Volume 1

Capítulo 20: Algo Apareceu na Costa

Haaa… Vou descansar agora. Você vem? — Eu estava exausto de tanto minerar.

— Ainda não.

Por outro lado, Fule parecia disposta a prosseguir, assim continuou picaretando contra as paredes da caverna. 

Ela não conseguia pensar em mais nada além de obter a Pedra da Mudança — assim, nos últimos dias, minerava obsessivamente sem descanso. 

Claro, eu estava feliz por haver outra pessoa apaixonada na mineração. Porém, preocupado com a sua saúde.

— Tudo bem... mas, não se esqueça de comer. Ou seu pai...

— Eu sei, voltarei dentro de uma hora!

— Promete?

Uhum. Não vou esquecer. A comida da Princesa é boa demais para desperdiçar.

— Verdade… Vou indo então — falei enquanto me dirigia para a entrada com Shell.

E, pelo visto, Fule não ficará só — Taran e as outras Aranhas das Cavernas estavam minerando — um Golem, que podia usar detecção de mana, vagueava pelos túneis também.

Assim, não havia necessidade de me preocupar; caso algo fosse acontecer, ele tocaria um sino: alertando para todos cessarem a mineração. Quanto ao sino, fui eu quem pedi ao Mappa para fazer usando Mithril. 

Quando cheguei à entrada, vi que, Varis e o barbudo estavam lá.

O velho Goblin inclinava uma grande concha para dentro de uma tigela funda — ela derramava algum tipo de líquido roxo.

Logo então, ele parecia ter notado que eu observava.

Ah, senhor Hiel! Cansou?

— Sim... O que fazem aí?

— Curioso? — Varis riu silenciosamente e me mostrou o líquido grosso dentro da tigela.

"O que é isso…?"

O velhote era um Xamã, então acabei deduzindo que aquilo era algum tipo de líquido medicinal ou...

— Veneno?

— Eu sabia que diria isso! Porém, está errado!

Oh...

— Essa substância é bem rara e vem de um Caramujo Diabólico. Já em palavras simples, funciona como uma tinta natural. 

"Líquido roxo… Ah, então era isso que usavam."

No reino, utilizavam um tipo de líquido para colorar algumas roupas e, além de caro, era usado com frequência nas roupas da realeza.

— Isso é ótimo! Vai colorir alguma coisa?

Varis acenou com a cabeça.

— As roupas de todos aqui são brancas, então resolvi dar uma diferenciada. Mas o mais importante... eu pareço ser tão "ruim" assim?

A-ah, desculpe. Não foi isso que eu quis dizer.

— Tudo bem. Estou brincando. Claro, posso fazer um pouco de veneno se quiser.

Parecia que hoje, o Goblin ancião, estava bastante "brincalhão". 

Já um pouco mais abaixo de nós, Mappa parecia esperar que olhassemos — ele mergulhou seu dedo no líquido e logo tirou. E com curiosidade o lambeu.

— Afinal de contas, esse líquido pode ser transformado em veneno se processado… Ah...

Quando Varis percebeu o que havia acontecido, já era tarde demais. O Anão nudista caiu no chão.

E-err... Não se preocupe, eu vou curá-lo com magia — assim eu lancei magia curativa sobre o homem meio nu.

Em todo caso, eu sabia que o velho Goblin era muito inteligente, assim, se pudesse fazer veneno, provavelmente também poderia fazer algo relacionado à medicina.

E esta era uma boa oportunidade para satisfazer minha curiosidade sobre algo que vinha me perguntando há um tempo.

— Varis, você é um Xamã, certo? Essa é sua crista?

— Não, a minha crista é "Rei Mago".

— Entendo, Rei... Mago!? — Gritei em surpresa.

『Rei Mago』Aquele com tal crista possui uma grande capacidade de mana e, facilmente podia usar magia avançada, no qual que era difícil aprender — ou até mesmo fazer combinações, assim criando um feitiço muito mais poderoso. 

E pelo que sei, havia apenas 7 pessoas em todo o reino de Sanfaris capaz de fazer isso. Um de meus irmãos por exemplo. 

No entanto, Varis era um Goblin.

— Você a conhece?

— C-claro que sim! É o tipo de crista que teria causado uma grande agitação quando encontrada. Também é a única maneira de entrar na universidade de magia quando criança.

— Sim… caso seja humano. No entanto, como pode ver, eu sou um monstro. Nem mana possuo, para começar. Por isso é uma crista completamente inútil.

— …

Eu não sabia o que dizer. Claro, minha crista também não tinha sentido até eu entrar numa caverna pela primeira vez. Porém, isso era muito mais triste no caso de Varis

Ele logo continuou seu auto depreciamento: — Muitas vezes tive vontade de xingar os deuses por conta dessa brincadeira de mal gosto que fizeram. Entretanto, quando mais jovem, eu acreditava que poderia superar qualquer coisa se me esforçasse o suficiente. E assim estudei desesperadamente magia… É muito engraçado pensar nisso agora — disse ele com uma risada, mas, havia tristeza nela.

Com isso, lembrei de como, há pouco tempo, Riena era uma Goblin — mas então usou a Pedra da Mudança e agora se parecia com um humano.

Se ela não tivesse sido amaldiçoada, aquela pedra poderia ter sido usada por Varis...

— Mas bem, é por causa do quanto que estudei, que pude me tornar um Xamã. Portanto, não foi um desperdício.

— Entendo… Entretanto, caso você tivesse uma Pedra da Mudança, poderia ser capaz de usar magia.

— Agradeço-lhe por sua preocupação. Mas eu estou bem agora. Claro, estaria mentindo se dissesse que não a desejava, mas já vivi tempo suficiente.

— Bem... você mudaria de ideia se encontrássemos muitas delas?

— Se esse tempo chegar... Suponho que aceitarei sua oferta! — Varis respondeu com uma risada. Embora, soando como se não tivesse esperança de que isso acontecesse.

— A propósito, você sabe se Riena também tem uma crista?

— A princesa… tem a de "Agricultor". É por isso que ela foi a única da família real obrigada a trabalhar no campo.

Oh... agora faz sentido.

Eu olhei para Riena. Ela parecia muito feliz enquanto despejava água sobre as plantas. E cantarolava para si mesma.

Com a crista『Agricultor』você  pode fazer qualquer tipo de colheita crescer muito mais rápido e maior. Claro, dependia muito do terreno e da quantidade plantada.

— Todos da tribo falavam que era uma crista desnecessária para a realeza, mas agora ela nos serviu bem. Talvez os deuses lhe tenham dado ela por justamente saber o que aconteceria.

— Talvez...

Eu não acreditava nos deuses. No entanto, eu também havia sido salvo por minha crista.

Nesse caso, porque Varis era o único a sofrer?

O velho Goblin logo voltou a tirar o líquido roxo do Caramujo Diabólico. E então...

— Chefe!!! Temos problemas!

Elvan gritava enquanto corria em nossa direção. Seu rosto estava pálido.

— O que foi, Elvan!? — Gritei o mais alto que pude, mas parecia que ele não conseguia me ouvir.

No entanto, ele parou e continuou gritando: — Venha até aqui!

E assim Varis e eu nos dirigimos para o terreno recém planado. Quanto ao Mappa, nós o deixamos, já que ele agora roncava pacificamente em cima do Shell.

Um dos Golens sentinela junto a vários Goblins estavam todos reunidos lá, aparentemente, algo havia se chegado na costa.

Quando corri em suas direções, Elvan acenou para mim.

— Chefe! Por favor, dê uma olhada!

— O que foi…? Hã!?

Uma coisa que tinha chegado até o litoral da ilha, era um ser grande com pelos acastanhados — "grande" por justamente ser maior que Elvan — mesmo com olhos abertos, não estava respirando. Um de seus braços estava faltando também e havia um grande corte em sua armadura de couro.

— P-por que? Porque um Orc... — um dos Goblins disse com uma voz sombria.

De fato, aquele era o corpo de um Orc; era mais musculoso que um humano, tinha presas e um focinho parecido com o de javali.

Eu só tinha lido sobre eles, mas eram conhecidos por serem guerreiros ferozes. 

E nos últimos anos, foi dito que estavam fortalecendo seu poder perto da fronteira de Sanfaris.

"Espera… a tribo de Riena não tinha sido dizimada por Orcs?"

Os Goblins, agora, provavelmente estavam com medo porque sabiam do que os Orcs eram capazes.

— Seus tolos! É apenas um cadáver! — Elvan gritou, e os Goblins pareciam acalmados um pouco. E então um deles foi em frente ao corpo.

— I-isso é o que eles merecem! Deveríamos chutá-lo!

— S-sim, isso é o que você recebe por destruir nossa tribo!

Todos eles gritaram enquanto iam em direção ao corpo.

Elvan e Varis pareciam estar em conflito, mas não os impediram. Esse era o resultado de suas raivas. 

Dito isto, mesmo que fosse um cadáver, não me importava de vê-los chutá-lo. Mas... certamente não havia necessidade de fazer isso a um cadáver...

— Parem!!!

Todos os Goblins deram meia-volta.

Riena estava ali de pé.

Eu nunca a havia visto com uma expressão tão brava e triste. Foi surpreendente.

— Que bem faria a qualquer um de nós chutar os mortos!? Vocês não acham isso vergonhoso!?

Um dos Goblins protestou.

— P-Princesa... Eles fizeram o mesmo com os corpos das nossas famílias... Até fincaram o corpo do rei no alto para que todos pudessem ver…

— M-mas, isso... não significa que devamos ser iguais. Além disso, cabe ao senhor Hiel decidir o que deve ser feito com aqueles que chegam aqui.

— Mas...

— A quem você acha que deve sua vida!? Sem o senhor Hiel, todos nós estaríamos apodrecendo no mar agora mesmo! — A Princesa gritou. 

Os Goblins logo desabrocharam seus punhos. E mesmo com raiva, começaram a acenar com a cabeça.

Riena fez uma reverência na minha frente. —Senhor Hiel. Peço que perdoe a todos por isso...

— T-tudo bem... Obrigado, Riena.

Como líder de sua tribo, ela tinha um certo poder sobre os Goblins.

— Concordo com Riena. O que vocês acham?— Eu disse. E os Goblins assentiram com a cabeça.

— Certo. Varis, você pode realizar um serviço?

O velho Goblin acenou com a cabeça.

— Senhor Hiel. Se for seu desejo, farei meu melhor para rezar aos deuses para que ele descanse em paz.

— Obrigado, Varis. Eu… Hm?

Notei que havia inúmeros objetos flutuando no mar. E naquele momento, ouvi uma voz outra voz.

— Há outro corpo aqui! — Um Goblin gritou. E assim nos dirigimos a ele.

Lá, encontramos uma criatura humanóide com uma cabeça semelhante à de um cão ou lobo — seu corpo era coberto de pelo branco e também usava uma armadura de couro danificada. Havia uma profunda ferida em seu peito e ele estava claramente morto.

Elvan limpou o suor de sua testa. — Isso é… um Kobold. Sua raça é inimiga mortal dos Goblins e Orcs.

"Hm? Algum tipo de batalha está sendo travada aqui perto?"

Eu olhei para o mar; ao longe, pensei que podia ver algo como fumaça. E assim, depois de um tempo, corpos, armaduras e restos de navios se aproximavam da costa.


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