Volume 1
Capítulo 29: Duelo de Arqueiros
— Bom, pessoal! Por hoje é tudo — anunciou Maísa enquanto se levantava do banco, esticando o corpo de um lado para o outro.
O entardecer havia chegado. O sol, em seu resplendor, sucumbia em meio às nuvens que refletiam seus raios alaranjados.
Os arqueiros estavam exaustos, o suor percorria por todas suas vestimentas, que mesclavam algumas partes de bronze e outras de puro tecido de seda.
— Quero parabenizá-los! — Maísa bateu as palmas para os soldados, que vinham ao seu encontro. — Se continuarem mantendo o mesmo vigor que hoje, diminuíram as chances de virarem cadáveres de guerra!
Os soldados agradeceram ao reconhecimento que Maísa havia lhes dado. Depois de ela ter demonstrado tamanha habilidade no uso de arco e flecha, agora todas as palavras que saíssem da sua boca eram uma dose de sabedoria.
— Dito isso, agora me despeço. Desejo a todos boa sorte e que não morram na guerra, sim? Já que seria um desperdício de treinamento.
— Como assim? — Começaram a surgir questionamentos por parte dos arqueiros. — A Senhorita não virá amanhã?
— Gostaram tanto assim do meu treinamento?
Os soldados não hesitaram em afirmar que "sim" haviam adorado as dicas que Maísa havia dado, as lições importantíssimas que tinham que ter em conta quando fossem manusear o arco e flecha. Queriam provar mais de sua sabedoria que nem os seus instrutores foram capazes de passar para eles.
— Então acho que vou pensar com carinho. — Maísa deu as costas aos arqueiros e começou a caminhar em direção à porta que levava à outra parte do campo de treinamento, que era o das espadas. Os soldados clamaram por sua volta enquanto Maísa dava os seus últimos passos para fora daquele campo de treinamento.
Mas, na verdade, aquela mulher não tinha planos de voltar ao campo de treinamento.
— O dinheiro que aquele idiota me deu não chegou para aturar essas escórias um dia inteiro. — Maísa lançou um suspiro aborrecido ao vento. Ela estava ali, na verdade, porque Melquiore havia lhe pago algumas moedas de ouro para que transmitisse um pouco do seu conhecimento aos arqueiros.
— Aquela mulher é mesmo uma falsa — disse Miomura com os olhos postos na porta.
— Por que diz isso, irmão?
Os olhos jade de Yara pousaram sobre o seu irmão.
— Só um falso reconheceria outro falso. — Miomura sorriu, lembrando daquele momento em que Maísa deixou transparecer sua aura intimidadora.
— Bom, para mim, o mais importante é que ela executou o trabalho correntemente e nos passou seu conhecimento.
Em contrapartida, alguns dos arqueiros observavam aquele par de irmãos interagindo um com o outro. Uma risada maliciosa saiu de suas bocas, anunciando que nada de bom estava por vir.
— Hum, aquele não é o novato que nos envergonhou há pouco?
— Sim. Sim. Acho que precisamos lhe dar uma lição.
Eram cinco arqueiros insatisfeitos pela vergonha que Miomura havia lhe feito passar. Os cinco caminhavam em direção aos dois com expressões nada amigáveis. Yara, que percebera isso, retirou uma das flechas da sua Aljava e colocou no fio do arco, apontando para aquele grupo de arqueiros.
— O nosso problema não é com você… — O de cabelo preto apontou para Miomura, que estava à direita da mascarada. — É com ele.
— Isso mesmo. Então, é melhor se afastar, não queremos acabar machucando inocentes! — riu um dos arqueiros, seguido de outro que compartilhava do mesmo fio de raciocínio. — Queremos apenas dar uma lição nele, não é, companheiros? Abriu os braços à deriva do vento enquanto sorria. Todos os cinco começaram a rir, mas Yara nem ao menos pestanejou. Mantinha sua expressão severa enquanto apontava aquela flecha afiada para aquele grupo.
— Ya, digo, Yazar, baixe o seu arco — disse Miomura, se aproximando mais um pouco enquanto tocava nos ombros da sua irmã. — É a mim que eles querem.
— Isso mesmo, Yazar. Não se meta nisso!
E mesmo assim, Yara continuou com a flecha mirada para eles, ignorando o apelo do seu irmão.
— Vejo que teremos que dar uma lição nos dois — disse o de cabelo preto, cerrando os punhos. — É mesmo uma pena.
— Façamos isso logo. — Os demais arqueiros cerraram seus punhos. Nesta altura, boa parte dos arqueiros havia saído do campo de treinamento. Alguns dos que haviam restado observavam aquela confusão de longe sem ao menos quererem se intrometer.
— Já que eu os envergonhei, proponho um duelo pela minha honra.
As palavras proferidas por Miomura, apesar de elegantes, foram motivo de risadas.
— O quê? Quer recuperar a sua honra?
Eles continuaram a rir enquanto batiam nos ombros uns dos outros, algumas vezes em seus joelhos. Miomura não entendia o motivo de tais risadas, afinal ele havia usado palavras cordiais, dignas de um cavalheiro, que aprendera com Florento.
— Volto a dizer novamente: proponho um duelo pela minha honra!
— Já que quer tanto um duelo por sua honra, tudo bem? — O de cabelo preto concordou, ele era o mais habilidoso dentre todos que estavam ali. — E então, o que vai ser?
Yara finalmente baixou o arco e suspirou de alívio.
— Proponho uma disputa de tiros ao alvo. Cinco tiros ao alvo! Ganha quem tiver mais acertos.
— Só pode ser brincadeira, não é, companheiros? Esse novato que mal estava sabendo acertar o alvo está me desafinando para isso.
— Ele só pode estar querendo perder!
Os cinco riram.
— Mostra para ele, Caiju!
Seus companheiros ergueram seus punhos em apoio ao Caiju, arqueiro mais habilidoso entre eles.
— Se você perder, estamos livres para te batermos o quanto quisermos, não é?
— Sim — Miomura balançou a cabeça positivamente. — Mas e se você perder?
— Não tem como eu perder. — Caju riu e os seus companheiros o acompanharam na mesma zombaria. — No entanto… — Arqueou suas sobrancelhas. — Se eu perder, terá apenas o meu reconhecimento.
— Desigual, não acha?
— Não é como se eu fosse perder para um perdedor como você, mas para mostrar que eu vou realmente ganhar, permito que você escolha o que quer.
— Tudo bem. Quero que você me arranje um livro que fala sobre táticas de guerra e não mexa mais comigo ou com a Ya, digo, Yazar.
— Um livro, é sério?
Os arqueiros começaram a rir.
— Terá alguma dificuldade em me arranjar?
— Não — disse Caiju. — O amigo da minha irmã trabalha na biblioteca nacional de Aclasia, será fácil de te arranjar. Espera… Do que eu estou falando? Nem me darei ao trabalho de fazer isso!
— Ah, é agora que eu vou ganhar! — Miomura ficou entusiasmado, um sorriso emergiu nos seus lábios. O primeiro passo para conseguir a libertação do seu passo estava se encaminhando perfeitamente.
"Você não presta mesmo. O quão longe você foi, Miomura? " Yara lançou seus olhos arregalados para ele. Ela tinha a certeza de que ele estava planejando algo terrível caso conseguisse ter aquele livro em suas mãos. Algo que, conhecendo o irmão, envolvia sacrifício.
Miomura, todo motivado e confiante, caminhou em direção ao alvo junto do seu adversário. Os demais arqueiros e sua irmã formaram uma roda a alguns metros deles, observando-os atentamente.
— Pode começar, novato. Eu permito que comece e falhe miseravelmente.
Caiju sorriu maliciosamente, observando Miomura colocar a flecha no arco cuidadosamente, coisa que ele faria em questão de segundos. Já cantava vitória ao ver o quão novato ele era, com certeza iria perder.
Miomura semicerrou os olhos, engolindo em seco enquanto observava aquele pontinho vermelho. Naquele momento, sua mente começou a viajar para o momento em que Yara o ensinava a manejar o arco e flecha.
— Três… dois… — Miomura suspirou e desprendeu os dedos do fio do arco, que prendia a flecha. — Um!!!
A flecha seguiu em alta velocidade, rasgando o vento com toda a intensidade, que criou um som semelhante a um assobio.
Todos os olhos seguiam a flecha que voava em direção ao alvo, pelo menos aquela era a trajetória que deveria percorrer, no entanto, um leve vento desviou por poucos centímetros a flecha do alvo. Miomura havia falhado.
— Que peninha, você acabou errando — Caiju mal podia esperar por começar com a zombaria. Ele riu ao lado dos seus companheiros arqueiros. — Mas nada fora do esperado.
— Você só está passando vergonha. Desista!
— Isso, volte para o norte! Ao pé das suas ovelhinhas!
Essas, entre outras palavras, foram lançadas como pedras em direção ao Miomura. Em contrapartida, ele se mantinha calmo, bem, não que fosse possível ver seu rosto.
— Ah, eu errei. Mas não importa, porque ainda tenho quatro tentativas.
— Hahahaha! — Caiju e seus amigos não conseguiram segurar suas risadas diante daquela calmaria. — Não é possível! Cara, você é inacreditável! No entanto… — Semicerrou os olhos. —
Para o seu azar, não planejo errar uma única vez!
— Isso é o que veremos.
— Preste atenção… — Caiju, com tudo apostos, mirou a flecha em direção ao alvo que se encontrava do lado direito. — Como se lança um arco e flecha! — Desprendeu os dedos do fio, fazendo com que a flecha seguisse com rapidez em direção ao alvo. A flecha cravou no pontinho vermelho.
Caiju levantou o punho em vitória, um sorriso de satisfação havia preenchido seus lábios. Aplausos apenas fizeram o seu ego se elevar ainda mais, agora ele estava confiante de sua vitória eminente.
— Viu só, novato? Eu nunca erro!
— Eu só estou começando. — Miomura fez o mesmo exercício novamente, colocando a flecha em seu arco enquanto ajeitava sua postura. Dessa vez, puxou o fio ao limite, desprendendo-o com grande velocidade.
O que parecia mais um falhanço se tornou em uma vitória. Miomura havia acertado, cessando o sorriso confiante de Caiju.
— Foi apenas um golpe de sorte. Apenas um. Eu consigo fazer melhor! — Com o apoio recebido de seus companheiros, Caiju lançou mais uma flecha contra o alvo. Ele acertou, seu sorriso confiante retornou. — Huphm! Na próxima faço de olhos fechados!
Miomura com os olhos em chamas, lançou sua flecha novamente, acertando o alvo. Caiju ficou irritado com aquilo, pois pensara que o golpe de sorte nunca mais fosse se repetir.
Mas ele havia se enganado. Miomura acertou novamente, totalizando quatro tiros acertados no alvo.
— Encerra essa! — gritavam os companheiros de caiju com os punhos levantados, bastava ele acertar aquele alvo, que teria feito um combo de cinco tiros perfeitos e assim ganharia a competição, mas não, não foi o que aconteceu.
Caiju, mesmo sendo tão habilidoso, não sabia agir sobre pressão. Apesar de ser uma torcida confiante, pensou na vergonha que iria passar caso falhasse e falhou.
— Tsc, parece que empatamos.
Yara, havendo percebido, se aproximou de Miomura e sussurrou algumas palavras nos seus ouvidos.
— E se nós terminassemos essa disputa atirando duas flechas ao mesmo tempo? — Miomura propôs. — Se você é forte, não deve ter problema quanto a isso, não é?
— É claro que eu, com toda a minha habilidade, consigo fazer isso. Hufm!
Ele estava mentindo e os seus companheiros sabiam disso. Mesmo caiju sendo habilidoso, ele não conseguia lançar duas flechas ao mesmo tempo.
— Caiju, eu acho melhor…
Eles tentaram persuadi-lo, pois aqueles dois pareciam estar armando algo.
— Hum, acham que esse novato é mesmo capaz de lançar duas flechas ao mesmo tempo, é? É claro que não! Ele sabe que vai perder e por isso... — Nem Caiju sabia o que estava falando, ele estava muito nervoso. Não podia rejeitar aquele desafio, se não toda sua reputação cairia por água abaixo. — Vamos, ao mesmo tempo! Vamos lançar as flechas ao mesmo tempo!
— Certo. — Miomura permaneceu confiante enquanto colocava duas flechas no fio do arco. — Três... Dois... Um!
Em uníssono, ambos lançaram suas duas flechas. As flechas do caiju nem chegaram perto do alvo, caíram em pleno chão, no entanto, as do Miomura acertaram o alvo em diferentes partes.
— Eu venci! — Miomura levantou os punhos, um sorriso preencheu seu rosto.
— C-como um novato como você conseguiu lançar duas flechas, sendo que eu não consegui!
Caiju rangeu os dentes enquanto cerrava seus punhos. Seus companheiros tentaram reclamar, alegando que de alguma forma Miomura havia feito trapaça. Mas não havia provas de que isso havia acontecido. Caiju, apesar de ter um ego grande, reconheceu seu fracasso.
— Enquanto vocês riam de mim, eu treinava. Metade dos meus falhanços foram propositais, eu estava, na verdade, percebendo como funcionava a técnica da Srta. Maísa usando uma única flecha.
— Então quer dizer que...
— Sim, eu percebi como funciona. No entanto, apenas para duas flechas — Miomura coçou os seus cabelos. — Três já é demais. Só aquela mulher consegue fazer isso mesmo!
— Entendo. Acho que tenho muito a aprender... — dito isso, Caiju e os seus amigos se retiraram dali com passos lentos. Ele prometeu ao Miomura que traria o livro sobre táticas de guerra no dia seguinte. Aquilo alegrou bastante Miomura, mas, na verdade, Miomura havia contado meias verdades para aqueles arqueiros.
— Se não fosse por mim, que analisei como funciona a técnica da Maísa, você nunca teria percebido — afirmou Yara, observando aqueles arqueiros, dando os últimos passos para fora do campo do treinamento.
— Mas o esforço e o treinamento foram meus, totalmente meus! — Miomura bateu forte contra o peito.
Yara apenas lançou uma leve risada.
— Eu sabia, se eu não estivesse aqui, você com certeza estaria em maus lençóis.
— Hum, eu sei me virar.
— Até parece.