Volume 3
Capítulo 179: Segunda Visita
Após uma breve caminhada, Sariel retornou para sua casa, que passou apenas uma única noite até então.
Assim que chegou, se dirigiu até o porão de sua casa, onde havia uma capsula para acessar a simulação.
Lá, se sentou no chão e se concentrou.
A primeira coisa que fez, foi transformar todo seu poder para o elemento Selagem, visto que é o único que não poderia ser sentido facilmente após quebrar o selo.
— Ainda bem que um selo mágico não me impede de transformar meu poder mágico, apenas de usá-lo. — Se sentiu grato à Kura por ter nascido um Volátil. — Muito bem... vejamos se consigo quebrar este selo...
Fechou os olhos e sentiu seu poder mágico correndo pelo seu corpo de maneira fraca, como um rio que, após um longo período de secas, tinha seu volume de água drasticamente reduzido e com uma corrente fraca.
Podia sentir perfeitamente as correntes invisíveis formadas por letras, símbolos e números prateados restringindo sua magia.
Então focou no selo, que continuava se alterando a todo momento.
“Por mais que eu tenha adquirido o conhecimento dos vários tipos de criptografias aqui, ainda será um trabalho extremamente difícil.” Suas sobrancelhas franziram. “Vou decifrar por partes, pegando cada trecho, memorizando-os e remontando-os até que algo faça sentido.”
Soltou um longo suspiro e, após respirar fundo algumas vezes, começou o quase impossível feito de quebrar um selo feito pela própria Zaphkiela, o Pilar da Selagem.
***
Luna aguardava ansiosamente o retorno de Aegreon, porém várias horas se passaram sem que ele sequer mostrasse sinais de vida.
Estava sentada em um tronco, diante de uma fogueira apagada junto de suas coisas.
Olhou para cima, avistando o belo céu estrelado.
— Aegreon... O que aconteceu com você? Me sinto triste vê-lo sofrendo, tanto pela sua própria magia, quanto pelo que você se recusa a me dizer...
Ela sabia que havia coisas que ele escondia dela, afinal, ele era péssimo em mentir, por isso que ele decidiu se afastar dela, era sua melhor maneira para manter em segredo seu passado.
— Já está tão tarde... — Olhou ao redor, tentou sentir sua aura, porém ele não estava perto. — Espero que esteja bem...
Continuou esperando por ele, com uma refeição que ela mesma preparou em uma panela sobre uma fogueira apagada, pronta para que ambos pudessem comer.
Desejava procurar por ele, mas não podia deixar suas coisas desprotegidas, além de que seria extremamente difícil encontrá-lo.
Eventualmente, Sleipnir, que não via a alguns dias, apareceu nos céus e se aproximou dela.
— Sleipnir... Por onde esteve? Quer uma maçã? — Afagou seu pelo assim que ele pousou.
O cavalo mágico reclamou com um relincho.
— Certo, aqui está. — Luna ofereceu uma maçã a Sleipnir, que a comeu em uma única mordida violenta, mas que não a feriu. — Ora, estava com fome?
O cavalo soltou outro relincho reclamão, acompanhado de várias pisadas repetidas contra o chão.
— Está bem, está bem... Toma. — Luna soltou uma risada curta devido ao comportamento rebelde de Sleipnir, e ofereceu mais frutas a ele.
O cavalo comeu várias das frutas e, quando se deu por satisfeito, se deitou próximo da princesa.
Ela o observou por algum momento. Ainda era estranho a ela ver um cavalo que possuía oito patas, apesar de já ter se acostumado a ver criaturas estranhas.
Talvez ainda não houvesse se acostumado devido ao fato que Sleipnir era realmente um animal que podia se comunicar, diferente das criaturas da escuridão que existiam apenas para matar e destruir.
Luna se aproximou dele, que não reagiu, e se sentou ao seu lado, acariciando seu pelo.
A respiração dele se tornou mais suave e lenta, além de ter fechado os olhos.
— Por mais que tenha um temperamento mais difícil, ainda gosta de um carinho, certo? — Sorriu ao ver a postura relaxada dele.
Logo percebeu que Sleipnir havia adormecido completamente.
Aproximou-se ainda mais dele e deitou-se apoiada nele, sentindo seu corpo sendo empurrado gentilmente para cima e para baixo conforme ele respirava.
Se sentiu tão confortável naquela posição, que Luna acabou adormecendo junto dele.
Esperava ter um sonho normal, mas logo percebeu estar no colo de uma pessoa desconhecida, vendo o rosto de uma mulher cujos cabelos loiros começavam a se tornar loiros.
“Elise?” Luna imediatamente se lembrou da esposa de Geoffrey. “Não consigo olhar ao redor... mas pareço estar naquela caverna...”
Logo se lembrou, porém, que aquele era um sonho do passado, portanto, dessa vez, seria capaz de controlar aquele sonho.
Ao se concentrar por um momento, conseguiu se desassociar de sua versão recém-nascida e materializou seu próprio corpo adulto diante de si mesma e Elise.
Como aquela era uma memória de quando era muito jovem, o sonho estava incompleto, com apenas parte da caverna existindo, e todo o resto alguns metros muito longe dela sendo um puro vazio branco.
“O que Elise está fazendo comigo?”
— Shh... Está tudo bem, Luna, está bem agora... — Elise possuía uma voz relaxante e doce, como o de uma mãe. — O pior já passou, estará segura agora...
A princesa se lembrou de sua memória de quando a rainha de Fordurn a selou, levantando ainda mais perguntas sobre ela.
“Por que ela estava cuidando de mim? Como me encontrou? Sabia que eu estava aqui? Quais suas intenções?” Quanto mais tempo passava, mais ficava intrigada sobre ela.
Um tempo se passou com Elise ninando a recém-nascida Luna em silêncio.
Foi então que ela disse algo que ativou a curiosidade da princesa.
— Me pergunto se Stella também sobreviveu... Tentei buscar notícias sobre ela, mas minha influência e rede de informações é tão limitada...
“Stella?” Aquele era um nome que sempre surgia nos sonhos dela, porém nunca sabia sua origem, já até havia perguntado ao seu pai e Raymond sobre uma pessoa com esse nome, mas ambos não sabiam.
— Não se preocupe, querida... Tudo dará certo. Você se reunirá com sua família, e a verdade virá à tona...
“Família... Ela conhecia meus pais biológicos? Que verdade?” Luna encarou Elise atentamente. “O que tanto você sabe?”
Permaneceu naquele sonho por mais algum tempo, esperando que descobriria alguma informação nova.
Porém, para sua infelicidade, aquilo era tudo para aquela lembrança nova que desbloqueara.
***
O grande pedaço de terra flutuante onde todo o reino de Acrópolis estava localizado permanecia erguido no céu noturno.
Apesar do horário, inúmeros pesquisadores se encontravam em laboratórios ou em salas de aula, sendo aqueles passeando pelas áreas recreativas e domiciliares a minoria.
Havia um certo condomínio extremamente bem protegido dedicado aos pesquisadores de túnica branca, cujas casas, porém, estavam vazias, todos estavam no centro de pesquisas no momento.
Ou melhor, quase todos.
Uma súbita explosão de aura mágica, como se uma besta poderosa houvesse aparecido, pôde ser sentido por todo o condomínio e até um pouco além, chegando a alcançar restaurantes, lojas e outros estabelecimentos.
Um ou dois pesquisadores que estavam próximos o suficiente sentiram aquilo e se assustaram brevemente, porém, devido à ausência de um alarme, o alto nível de segurança de Acrópolis, e o local de origem — as moradias dos pesquisadores de túnicas brancas — julgaram que talvez poderia ser algum experimento.
Não apenas isso, mas aquele aparecimento súbito de uma poderosa aura durou apenas um único segundo, o que os fez duvidarem se haviam imaginado coisas.
Enquanto isso, na origem disso tudo.
Sariel estava de pernas cruzadas com os olhos prateados fechados.
Os abriu subitamente com um sorriso confiante no rosto e se levantou devagar.
Olhou para os próprios braços, se concentrou por um momento, e uma bola de fogo surgiu em sua mão direita, com a outra se cobrindo em raios.
— Zaphkiela... você quase me pegou...
Cerrou os punhos e se concentrou por um momento, alterando seus elementos para a configuração perfeita para sua missão de invasão.
— Muito bem, preciso retornar para o centro de pesquisas imediatamente.
Fazendo algo diferente dessa vez, não selou seu poder mágico como antes, mas criou uma espécie de camada de Selagem ao redor de seu corpo que impediria qualquer um de sentir seu poder mágico, quase como se fosse um manto de camuflagem.
“Primeiro checarei o laboratório de Septima para ver se ela está lá, caso sim, checarei novamente a entrada da sala de Koeus, caso contrário, tentarei me aproveitar que o capacete ainda é um protótipo para tentar encontrar alguma falha de segurança na simulação.”
Ao retornar ao centro de pesquisa, deu uma breve olhada em Septima, percebendo que ela ainda estava acordada, portanto se esgueirou antes que ela o percebesse e se dirigiu aos níveis superiores.
Primeiro foi até a biblioteca e, ao se certificar que não havia ninguém ali, adentrou ela e procurou o lugar mais distante para passar um breve tempo.
Após esperar cerca de dez minutos, usou Ilusão para se tornar invisível e deixou o local, dirigindo-se até a sala de Koeus.
“Já passei lá uma vez antes, se eu voltar, os guardas podem achar estranho, portanto, irei lá invisível.”
Ainda era algo arriscado, porém, na sua visita anterior, percebeu que a sala possuía algumas pedras de Alteração para detectar auras mágicas, portanto, como estava realizando uma combinação de Ilusão e Selagem, não seria percebido.
Ao chegar perto da área aberta, vasculhou os guardas com Alteração para ter certeza de que ninguém teria o elemento Ilusão, que era a única maneira que poderiam notá-lo.
“Está tudo limpo... vou entrar...”
Caminhou com cuidado para dentro, vendo novamente a porta que era guardada com tanta segurança.
Daquela vez, como estava com seu poder restaurado, pôde perceber muito mais.
Primeiro que toda a sala possuía inúmeras camadas de Proteção, tão poderosas que nem mesmo todos os Pilares unidos seriam capazes de destruir. Na verdade, era a barreira mais poderosa que já encontrara.
As paredes também eram cobertas com Selagem, que afetava apenas Sariel, ignorando os Vigilantes.
Claro, teria sido um problema se não fosse tão forte, mas como seu poder mágico era imenso, ainda era capaz de permanecer indetectável ali.
Para finalizar, havia inúmeras pedras de elementos de Combate que provavelmente detonariam assim que uma ameaça fosse detectada.
Sariel olhou para trás, e algo ocorreu pela sua mente.
“Apenas quatro guardas aqui, dois de um lado, dois de outro... Creio que a porta por onde vim deve se fechar, então as pedras detonam... Considerando a quantidade de pedras e seu poder, é capaz de facilmente me matar.”
Em outras palavras, teria que agir com cuidado e planejar bem sua invasão.
“Gostaria de ler a mente dos Vigilantes, mas não creio que eles saibam como desativar isso tudo... Talvez apenas Koeus e Zaphkiela...”
Se aproximou de uma parede e a tocou, percebendo que a Selagem ali era a mesmo que havia em seu poder mágico.
“Este é um selo tremendamente difícil de se quebrar, mesmo já sabendo o método... Preciso de tempo para desvendar tudo e desativar, ainda assim, tenho certeza de que haverá alguma medida de segurança caso tudo seja desativado.”
Sariel olhou para trás, encarando os Vigilantes.
“Bem, contanto que eu não altere o código, posso estudar esse selo o quanto eu quiser.” Fechou os olhos e se concentrou na Selagem contida nas paredes. “Analisarei isso e decidirei depois o que fazer.”
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