Volume 1

Capítulo 12: Espadas

Com os seus olhos verdes, Miomura apreciava o campo de treinamento enquanto era guiado pelo Florento.

Um vasto espaço cercado por quatro paredes feitas de tijolos. O chão era coberto por uma areia branca leve e fofa, que dificultava um pouco a mobilidade dos soldados. Sem dúvidas, aquele era o lugar perfeito para adquirir habilidades de luta que pudessem aplicar em qualquer campo de batalha que fossem inseridos.

No entanto, mesmo estando maravilhado com a visão que tinha, Miomura não deixava de sentir medo. Medo de que algum daqueles soldados o pudessem reconhecer.

Entretanto, seu coração se aquietou quando Florento lhe assegurou proteção enquanto estivesse na cidade de Aclasia.

— Quital, o que tá achando do campo?

— É maravilhoso!

— Bem, então... — Florento começou a explicar tudo quanto Miomura deveria saber sobre o exército de Aclasia. Sobre os tipos de armas que os soldados usavam; alguns espadas, outros lanças, e outros arco-e-flechas. Era uma variedade para cada um, pois em um estudo feito pelos cientistas de Aclasia, percebeu-se que certos soldados tinham habilidades com determinadas armas.

— Entendi. E, onde ficam as armas?

— Vejo que planeja mesmo conseguir as armas. A vigilância aqui é muito alta, não pense que será fácil obtê-las.

— Por isso rezo para que você aceite o meu pedido de ajuda, por um bem maior.

Florento suspirou e ignorou aquelas palavras. Era uma decisão bastante difícil a se tomar. Caso ele fosse pego, não só ele sofreria sanção, mas sua família poderia correr risco de punição severa.

— A propósito, qual é o seu nome?

— William — disse Miomura. — Eu não posso dizer o meu nome verdadeiro aqui — sussurrou. — Por enquanto, me trata assim.

Quando Miomura acabou de proferir essas palavras, um soldado tocou no ombro dele levemente.

— Nunca tinha visto você por aqui! Sabe, eu acho que vi você em algum lugar.

— Deve ser um mal-entendido — Miomura emitiu num tom baixo.

Em seguida, chegou outro, tocando, dessa vez, o ombro do Florento.

— Esse garoto que veio contigo, Florento... Sabe, ele parece alguém que vi no vilarejo de Mioria!

— É um equívoco. Pois ele é o meu primo que veio do norte da Aclasia para auxiliar na guerra contra Acácias!

— Sério?? — Os soldados emitiram em uníssono.

— Que estranho. Você nunca falou que tinha um primo, Florento — disse o soldado que segurava seu ombro.

— Isso porque vocês nunca perguntaram!

— Não é que ele tem razão — riu o soldado, batendo no ombro de Miomura. O outro também começou a rir.  — Bom, acho que ando pensando muito naquelas escórias. Nenhum deles teria coragem para vir aqui!

— Com certeza! Até aqueles escravos sabem o que significa limite — assentiu o soldado ao lado do Florento. — Boas vindas...

— William! — Miomura sorriu.

— O engraçado é que eu me chamo William!  — ele riu. — Caramba, meu chará! Agora sim!

— O tanto de William que há aqui, sinceramente! — riu o soldado ao lado de Miomura. E ele deu um sorriso torto, se sentindo incomodado com o olhar penetrante do soldado próximo ao dele. — Agora temos uns seis Williams!

— É um belo nome — disse Wiliam.

— Eu discordo. Robert, o meu nome, é bem mais interessante que William disse, batendo a mão contra o peito. —  Acho muito fraco esse nome.

— Pois saiba que William é nome de guerreiro!

Uma discussão se iniciou entre aqueles dois soldados. Miomura e Florento se afastaram enquanto eles cruzavam suas espadas, discutindo por nomes como crianças.

Ufa — Miomura suspirou.

— Não se preocupe. Eles são assim mesmo, gostam de amedrontar os novatos. Comigo fizeram o mesmo — disse Florento, colocando o coração de Miomura em calmaria. — E então, vai uma luta de espadas?

— Eu não sei lutar com espadas.

— Me surpreende ter derrubado aquele soldado do portão.

— Foi tudo graças aos meus amigos. Se não fosse a intervenção deles, eu nem estaria aqui.

— Seus amigos te amam. Isso é bom. Valorize a amizade deles.

— Por isso estou aqui — disse Miomura, cerrando o punho. — Para que nenhum deles pereça.

Florento sorriu. Ambos foram buscar espadas com um senhor que era encarregado de supervisionar todas as armas para a guerra. Assim, evitavam que os soldados levassem algum equipamento a mais para casa, ou ainda, que vendessem para ladrões. Alguns soldados tinham o costume de fazer isso, levar armas e vender aos ladrões para realizarem seus crimes macabros. Em algumas vezes, eles mesmos eram os ladrões insatisfeitos com o seu salário.

A Florento e Miomura foram concedidas duas espadas. E então o treinamento começou, cada um com uma espada em mãos.

Miomura empunhou a espada, mas sua postura estava desajeitada. O bom era que eles estavam em um lugar distante dos demais soldados, assim ninguém perceberia a falta de habilidade com a espada que Miomura tinha.

— Preparar, apontar, atacar! —  Florento seguiu em alta velocidade ao Miomura que lhe esperava com a espada erguida para cima.

Ambas as espadas colidiram. Miomura se viu pressionado, não estava habituado à fricção que as espadas faziam. Florento o empurrava cada vez mais, e vagarosamente ele era arrastado.

— Tome cuidado. Aqui lutamos espada contra espada. Claro que não na intenção de matar, mas sim, de aprimorar. — Ele removeu a espada e a direcionou ao peito de Miomura numa direção retilínea. — Então tome cuidado. Aqui é o que chamamos de campo de batalha derradeiro!

— Entendo. — Miomura ergueu a espada para cima, defendendo-se do ataque de Florento ao peito. — Mas acho mais prático usarem algo tipo um bastão, porque imagina se matam alguém.

— Não miramos nos pontos vitais. — Florento recuou alguns passos. — Esse método é mais prático, porque se a pessoa leva um corte na pele, ele passa a ter medo de ser acertado. É como dizem: a dor dói.

— Eu que o diga. Era alvo de chicotadas quase todos dias — disse Miomura, indo mais uma vez ao encontro do Florento com a espada em mãos. — Conheço muito bem a dor.

— Entendo!

As espadas entraram em choque, liberando pequenas faíscas.

— Essa guerra... Será a minha primeira vez.

— Falando em guerra... — Miomura recuou. — Quero saber mais desse reino que vai guerrear contra Aclasia.

— Acácias?

— Eu não conheço os nomes. Então acho que pode ser esse.

— Vamos fazer uma pausa então. Vejo que ainda não está apto para arte da espada. Na verdade, é péssimo. Eu poderia ter te matado umas vinte vezes, todas com cortes diferentes.

— É. Espada não é para mim.

— Com tempo e treinamento, talvez pegue o jeito.

Eles jogaram as espadas no chão e caminharam até um banco que ficava ao pé da parede.

— Talvez tentemos outras armas. — Florento sentou-se e respirou fundo. Miomura fez o mesmo. — No entanto, eu não sei muito sobre as motivações que levaram o reino de Acácias a guerrear contra Aclasia. Os capitães só disseram que a rainha enviou uma carta caluniando o rei e declarando guerra.

— Eu também faria o mesmo, no lugar da rainha — emitiu Miomura. — Aquele rei não merece nada além da morte. Não, a morte ainda seria pouco.

— Cuidado com a língua. Se te pegam dizendo isso, nem sei o quão pior iria ficar a sua situação — alertou Florento.

— Bom, continue... Quero saber mais sobre esse reino, Acácias. Como ele é? Como é a rainha?

— Pelo que eu saiba, ela é metade Mioriana.

— Sério??! — Miomura arregalou os olhos, ao mesmo tempo, em que um sorriso esperançoso se formava em seus lábios.

— É, toda família real. Foi graças a mãe dela, uma Mioriana, que todo povo de Mioria agora é livre lá. Dizem que através do amor, ela amoleceu o coração do rei!

— Continua. — Miomura ficou bastante animado em ouvir sobre o reino de Acácias e sua história. Florento o contou que tudo começou quando o rei de Acácias se apaixonou pela escrava Mioriana. Com isso, ambos casaram-se e tiveram filhos. No entanto, um golpe de estado por parte do irmão do rei havia destruído quase toda a família real, com exceção das crianças. Assim, Acácias passou por algumas guerras internas para alcançar a paz. Ao fim de tudo, com a ajuda do reino de Tirasul, Acácias se levantou e a rainha Sophia declarou liberdade a todos Miorianos.

— Essa rainha... Ela deve estar do nosso lado! Já imagino ela declarando guerra por nossa causa! — Os olhos de Miomura se encheram de brilho. — Eu seria eternamente grato!

— Pouco provável.

— Como assim?

Ah, não sei. A rainha Sophia assinou um acordo de paz e, em um desses artigos, é proibido interferir nas decisões dos outros reinos. Se ela pretendesse guerrear por vocês, não teria assinado esse acordo de paz.

— Nada a impede de quebrar! Eu tenho esperanças nessa rainha! — Miomura sorriu. — Eu tenho fé!

— Entendo. No entanto, Aclasia também é meu reino, farei de tudo para que os Acácianos sejam dizimados. Não me leve a mal.

— Não se preocupe, eu só quero o bem-estar do meu povo — disse Miomura.

"No entanto, se for possível... Eu vou lutar ao lado de Acácias para destruir Aclasia", pensou Miomura enquanto sorria para Florento. Ele era gentil, mas ainda era apegado ao reino de Aclasia. E isso o fazia um dos inimigos que Miomura teria que enfrentar para cruzar as portas da liberdade.

— Perfeito. Quer ir para minha casa hoje?

Ah, eu tenho que voltar ao vilarejo. Eles vão ficar preocupado.

— Voltar sem as armas. Ou acha que vai sair daqui com as armas em um único dia?

— Eu não...

— Isso precisa de um bom planejamento. Para que não falhe!

— Espera, isso quer dizer que...

— É, parece que eu vou ajudá-lo — declarou Florento com um sorriso no rosto.



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