Volume 3
Capítulo 177: O Início da Loucura
Logo Sariel chegou no setor militar de Acrópolis, dirigindo-se até uma sala de testes bem maior que as outras.
Lá estavam Octavius, Angelina e Ludomir, três pessoas que sentiu fazer muito tempo que não se encontrava, apesar de fazer apenas um dia.
— Doutores, peço perdão pela demora.
— Chegaste em um bom momento, Doutor Dante. — Octavius sorriu ao viajante quando o viu. — Estávamos prestes a começar os testes.
— Perfeito. — Sariel se aproximou do vidro reforçado e percebeu que havia dois chassis idênticos do tanque, só que um estava sem o canhão e torre montados. — Dois?
— Um deles usamos puramente para testes de resistência e blindagem. Os resultados atingiram nossas expectativas, portanto agora testaremos aquele totalmente montado — explicou Angelina.
— Então tudo correu bem até o momento?
— Bem, sim, contudo estamos um tanto preocupados com o canhão que usamos. — Ludomir parecia levemente inquieto.
— Por quê?
— Bem, uma semana atrás Koeus partiu para uma missão, e cerca de três ou quatro dias atrás ele decidiu que desejava testar o canhão em um combate real, então ele enviou uma mensagem aos Vigilantes aqui para que o levassem. Em outras palavras, aquele que equipamos é uma versão anterior e não tão aperfeiçoada.
“Transportaram algo assim até as minas Belvuch? Considerando a distância, deve ter chegado hoje.” Sariel encarou o canhão pelo vidro. — Bem, por que não começamos?
— De acordo. — Octavius se dirigiu até um computador e começou a operá-lo. — Os testes se iniciam agora.
***
Algumas horas se passaram, e Sariel agora se dirigia ao setor de Selagem.
Os testes com o tanque superaram expectativas, não apenas suas defesas eram excelentes, mas também possuía uma boa mobilidade.
O único ponto que deixou a desejar foi o canhão, cuja precisão estava afetada e travava constantemente.
Agora, como Koeus estava em sua missão, restava apenas esperar pelo seu retorno com o canhão aprimorado. Enquanto isso, já começavam a desenvolver projéteis novos baseados na descoberta de Sariel.
Logo chegou na sala onde Septima basicamente vivia, encontrando não apenas ela, como também Lucius, que estava com um capacete com visor na cabeça.
— Doutor Dante... — A pesquisadora foi a primeira a percebê-lo.
— Boa noite, recebi uma mensagem de Doutor Lucius informando sobre o capacete.
— Ah, sim! Ainda bem que vieste, estávamos aguardando por ti.
Septima lançou, sorrateiramente, um olhar julgador ao especialista em Alteração.
— O capacete está pronto?
— Sim! Estávamos testando agora mesmo, veja! — Lucius retirou o capacete e ofereceu a Sariel, que o pegou e colocou em sua cabeça.
No momento seguinte, uma interface apareceu em pleno ar, com inúmeras opções diferentes.
Movendo suas mãos, acessou os arquivos de Acrópolis, onde, assim como na biblioteca, havia todo o conhecimento da universidade, ali disponível para que pudesse acessar, podendo lê-los em qualquer lugar.
Para qualquer pessoa que o visse, achariam que ele estava maluco, pois não poderiam ver as interfaces que apreciam no visor do viajante.
As possibilidades do que podia fazer eram inúmeras. Podia fazer com que o ambiente parecesse mudar para algo completamente diferente, como no topo de uma montanha, no fundo do mar, em uma ampla floresta...
Além disso, também poderia acessar a simulação. Nela, podia ver, caminhar e interagir com ela a partir do mundo real, apesar de inúmeras funções estarem ausentes, já que ainda precisaria usar uma cápsula para se conectar totalmente.
— Impressionante... já testaram com a simulação?
— Ainda não, estávamos esperando por ti para que pudéssemos fazer isso, entrarei na simulação agora mesmo! — Lucius saiu correndo da sala.
Sariel aproveitou esse meio tempo para acessar parcialmente na simulação, encontrando-se na mesma sala branca de quando usava a cápsula para se conectar nela.
— Você está bem? Não está cansado? — Apesar de estar parcialmente dentro da simulação, ainda era capaz de ouvir Septima no mundo real.
— Tirei um cochilo essa tarde, não se preocupe.
— Apenas um cochilo não é o suficiente, deveria dormir apropriadamente.
— Talvez Doutora Septima deveria ouvir vossos próprios conselhos.
— Bem... tem razão... — Ela permaneceu em silêncio por um momento, quando se levantou e se aproximou dele. — Vou abrir o compartimento da pedra de Selagem para monitorar qualquer anomalia durante os testes, ignore-me.
— Certo.
— Eu apenas... — Septima logo notou que não alcançaria ele, pegou um banquinho próximo e subiu.
Enquanto isso, Sariel caminhou para fora da sala branca na simulação e esperou no corredor por Lucius.
Logo ele saiu de outra das salas e se aproximou dele.
— Doutor Dante, como está? Podes me ouvir?
— Perfeitamente, Doutor Lucius. Posso vê-lo também.
— Ótimo, balance os braços, por favor.
— Entendido. — Seguindo as instruções dele, Sariel moveu os braços de várias maneiras.
— Ótimo, seus movimentos também estão perfeitos. — Lucius pensou brevemente. — Agora, tente fazer isso...
***
Luna e Aegreon descansavam próximos de uma pequena caverna, comendo uma refeição naquela noite clara.
Estiveram treinando combate arduamente por horas todos os dias, e Luna, apesar de ainda ser bem inferior em técnica e experiência, já havia conseguido atingir o Pilar algumas vezes.
— Seu progresso é impressionante — comentou Aegreon. — Claro, em uma luta corpo-a-corpo, sem magia, você perde, mas isso nunca acontecerá. Se for boa o bastante para apenas conseguir desviar e bloquear ataques já será o suficiente.
— Obrigada por me ensinar, dessa maneira não serei um fardo a ninguém.
— Você não é um fardo, deve parar de pensar dessa maneira.
Luna o encarou com um pequeno e puro sorriso em seu rosto.
Graças a esse tempo que estiveram passando juntos, pôde perceber como Aegreon, apesar de sua aparência assustadora e seriedade, era um homem bondoso por baixo de toda aquela casca grossa.
Um homem bondoso, porém, atormentado, com olhos que viram muitas atrocidades e crimes.
— Aegreon... — O chamou após observá-lo por um tempo.
O Pilar a encarou após ouvir seu nome.
— Por que veio me ajudar em Fordurn? Nunca me disse o motivo...
— Já lhe disse lá atrás, apenas um desejo meu.
— Sei que está mentindo, posso sentir. — Luna não poupou suas palavras para encurralá-lo. — Você passou por tantas coisas por causa dos anjos, por que decidiu me ajudar, uma completa estranha?
Aegreon a encarou, sem dizer nada.
— Você é o único que não entendo o que está fazendo. Até mesmo Sariel...
— Ele também nunca disse verdadeiramente seu motivo, ele sempre mentiu.
— Pensei que confiasse nele.
— Os motivos dele ainda me intrigam, porém, por enquanto, nossos objetivos se alinham, e ele está se arriscando pelo bem do Conselho, então...
Luna, por um lado, era capaz de entender a desconfiança dele, porém, pelo outro, achava estranho que, não importava o quanto Sariel a salvasse, e lutasse, Aegreon nunca baixava sua guarda completamente.
Não apenas ele salvou sua vida múltiplas vezes, mas a ensinou a lutar, resolveu crises, pôs sua vida em risco pelo bem dos outros, e, embora indiretamente, estava até ajudando o Conselho, bastava se lembrar de que Feng Ping apenas voltou às suas atividades após se encontrar com ele.
— Sariel pode ter mentido sim, no começo, sobre suas motivações, mas ele as esclareceu depois...
— Hm? E o que ele disse?
— Ah! Bem... — Luna então se lembrou que isso estava relacionado diretamente à Deusa Kura, portanto era algo que ela e Sariel mantinham em segredo de todos.
Foi então que ela considerou se fazia sentido esconder aquilo, mas logo se lembrou da profecia, e da imagem de Sariel a assassinando, portanto, decidiu que contar ou não era algo que teria que discutir com ele.
“Alguma hora preciso falar para ele sobre essa visão. Não acredito que ele me mataria, tenho certeza de que ele jamais faria isso, mas estou preocupada que ele se desespere novamente...”
Luna pensou sobre tudo isso com uma expressão conflitada enquanto Aegreon a encarava.
— Então você não pode me dizer... — A voz do Pilar demonstrava um misto de raiva, frustração e tristeza.
— Não é isso! Eu apenas...
— Quantos segredos vocês dois vão ficar guardando? Não foi ele que sugeriu que deveríamos ser transparentes um com o outro?
— Aegreon... — Luna se surpreendeu ao ser, pela primeira vez, alvo das críticas dele. — Mas você também esconde coisas que poderíamos ouvir, por que não nos conta? Ou por que não conta apenas para mim? Posso manter em segredo dos outros se isso é um problema.
O Pilar se levantou abruptamente, com uma expressão irritada, e começou a se afastar.
— Aegreon, onde está indo?
Luna se levantou para segui-lo, mas ele flexionou suas pernas e deu um longo salto, desaparecendo em um instante.
— Aegreon... — A princesa encarou o céu, arrependendo-se da maneira como falou com ele.
***
Sariel, junto de Septima e Lucius passaram algum tempo testando o capacete.
Descobriram alguns erros que precisavam ser corrigidos e, como ainda era o primeiro protótipo, haveria outras versões aprimoradas mais tarde.
Agora, o viajante estava de volta na biblioteca aprendendo todos os tipos de códigos existentes catalogados em Acrópolis.
Como todos os outros projetos em que estava envolvido progrediam bem, teria tempo para focar no seu problema atual.
“Não é tempo o suficiente...”
Sariel logo percebeu que as pedras de Alteração contendo as informações que desejava estavam acabando, ou seja, em breve teria que ele mesmo descobrir como decifrar as centenas de códigos no selo em seu poder mágico.
“Se eu tivesse que partir daqui até as minas Belvuch a toda velocidade, chegaria lá em um dia e meio... tenho que resolver isso em, no máximo, três dias, mas preferencialmente antes...”
Com aquele tempo, parecia que seria impossível resolver seu problema antes do retorno de Zaphkiela.
“Bem, acho que vou deixar de aparecer completamente em qualquer projeto, e passar vinte e quatro horas por dia decifrando este maldito selo.”
Sariel pegou as últimas pedras restantes e as absorveu, dando-lhe outra dor de cabeça insuportável pela imensa quantidade de conhecimento adquirido em pouco tempo.
Depois, as devolveu em seu devido lugar.
“Bem, acho que é hora de começar o trabalho de verdade.” Sentou-se em um sofá e fechou os olhos.
Imediatamente se viu em seu subconsciente, flutuando no espaço universal.
— Preciso mudar isso para mostrar o selo... — Concentrando-se por um breve momento, fez o local mudar para uma ampla sala quadrada prateada, cheia de letras, números e símbolos que mudavam a todo segundo. — Melhor assim.
Encarou aquilo tudo com um sorriso forçado, um rosto desanimado, e um olhar levemente desesperado.
Tentar decifrar aquilo era loucura, ainda mais considerando que precisava fazê-lo em menos de três dias.
— Zaphkiela... quais foram suas intenções? Sabia sobre mim? Por que agiu dessa maneira? O que espera de mim? Você me colocou em uma posição que jamais conseguiram...
Não pôde deixar de pensar no Pilar da Selagem, afinal, as ações dela o deixava confuso.
— Bem, não tenho tempo para pensar nisso. — Sentou-se de pernas cruzadas no chão. — Mãos à obra.
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