Volume 1
Capítulo 26: Jovens promissores
— Oh, parece que temos um promissor entre os soldados. — Maísa sorriu, observando aquele friccionar de bastões entre Valdes e a mascarada.
— No fundo, eu sabia que eles tinham um pouco de potencial — comentou Melquiore, que compartilhava da mesma visão que a Maísa.
Muitos soldados, apesar do espanto, aproveitaram aquela chance para derrubar o capitão de uma vez por todas. Milhares de passos que estremeciam o chão, levantando muita poeira, partiam em direção ao todo indefeso capitão.
— Parece que eles ficaram mais motivados, não é mesmo? — Valdes olhava para a mascarada que não cessava nem um pouco a força que colocava no bastão.
— Ahhh, toma essa! — Miomura deu o seu grito ao lado dos soldados que estavam a alguns centímetros de tocarem Valdes com seus bastões.
No entanto...
— Ainda precisam treinar! — Veias haviam surgido em torno do braço de Valdes, dando-lhe imensa força. Com apenas um movimento, um rodopio, deitou todos os soldados abaixo. Miomura, Gabriel e inclusive a mascarada saíram voando.
Parecia ser o fim, mas não, os mesmos soldados que foram derrubados levantaram-se. Alguns com medo, outros com vontade, mas levantaram-se.
— Cof, Cof...
— Estávamos quase os derrubando, pessoal, não percamos a esperança! — Um deles levantou o bastão enquanto se apoiava em seu joelho sujo.
— Vermes... — Valdes centralizou seu bastão, aguardando a investida deles. Seu olhar cor laranja estava focado, em especial na mascarada.
Por outro lado, a maioria dos soldados que haviam sido derrubados levantavam-se, mas não para combater. Eles estavam renunciando a luta. Era dor na cabeça, na coluna, nas vértebras. Era dor por tudo quanto é lado.
— Parece que ficamos para o último — Florento sorriu com presunção enquanto observava os soldados feridos perambulando pelo campo de treinamento com dor.
— Isso mesmo, nós, as estrelas da festa! — Thomas passou a mão por seu nariz com um sorriso de glória.
— Chegou a nossa hora de brilhar! — Florento estalou os dedos, mas logo foi afastado com um encontrão no ombro dado por um soldado mal-humorado, que resmungava pela dor que havia levado pelo bastão do capitão.
— Saíam da frente!
— Que mau feitio! — Florento franziu o cenho, observando as costas dos soldados.
— Devíamos tê-lo espancado para ver se ele aprende a lição. Mas fica para outra hora, agora precisamos brilhar!
— Isso mesmo!
Florento estalou os dedos novamente enquanto corriam para aquela aglomeração de soldados.
Um por um tentava derrubar Valdes, mas agora estavam lutando em conjunto. Com um plano, atacar de todos os lados, mas sem criar impedimento a ninguém.
Um, dois, quarto... A contagem começou, Valdes não poupava esforço em derrubar cada soldado que lhe viesse com hostilidade.
Entre diversos desvios e contra-ataques, quem ele queria ainda não havia se movido do seu lugar. Isso apenas deixava ele mais animado na expectativa de uma grande surpresa. A mascarada não podia decepcioná-lo, de modo algum.
— Acho que estamos nos expondo demais — disse Gabriel, olhando para Miomura. — Isso está divertido e tal, mas... É perigoso demais. Principalmente para você.
— É, mas não tem mais volta. E além disso, eu tenho máscara.
— É por esse motivo, burro. Veja... — Gabriel direcionou o seu olhar para onde o capitão estava fazendo o seu massacre. E ficou apavorado ao perceber que o capitão não parava de olhar para eles, na verdade, mais para mascarada que estava a costa deles. — Ele não para de olhar para aqui!
— Deve ser por causa da... Espera, não pode ser!
— O quê?!
— Você tem razão. Vamos nos afastar! — Miomura rendeu seu bastão e deu meia volta, começando a caminhar. — E você também! — Olhou para a irmã. — Vamos!
Miomura sabia muito bem que sua irmã havia impressionado o capitão, algo que ela não deveria ter feito em hipótese alguma. Na verdade, nenhum deles deveria estar ali na linha de frente. Haviam feito algo imprudente e agora era tarde demais.
Tendo isso em mente, a mascarada passou pelo seu irmão e correu em direção ao Valdes, que a aguardava com um sorriso malicioso.
— Não, Yara!
Enquanto esticava as mãos, tentando alcançar a sua irmã, Miomura deixou escapar o seu nome.
E Gabriel havia ouvido.
— Yara?
— Yara? Por que está pensando na minha irmã, idiota?! — Miomura segurou a gola da vestimenta do Gabriel com uma expressão intimidadora, mas aquele teatro não adiantou de nada. Gabriel não reagiu.
— Aquela é a Yara? — Gabriel olhou com espanto para aquela que por muito tempo pensou ser apenas um Mioriano qualquer recrutado pelo chefe aldeão.
— Por que a Yara estaria num lugar desses?! Você sabe que não tem como ela estar aqui. Não viaja, Gabriel!
— É o que eu quero que me responda. Por que a Yara está aqui? Você sabe o quão arriscado é ela estar aqui?!
— Ahhh, eu juro que tentei impedi-la assim que descobri, mas ela fez muitas ameaças. E eu... Acabei cedendo.
— E você se diz um irmão mais velho. Que irmão é você... — Gabriel fechou os olhos por leves instantes e berrou ao rosto do Miomura com as sobrancelhas franzidas. — Que não sabe cuidar da sua irmã mais nova? Hã? Como pode ter se deixado persuadir por ela?!
— A Yara não é a Maria, Gabriel. Ela não é tão fácil de domar como você imagina.
— Tsc, você deveria... — Gabriel cerrou os dentes e franziu os punhos, mas logo percebeu que não adiantava de nada se chatear com aquilo. Suspirou, solução é o que precisavam. — Ahhhhh, não importa mais! Precisamos parar a Yara antes que ela seja descoberta.
— Como faremos isso?
— Não sei, mas ficarmos parados não é a solução! — Gabriel começou a correr com o bastão em perseguição a Yara. Miomura também fez o mesmo. — Vamos tentar entrar luta. E depois vemos o que fazemos!
— Certo!
Aqueles dois jovens corriam contra o tempo, tentando alcançar a mascarada a tempo. Se bem que, era tarde demais. Os bastões dos dois friccionavam. Seus olhos penetrantes entravam em batalha constante, enquanto sons de batidas eram produzidos a cada movimento deles.
Apenas os dois, maior parte dos soldados havia caído por terra.
— Já decide, você será meu discípulo! Vejo em você um grande talento! — declarou Valdes, colidindo seu bastão mais uma vez contra o da mascarada.
— Eh?
Yara acabou por deixar escapar, seu espanto era mais do que claro diante daquelas palavras. Aquilo era perigoso. Tarde demais, agora ela estava em perigo.
Por ser tão teimosa quanto o irmão, havia caído nas graças do capitão. Algo que para qualquer um que não fosse ela, seria bom, motivo de alegria e festejo. No entanto, para ela, essa notícia trazia apenas tristeza e desespero. Ela era apenas uma escrava, que havia aprendido a lutar com a mãe.
Nada mais, nada menos que isso.
— Vamos, tire sua máscara! Preciso contemplar o rosto do afortunado!
"Afortunado uma desgraça", Yara pensava enquanto se desviava do golpe do capitão ao seu rosto, colocando o bastão em frente a máscara. Agora ela era pressionada a retroceder.
— Aaaaaaaaah!
Valdes direcionou os olhos a mais dois vindo, não, tinham mais outros dois vindo mais a fundo. Eram quatro jovens, cujos os gritos alcançavam os seus ouvidos. Eles corriam com os seus bastões em mãos.
— Hã? Vejamos o que temos aqui...
Um deles Valdes reconheceu de imediato, seu sobrinho Florento.
"Miomura, pessoal?"
Mascarada olhou para aqueles jovens que corriam com todo fôlego ao seu socorro. Ela já não aguentava mais se
manter em pé. Caiu no chão com o bastão. Havia feito o seu máximo, o suficiente para Valdes não a esquecer.
— Eu pensei que ficaria entendiado, mas isso só fica mais divertido. Os novatos desse ano são realmente promissores!
Valdes estabeleceu o primeiro contacto com aqueles dois jovens. Colisão de bastão. Uma troca de olhares.
— Você também está de máscara, pensando bem. Você também é forte?
— Pode apostar que sim! — Miomura declarou enquanto travava uma luta de bastões com o Capitão. Gabriel o ajudara. Seus pés estavam bem firmes sobre a terra, enquanto os seus bastões entravam em fricção.
Talvez fosse a vontade de proteger um familiar que falava mais alto, mas aqueles dois estavam se aguentando bem contra o capitão. Pelo menos até a chegada dos reforços. Quando Florento e Thomas chegaram, eles foram derrubados.
Em frota de colisão, estavam aqueles dois. Florento manejava seu bastão com perfeição, ele mesmo não se reconhecia. Thomas também o auxiliava, mesmo que desajeitado, mantinha a atenção do capitão dividida entre duas pessoas. Não, agora eram três. Miomura levantou-se.
Era melhor que ficasse no chão, se contorcendo de dor como Gabriel e os demais, mas não, ele queria mais. Queria lutar, queria absorver o máximo de conhecimento que o capitão estava lhe passando.
— Gostei. Vocês são duro na queda. É disso que eu estava procurando!
Valdes dividiu sua atenção entre aqueles três que mantinham o sorriso no rosto enquanto trocavam golpes de bastões ao ponto de começarem a sair rachas. Suor percorria seus corpos, a dor era o de menos naquele grande momento de êxtase que cada um estava vivendo.
"Que empolgante!"
— Eu disse, não disse? Esse é o nosso momento de brilhar! — Florento estalou um dos seus dedos enquanto tentava dar uma rasteira no capitão. Ao mesmo tempo, Miomura tentava golpear o capitão no rosto e, por fim, Thomas tentava um golpe no abdômen.
Todos falharam miseravelmente, no fim. No fim, a vitória foi de Valdes. Com um único movimento, havia destroçado os bastões de Miomura e Thomas enquanto pisava no pé do Florento que gritava de dor ao ponto de ter largado o seu bastão já em pedaço.
— Vocês têm o meu respeito, vermes... — Valdes deixou cair o bastão no chão e tocou numa única gota de suor que havia saído do seu rosto. — Fazia tempo que não me divertia tanto. — E deu meia volta, caminhando até onde estavam seus colegas.
— Nunca pensei que te veria se divertir tanto, irmão. — Melquiore observava o caminhar do seu irmão com um sorriso.
Maísa bateu palmas.
— Parabéns, capitão! Vejo que deu para esticar um pouco os seus ossos!
— Deu até mais do que eu queria. — Direcionou os olhos para seu irmão. — Ainda tem salvação para o nosso exército. Alguns parasitas ainda nos podem ser úteis nessa guerra, especialmente o grupo dos mascarados. — Revirou o seu olhar.
— Salvação, é? — Melquiore direcionou os olhos para aquele grupo de jovens. Se estavam com Florento, então apenas podiam se tratar de Miorianos.
— Hum, eles fazem parte do grupo do arco e flecha? Porque, se sim, então eles são meus!
— Ah, deve ser que sim. Por isso, eles estão usando máscara — disse Melquiore.
— Falando nisso, depois quero conhecer os rostos deles. Ordene a um dos soldados que os tragam a minha presença mais tarde, agora preciso tomar um belo banho. — Valdes continuou sua caminhada. Melquiore assentiu com a cabeça, mas garantiu a si que não faria aquilo.
— Assim que o Valdes derrotou todo mundo, quem é que vou treinar? Caramba, ele deixou todos moribundos!
— E de quem foi a ideia?
Melquiore semicerrou os olhos a principal instigadora do massacre.
— Minha não foi — Maísa assobiou ao vento. — Mas tudo bem, irei verificar quem está em condições para treinar agora. Já que não tenho todo tempo do mundo.
— Bom, você já faz o que quiser mesmo.
— Ainda bem que você sabe. — Começou a caminhar, observando com os seus olhos azuis, corpos mutilados no chão. A poeira finalmente havia cessado. — Pessoal, alguém aqui quer treinar arco e flecha comigo?! De preferência, que seja do time de arco e flecha, como aqueles dois. — Apontou para os mascarados.
Uma mão ali e aqui foram levantadas.
— Oh, estou impressionada de que ainda tenham força para lutar. — Maísa agora estava agachada diante do Miomura, que teria levantado sua mão. — Você é mesmo resistente!
— Eu sou... Osso duro de roer.
— Oh, é mesmo? Gosto de homens assim, sabia?
— Obrigado pelo elogio! — Agarrados aos seus joelhos, Miomura tentava se colocar em postura ereta. Custava-lhe muito levantar totalmente.
— Tira a sua máscara?
— Eu... — sua fala era pausada. Sua respiração estava demasiado acelerada — não posso.
— Por quê?
— O meu orgulho está em jogo.
— Hã? Tudo bem, então. Só achei que você poderia estar sufocado. Não tenho interesse em ver o seu rosto por agora. Por agora, eu disse. — Maísa sorriu, passando a mão por aqueles cabelos castanhos.
— Ah... Agradeço a preocupação.
— Você realmente deveria descansar. Mal consegue se colocar em pé.
— Ah, eu deveria?
Miomura caiu no chão.
— Deveria sim.
(...)
Depois de algum tempo, uma montanha de nuvens em formato de pássaros gigantes cobria o sol, trazendo sombra não só ao campo de treinamento, mas também ao vilarejo de Mioria.
E, como fazia demasiado calor, muitas pessoas do vilarejo saíam em busca de água. Havia um aglomerado de pessoas em frente a um dos principais poços do vilarejo.
— Ah, faz tanto calor... — reclamou Jeziel, olhando para uma das nuvens. Ela estava na espera por sua vez para poderem tirar água do poço. — Como será que estão os garotos?
— Shh... — Maria colocou o dedo indicador sobre os lábios. — Não faça me arrepender de ter te contado. Ninguém mais pode saber disso.
— Eu sei, eu sei. Mas não te preocupa um pouco que possa acontecer algo com eles?
— Bate na madeira! Não vai acontecer nada. É justamente isso que eu quero evitar pensar! — Empurrou Jeziel para perto de uma casa de palha. — Ah, Jeziel! Por tua culpa, agora não consigo mais parar de pensar no meu irmão e no Miomura! — Ela mordeu suas unhas.
— Não se preocupe, você disse que orou, não é?
— É... — Maria parou de mordiscar as unhas.
— Então, Deus vai mantê-los a salvo!
— Tem razão... — Maria suspirou. — Mas, por favor, não volte a tocar nesse assunto, pelo menos até que eles voltem sãos e em segurança!
— Tá. Tá.
— Maria e Jeziel!
Maria e Jeziel imediatamente direcionaram seus olhos a pessoa que chamava por seus nomes. Era um homem de estatura alta, corpo físico com bastante massa. Carregava em sua mão um pote de água.
— Pai do Miomura?
— Tudo bem com vocês?!
— Tudo, sim, graças a Deus! — Maria sorriu, seguida da Jeziel: — Também estou bem na mesma graça.
— Que bom!
— É incomum... Digo, o senhor é o único homem aqui.
Normalmente, os homens não faziam o trabalho de tirar a água do poço, tal trabalho se reservava apenas às mulheres.
— É, eu sei. É que Yara... Espera aí. Por que a Yara não está com vocês?!
— Hãm? — Maria fez um semblante de espanto. — Não estou entendendo nada. Por que a Yara deveria estar conosco exatamente?
— É que ela deixou uma carta dizendo que ficaria na sua casa por alguns dias por conta daquele assunto que vocês sabem. E para mim é uma surpresa saber que você não sabe dela.
— Que estranho... — Maria direcionou os seus olhos a Jeziel, que nada comentava sobre. — Jeziel, você sabe de alguma coisa?
— Jeziel? — Rymura arregalou os olhos pelo suspense que a Jeziel fazia diante da indagação de Maria. — Vamos, responda. Se sabe de algo, diga!