O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 181: Invasão

O sol se ergueu lentamente pelo céu, com seus raios atingindo o rosto de Luna, deitada sob Sleipnir.

Com seus olhos sentindo a luz do sol, a princesa despertou em pouco tempo.

— Hm... — Esfregou os olhos, se espreguiçou e bocejou. — Já amanheceu...?

— Sim... Já preparei o café da manhã.

— Ah, obrigada... — Devido ao sono, Luna não percebeu imediatamente o dono daquela voz. — Aegreon?!

Despertando totalmente em um pulo, percebeu o Pilar sentado de costas para ela não muito longe.

— Você voltou... — Se aproximou dele. — Ah, me desculpe por ontem...

— Não... Eu deveria me desculpar. Eu exagerei. — Ele evitava olhá-la nos olhos.

— A culpa foi minha... Não tocarei mais neste assunto, a menos que você mesmo queira.

Aegreon concordou em silêncio.

Luna sentou-se próxima dele, e ele ofereceu a ela o desjejum.

Havia um clima estranho entre ambos, parte por causa de os dois se sentirem culpados, e parte por não saberem o que dizer naquele momento.

Comeram suas refeições em silêncio e, nesse meio tempo, Sleipnir acabou despertando.

Após exigir e receber da princesa algumas frutas, trotou novamente pelo ar e desapareceu.

— Muito tempo atrás, conheci alguém como você... — Para a surpresa de Luna, Aegreon decidiu quebrar o silêncio.

— Alguém como eu?

— A personalidade dela, sua bondade, suas tendencias a se sacrificar por um bem maior, e sua vontade de proteger os fracos... você é como ela.

— Entendo... Ela parece ter sido uma boa pessoa... — Luna, surpresa com aquela revelação, não soube bem como reagir.

— Ela me ensinou muitas coisas, inclusive a não julgar os outros antecipadamente, que pode haver bem no mal, e mal no bem. Por isso decidi te ajudar em Fordurn.

A princesa escutava com atenção, mas pôde perceber um misto de saudade com melancolia.

— Quem era ela? O que aconteceu com ela? — Já tinha uma certa noção do que poderia ter acontecido, e temia fazer aquela pergunta, mas estava curiosa.

— Eu falhei em protegê-la... — A voz de Aegreon, de maneira quase imperceptível, tremeu. — Ela foi traída por quem mais confiava, e não pude fazer nada para salvá-la, mesmo sendo um Pilar...

Luna o percebeu cerrando seus punhos em frustração.

— Aegreon... Eu... — Estava prestes a dizer algo, porém algo ressoou em sua mente. — Sariel?

Aegreon a encarou quando ouviu aquele nome.

— Parece que ele precisa me dizer algo... — Encarou o Pilar com alguma frustração, queria ter conversado melhor com ele. — Me dê um momento.

Ele concordou em silêncio.

Luna, então fechou os olhos e se concentrou.

 

***

 

Shiina e Raymond caminhavam próximos da área da Escola Preparatória de Acrópolis, aparentemente sem rumo.

Apesar disso, estavam com seus cavalos, vestiam mantos, cobriam os rostos com capuzes, e se mantinham atentos e preparados para entrar em ação a qualquer momento.

— Finalmente está acontecendo, hein? — A assassina o encarou furtivamente. — Ele demorou tanto para nos contatar, bem que poderia ter nos deixado aproveitar nosso desjejum...

— Se acostumou demais a viver tranquilamente desde o começo dessa missão...

— Bem, você também não gostaria de viver uma vida tranquila sem perigos? — Se aproximou dele a ponto de seus ombros se tocarem. — Não sente vontade de se casar com uma bela mulher, viver longe da correria dos grandes reinos, e apreciar a natureza?

— Sim, mas, infelizmente, não temos esse luxo...

— Bem, então quando isso acabar, terei certeza de ajudar-te com este sonho... — O manto de Shiina foi incapaz de esconder o sorriso que esboçara.

— Ali está ele. — Raymond, sendo salvo em um momento oportuno, encontrou uma maneira de esquivar daquelas investidas. — Lá em cima. — Apontou para a Universidade de Acrópolis.

Shiina acompanhou seu olhar e avistou a figura de Sariel caminhando até o centro de pesquisas.

“Tsc, você sempre me atrapalha...”

 

***

 

Sariel chegou no centro de pesquisas bem cedo na manhã, pouco depois do sol raiar.

A primeira coisa que fez, foi visitar cada um dos projetos em que esteve envolvido, encontrando-se com vários dos pesquisadores.

Balbina e Lucius foram os primeiros que encontrou, seguido de Tacitus, Angelina e Ludomir.

Enquanto estava na ala militar, checando o projeto do tanque, também se deparou com Octavius, que o abordou assim que o viu.

— Doutor Dante, como estás agora?

— Perfeitamente bem, Doutor Octavius. E tu?

— Bem, ocupado como sempre, já sabes como Acrópolis funciona.

— De fato.

Octavius o encarou profundamente por um breve momento.

— Soube através de minha sobrinha, Balbina, que decidiste se juntar à nossa família. — Deixou transparecer um pequeno sorriso. — Fico feliz que escolheste adquirir o nome Amulius. Daremos todo apoio que precisares.

— Obrigado, Doutor Octavius. Vossa gentileza me comove.

O pesquisador colocou a mão gentilmente sobre seu ombro.

— Apesar de ainda não estar oficializado, eu dou minhas boas-vindas à nossa família, Doutor Dante.

Sariel concordou silenciosamente e retribuiu com um sorriso.

— Bem, há outras coisas que necessitam de minha atenção, portanto devo me despedir agora. — Dito isso, Octavius abandonou Sariel.

Depois dessa interação, o viajante julgou que tinha feito o suficiente e foi até a ala com os devotos com seus poderes selados.

Lá, com extremo cuidado beirando a paranoia, removeu o selo de cada um e deixou o local o mais rápido que podia.

Em seguida, dirigiu-se até a biblioteca novamente.

No meio do caminho, disse brevemente algo a um Vigilante e logo continuou ao seu destino.

Chegando lá, fingiu estar à procura e estudando qualquer assuntou aleatório, enquanto esperava ansiosamente para que uma de suas distrações finalmente agisse.

Os minutos se passaram, o que o deixou incerto se algo realmente aconteceria.

Contudo logo percebeu uma aura do elemento Reanimação entrar na biblioteca, tentando ser furtiva e se aproximar dele.

Fingindo ignorância, Sariel continuou parado de costas para essa pessoa que se aproximava, aguardando para que fosse atacado.

A figura chegou cada vez mais perto, tomando todo o cuidado do mundo para não ser percebido, até que estava próximo o bastante para atacá-lo.

Então, com um movimento único, aquela pessoa tentou perfurar Sariel com uma espada de osso flamejante.

O viajante se virou na hora e, apesar de ter tempo e espaço de sobra para ter parado aquele ataque, permitiu que Fabius o perfurasse em uma região não letal no peito.

— Argh! — Fingiu dor para enganá-lo.

— É isso que merece por seu desrespeito, seu plebeu insolente! — gritou em um misto de fúria e êxtase.

Fabius puxou sua lâmina e tentou atingir Sariel novamente, que desviou do golpe com facilidade.

— Fique parado! — Tentou inúmeras outras vezes, falhando sempre.

Foi então que Fabius subitamente sentiu algo o agarrando por trás e o jogando contra o chão, sendo imobilizado completamente.

— Quê?! Quem ousa...

— Pare com isso, Doutor Fabius! — A voz grave e forte do Vigilante que o imobilizara ressoou nos tímpanos do pesquisador. — Atacar outro pesquisador de túnica branca é absolutamente proibido!

— Maldição! O que diabos faz aqui?! — Ele logo desistiu de tentar se libertar ao perceber a força daquele homem.

Com o rosto pressionado contra o chão, Fabius pôde perceber mais Vigilantes se aproximando, além de uma pesquisadora de túnica branca.

 — Doutor Dante e Doutor Fabius, o que diabos está acontecendo aqui?! — Septima se assustou imediatamente ao perceber a situação.

— Estava estudando enquanto aguardava por vossa chegada, e Doutor Fabius me atacou subitamente. — Sariel fingiu estar assustado e se fez de vítima, quando, na verdade, ele havia propositalmente pedido que tanto aquele Vigilante quanto ela o visitassem ali.

— Doutora Septima, Doutor Dante, precisamos que se afastem, a situação é perigosa. — Um Vigilante apareceu para protegê-la, enquanto outro curou o viajante rapidamente.

— Ce-Certo... — Ambos foram escoltados por alguns dos Vigilantes para um local seguro.

Assim que as coisas pareceram estar sob controle, os soldados começaram a fazer inúmeras perguntas a Sariel, que passou alguns minutos explicando a situação toda, incluindo suas desavenças com Fabius.

— Compreendo, Doutor Fabius sempre foi alguém problemático, porém nunca tentou atacar alguém antes — disse um Vigilante. — Doutor Dante pode ter incentivado isso, porém tu és a vítima, e uma agressão como essa será severamente punida assim que Koeus retornar.

— Certo, obrigado pela ajuda. — Sariel se virou para Septima. — Me desculpe que tenha visto isso.

— Ah, sem problemas... Estou feliz que está bem.

— Doutora Septima, como és uma especialista em Selagem, talvez possa selar o poder de Fabius? Ele ficará sob custódia até a chegada de Koeus.

— Sim, posso fazer isso...

— Preciso procurar a Doutora Balbina e discutir com ela sobre o acontecido. Tudo bem se eu me afastar? — perguntou Sariel aos Vigilantes.

— Claro, recomendamos que faça isso.

Então Sariel retornou aos níveis invertidos do centro de pesquisas.

Entretanto, ao invés de procurar Balbina, foi direto até a ala de Selagem, no laboratório onde Septima passava seu tempo.

Logo percebeu que Lucius não estava presente, o que o permitia criar mais uma distração.

Equipou o capacete, se conectou à simulação e se teleportou até a esfera negra flutuante que Koeus usava como sua sala naquele espaço virtual.

Lá, utilizando-se do bug de noclip, atravessou a parede e adentrou a esfera.

No momento seguinte, contudo, uma grande mensagem de alerta apareceu na sua visão, e a esfera negra sumiu em pleno ar.

Aquela mesma mensagem de alerta se espalhou por toda a simulação: no chão, no céu e nos prédios.

Todos os usuários que estavam conectados a ela foram imediatamente desconectados à força, e um alarme começou a soar até mesmo no mundo real.

“Bem como imaginei... Koeus e Zaphkiela não seriam tão descuidados.” O viajante sorriu e retirou seu capacete. “Bem, agora apenas resta mais uma distração...”

Se concentrou por um momento e, subitamente, desapareceu em pleno ar, deixando apenas uma pedra de Alteração para trás, que havia trocado de lugar com ele.

 

***

 

Septima, após ter selado Fabius, estava sendo escoltada de volta até os níveis invertidos por alguns Vigilantes.

Aquele ataque havia causado uma comoção considerável, e vários Vigilantes se deslocaram de seus postos originais para lidar com aquela situação.

— Nunca imaginei que alguém atacaria outra pessoa aqui... — suspirou de forma reflexiva. — Ainda bem que...

Sua voz foi subitamente interrompida pelo som de um alarme de emergência, demonstrando que algo importante em Acrópolis havia sido comprometido.

— Como?! O que está acontecendo?! — Imediatamente observou seu tablet, que lhe informou que havia ocorrido uma brecha de segurança dentro da simulação. — Mas o que...?

Os Vigilantes, que até então estavam relativamente relaxados, se tornaram imediatamente tensos e atentos.

“Isso... não pode ser... O alerta diz que a falha de segurança não foi causada por um pesquisador utilizando uma cápsula, e sim um dispositivo desconhecido... ou seja...”

— Doutora Septima, precisamos ir atrás de seu capacete imediatamente! — Os Vigilantes pensaram o mesmo que ela e logo ligaram os pontos.

— Si-Sim! Claro!

Deslocando-se o mais rápido possível, começaram a descer até os níveis invertidos.

Contudo, ouviram sons de explosões abafados, que resultou na ativação de outro alarme, além de luzes vermelhas terem acendido por todo o centro de pesquisas.

Septima olhou seu tablet novamente e viu que um ataque fora realizado contra o servidor, cujos danos, contudo, pareciam mínimos.

Entretanto, logo outro alerta apareceu em seu tablet: os devotos que estavam selados despertaram subitamente com seus selos quebrados e estavam lutando contra outros Vigilantes.

— O que está acontecendo? Estamos sendo atacados por uma Seita?! — Era a única explicação possível, visto o quão seguro Acrópolis deveria ser.

— Um pesquisador atacado, uma violação à simulação, um ataque ao servidor e os devotos libertados... isso não é coincidência. — As expressões dos Vigilantes haviam se tornado sombrias. — Doutora Septima, sabe o que a luz vermelha significa, correto?

— Sim... confinamento, correto?

— Exato. Neste exato momento, todas as saídas do centro de pesquisas foram fechadas, e até mesmo o resto da universidade será patrulhada até que encontremos os responsáveis por esse ataque, portanto nossa obrigação agora é protegê-la. Precisamos levá-la até uma das salas seguras.

— Certo... — Septima começou a se sentir cada vez mais nervosa diante da situação.

Então os Vigilantes escoltaram a pesquisadora até um local que até mesmo ela nunca havia visitado, tratava-se de uma área com várias salas extremamente protegidas onde, em caso de uma crise, serviriam para proteger os pesquisadores de túnica branca.

 

***

 

Sariel observou os computadores e terminais da sala do servidor que havia destruído, sentindo-se satisfeito com o resultado.

Decidira que não tentaria danificar a gema de Alteração em si, visto que considerava a simulação algo que jamais deveria tentar destruir devido suas vantagens para a humanidade.

“Bem, está na hora de fazer o que tanto esperava... Ainda bem que posso trocar de lugar com pedras mágicas criadas por mim mesmo, apesar de não saber o motivo...” Se concentrou novamente e desapareceu em pleno ar mais uma vez, deixando para trás uma pedra de Alteração.

O que viu em seguida, o deixou de queixo caído.

A sala de Koeus, onde as informações mais cruciais e secretas estavam armazenadas, encontrava-se diante de seus olhos.

O local era ainda maior do que a biblioteca, com dezenas, talvez até mesmo centenas de diversos equipamentos, maquetes, estantes, estantes com arquivos... Era como se tudo que vira em todos os outros locais de Acrópolis estivesse ali.

Não havia nenhuma janela que pudesse olhar para fora, mas pôde ver a grande porta protegida por onde a pedra de Alteração que entregara entrou.

A última coisa que poderia ser comparado com aquele lugar seria um santuário, como aquele das minas Belvuch.

— Muito bem, Koeus... Vejamos que segredos escondes aqui...


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