O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 178: Visões do Futuro

Mais um dia havia se passado, e o sol se erguia — ou descia — para os habitantes de Acrópolis.

Balbina deixou sua moradia e se dirigiu ao centro de pesquisas. Havia ficado alguns dias ininterruptos trabalhando em seus projetos, portanto decidiu retornar para casa para tomar um belo banho e dormir.

Aquela manhã estava agradável, com um vento fresco soprando em seu rosto, os pássaros cantando, e a bela visão do horizonto invertido.

Durante seu caminho, fez um desvio para seu restaurante favorito.

Como já havia feito seu pedido online pelo seu tablet antes de sair, tudo que precisou foi apenas retirar suas bebidas e comidas na loja, guardados em uma sacola reutilizável.

Conforme caminhava, comia seu delicioso pão e bebia um capuccino que, ao beber, esquentava não apenas seu estômago, mas como seu coração.

— Ahh... Está bom como sempre... — Deixou escapar um suspiro satisfeito, pouco se importando com quem pudesse ouvi-la. — Jamais poderia ter pedido por uma vida melhor.

Logo chegou no centro de pesquisas, e a primeira coisa que fez foi procurar por Septima.

Foi direto à sala de programação, onde ela geralmente passava a maior parte de seu dia.

Contudo se surpreendeu ao notar que apenas Lucius estava lá.

— Doutor Lucius, bom dia. — Aproximou-se dele. — Onde está a Doutora Septima?

— Ah, Doutora Balbina, bom dia! — Ele respondeu com a mesma animação de sempre. — Se não me engano, deve estar na biblioteca...

— A biblioteca? Isso é incomum, ela já não havia memorizado todos os códigos arquivados lá?

— De fato, também fiquei surpreso.

— Entendo, bem, neste caso me despedirei, até mais. — Balbina deixou a sala e se dirigiu até a biblioteca.

No caminho, se lembrou de que encontrara com Dante lá também, fazendo-a se questionar se não havia alguma relação.

“Dante... espero que não esteja se esforçando demais...” Não pôde deixar de pensar nele. “Não deixaste o centro de pesquisa desde que chegara...”

Após pegar um elevador, deixando a área invertida e acessando a área superior, finalmente chegou na biblioteca.

Não pôde ver Septima da entrada, mas isso era de se esperar, já que aquele lugar era simplesmente imenso.

“São nesses momentos que eu agradeço ter nascido com Alteração.” Vasculhou a área com magia, detectando uma aura relativamente forte do elemento Selagem. “Há! Te achei!”

Subiu ao terceiro andar da biblioteca e se dirigiu até a parte mais ao fundo dela.

“O que está fazendo em um lugar tão distante? Se não me engano, aquela sessão tem os arquivos das pesquisas da compatibilidade magica, onde descobrimos recentemente que algumas pessoas com determinados duplos elementos, como Gelo e Vento, experienciam uma perda menor de seu poder em comparação com pessoas com um único elemento. Me lembro bem que Koeus iniciou essa pesquisa por causa da aprendiz de Feng Ping.”

Após uma boa caminhada, chegou ao local desejado, encontrando Septima sentada em um sofá.

Porém se surpreendeu que, ao lado dela, estava outra pessoa, Dante.

— Doutora Septima? E Doutor Dante? — Ao chegar mais perto, notou que ele estava dormindo profundamente. “Seu poder está selado, não é à toa que não o notei.”

— Doutora Balbina, o que te trazes aqui?

— Ah, bem... — Lançou um olhar para Dante. — Passei por aquele restaurante no caminho, portanto quis lhe trazer isso. — Retirou da sacola um copo grande ainda quente de café.

— CAFÉ! — Como uma leoa encontrando uma gazela indefesa, saltou na direção de Balbina, com seus olhos enxergando apenas o copo que ela segurava. — DÊ-ME!

Como se desse um bote, agarrou a embalagem e bebeu um grande gole do café.

Embora aquilo já tivesse acontecido inúmeras vezes quando Balbina trouxe café a ela, esperava que Septima não teria uma reação tão feroz, já que ela havia dormido por um bom tempo recentemente.

— Pensei que estivesse dormindo regularmente agora...

— E estou, porém quando foi a última vez que me trouxeste café? — Septima fez biquinho. — Minha vida não possuí sentido sem este elixir da vida! O néctar dos Deuses! A água da vida!

Aquilo logo fez Balbina se lembrar de como Septima conseguia ser uma amante de café ainda maior do que ela.

— Bem... Por que Doutor Dante está aqui? E dormindo...

— Também não sei. Nesta madrugada o procurei para discutir sobre um projeto e ele estava assim. Resolvi deixá-lo, porém, ao amanhecer, decidi checar se ele ainda estava aqui, e como podes ver...

— Compreendo... — Balbina o encarou com preocupação. — Me pergunto se ele não se exauriu... Não consigo dizer devido ao seu poder selado...

— Medi seus batimentos, ele está bem. Porém também estou um tanto curiosa do porquê ele estar dormindo a tanto tempo...

— Devemos tentar acordá-lo?

— Creio que é uma má ideia.

Balbina encarou Dante com atenção. Notou que, apesar de estar dormindo, possuía uma postura similar à de meditação, sem contar que estava completamente imóvel — com exceção de seu peito subindo levemente com sua respiração.

— Quando o encontraste ontem, estava nessa mesma postura?

Septima concordou com um aceno.

— Bem... Doutor Dante é responsável, creio que não há nada de errado... mas, se ele permanecer dessa maneira por mais um dia, começarei a me preocupar.

— Bem, quando possuirmos algum tempo livre podemos checá-lo após algumas horas. — Septima se levantou e começou a se afastar. — Devo voltar ao meu trabalho.

— Está bem, ficarei só mais um pouco.

Assim que Balbina percebeu que estava sozinha com Dante, sentou-se ao seu lado e o encarou de perto.

— O que está fazendo...? És um homem tão misterioso...

 

***

 

Um dia e meio se passaram, e Sariel continuava em seu subconsciente.

Durante este tempo, esteve apenas naquela sala coberta de palavras prateadas que se alteravam constantemente, não havia deixado aquele lugar nem por um segundo.

Mesmo assim, não havia nem começado a tentar quebrar o selo, visto que ainda estava aprendendo os vários códigos que ainda havia ali.

— Não vai dar tempo.... — Sua expressão estava sombria e preocupada. — Zaphkiela talvez já tenha chegado nas minas Belvuch, e ainda estou preso aqui.

Permaneceu sentado de pernas cruzadas, pensando profundamente o que poderia fazer.

Naquele ponto, a situação parecia tão desesperadora, que considerava seriamente tentar destruir aquele selo na força bruta — ao tentar convencer um pesquisador feri-lo com Conjuração — ou, até mesmo, a desistir de sua missão e ir embora, visto que Zaphkiela e Koeus provavelmente retornariam juntos, tornando impossível a invasão.

— Tsc! Que inferno. — Sariel se levantou, e todo o ambiente voltou a ser o universo. — Preciso pensar...

Sem pretensão nenhuma, começou a caminhar sem olhar o caminho conforme considerava todas as suas opções.

Após um bom tempo, percebeu que foi parar diante de uma porta trancada no meio do nada onde deixava seu livro negro.

— Ah, é mesmo... — Se lembrou das estranhas visões do futuro contidas nele. — Me pergunto se apareceu algo novo...

O ambiente mudou novamente, e agora se via dentro daquela sala, com o livro negro no centro em um pedestal.

Se aproximou dele e abriu a última página.

E para sua surpresa, ela estava preenchida.

— Isso estava preto antes... É melhor dar uma olhada...

Se concentrou na página e logo se viu de volta ao campo de batalha, com Luna voando e aniquilando inúmeros devotos ao mesmo tempo.

Entretanto havia algo de diferente naquela vez, o homem que estava ao seu lado, fingindo ser um prisioneiro, havia sumido, e o portal, que estava desativado em sua visão mais recente, estava aberto.

Uma quantidade inimaginável de criaturas desconhecidas saía daquele mundo.

“Essas criaturas... algumas são humanoides, outras quadrupedes ou aladas, mas todas elas pareceram ter sido criadas para serem um combatente perfeito... Seu poder, velocidade, agressividade, inteligência... Nunca enfrentei algo igual, é outra Seita desconhecida?”

Pôde perceber claramente que ele estava completamente cercado e acumulando cada vez mais danos.

“Por que não estou trocando de elementos nessa luta? Continuo usando Ilusão... Sempre mantenho uma porção de Proteção para me curar nessas situações.”

Apesar da clara situação terrível, seu eu futuro insistia, por algum motivo, a permanecer com o elemento Ilusão.

“O que está acontecen...”

— Cuidado! — Antes que pudesse completar seu pensamento, a voz de Luna o alertou desesperadamente.

Como estava à mercê daquela visão, apenas podia olhar para onde seu eu do futuro olhava.

Portanto, quando se virou para trás, viu um devoto avançar em sua direção e atravessar seu coração com uma lança, manchando tanto seu corpo quanto do inimigo de vermelho.

“O quê?! Argh!” Sentiu uma dor como se tivesse sido perfurado na vida real, abalando sua consciência.

Sua visão escureceu lentamente, sendo o rosto ensanguentado daquele humano a última coisa que viu.

Então, como se despertasse de um pesadelo, Sariel retornou à sala do livro negro.

— Argh! — Caiu no chão devido à surpresa. — Eu morri?!

Levou a mão ao próprio peito, percebendo que estava intacto.

— Não... Não pode ser... — Se levantou desesperado e se aproximou do livro. — Essa realmente é a última página... e se eu morri nela, quer dizer que... morrerei no futuro?

Sariel começou a folhear o livro incessantemente, sempre retornando à última página, como se, de alguma maneira, surgiria outra após ela.

— Então é assim que será meu fim? — Caiu de joelhos e apoiou as costas contra o pedestal do livro. — Mas... a profecia estava errada?

Inúmeros sentimentos diferentes bagunçaram sua mente.

Aquilo era algo muito súbito e difícil de aceitar. Estava confuso, pois, de acordo com a profecia dos anjos, ele seria uma pessoa que mudaria o mundo, então como poderia fazer isso morto?

— Não, me recuso a aceitar isso. — Se levantou e começou a folhear o livro novamente. — Não há nada que garante que essas visões se concretizarão. Huh?

Para sua surpresa, encontrou mais uma página nova, uma mais no começo.

— O que é isso? Me pergunto onde me encontrarei...

Se concentrou naquela página e sua visão se escureceu.

Alguns momentos depois, se viu sentado na beira do galho de uma árvore, e abaixo de seus pés, apenas podia ver um grosso tronco e um mar de nuvens brancas que o impedia ver o que havia embaixo.

“Isso é... a Yggdrasil? Se estou acima das nuvens, devo estar nos reinos superiores, provavelmente em Asgard...”

Seu eu do futuro tinha um grosso livro apoiado em suas coxas, onde escrevia inúmeras coisas com símbolos e línguas que lhe eram desconhecidas.

“Não posso olhar ao meu redor... Por que estou anotando essas coisas? E o que são?”

Após algum tempo, seu eu do futuro terminou de escrever, então folheou cada uma das centenas páginas.

— Bem, estes são todos os tipos de criptografias que existem até hoje... que eu conheça. — Seu eu do futuro ergueu o livro aberto e o encarou contra a luz do sol. — Ainda há algumas páginas em branco no fim para quando descobrirem, ou criarem um código novo...

“Espere, como?! Todas as criptografias existentes?! Neste livro?”

Aquilo instantaneamente ativou sua cobiça e curiosidade.

Era como se a própria Kura o estivesse ajudando, visto que era justo o que mais precisava naquele momento.

“Mas por que anotei tudo em um livro, e não em uma pedra de Alteração? Uma pedra não se desgasta com o tempo... E o que estou fazendo em Yggdrasil?”

Logo centenas de perguntas começaram a surgir em sua mente. Aquela visão era algo totalmente confuso e desconexo com o que estava vivendo agora, e mesmo que o futuro seja imprevisível, aquela situação que se encontrava era totalmente estranha.

“Onde está Luna e os outros? Por que Yggdrasil de todos os lugares? Isso não faz sentido...”

Quando descobriu que aquele livro negro poderia lhe revelar o futuro, não esperava que acabaria ficando com mais perguntas do que respostas.

Então sua visão começou a se escurecer novamente, e se viu de volta na sala do livro negro.

— Estou de volta... — Olhou ao redor como se quisesse confirmar onde estava. — O que são essas visões? Em uma eu... morro... e na outra estou totalmente sozinho, no topo da Yggdrasil, escrevendo um livro...

Pensou por um momento sobre isso, mas logo percebeu que, não importando o quanto tentasse, apenas criaria suposições impossíveis de confirmar.

— Vou ignorar isso por enquanto, não faz sentido quebrar a cabeça com algo que não tenho controle... Porém definitivamente falarei sobre isso com Luna mais tarde. — Tentava não pensar muito sobre o que viu, porém era inevitável se sentir apreensivo. — Bem, pelo menos consegui algo nisso. — Lembrou-se dos códigos que aprendera ao acessar a outra visão.

Sariel fechou seus olhos e, após um breve momento, se viu de volta em Acrópolis, no mesmo sofá onde se sentara, completamente sozinho.

“É melhor eu estar longe daqui quando quebrar o selo, já que, por um breve momento, meu poder verdadeiro poderá ser sentido.”

Se levantou e caminhou para longe do centro de pesquisas.


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