Volume 1

Capítulo 0.3: O fim

                   Horas depois

As pálpebras dos olhos de Homura se remexiam, sua cabeça balançava freneticamente naquele gramado, como se estivesse tendo um pesadelo. Na verdade, estava. Seus olhos se abriram com muita intensidade, a respiração apressada que fluía das suas narinas fazia seu peito descer e subir constantemente.

Com o passar de segundos, movendo um dos braços contra a parte esquerda do seu peito, Homura conseguiu suavizar sua respiração.

Um sorriso se formou nos seus lábios ao observar aquele ambiente que o cercava. Árvores, muitas árvores, formando um círculo ao céu aberto. Inclusive, ele estava encostado em um arbusto que lhe trazia lembranças de quando vinha a floresta.

Homura concluiu de que tudo que havia acontecido não passava de um pesadelo inventado pela sua cabeça para o atormentar.

Seu pai morto?

Lernen gravemente ferido?

Uma invasão inimiga?

Era tudo maquinação da sua mente e ele estava em mais um dia como os outros, fugindo de seus deveres e aproveitando sua liberdade.

Homura absorveu a brisa que batia contra seu rosto e soltou um suspiro de alívio.

"Bem, é hora de voltar ao castelo, o..." Quando Homura se levantou daquele gramado em que estava deitado, seu sorriso foi abaixo e seus olhos arregalados enfrentaram a realidade da qual ele pensava passar apenas de um pesadelo.

Mas o que via ali, bem ao fundo, lhe dizia o contrário.

Tendas haviam sido levantadas. Pessoas estavam deitadas em lençóis enquanto recebiam tratamento de algumas jovens.

" Não poder..." Homura não queria acreditar naquela realidade apresentada aos seus olhos. " Por que?"

Quanto mais observava, mais real se tornava seu pesadelo. Uma frota de pessoas chegava com outras pessoas. Zumbidos de lamentações atravessavam o ouvido do príncipe quanto mais caminhasse para aquele acampamento formado por tendas.

Alguns dos soldados, percebendo que o seu príncipe havia acordado, vieram ao seu encontro. Haviam lhe colocado longe do acampamento dos feridos para que pudesse respirar o pouco de ar puro que havia restado naquela parte da floresta, já que o cheiro de sangue vindo dos corpos começava a infestar parte daquele lugar.

Volta de vinte soldados caíram com um joelho sobre a areia do chão enquanto colocavam o punho contra a parte esquerda da couraça prateada de sua armadura, onde ficava o brasão de leão.

— Senhor! Ainda bem que acordou!

Homura desceu seus olhos por cada face dos soldados que se prostravam para o receberem, contemplando semblantes que transmitiam profunda melancolia.

Um deles, que estava em frente, retirou um objeto de sua sacola. Era a coroa que o rei usava em sua cabeça, ela continha três joias coloridas ao redor dela.

Uma das cores era o vermelho, que representa a justiça. O azul que estava no meio representa paz, e a última ao lado do azul era um verde que transmitia esperança.

Essa era a coroa passada de geração em geração.

— Senhor, o capitão Eliothe pereceu ao recuperar a coroa do rei... — Os traços de Homura se reuniram para formar uma expressão de choque diante daquela informação.  O soldado continuou falando, mas Homura não o ouvia mais, nesse momento sua mente vagava por lembranças que havia feito com o seu amado mentor.

— ... Os feridos não param de chegar, o nosso exército está sendo dizimado... — O soldado suspirou ofegante. Mesmo tendo sido treinado para se manter firme diante de uma situação caótica, nem ele aguentava toda pressão e fardo que carregava. Sua família havia sido aniquilada pela invasão inimiga e, mesmo assim, ele seguia se mantendo firme. — Príncipe, não sabemos o que fazer!

Dessa vez, a voz dos soldados se juntou em uníssono. Estavam sem rumo, sem seu capitão e sem um rei. Pareciam um barco sem leme, a deriva em uma forte onda gigante que estava prestes a naufragá-los.

Homura ignorou aquele clamor e manteve seus lábios selados enquanto um misto de emoções tomava conta do seu coração. Ele passou pelos soldados e seguiu caminhando para o acampamento.

Os soldados recolheram seus joelhos e seguiram o príncipe. O que carregava a coroa estava na liderança daquele grupo.

Homura via o sofrimento do seu povo de perto, seus olhos vagueavam pelos cortes profundos na pele de inúmeras pessoas do seu povo. Mais adiante, havia um grupo de pessoas chorando enquanto se fazia uma cova profunda para enterrar alguns corpos que já haviam sido mortos há algum tempo.

Enquanto caminhava, Homura foi pego de surpresa por um abraço de uma criança. Ela limpava suas lágrimas em suas calças enquanto clamava para que salvasse seu pai, que havia ficado na cidade, ajudando seus vizinhos.

Homura apenas afagou os cabelos daquele garoto e tentou dar um sorriso de esperança para aquela criança, mas não saiu nada mais que um sorriso forçado com rastros de melancolia.

Homura deixou a criança e continuou caminhando pelo acampamento. Um dos soldados acabou ficando para consolar a pobre criança que havia ficado desamparada.

O príncipe apenas parou quando encontrou quem queria encontrar, seu amigo Lernen inconsciente, sendo tratado por Dimitris. Mas o que ele presenciou do outro lado foi como se tivessem cravado mil facas em seu coração. Sua amiga Agatha estava com um tecido branco envolvendo seu abdômen. Pela cor do tecido, era visível a mancha carmesim que cercava a ferida.

— Homura, é você, não é? — Agatha abriu um dos olhos, sorrindo de leve ao ver o príncipe novamente. — Q-Que bom que você está bem. Eu não sei o que aconteceria se eu perdesse você, Homura… 

Os traços de Homura contorceram-se de irritação. Ele se deu conta de que muita coisa havia acontecido no momento em que esteve inconsciente. Seus lábios cerraram, seus olhos verteram lágrimas ao contemplar a sua amiga naquele estado ferido.

— Eu não acho que vá aguentar muito tempo...

Homura se agachou e pegou sua mão.

— Para de falar besteira, por favor! Não é hora para essas suas pegadinhas, entendeu? Então cala a boca e descanse, ouviu?

— É, eu irei descansar assim que fizer a minha primeira e última confissão...

— Para com brincadeiras de mau gosto, Agatha. Quer saber, eu nem deveria estar ouvindo isso! Última confissão? Que conversa é essa? Assim que isso tudo acabar, eu te levarei comigo numa jornada pela descoberta da magia!

Agatha sorriu ao contemplar aquele sorriso do príncipe quando falava em partir numa jornada pela magia, aquilo sempre o entusiasmava. O príncipe parou de sorrir e fez uma cara triste, voltando à realidade do seu mundo.

— Eu acho que posso lutar para sobreviver um pouco, então me promete uma coisa, por favor...

Homura prestou atenção nas palavras da Agatha como nunca havia prestado atenção antes.

— Salve o seu povo e retorne para mim.

— Era isso? Eu já planejava fazer isso.

Agatha sorriu. Sua respiração estava um pouco acelerada.

— Então coloque a coroa da justiça, paz e esperança na sua cabeça.

Homura atendeu ao pedido de sua amiga sem nenhuma oposição e pousou um dos joelhos no chão, rente ao homem que carregava a coroa.

Normalmente, quem colocaria a coroa na cabeça do príncipe deveria ser o rei anterior, no entanto, como não estava ali, qualquer um da família real tinha de colocá-la.

Porém, Homura não tinha conhecimento disso.

— Do que está esperando? Tenho um reino para salvar!

Agatha sorriu, aliviada, ao constatar uma determinação como nunca havia visto antes no rosto do príncipe.

— É... Um dos soldados saiu em busca dos seus irmãos, mas já, já ele se encontra aqui.

Homura questinou o porquê disso e conseguiu sua resposta, a resposta a qual deveria ter buscado há muito tempo, mas ele não tinha interesse, na verdade, passava longe dos livros da realeza e se concentrava nos livros que eram do seu interesse.

Depois de algum tempo, os irmãos do Homura se apresentaram diante dele. Todos com o rosto abatido, mas nenhum deles superava o rosto que aquele pequeno fazia.

Ele pegou a coroa e caminhou de cabeça abaixada em direção ao seu irmão.

Quando ele levantou o rosto, Homura sentiu um arrepio pela expressão sombria que seu irmão fazia enquanto colocava a coroa em sua cabeça.

— Mate, extermine a todos, que a terra se encha do sangue deles!  Malditos sejam por matar meu pai, por deixar a minha terra em ruína, mate, extermine a todos... — O pequeno príncipe continuou recitando essas palavras por longo minutos. Tiveram que o retirar dali, caso não, ele não pararia nunca.

Homura e suas irmãs lamentaram pelo que estava acontecendo com o pequeno príncipe. Aquela toda situação era demais para uma criança suportar; sua cabeça estava uma bagunça, havia se cansado de chorar e agora desejava vingança.

Os soldados entoaram o hino do reino de Mioria enquanto quatro soldados vestiam o novo rei. Uma armadura de prata, espadas e um arco-e-flechas fizeram parte do equipamento do príncipe.

— Milhões de braços, uma só força, ó nação amada, vamos vencer! — finalizaram os soldados enquanto Homura estava todo vestido de sua roupa.

Com acenos e despedidas, Homura se distanciou daquele acampamento de feridos com a promessa de voltar são e salvo. Agora, os soldados estavam reunidos numa tenda, discutindo estratégias de como lidar com o povo inimigo. Homura era um excelente estrategista, principalmente por ter lido muitos livros. Sua mente havia desenvolvido a habilidade de traçar estratégias com grande maestria.

Com uma pena na mão, Homura escreveu naquele papel dourado tudo o que havia pensado na sua cabeça de um modo que os soldados pudessem entender. Claro, baseando-se em todas as informações dadas pelos soldados quanto ao atual estado do campo de batalha.

Após ter assegurado que todos na tenda haviam entendido, Homura deu instruções para que a informação fosse passada aos demais soldados. Assim, Homura e os seus soldados prepararam todo tipo de arma de que precisavam. Antes de partir, Homura teve que se despedir do seu livro. Deixou-o na responsabilidade de um soldado para que ele o entregasse nas mãos dos seus irmãos.

Pela floresta, Homura e seus soldados caminhavam em direção ao campo de batalha. Segundo um dos soldados, estava bem no centro da capital de Mioria, o que era uma vantagem já que Homura e seus soldados dominavam com a palma da mão a capital real.

Pelo caminho, encontraram alguns soldados inimigos tentando adentrar a floresta na tentativa de achar o povo que havia se escondido, mas os eliminaram de imediato, seus corpos retornando ao pó da terra.

Depois que chegaram a um determinado ponto, Homura e seus homens se dividiram como haviam formulado em sua estratégia. A primeira frota, composta por inúmeros soldados, avançou pela frente comandada pelo Homura. A segunda e a terceira avançaram pelas laterais da cidade-capital, ocultando sua presença em meio a algumas construções da cidade.

Homura ficou transtornado com a visão que viu assim que saiu da floresta, uma visão apavorante. As casas estavam em chamas, uma fumaça subia ao céu, formando nuvens negras. O chão inundado de sangue de corpos dilacerado, fazia seu estômago embrulhar. Havia todo tipo de corpo, desde civis inocentes a soldados.

O cheiro de sangue subia as suas narinas, mas teve que suportar e continuar avançando pelos escombros de cadáveres.

Mais adiante estava um verdadeiro cenários de guerra, milhares de soldados estavam concentrados em um único ponto. Nada mais se ouvia além de gritos de dor e tintilar de espadas em meio a poças de sangue.

Homura levantou sua espada e gritou: ataquem, chamando a atenção de muito dos soldados. Mais adiante, bem, no fundo daquela rua larga; contra uma casa que tinha dois andares, estavam três gigantes vestidos de armaduras. Dois deles sentados enquanto o outro estava deitado de barriga para baixo.

Seus pés e mãos estavam manchados de sangue, haviam exterminado muitos homens e agora descansavam um pouco antes de voltar a ação novamente.

Era como os soldados haviam informado ao Homura, que os gigantes estavam descansando após haverem eliminado muito dos seus companheiros.

Homura seguiu eliminando a maior quantidade de soldados até não conseguir contar mais nos seus dedos. Todas as emoções negativas que habitavam em seu coração fluíram pela espada enquanto lançava cortes horizontais e verticais, despedaçando cada membro do corpo dos seus adversários.

Seus soldados também não ficavam para trás, continuavam ganhando terreno enquanto entoavam seu hino real.

Na memória de Mioria e do mundo

Povo unido do Aclá à Mioria
Colhe os frutos do combate pela paz
Cresce os sonhos em terra fértil
e vai lavrando na certeza do amanhã

Mioria nossa terra gloriosa,
pedra a pedra construindo o novo dia
Milhões de braços, uma só força,
ó nação amada, vamos vencer

Flores brotando do chão do teu suor,
pelos montes, pelos rios, pelo mar,
nós juramos por ti, ó Mioria:
nenhum tirano nos irá escravizar

Mioria nossa terra gloriosa
Pedra a pedra construindo o novo dia
Milhões de braços, uma só força
ó nação amada, vamos vencer

Com este cântico, o exército continuava avançando em marcha, eliminando seus inimigos a fim de recuperar a paz em seu reino.

— Ei, isso não deveria estar acontecendo! — Alguns dos soldados inimigos murmuravam enquanto os soldados de Mioria continuavam seguindo em frente. Eles apenas precisavam de um líder que os comandasse com fervor e pujança.

Homura que desde sempre fugia dos seus deveres, agora liderava massas rumo a vitória. Os soldados ficavam cada vez mais animados enquanto desferiam golpes fatais. Mesmo havendo baixas, eles não paravam de avançar enquanto gritavam um dos trechos do seu hino com todo seu fôlego!

— Mioria nossa terra gloriosa!
Pedra a pedra construindo o novo dia! Milhões de braços, uma só força,
ó nação amada, vamos vencer!!!

Alguns dos soldados começaram a recuar, temendo aquele povo que cada vez mais se tornava numeroso. Mioria era um vasto continente e por sua vez possuía a maior população do mundo. Muitos dos homens de Mioria, que nem tinham nenhum treinamento, comovidos pelos cânticos dos soldados, pegaram nas armaduras e nas espadas dos que haviam perecido e começaram a marchar contra os soldados adversário, movidos pelo íntimo desejo de defender sua nação.

— Senhor! Senhor! — Um dos soldados com uma expressão aflita estava em frente aos três gigantes, suplicando para que ajudassem a anquilar aquele povo numeroso que continuava marchando enquanto eliminava milhares e dezenas de milhares.

A rua havia sido tomada por poças de sangue, escombros de corpo moldavam o chão de tijolos, estes pisoteados pela marcha liderada pelo novo rei, Homura.

Hum, estão perdendo bem feio ao que parece... — Um dos gigantes sorriu. Ele possuía olhos azuis e uma juba branca que acompanhava a cor do seu cabelo. — Quanto será que irei cobrar aoa reis de Alaskar e Zelgand por minha ajuda?

— Esses insetos deveriam perecer de uma vez por todas, não é? Daí a gente ficaria com o mundo inteiro só para gente! — Acrescentou outro gigante. Este possuía uma barba por fazer dourada que combinava com a cor dos seus olhos e cabelos.

— Não fale isso, irmão, os humanos bem que são divertidos. — O último, que estava de bruços, possuía cabelo negro e olhos alaranjados.

Esses gigantes eram irmãos de consideração. Por haverem nascido do fruto de uma má formação de genética, inicialmente sofreram discriminação. No entanto, conforme foram crescendo, as nações agora os queriam ter como aliados, prometendo pagar qualquer peça de ouro para que pudessem lutar por seus reinos.

— Todo ouro do mundo, mas por favor nos ajude!!! — Os soldados clamaram enquanto juntavam suas mãos em forma de oração.

Hum, falou a minha língua — falou o da juba branca, afagando sua barba.

— Bem, parece que vou ter que me juntar à luta. Como todos fomos contratados para aniquilar Mioria, por que não lutarmos todos juntos? — acrescentou o da barba dourada.

— Eu vou continuar dormindo, um de vocês já é mais que o suficiente — disse o que estava de bruços. — Me avisem quando terminar.

— Nesse caso... — Os dois gigantes se levantaram. A multidão que avançava com coragem e pujança parou e tremeu diante da presença daqueles dois grandões que tinham aproximadamente dez metros de altura.

Os soldados adversários começaram a sorrir maliciosamente. Agora haviam juntado forças por pouco tempo para aniquilar o reino de Mioria, que se tornava cada vez mais perigoso.

— Não temam! — gritou Homura, erguendo sua espada enquanto olhava para aqueles dois gigantes. No entanto, era impossível não temer, afinal, com apenas uma pisoteada, eles virariam pó.

Muitos murmúrios, questionando se a vitória estava ao alcance do povo, se levantaram e voaram aos ouvidos do jovem príncipe.

Em resposta, Homura pegou um shofar agarrado à cintura e assoprou com toda força, criando um som que se propagou para todas as quatro direções.

Os gigantes ficaram confusos e afagaram seus longos cabelos, compartilhando do mesmo espanto que os soldados. Mas os que já sabiam do que se tratava formaram sorrisos em seus lábios ao contemplar uma multidão de arqueiros se erguendo dos telhados das casas perfiladas nas laterais. Eles estavam apontando suas flechas para os gigantes.

Homura guardou o shofar, a primeira fase do seu plano havia começado.

Enquanto alguns dos soldados inimigos temiam de pavor, aqueles dois gigantes sorriam enquanto desfrutavam da proteção que suas armaduras lhes conferiam. Nenhuma flecha poderia atravessar aquele metal prateado e naturalmente haviam nascido com uma pele bastante dura, diferente da dos seres humanos normais.

Aquelas flechas sequer fariam cócegas.

— Esses humanos são engraçados, não é? — O gigante que possuía a juba barba branca começou a rir. Seu irmão de cabelos dourados complementou: — Dá até pena!

Vendo que não havia necessidade de se preocupar, os soldados inimigos descansaram seus corações.

Homura voltou a soprar seu shofar, era o sinal para que os arqueiros atirassem suas flechas contra os gigantes.  O gigante da barba dourada ergueu o punho direito que continha um bracelete, impedindo as flechas de prosseguirem enquanto seu irmão corria em direção ao telhado para varrer com o seu punho aquelas formigas. Mas nem por isso os arqueiros pararam de arremessar sua flecha.

Quando estava prestes a atingir o telhado daquelas casas, o gigante de barba branca recebeu uma bola de canhão contra sua perna direita, como Homura havia traçado em seu plano. Os arqueiros correram para o telhado de outras casas no exato momento em que o gigante caia, afundando seu rosto naquela construção, que rachou e começou a desabar.

No meio da poeira que havia sido criada, os arqueiros executaram ataques contra suas costas.

Aquilo irritou o gigante da juba dourada, o fazendo cerrar os punhos enquanto observava aquela cena com desdém.

Homura atirou uma de suas flechas para chamar a atenção do gigante, mas este ignorou e partiu para ajudar seu irmão. No entanto, seu irmão, que removia sua cabeça daqueles escombros, recusou a ajuda e o mandou voltar.

Era como Homura havia previsto, tendo em mente, de antemão, que os gigantes eram seres orgulhosos e egoístas, que muitas vezes rejeitavam qualquer ajuda.

— Acabe com aqueles insetos, que eu acabarei com este!

Dito isso, o gigante de barba dourada correu em direção aos soldados da frente como Homura tanto desejava e acabou caindo quando cruzou um fio metálico segurado por dois soldados que estavam em laterais diferentes. O fio era feito de prata; tão fino quanto uma teia de aranha.

O gigante tropeçou e, no mesmo instante em que caia, Homura deu ordens para que os seus soldados corressem imediatamente e acabassem com o gigante agora caído.

Enquanto os soldados Miorianos corriam, o gigante da juba branca havia se levantado e preparava-se para limpar os arqueiros da face da terra, quando de novo foi acertado por uma bola negra em suas costas. Ele caiu novamente. Era um soldado que estava recarregando um canhão em uma das esquinas daquela rua. Os arqueiros e os demais soldados aproveitaram essa chance para aniquilar o gigante enquanto estava imobilizado. Com espadas e flechas, começaram a perfurar sua orgulhosa pele dura e impenetrável. Pareciam formigas quando se reuniam para desmembrar e repartir um cadáver.

Os gigantes gritavam de dor enquanto sentiam sua carne sendo dilacerada pelos soldados. Os soldados inimigos sequer tentaram se intrometer, já que acabariam como aqueles gigantes. Eles tentaram se levantar, mas os soldados haviam imobilizado duas das suas pernas e mãos, as cortando em primeiro lugar para que não pudessem agir.

Sangue voava ao vento e caia no chão como um breve chuvisco.

O terceiro gigante que dormiria foi acordado por aquela barulheira.

— Que barulho! Ei, irmãos podem... — Seus olhos arregalaram ao ver seus irmãos sendo dilacerados por espadas e flechas. — Irmãos... Irmãos... irmãos! — Ele levantou e seguiu na corrida para salvar seus irmãos pela infestação de formigas que estavam acabando com eles. No processo, acabou derrubando e pisoteando alguns dos seus aliados.

Homura soprou o shofar novamente, mas dessa vez, por três vezes, decretando emergência. O gigante que corria descontrolado foi derrubado por três bolas de canhões que o aguardavam.

O gigante tombou sobre o chão, seu corpo levantando poeira.

Os soldados que já haviam acabado com o primeiro gigante, correram para acabar com o que havia caído pelo bombardeamento dos canhões, mas este, levantou-se em rápida velocidade e pisoteou todos Miorianos nas proximidades.

— Você... Você...! — Veias rebentaram sua pele. Seus olhos vermelhos de raiva estavam direcionados ao Homura. Por culpa dele, seus irmãos estavam mortos. Agora, não havia mais o que fazer, se não buscar vingança.

Homura cerrou suas sombracelhas e preparou seu arco e flecha enquanto o gigante se aproximava cada vez mais, seus passos velozes criando crateras e estrondos. 

— Pode vir... Você é o último oponente que eu precisarei destruir para alcançar a vitória! — Homura mirou sua flecha no pescoço do seu oponente. Com sua mira afiada, ele planejava acabar com aquilo em um único golpe.

Homura atirou sua flecha e, por incrível que pareça acertou o pescoço do gigante. Sangue jorrou, mas este ainda assim não parou de correr, mesmo que o seu pescoço tivesse sido atravessado, continuou correndo.

— Impossível... Mesmo com o pescoço perfurado, ele continua correndo. Dessa vez, eu acabo com... — Quando Homura deu por si, o pé do gigante estava a centímetros de acertar seu corpo, enquanto seus soldados gritavam pelo seu nome.

O tempo congelou, antes mesmo que Homura pudesse reagir. Tudo havia ficado preto e branco. Com exceção dos seus braços e pernas, Homura conseguia mover sua cabeça naquele espaço em que tudo estava parado.

" O que está acontecendo aqui?" No meio daquele cenário em que estava tudo paralisado, Homura direcionou os olhos para onde escutava passos calmos e lentos. Ele pôde contemplar um homem de capuz negro, cuja fumaça negra o seguia por trás.

Um pouco próximo do Homura, ele parou e sorriu maliciosamente, seus dentes brancos reluzindo em meio à densa escuridão que o cobria.

— Esse é o fim de mais uma era. Tenha uma boa viagem, Homura Mioria.

O encapuzado estalou os dedos e tudo voltou ao normal. Homura teve seu corpo despedaçado pelo pé do gigante. Em instantes, sua mente se apagou sem ao menos ter chance de ouvir o último grito dos seus soldados.

Homura Mioria havia sido morto.



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