Volume 1

Capítulo 1: Ventos que nunca voltam

Após a morte do príncipe Homura, as coisas só correram de mal a pior para o povo de Mioria. Mesmo com todos os gigantes mortos, os soldados perderam a vontade de lutar e foram derrubados pela forte investida dos três reinos inimigos.

A guerra se estendeu por todo vasto território de Mioria, roubando inúmeras vidas.

Mioria caiu em ruína e acabou sendo repartida em três territórios distintos, sendo ocupados pelos três reinos inimigos que tomaram os filhos e as filhas dos Miorianos como escravos.

Uma nova era de dor e sofrimento havia se iniciado para o povo de Mioria.

                             (...)

        400 anos depois da morte do príncipe Homura

A História passada de geração em geração, contava que em tempos passados os seres humanos possuíam magia. Eles usavam-na para diversos fins. Mas certo dia, por algum motivo, ela desapareceu...

Ao ouvir o som de passos se aproximando, a criança retirou seus olhos verdes da página e atirou aquele livro para que se perdesse naquele campo de algodões.

A criança começou a assobiar, desviando o olhar daquele adulto que cruzava os braços enquanto o encarava com um semblante de reprovação.

— Filho, quantas vezes terei que dizer para você não trazer seu livro para o trabalho? Se o supervisor te apanha, eu é quem serei punido.

— Sinto muito pai, mas é que... — A criança saiu do pedregulho e correu por aquele campo de algodão, a fibra macia e fofa deslizando por sua pele. Ele recuperou seu livro e voltou para o pé do seu pai. — Esse livro é muito maravilhoso! Sabe, sabe! Ele diz que em tempos antigos os humanos possuíam magia! Sabe, pai! Eu quero me aventurar, e se der, sair em uma jornada muito louca em busca da magia! — Os olhos verdes daquele menino brilhavam enquanto ele saltava com um sorriso genuíno.

Aquele era o olhar de uma criança que mesmo na escravidão, encontrava paz e alegria naquelas pequenas letras pretas sobre aquelas páginas douradas em contraste com suas vestes castanhas.

Seu mundo cinzento repleto de sofrimento e dor passou a ganhar cor com a descoberta de um universo que ninguém poderia roubar dele: a leitura.

Ah, meu filho, a vida não é um conto como lê nesse livro. — O homem contemplava com tristeza o sorriso que o seu filho dava ao olhar para a capa do livro que ilustrava três silhuetas com o cajado erguido em direção a uma pedra preciosa. Ainda que ele lesse aquele livro milhares de vezes, mais tarde se lembraria, com a dor do chicote, que a realidade era diferente do seu livro.

— É por isso que eu quero explorá-la como ela deve ser, pai! Eu quero descobrir e desvendar os segredos desse mundo e quem sabe... — Ele elevou a mão ao céu, cerrando o punho logo em seguida. — Quem sabe eu torne o meu mundo fantasioso real!

Seu pai suspirou e balançou a cabeça negativamente, emitindo com um leve sorriso.

— Certo. Continue fazendo a colheita. Quando chegarmos em casa, você poderá ler o livro toda noite.

— Muito obrigado, pai! — O menino escondeu o livro de baixo da areia para que ninguém o achasse. E então, com um sorriso em seu rosto, continuou fazendo a colheita de algodão na promessa de que quando a noite chegasse se aventureira em seu livro novamente.

Aclasia, esse era o nome atual de um dos reinos que havia participado da horrenda partilha da terra de Mioria. Em Aclasia vigorava um regime monárquico, seu atual rei fazia questão de impor sua ordem ao povo. Governava seu reino com rigor, não tolerando nenhuma afronta. Muitos, como prova disso, foram lançados a forca por tentar desafiá-lo. Dentre os quais alguns escravos que planejaram rebeliões. Desde então, ninguém o ousava desafiar. O medo havia tomado conta de seus corações.

Os reis que antecederam o atual rei de Aclasia, por detestarem os escravos e a sua imundície, ordenaram que se fizesse muralhas que separassem os vilarejos de Mioria das demais cidades de Aclasia.

Assim se comprimiu, muralhas separavam os escravos dos nobres.

Os vilarejos dos Miorianos eram construídos à base de palha, bambus e barro. O povo vivia em condições precárias, afinal para eles, era o que um escravo merecia. Contudo, os vilarejos de Mioria tinham algo que as cidades de Aclasia não tinham. Uma bela paisagem. Sim, os vilarejos de Mioria eram cercados por vastas paisagens esverdeadas, ao contrário das cidades de Aclasia, cujo solo infrutífero não lhes concebia tais paisagens.

Esse também era um dos motivos pelo rei e sua gente odiar os Miorianos. Contudo, nada podiam fazer para refazer tudo novamente, eram apenas pedaços de terra com uma simples paisagem esverdeada — nada de tão fascinante; os Aclasianos viviam nesse constante pensamento.

O povo de Mioria era tratado com descriminação pelos Aclasianos; chamados de escória humana, eram seres repugnantes que sequer poderiam respirar o mesmo ar que eles

Para aumentar o sofrimento daquele povo, inúmeras restrições haviam sido impostas. Caso houvesse quebramento de alguma delas, não haveria perdão, era morte certa. A principal delas era: não cruzar em hipótese alguma a fronteira que dava acesso às cidades de Aclasia. Salvo exceções dos que trabalhavam nas áreas das construções, e tinham de ser acompanhados por oficiais. Houveram, ao longo do tempo, alguns casos de mortes por quebramento de tal restrição.

O povo de Mioria tinha como principal função produzir alimentos para Aclasia. Os Miorianos faziam de suas terras um campo agrícola; 70% de sua colheita, mensalmente, era toda direcionada à Aclasia, enquanto eles ficavam com a porção de 30%.

E o que dizer das crianças que mal podiam ir à escola aprender a ler e escrever? A escravidão restringia isso também. Como forma de prosseguir a passagem do conhecimento adiante, os pais ensinavam a leitura e a escrita em secreto.

Ao fim de seus trabalhos, os Miorianos voltavam às suas casas. Esse era o único momento em que seus corpos cansados repousavam, era uma paz que durava até o amanhecer.

Por essa razão, o povo de Mioria chorava e clamava por liberdade, assim como seus antepassados.

                            (...)

                Alguns anos depois

Mais uma vez, o jovem plebeu estava na sua rotina de trabalho; um campo de fabricação de tijolos repleto de pedregulhos e lamaçais. Em seu momento de pausa, ele se afastou dos seus companheiros e sentou-se atrás de um pedregulho para, como sempre, ler o seu precioso livro que deixava enterrado na areia sempre que viesse trabalhar.

O momento de pausa calhou perfeitamente no momento em que uma nuvem gigante havia encoberto o sol, trazendo sombra e garantindo melhor visibilidade das páginas douradas.

Respirou fundo, passando sua mão pelas páginas. No entanto, quando estava prestes a ler um til de uma frase, o rosto de um homem de olhos e cabelos negros o surpreendeu.

— Ei, escória! O que pensa que está fazendo? — Indagou o oficial, franzindo seu cenho, enquanto passava o chicote na palma da mão. — Quem disse que um animal feito você podia ler?

Aquela voz não era um bom sinal e o jovem sabia disso. Seu coração palpitava.  Ele levantou-se enquanto abraçava o livro contra o peito.

Com a voz falha e uma expressão apavorada, o jovem emitiu.

— E-Eu... eu estava em meu momento de descanso. Mas já vou voltar ao trabalho!

— Quem disse que podia descansar?! — O oficial tomou o livro dos braços do jovem a força, ao mesmo tempo em que erguia o chicote para cima. O jovem, bem sabendo que mais uma vez estava prestes a enfrentar a mesma dor, aquela amargosa dor, reagiu por instinto. Cruzou os seus dois braços em frente ao rosto. O chicote atravessou a sua pele. Sangue jorrava da ferida aberta, percorrendo sua pele.

E enquanto o jovem caía de traseiro pelo impacto do chicote, o oficial contemplou um rio cristalino que por lá escorria. O sorriso malicioso no seu rosto enunciava a maldade que ele estava prestes a fazer. Ele lançaria o livro ao rio para que se perdesse e nunca mais retornasse.

O jovem, contemplava de olhos arregalados, o oficial arremessar o livro ao rio. O livro vôo pelo ar em uma trajetória oblíqua, dando adeus ao seu companheiro de longa data. Os olhos esverdeados do jovem continuaram acompanhando os últimos momentos do livro. Ele tombou sobre o rio e afundou de imediato, causando um leve salpicar na água. O livro havia sido arrastado completamente.

— Na próxima vez que trouxer algum objeto para o trabalho será punido severamente! — O oficial contemplou o jovem caído no chão e guardou o chicote na sua cintura. Satisfeito pela visão do sofrimento do jovem, começou a caminhar em direção a outra parte do campo onde estavam outros escravos.

— Até quando essa escravidão irá perdurar, eu não aguento mais... — Lágrimas gotejavam sobre o chão, não pela dor do chicote, mas pela dor do livro que era um escape daquele mundo traiçoeiro em que havia nascido.

Duramente entristecido, o jovem continuou fazendo o seu trabalho. Não deixava de pensar no seu livro, já que desde que aprendeu a ler, os livros passaram a ser o seu tempo favorito.

O Entardecer, era o momento em que a maioria dos trabalhadores de Mioria voltavam as suas casas, para por fim descansar de suas obras. O jovem sofrido, assim como muitos outros, voltava a sua casa a lentos passos. Ele andava pensativo sobre o seu livro, quando ao meio do caminho cruzou com seus amigos.

— Miomura, o que aconteceu? — indagou Maria, uma jovem de cabelos castanhos e olhos azuis que vestia um simples vestido castanho. Ela notou que o rosto do seu amigo estava abatido e que ele tentava esconder aquelas feridas em seus braços colocando as mãos sobre a nuca.

— Hoje mais cedo eu estava lendo o meu livro de sempre, quando um velho idiota levou de mim e atirou ao rio... — disse Miomura, dando um sorriso forçado para sua amiga. — Mas não precisa se preocupar com isso. Eu estou bem agora.

— Miomura, eu vivia falando para você não levar esse livro quando fosse trabalhar — Gabriel deu um suspiro aborrecido. Era um jovem de cabelos castanhos e olhos negros, que vestia uma calça e camisa castanha. Esse era o tipo de roupa que os Miorianos usavam por falta de condições e tempo para fabricarem algo com mais vida.

— Não parece. — Aproximando-se dele, Maria retirou os braços da nuca do garoto, podendo contemplar de perto aquelas feridas que com o tempo haviam cicatrizado. — Olha esse machucado que ganhou.

— Sinceramente — disse Jeziel, balançando a cabeça enquanto se aproximava dos dois. Fora os seus cabelos e olhos castanhos, a única coisa que ela tinha de comum com Maria eram as roupas simples.

— Nem dói mais — Miomura emitiu com uma voz baixa. — O que dói é saber que perdi o meu livro. — Começou a chorar. — Era tudo o que eu tinha.

Maria, comovida por ver o seu amigo chorar pelo seu livro, deu-lhe um abraço, entrelaçando seus braços ao seu pescoço.

Ah! Pode chorar o quanto quiser. — Essas foram as palavras que Maria conseguiu dizer ao seu amigo sofrido.

Miomura chorou ainda mais:

— Por que, Maria? Eu não aguento mais essa escravidão.

Jeziel se juntou ao abraço com o rosto entristecido. Naquele momento, ela entendeu que o seu amigo amava aquele livro realmente, era como se um amigo ou pessoa amada tivesse morrido para ele naquele momento.

— Vai passar. Guarde bem as palavras daquele livro em seu coração — disse Jeziel aos ouvidos daquele jovem sofrido. — E lembre-se sempre dos momentos felizes que teve com ele.

Gabriel, todo aborrecido, se viu na obrigação de consolar o seu amigo, apesar da sua teimosia em ouvir as suas palavras de alerta. Juntou-se àquele abraço embaraçoso, no entanto, reconfortante, em meio a algumas casas feitas de palhas e barro.

— Muito obrigado, amigos! — agradeceu Miomura com os olhos marejados enquanto era envolvido pelos braços de seus amigos. — Mas sabe... Ainda tenho esperança de que um dia seremos livres.

— Faço das tuas palavras as minhas — a dócil voz de Maria exalava esperança.

— Contem comigo também! — Assentiu Jeziel enquanto abraçava confortavelmente seus amigos com um sorriso enorme estampado em seu rosto.

— Eu acho isso uma idiotice — afirmou Gabriel, incrédulo. No entanto, em seu coração havia um pingo de esperança e confiança em seus amigos. Por um momento, um sorriso escapou de seus lábios. — Mas caso isso se realize, ficarei feliz.

Apesar de serem plebeus e escravos, eles nunca deixaram de sonhar em obter sua liberdade.
Sua esperança continuava de pé.
Até seus últimos dias aguardavam uma felicidade distante.
Assim como às aves do céu, voariam, sem que ninguém os engaiolasse.
Eles não tinham riqueza alguma, mas tinham uns aos outros. E o conforto suave de seus corpos os entrelaçava, aquecendo seus corações.

O sol, por fim, deu adeus na promessa de um novo amanhã trazer, enquanto a lua chegava para o substituir. O anoitecer havia chegado, repleto de estrelas. Cada um foi para sua casa, numa despedida feliz.

                             (...)

               Cidade de Aclasia

A cidade e capital da Aclasia, Aclaria, berço da riqueza do reino de Aclasia. Conhecida por suas esbeltas construções bem arquitetadas. A cidade possuía ruas e passeios totalmente pavimentados. Suas casas eram todas bem ornamentadas, coloridas e devidamente ordenadas. No entanto, a mais bela das construções era o palácio de Aclasia onde residia o rei e sua família. Aquela toda riqueza adquirida a custa de milhares de escravos.

O Palácio de Aclasia era cercado por seus vastos pilares e piso de mármore. Sobre o chão pairava a luz refletida dos vastos candelabros espalhados pelo palácio.

Em um laboratório situado no subsolo do palácio, Albert, o cientista de Aclasia, estava em uma reunião com o seu rei. O assunto principal de tal reunião era sobre certos experimentos de extrema confidencialidade.

A luz dos candeeiros, o cientista, em seu traje de jaleco, caminhava pelo laboratório com o rei a algumas celas especiais onde colocavam cobaias para os seus experimentos.

A medida que chegassem perto das celas, gemidos e ranger de dentes podiam ser ouvidos. Eram algumas das pessoas que habitavam na profundidade daquela escuridão. Elas se contorciam de dor; suas bocas estavam repletas de saliva, seus dentes eram enormes e seus músculos deixavam espreitar algumas veias enquanto batiam os punhos contra o chão.

Estavam com os pés e as mãos acorrentadas, mas o que mais chamava atenção em todo seu aspecto era um chifre de cervo que saía de suas testas.

— Aqui estão os últimos resultados com base na genética dos escravos, meu rei — disse Albert, apontando o dedo para aquelas duas pessoas dentro da cela.

A fúria consumiu o semblante daqueles dois homens acorrentados ao contemplarem os responsáveis pela sua atual fisionomia. Eles rosnaram em protesto enquanto se debatiam naquelas correntes.

Aaaaah!

— Tem certeza, Albert? — indagou o rei, contemplando com desdém aqueles homens descontrolados.

— Ainda é um processo. Manipular a genética humana de modo a criar homens inteiramente ao nosso serviço é um processo demorado.

— A diferença é que estamos usando Aurimagia para isso — afirmou o rei.

— É. Eu sei disso, meu rei — disse Albert ajeitando os seus óculos. — Faço de tudo para que corra tudo bem, de modo que nenhuma catástrofe possa ocorrer.

— Certo. Quando tiver algum avanço significativo, me informe — disse o rei, dando costas ao seu cientista. — Agora estou me retirando.

— Garanto ao senhor que, com a conclusão e o sucesso desses experimentos, teremos o melhor exército de Aclasia — sorriu Albert, acompanhando o rei à porta do laboratório.

— Mal posso esper… — A cabeça do rei começou a doer, de súbito. Ele elevou a sua mão à testa, podendo ouvir uma voz:

Araque, não faça isso. Não é o que eu desejo.

— Quem é você? — Ao ouvir essas palavras, o rei Araque olhava para os lados, procurando a pessoa que as proferia.

Mas a voz vinha do seu subconsciente, que, passados alguns segundos, desapareceu.

— Vossa majestade se encontra bem? — indagou Albert com um olhar preocupado, vendo o rei olhar para os cantos como se estivesse a procurar de algo ou de alguém.

— Não se preocupe. Estou perfeitamente bem. Preciso de descansar apenas. — O rei colocou a mão em sua cabeça e franziu o cenho. — Não se esqueça, quando houver novos resultados, não hesite em me contactar.

— Assim o farei, majestade!

— Estarei esperando. — Araque abriu a porta do laboratório e seguiu andando em direção à sala do trono.

No meio do caminho, o rei começou a lembrar a quem pertencia à voz que teria ouvido no laboratório. Colérico, cerrou os punhos e bateu com força na parede, dizendo:

— Você me abandonou! Se você não tivesse me abandonado, eu não teria me transformado nesse homem! — O rei franziu seu cenho e cerrou os seus dentes. — Agora não venha me atrapalhar!

Repentinamente, um vento forte começou a soprar e uma leve poeira entrou nos olhos de Araque, fazendo com que ele começasse a lacrimejar.

Araque tirou um pano de seu bolso e limpou os seus olhos, continuando a sua caminhada. Na sua trilha pelos extensos corredores do palácio, Araque cruzou-se com a filha acompanhada de sua empregada.

Meldyn Aclasia, uma linda princesa que carregava em seus longos cabelos castanhos, uma tiara dourada. Seus olhos azuis tão cristalinos quantas às águas do oceano contemplavam o seu pai. Ao vê-lo, ela soltou um leve sorriso e abriu sua boca rosada, dizendo:

— Meu pai, o que faz caminhando sozinho?

O rei Araque com sua expressão fria, o tom azul de seus olhos já havia perdido o brilho há bastante tempo, levando-o com que respondesse sua filha de maneira fria:

— Não é da sua conta, Meldyn!

— Não sei porque me trata desse jeito! — lamentou Meldyn com lágrimas ao redor dos seus olhos. — O que fiz para você?

— Eu não tenho paciência para ficar aturando suas reclamações! — Com as sobrancelhas cerradas, o rei continuou a sua caminhada. — Saia da minha frente!

— Certo. — O olhar sem brilho da Meldyn encontrou o do seu pai por um instante. Seu pai estava mais uma vez embravecido e ela não sabia o porquê, sempre era assim. Não havia tempo feliz para o rei Araque.

— Por que ele me trata assim, Sasha? — perguntou a serva que estava a sua atrás. No entanto, ela não tinha resposta alguma:

— Eu creio que não tenha resposta para tal pergunta, Srta. Meldyn — afirmou, segurando uma das mãos da princesa. — Mas sempre conte comigo.

— Muito obrigada, Sasha! — ela sorriu com os olhos marejados. — Aí de mim se não te tivesse. Aí de mim.

— Aí de mim, Srta. Meldyn — disse Sasha. — Eu me sinto honrada por servi-la.

— Muito obrigada. Vamos embora daqui — disse Meldyn, suprimindo seu choro. — Depois disso, preciso descansar.

E assim, juntas seguiram caminhando aos aposentos da jovem princesa.

Araque continuou seguindo com uma expressão fria em direção à sala do trono. Ele mal sabia que no momento em que cruzasse a sala do trono uma notícia avassaladora estaria a sua espera.

Ao entrar na sala do trono, os olhos azuis de Araque viam seu oficial com uma carta em mãos.

— Meu rei, tenho notícias para o senhor! — emitiu o oficial, tentando entregar a carta para o rei, mas foi ignorado. Araque passou pelo oficial e sentou-se no trono.

— Eu não tenho tempo e nem disposição para isso. Volte depois! 

— M-Mas senhor! É de extrema importância! — O oficial, nervoso, continuou insistindo na entrega da carta.

— Se for o assunto dos plebeus, eu irei mandar aprisioná-lo!

O oficial engoliu em seco e caminhou ao trono. Subiu os degraus e, com as mãos trêmulas, entregou a carta enquanto gaguejava.

— V-v-vossa majestade, essa carta chegou através de um corvo correio e pelo selo da carta parece ser do reino de Acácias.

— O que será que este reino quer comigo agora?! — O rei deu um leve suspiro e abriu a carta sem cerimônias. Enquanto lia conteúdo da carta, seu semblante mudava gradualmente. A expressão habitual do rei já era fria, mas certamente aquele homem estava envolto a uma intensa cólera após a leitura daquela carta.

— MAS O QUEEE? Quem ela pensa que é? Logo agora? — Veias espreitavam as extremidades de sua testa, suas sobrancelhas franziam enquanto amassava a carta ligeiramente. — OFICIALLLL! — gritou, olhando para o oficial todo apavorado. — Chame Valdes e Melquiore imediatamente! Corra!

— E-Estou indo, não me prenda por favor! — O oficial correu imediatamente executar a ordem dada pelo rei.

Enquanto a porta principal da sala do trono se fechava pela saída do oficial, o rei franzia seus dentes com seu rosto vermelho de raiva. Cerrava seus punhos, batendo com força no braço do seu trono. Seus gritos ressoavam por toda sala do trono:

— MALDITAAAAA!!!



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