Volume 1
Capítulo 0.2: Os três reinos invasores
Com os olhos tão severos quanto os de uma águia, o capitão sacou sua espada contra aquele grupo de quatro soldados que o encaravam com desdém.
— Já não há o que fazer, Mioria é nossa! — afirmou o arqueiro mascarado, retirando uma flecha da aljava presa às suas costas. — Se entregue e tenha uma morte indolor.
— Isso mesmo — um dos soldados concordou com a cabeça, se aproximando do capitão de Mioria. — Venha e caia perante a lâmina da minha espada!
— Reino de Alaskar... Antes de eliminá-los aqui e agora, permitam-me fazê-los uma última pergunta.
Os quatro soldados começaram a rir, afinal era evidente a desvantagem numérica em que se encontrava o capitão.
— Tudo bem, mas depois da sua presunção não pense que terá uma morte indolor — disse o arqueiro e os outros quatro soldados assentiram.
O capitão direcionou de relance os seus olhos para aquele jovem sofrido e para o médico em pavor e então, olhou seriamente para aquele grupo de soldados, que seguravam firmemente sua espada.
— Por que estão invadindo Mioria? O que fizemos para Alaskar?
— Para falar a verdade, não é só o reino de Alaskar que está invadindo o reino de Mioria.
— O que?! — O capitão ficou estupefato com aquela afirmação feita pelo arqueiro.
— Uma disputa. Nesse momento, três reinos disputam para ver quem ficará com esse território.
O capitão rangeu os dentes.
— POR QUE?
— Mioria não é apenas um reino, é um continente que possuí milhares de riquezas naturais. Não podem ficar com tudo só para vocês, não é mesmo?
Um sorriso largo se formava nos lábios daqueles soldados diante das palavras proferidas pelo arqueiro.
Contudo, aquelas palavras tiveram o efeito contrário no capitão. As veias do seu rosto espreitaram sua pele, suas sobrancelhas cerraram. Desde que Mioria se estabeleceu como reino, ocupando um continente inteiro; separado dos outros reinos pelos vastos oceanos, nunca havia feito nenhuma inimizade com os demais reinos dos outros continentes. Pelo contrário, suas relações eram amigáveis, de livre exportação e importação de produtos.
O capitão não conseguia entender, não queria entender os motivos daquelas palavras. Era uma desculpa e um argumento tão banal para a invasão do vasto reino de Mioria.
— Como ousam? COMO OUSAM?
— Espera um pouco... — Alguns dos olhos daquele grupo de soldados foram direcionados para aquela cena do jovem de cabelos castanhos chorando sobre o peito de um homem com uma coroa em sua cabeça. — Então quer dizer que o rei está morto.
— Assim nos poupa trabalho em matá-lo — acrescentou o arqueiro.
— Malditooooo!
Farto daquela zombaria, o capitão avançou contra aquele grupo de soldados. O arqueiro lançou de imediato sua flecha contra o peito do capitão, mas para evitar que o acertassem no seu ponto vital, ele pagou um preço um pouco alto. A flecha atravessou seu ombro, rasgando sua veste e deixando um sangue carmesim escorrer.
Um gemido saiu da boca do arqueiro. Ele tentava tirar mais uma flecha, enquanto o capitão avançava com sua espada. Os quatro soldados, vendo o falhanço do seu companheiro em eliminar aquele homem, partiram para ataque, cercando aquele homem em diferentes posições.
Haviam formado um círculo.
O capitão movia os seus olhos castanhos de um lado para outro, vigiando os seus pontos enquanto os soldados se aproximavam dele. Ele também tinha que se preocupar com o arqueiro que já recarregava sua flecha.
Um dos soldados partiu ao ataque, numa tentativa vertical de cortar o capitão, mas este desviou-se e, quando queria contra-atacar, sentiu passos do seu ponto cego. Teve que virar para travar uma luta de espada com outros soldados. No entanto, enquanto fazia isso, o arqueiro lançou a flecha.
Seus sentidos foram rápidos, ele desviou para direita, a flecha passou rente ao seu peito. Contudo, logo sentiu suas costas sendo cortadas, uma dor agonizante o fazendo tremelicar a espada. Mas isso não foi o suficiente para o parar. Ele movimentou sua espada contra o soldado que o havia ferido, mas este recuou.
Os soldados começaram a rir. Para eles, aquilo não passava de uma mera brincadeira contra aquele único homem empunhando uma espada.
Em contrapartida, o Sr. Dimitris que observava aquela cena apavorado, já concluiu que, se nada fosse feito ali, o capitão poderia perecer. Mesmo ele sendo forte e tendo treinado bastante para alcançar aquele posto, ainda era um ser humano com suas fraquezas e limitações.
— Príncipe Homura!
Sr. Dimitris não teve escolha se não incomodar aquele jovem em sofrimento. Ele cutucava suas costas incessantemente enquanto o jovem ainda se encontrava contra o peito do pai, não se importando com o que acontecia no mundo exterior.
— Sr. Homura! Por favor! Precisa acordar para a vida!
Sr. Dimitris continuava clamando enquanto escutava gritos de dores vindos do capitão. Seus olhos, por curiosidade, foram direcionados para a cena de luta entre o capitão e os soldados, tendo aquela visão apavorante e angustiante.
Haviam vários cortes e rasgões na pele do capitão, que deixavam jorrar quantidades perigosas de sangue.
Seus olhos se arregalavam. Com o coração palpitante e o desespero tomando conta, ele continuou cutucando as costas do príncipe, mas dessa vez, soltava gritos desesperados.
— Sr. Homura! Por favor! Pense nos seus irmãos! O castelo está sendo invadido e todo mundo está em perigo!
Ao ouvir essas palavras, Homura finalmente ergueu sua cabeça. Sr. Dimitris até se distanciou de susto ao ver o rosto que Homura fazia. Era uma expressão sombria, ele tinha olheiras naqueles olhos ausentes de luz.
— Sr. Homura!
Homura, sem nada dizer, levantou-se, observando seu capitão sendo ferido por aqueles soldados do reino inimigo.
— Traga uma espada. — Homura semicerrou a mão direita.
Sr. Dimitris imediatamente partiu para o fundo do quarto, procurando, desesperadamente, por uma espada. Por outro lado, o arqueiro, que estava prestes a lançar sua flecha contra o capitão, acabou atirando contra o Homura.
O espanto tomou conta do seu semblante quando Homura segurou aquela flecha.
— C-Como... — Ele arregalou os olhos.
Homura lançou a flecha contra um dos soldados, sua mira foi tão precisa que um dos soldados foi atingido em seu pescoço. Ele caiu contra o chão, e um lago carmesim se formou ao redor da sua cabeça. Todo mundo ficou com os olhos arregalados pelo que havia acontecido.
O capitão aproveitou essa oportunidade para eliminar dois deles com cortes horizontais, que haviam atravessado seus abdômens. Haviam sobrado agora dois; o arqueiro e outro soldado, que acabou recuando. Seus olhos castanhos agora pairavam sobre os corpos ensanguentados de seus companheiros.
— Sr. Homura! Achei!
Homura direcionou os seus olhos para trás, contemplando uma espada nas mãos do Sr. Dimitris.
Ele elevou seu braço ao alto.
Sr. Dimitris entendeu que tinha que atirar a espada e o fez, relutantemente, com medo de que o príncipe não pudesse segurá-la e acabasse ferido.
Para o seu alívio, Homura conseguiu pegar na alça da espada com eficácia.
— Homura! — O capitão sorriu, mas seu sorriso logo foi abaixo ao observar a expressão fria e vazia que o príncipe fazia. — Homura...
— Esse garoto! Como ele pôde?! — O arqueiro e o último soldado ficaram indignados. Ele atirou uma de suas flechas contra Homura, mas está foi rebatida pelo capitão ensanguentado enquanto Homura seguia caminhando a passos de tartaruga.
— Tenente Luminis, vamos nos retirar por enquanto — disse o soldado para o arqueiro. — Aquele garoto não é normal e o capitão dele parece ainda estar mais motivado!
— Não me dê ordens! Vamos! — Ele virou-se, começando a caminhar. Contudo, quando o capitão esticava a mão, ordenando que esperassem, Homura arremessou a espada, aniquilando o arqueiro. A espada havia atravessado sua nuca. O soldado ao seu lado ficou chocado, tempo suficiente para o capitão agir e perfurar suas costas com uma espada.
— Homura, você... — O capitão estava boquiaberto com as habilidades que Homura demonstrava, jamais havia lhe ensinado algo assim. Quer dizer, nem ele mesmo podia fazer aquilo. Homura lançava objetos com uma precisão e velocidade como se estivesse lançando uma pedra qualquer.
Homura caiu de joelhos, choramingando, o movimento dos cabelos cobrindo sua face.
Ele ainda estava desolado, as palavras de seu pai ressoavam com peso em sua mente. Ele esteve fugindo dos seus deveres o tempo todo. Quem sabe, se tivesse assumido suas funções reais antes, ele teria conseguido evitar essa invasão.
Era algo que passava pela sua cabeça.
— Homura! — gritou o capitão. — Levante-se! Não é hora para se lamentar agora!
— É tudo culpa minha.
O capitão caminhou em direção ao Homura e chutou seu rosto. Ele caiu no chão, colocando o braço contra os seus olhos lacrimejantes.
— E daí? Vai chorar por vinho derramado!? — O capitão continuou avançando. Seus olhos castanhos pousaram sobre aquele jovem deitado.
— Estamos em guerra agora! Não há tempo para chorar ou lamentar os erros do passado! — gritou. Ao passo que Homura mordia os seus lábios com amargor. — O seu povo e sua família precisam de você. Um rei que batalhe por eles, que expulse os inimigos e que os ponha em segurança!
Ao ouvir isso, Homura ergueu-se, lembrando-se dos seus irmãos que agora estavam desprotegidos.
— Esse rei não sou eu, mas em memória ao meu pai, eu juro que irei expulsar todos eles daqui... Eu juro! — Ele cerrou seu punho direito, seus olhos verdes lacrimejantes emanando determinação.
— É assim que se fala, meu menino!
Dito isso, Homura e o capitão tomaram a vanguarda enquanto o Sr. Dimitris estava na retaguarda. Eles caminhavam por aquele corredor. Haviam deixado o corpo do rei escondido e encoberto por lençóis, na promessa de voltarem para lhe oferecerem um enterro digno de sua pessoa.
Agora, por um dos corredores, Homura e o capitão puderam ouvir passos ressoando do outro corredor. Com cuidado, se achegaram a parede. O capitão que estava em frente, espreitou o olhar e suspirou de alívio ao constatar que era apenas sua filha e o Lernen, seu amigo.
Ambos saíam da biblioteca enquanto conversavam um com o outro, o que deu a entender que eles ainda não tinham ciência do que estava acontecendo no castelo.
O capitão, o Homura e o Sr. Dimitris avançaram para o corredor seguinte.
Agatha assustou-se ao contemplar a imagem do seu pai todo ensanguentado, desde o rosto às pernas.
— Pai! — Agatha correu em direção ao capitão. Lernen semicerrou os olhos, analisando toda aquela situação e, quando chegou a uma possível conclusão do que estava acontecendo, arregalou os olhos.
— Pai! O que aconteceu?!
Agatha reparou o pai fixamente.
— Filha, eu... — Antes que o capitão pudesse concluir suas palavras, seus olhos castanhos arregalaram ao contemplar quatro soldados aparecendo por detrás do Lernen. — Lernen!!!
Quando Lernen virou, era tarde demais. A espada havia atravessado suas costas, a ponta da lâmina saindo pelo abdômen.
Sua boca aberta cuspia sangue enquanto caia de joelhos.
Homura arregalou os olhos. Lágrimas apareceram ao redor dos olhos de Agatha. Só agora ela havia percebido o porquê dos machucados no corpo do seu pai.
Lernen, deitado, fechava seus olhos negros enquanto passava sua mão contra uma das partes do seu abdômen, de onde jorrava sangue.
— Malditoooos!
Homura rangeu os dentes e correu imediatamente aos soldados, com passos desesperados e carregados de cólera.
Um sorriso malicioso se abriu no rosto do soldado que havia espetado a espada no Lernen enquanto ele erguia sua espada contra o jovem que vinha contra si.
Um tintilar se ouviu, as espadas entraram em contato.
Numa troca de olhares, Homura rangeu os dentes, avançando ainda mais sua espada, que liberava faíscas. Os outros soldados não ficaram parados, foram dar suporte ao seu companheiro.
Contudo, o capitão não ficou parado, gritou, atraindo a atenção dos soldados enquanto corria em direção a eles. Homura recuou um pouco e os demais soldados falharam na sua tentativa de o acertarem com cortes verticais.
— Seus malditos!
— Dimitris, venha aplicar os tratamentos ao Lernen! Depressa! Agatha, venha para cá! Todos fiquem perto e atentos! Não se sabe quantos soldados devem ter invadido o castelo!
Acatando as ordens dada pelo capitão, Sr. Dimitris correu com sua maleta em mãos em direção ao ferido, enquanto Agatha o seguia a passos largos com a mão no peito, seus traços se contorcendo quanto mais observasse o cenário que estava diante dos seus olhos.
O amigo, que esteve com ele há pouco na biblioteca, agora no chão. Seu pai, que ontem apresentava uma pele ausente de manchas, agora todo ensanguentado.
Seu amigo todo desolado, e soldados com espadas nas mãos, fazendo uma expressão de hostilidade contra eles.
Como aquilo havia ficado assim? Era o que Agatha se perguntava enquanto agachava rente ao corpo do seu amigo.
Para sua pequena felicidade, ele estava acordado e suspirava ofegante enquanto segurava aquele ferimento.
Sr. Dimitris abriu de imediato sua mala, retirando seus objetos de trabalho para começar o processo de estancamento de sangue.
— Não adianta resistir, Miorianos! Esse lugar virou um palco de guerra! — riu, segurando ainda mais forte sua espada. — Mioria é de quem vencer a guerra! No caso, o reino de Evasthar!
Ao ouvir o nome do segundo reino participante da invasão, veias espreitam sua testa. As palavras do arqueiro voltaram a ressoar sobre sua mente, era mesmo verdade que mais reinos estavam invadindo Mioria.
— Eu não diria isso se fosse vocês! — Logo atrás, no fundo do corredor onde haviam passado o capitão, Homura e o Sr. Dimitris, surgiram volta de sete soldados. — Essa guerra será do reino de Zelgand!
— Malditos! Quem vocês acham que são? Para chegar em nosso reino e vomitar porcarias de suas bocas! — Homura ergueu a espada. — Eu, Homura Mioria, irei aniquilá-los aqui e agora!!!
Homura não perdeu tempo, partiu para o ataque, mesmo o capitão tentando o impedir. O líder dos que estavam atrás, rente ao desvio do corredor, ordenou que os seus homens atacassem.
Sr. Dimitris parou os seus tratamentos, ficando apavorado com aquela investida. Agatha juntou os joelhos dobrados, agarrando o punho contra o peito enquanto fazia um semblante complexo que mesclava desespero, raiva e medo.
O capitão optou por deixar os soldados do reino de Evasthar com Homura enquanto ele contra-atacava os do reino de Zelgand. E, no meio daquele todo percurso, o capitão se perguntava onde estavam seus soldados.
Enquanto gritava de raiva, Homura eliminou dois dos soldados, tendo ficado com algumas feridas nesse meio tempo em que travou disputa de espadas com esses soldados agora caídos. Uma poça de sangue havia se formado ao redor dos seus corpos.
— Pague pela morte dos meus companheiros! — Um dos soldados do reino de Evasthar avançou contra Homura, carregando irá no seu semblante pelos seus dois companheiros caídos. Seu outro companheiro, também o acompanhou naquela investida.
Em contrapartida, o capitão travava uma disputa de espada com cerca de quatro soldados que cortavam sua carne já aberta de feridas. Seus olhos não davam conta daqueles todos, eles haviam feito um esquema tático de batalha para que nenhum deles fosse ferido mortalmente. O máximo que ganharam foram aranhões.
O capitão começou a suspirar ofegante, enquanto olhava para aqueles soldados que reposicionavam suas espadas.
— Weve, quital finalizar ele? Já está acabado mesmo — disse um dos soldados, cuja barba se assemelhava a juba de um leão.
— Aí. Aí. Aí. Sobra tudo sempre para mim — Weve reclamou, mas, no fundo, ele havia gostado de seus companheiros terem colocado o fardo de acabar com o capitão do reino de Mioria nas suas costas.
— Você é o mais novo aqui!
— Isso mesmo — concordaram os demais soldados, balançado suas cabeças.
Weve avançou em direção ao capitão, agora cansado, com passos minuciosos e devidamente calculados. No instante em que Weve estava prestes a executá-lo, o capitão conseguiu mover sua espada. Mas, para o seu azar, Weve rebateu.
A espada voou e caiu por terra, um pouco longe do capitão.
— Hahahaha! Muito fraco!
Weve apontou a espada para o homem, que não parava de suspirar ofegante.
O capitão cerrou o punho, com olhos ainda sério, enquanto o soldado preparava-se para o decapitar. Sua filha, Agatha, com lágrimas ao redor dos seus olhos, clamava para que o soldado não roubasse a vida do seu pai.
E, quando a espada estava prestes a transpassar o pescoço do capitão, uma flecha acertou a mão do Weve. A espada caiu, sangue jorrou de sua ferida aberta. Weve, em dor, junto dos seus companheiros, observou os corpos dos seus conterrâneos no fundo do corredor caírem por terra.
— Tenente!!!
— Eles chegaram! — Um sorriso emergiu nos lábios do capitão ao contemplar seus soldados. Ele não perdeu tempo, aproveitou aquela chance para dar socos nas faces laterais do Weve, finalizando com um punho em seu abdômen.
Weve foi arremessado contra a parede, colidindo sua cabeça enquanto soltava algumas gotículas de saliva da sua boca. Rapidamente, desceu ao chão, agora totalmente inconsciente pelo impacto que havia tomado.
— Vocês mexeram com o reino errado — disse um dos arqueiros. Era ele um dos responsáveis por derrubar aqueles três soldados do reino de Zelgand.
— C-C-Como eles derrubaram os nossos companheiros?! — gaguejou o soldado com juba do leão, enquanto olhava para aqueles homens. O brasão de leão cravado na couraça da sua armadura platinada não deixava dúvida de que se tratava de soldados Miorianos.
— Estamos encurralados — acrescentou outro soldado, avaliando todo o espaço com os seus olhos.
Por outro lado, Homura ainda continuava numa disputa de espada com os soldados do reino de Evasthar.
— Príncipe, recue e afaste!
Homura fez isso imediatamente, abrindo brecha para que as flechas arremessadas acertassem as testas dos soldados. Eles caíram no chão, um lago carmesim se formava ao redor das suas cabeças.
Quanto aos que sobraram, tentaram derrubar com sua espada o capitão indefeso, mas foi o pior erro que haviam cometido. Os arqueiros haviam os derrubados no primeiro sinal de movimento contra o capitão.
— Estava a ver que não apareceriam! — Os olhos do capitão deixaram aquele lago de sangue que se formava ao redor dos soldados e passaram a observar seus soldados.
— Capitão Eliothe, temos notícias horríveis! — Um dos soldados falou, enquanto outros seis tinham suas espadas e flechas em prontidão para qualquer eventualidade.
— Falem logo.
— O castelo está todo enfestado de soldados inimigos, é questão de tempo até o dominarem. Muito dos nossos caíram e quase todos foram defender o povo lá fora!
— Como está a situação lá fora?
— Eu não sei, na verdade, se o nosso reino é capaz de vencer essa guerra. O campo de batalha parece um formigueiro e pior, há gigantes lá fora.
— Entendo. Então tratem de retirar a família real toda e eles daqui. — Observou de relance sua filha, ajudando Sr. Dimitris a tratar dos ferimentos do Lernen.
— A família real, com exceção do rei e do príncipe, já foi evacuada do castelo.
— O rei já não existe mais.
— O que?!
Os soldados ficaram estupefatos.
— Mas prefiro não entrar em detalhes, por agora. Façam o que ordenei e tirem-nos daqui.
— Mas e o senhor, senhor Eliothe?
— Eu ainda preciso fazer algo nesse castelo. Depois os sigo.
— Mas antes, senhor, é melhor cuidar desses ferimentos.
— Não se preocupem, eu fico bem.
Os soldados avançaram em direção a Agatha e Sr. Dimitris, tocando antes os ombros do capitão Eliothe e o desejando boa sorte naquilo que pretendia fazer.
— Pai! O que há para o senhor fazer aqui? — O capitão Eliothe direcionou os seus olhos para sua filha que se levantava do chão. — Venha conosco!
— Depois te alcanço.
— Não! — Agatha correu em direção ao seu pai e o deu um braço. — O senhor está ferido! Precisa cuidar disso imediatamente!
— Isso é um adeus, por enquanto. — O capitão Eliothe bateu na nuca da sua filha e ela desmaiou contra o seu peito. — Levem-na.
Ele pousou sua filha sobre o chão e saiu caminhando em direção contrária, deixando rastros de sangue por aquele chão de tijolos, enquanto os soldados vinham buscar sua filha.
— Protejam-nos com suas vidas.
Essas foram as últimas palavras do capitão antes de desviar aquele corredor.
Por outro lado, Homura sentiu sua visão turva. Seus olhos ficavam embaçados, sua visão a dobrar e então, quando deu por si, já estava caindo no chão enquanto fechava os seus olhos.
O último som que ele pôde ouvir foi:
— Príncipe!!!