Volume 1
Capítulo 26: O seu Plantar (2)
Mais tarde, quando a dupla Kobold terminou de comer, decidi chamá-los para fora e conversar novamente.
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— Então vocês também tiveram seu território destruído pelos Orcs... — Murmurou Riena enquanto mantinha uma expressão triste no rosto.
Logo, Ashton a respondeu: — E-espera! Também? Quer dizer que a tribo Beldan também foi destruída pelos Gofels!?
— Sim… a tribo Gofel não apenas destruiu nosso território, eles até mesmo incendiaram a nossa floresta. E, por causa disso, acabei perdendo meus pais e irmãos também...
— Entendo… Deve ter sido muito doloroso — decretou o Kobold cinza ao fazer uma expressão sombria.
Pelo visto, a tribo Tiberis de Ashton e a tribo Beldan de Riena haviam sido atacadas pelos mesmos Orcs: a tribo Gofel.
— Então, aqueles outros cadáveres, são desses "Gofels"? — Indaguei repentinamente. No entanto, Ashton apenas me deu uma resposta rápida.
— Na verdade, não. Os Gofels não possuem habilidades para usar navios. Portanto, apenas nos perseguiram em terra, mas quando fomos ao mar... Um de seus aliados, a tribo Korba, começou a nos perseguir.
— Korba...? Já ouvi falar sobre eles.
Era um tipo de tribo pirata Orc que muitas vezes atacava os navios comerciais da capital; sua tripulação era composta de veteranos habilidosos e que eram frequentemente contratados como mercenários. E mesmo a marinha de Sanfaris na busca de prendê-los, sempre pareciam estar um passo atrás. Em resumo, nunca foram capazes de afundar ou capturar um único de seus navios.
— Tais inimigos ainda devem estar por perto... Será necessário aumentar nossa segurança. — Declarou Varis que também participava da pequena reunião.
— Sim, devemos fazer algo como uma torre e aumentar o número de vigilantes... Ah, qual era o plano de vocês? Tipo, depois de embarcarem. Onde esperavam chegar?
— Ao novo continente. — Declarou Reiner de maneira direta.
— Oh, nós também estávamos tentando chegar nele — falou Varis em surpresa.
— Hã? Vocês também conhecem a lenda?
— Sim, eu suponho. Nós chamamos o tal continente desconhecido de "Terras de Ouro.”
— Oh… Para nós, esse continente ao sul se chama "Campo onde Crescem os Canaviais".
Enquanto os membros das duas tribos conversavam, eu apenas observava aquele bate-papo estranho.
Quando os três primeiros Goblins chegaram à ilha, pensei que pretendiam ir para o sul a fim de evitar a costa — onde havia muitas embarcações de Sanfaris. — No entanto, pelo o que parece, o objetivo deles era chegar a um continente inexplorado no extremo sul.
— E você, Senhor Hiel? Os humanos têm essa lenda? — Indagou Riena ao olhar em minha direção.
— B-bem, desde crianças fomos ensinados que o que há ao extremo sul, além do recife de Sheorl, é nada mais que um abismo... Claro, não acredito nisso, na verdade acho que é apenas um mito. Enfim, nunca ouvi nada sobre a existência de um continente "desconhecido" por esses lados.
— Realmente, poderia ser um mito... No entanto, estávamos dispostos a dar nossas vidas.
— O mesmo para nós da tribo Tiberis... E, Vossa Majestade, também estava muito confiante nessa crença. — Falou o Kobold marrom ao apertar seus punhos.
Naquela conversa, os únicos que não pareciam totalmente céticos sobre esse assunto eram Varis e Ashton; eles provavelmente só haviam se arriscado tanto até agora porque sabiam que não havia um lar para os seus companheiros em qualquer outro continente já conhecido.
— Bem, mas no fim, acabou que encontramos terra ao sul... Então Vossa Majestade não estava errada — declarou Ashton com uma voz presunçosa.
Ao ouvir isso comecei a imaginar a sensação de desapontamento que ela teria caso ainda estivesse viva. Claro, não era como se tivéssemos a certeza de que não havia algo a mais ao extremo sul, entretanto, conviver numa pequena ilha não deveria ser algo que uma majestade esperaria.
"Preciso fazer logo uma sepultura para a rainha deles e enterrar os outros cadáveres... Ah, acho que terei que fazer mais quartos também."
Enquanto ponderava o que teria que fazer daqui para frente, Riena me olhava com uma expressão que parecia saber o que eu estava pensando, ela logo começou a falar.
— Senhor Hiel... Não precisa carregar todo esse fardo. Você só precisa dar as ordens e nós a faremos.
— A Princesa está certa. Nós também temos as ferramentas. Podemos fazer tanto quartos quanto sepulturas. Sem mencionar também que será uma boa oportunidade para os Kobolds se entrosarem com o restante do grupo — declarou Varis. Ashton e Reiner apenas acenaram com a cabeça.
— Todos nós da tribo Tiberis já juramos lealdade a ti, Senhor Hiel. Você só precisa dar a ordem e a seguiremos.
Subitamente o filhote Kobold colocou a cabeça para fora da minha camisa — sim, ele estava como de costume agarrado em mim — e, embora não entendesse o que estava acontecendo, começou a me lamber.
— V-vocês...
Repentinamente comecei a lembrar do começo de tudo; de estar completamente sozinho, antes mesmo de ser mandado para uma ilha. E, de quantas coisas aconteceram desde então: Não pude deixar de me sentir feliz por isso.
— Obrigado… — Falei Tremulamente enquanto retinha minhas lágrimas. — Então... Varis, você poderia começar planejando os novos quartos com Ashton e Reiner?
— Deixe isso comigo. Vocês dois, me sigam.
— Certo!
Ao se curvarem para mim, a dupla Kobold rapidamente começou a seguir o Goblin Xamã para dentro da caverna.
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— Então, Riena. Tenho um pedido... Há algo que quero fazer com você.
Ao ouvir isso, a jovem figura recuou enquanto fazia uma expressão embaraçada.
"Hã? Falei algo estranho?"
— Tu-tudo bem Senhor Hiel… Farei o meu melhor!
— Não é nada muito sério... Aqui, olhe.
Coloquei minha mão no bolso e tirei uma semente; Riena imediatamente recuperou sua calma.
— É chamada de a "Semente da Árvore do Mundo"... Quero que me ajude a plantá-la. Você ainda tem Pedras Solares, certo?
Tais pedras ajudavam plantas a crescerem mais rápido e de maneira saudável — claro, eu também tinha em mente que não possuíamos muitas — portanto, pretendia usar apenas uma.
— Certo...? — Indaguei novamente, Riena tinha congelado por algum motivo. Entretanto, subitamente, bateu nas suas bochechas e voltou ao seu habitual.
— A-Árvore do Mundo... Eu nunca ouvi nada sobre ela.
— De acordo com Varis, é uma árvore gigante. E abençoa os seres vivos ou algo assim...
— Entendo. Em outras palavras, ela não fará nenhum mal, certo? Nesse caso, suponho que vale a pena plantá-la e ver o que acontece. Mas... os campos estão atualmente lotados — falou Riena ao olhar em direção ao terreno recuperado.
— Talvez devêssemos escolher um local diferente, um que valorizasse a paisagem.
— Sim...
"Mas aonde seria isso…?" Ao pensar nisso, a ideia sobre ter uma cidade construída em torno de uma árvore surgiu.
— Que tal no centro do terreno restau— Não! Espere...
Varis havia dito que a árvore era muito grande, no entanto, não comentou sobre seu real tamanho — se fosse de verdade gigante, bloquearia a vista do mar a partir da caverna. — Claro, não era como se fosse uma boa vista, mas preferia poder ver o mar caso tivéssemos outros visitantes.
— Acho que vou expandir o outro lado da ilha. Depois veremos o que acontece.
— Entendido!
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Assim que entrei na caverna, fiz um caminho para o lado oposto do terreno recuperado. E então, exatamente como antes, usei diversos blocos do meu inventário para criar um novo espaço.
Pensando também que agora havia Kobolds morando aqui, o fiz tão grande quanto o último. Claro, isso significava que demorou o dobro de tempo, e só fui capaz de terminar meu trabalho ao pôr-do-sol.
Todavia, ao contrário da mineração, isso não consumia muita energia, mas tive que usar muitos materiais rochosos. E como eram muito úteis no dia a dia, eu teria que reabastecer meu inventário em breve.
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— Tudo feito, está na hora de plantar.
— Sim! Vamos lá.
Caminhamos para o centro do terreno recém-feito. E, logo depois, começamos a preparar sua área com o "material" produzido pelas Aranhas da Caverna.
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— Posso plan— Hm?
Senti que alguém estava atrás de mim; quando me virei, vi uma figura meio nua… Mappa — que inocentemente olhava para o local onde eu ia plantar a semente. — Ele sempre aparecia do nada, na maior parte das vezes quando eu estava prestes a fazer algo novo.
Bem, não era como se me importasse, mas preferia que ele falasse algo ao vez de ficar tão quieto.
— Certo, vamos plantar…
E assim enterrei a semente no chão; o que faltava agora era só a Pedra Solar. No entanto, repentinamente...
— Hã!? Veja, Senhor Hiel! já está brotando, você já usou alguma pedra?
— N-não... Eu não usei. As entreguei todas. Não foi você?
— Eu não. Acabei de pegar essa aqui. — Falou Riena enquanto me mostrava uma Pedra Solar.
Ela ainda brilhava — significando que não tinha sido usada. — Nesse caso, me virei em direção a pequena figura barbuda. Entretanto, ela inocentemente deu de ombros.
— Sério?
Bem, Mappa provavelmente dizia a verdade: Ele não estava carregando nada em suas mãos, e eu duvidava que pudesse esconder algo naquele pequeno pano em sua cintura.
— Não se preocupe… Riena, você poderia tentar usar a Pedra Solar agora?
— Sim!
Riena se aproximou do pequeno broto e colocou a pedra ao seu lado; logo, o seu brilho amarelado foi sugado pela planta e, ela subitamente começou a crescer.
O broto estava se tornando uma uma muda que, sem nenhum esforço, ultrapassou Mappa, depois Riena…
— Q-quê?
Ela não parava de crescer; era várias vezes mais alta do que eu agora.
— O que estava acontecendo?
Seu tronco, enquanto se expandia, ficava cada vez mais grosso também.
— E-ei Riena. Você realmente só usou uma, certo?
— S-sim!
Enquanto nossas vozes tremiam, a árvore continuava a crescer.
— Isso é ruim, corra de volta para a caverna!
Eu agarrei a mão de Riena e fui rapidamente procurar Mappa, para minha surpresa, ele já estava correndo, então também apressei meus passos.
Enquanto corria, sempre que olhava para trás, via que a árvore estava crescendo cada vez mais, era como se quisesse nos alcançar — segundos depois, ouvi um tombo; Mappa havia caído. — No entanto, antes que eu pudesse reagir, várias raízes em expansão engoliram seu corpo.
— MAAAPPPPPPPPAAAAA!!! — Gritei enquanto via somente um de seus braços, de fora da árvore, sendo erguido ao alto.
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