

— Mas... Com o que eu vou me divertir?

— Com o sono. Agora vamos, ande. — Gabriel puxou seu amigo para frente.

— Se eu nunca mais tiver o meu livro em mãos, Gabriel... Eu...

— Para de falar e ande. — Gabriel empurrou Miomura pelos ombros, continuamente, até chegarem à casa.

Miomura suspirou pesado, com a dor no peito de não ter o seu livro consigo, era o seu segundo e ele não queria perdê-lo como havia acontecido com o antigo.

— Vamos! Entre em casa e durma, amanhã é dia.

— Boa noite. — Miomura levantou uma das mãos enquanto entrava na casa. A porta estava destrancada. — E diga a baixinha que as férias dela acabaram.

— A Yara? Não se preocupe... — Gabriel soltou uma leve risada. — Tenho a certeza de que, hoje mesmo, ela volta assim que souber que você voltou.

Miomura fechou a porta. Gabriel foi embora com sua pequena sacola em mãos.

Em casa, Miomura começou a caminhar pelos compartimentos em direção ao quarto do pai. Ao abrir a porta, pôde contemplá-lo dormindo confortavelmente enquanto roncava.

— Pai, eu voltei...

Dito isso, Miomura fechou a porta do quarto e prosseguiu ao seu quarto, que ficava logo ao lado. Puxou a porta de leve e caminhou a passos lentos, se jogando na cama de braços abertos, enquanto obsevava as estrelas cintilantes pela janela.

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¹espólio — Conjunto de coisas tomadas ao inimigo durante uma guerra.



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