Volume 3
Capítulo 176: Pesquisador Esforçado
Após perceber a situação de Sariel, Septima se aproximou dele com uma expressão um tanto preocupada.
— Doutor Dante... isso não parece bom...
— Doutora Septima, talvez possa remover este selo? — Mesmo que fosse uma má ideia que ela verificasse seu poder mágico, seria melhor do que estar totalmente selado.
— Posso tentar... Dê-me vossa mão.
Sariel obedeceu e a pesquisadora pegou sua mão, depois fechou os olhos e se concentrou por um momento.
Contudo os abriu logo em seguida com um sorriso nervoso e um olhar derrotado.
— O selo é igual àquele que Zaphkiela nos ensinou, se altera a todo momento... Não conseguirei remover isso...
— Tsc! Merda... — Como se não bastasse, ainda era um selo completamente impossível de ser quebrado.
— Me desculpe... — Septima estava genuinamente infeliz por não poder ajudar. — Mas não é um problema muito grande, ela voltará depois de sua missão.
“Esse é o problema, não posso esperar ela voltar, preciso aproveitar que ela está longe de Acrópolis para invadir a sala de Koeus...”
Sariel se viu completamente encurralado naquela situação. Se seu poder mágico não estivesse totalmente selado, poderia tentar converter seu poder para Conjuração e quebrar o selo na força.
Não, até mesmo isso seria impossível, considerando o quão poderoso era aquele selo. O único que seria forte o suficiente para isso era Aegreon, mas ele estava longe demais para poder ajudá-lo, sem contar que ser ferido por Conjuração nunca é uma boa ideia.
“Preciso encontrar uma maneira de quebrar esse selo a todo custo, não apenas pelo bem dessa missão, mas para o futuro também.”
— Bem... devemos retornar juntos? As peças do capacete devem chegar nesta tarde... — Septima tentava animá-lo de alguma maneira.
— Vá na frente, há um lugar que quero ir.
— Está bem... — Sentindo-se desanimada, Septima deixou Sariel.
“Maldição... Vou dar uma olhada na sala de Koeus, no caminho penso no que fazer...”
***
Sariel subiu ainda mais na parte superior de Acrópolis, alcançando o penúltimo andar: a biblioteca de Acrópolis, o local onde todo o conhecimento na universidade podia ser encontrado.
Apesar do nome biblioteca — e possuir livros — atualmente tudo era armazenado no formato de pedras de Alteração, que não apenas eram menores, mas armazenavam bem mais informação, portanto bastava apenas pegar uma delas para aprender imediatamente seu conteúdo.
Apesar disso, aquele lugar era imenso, podia-se até dizer que era maior do que o reino da Montanha de Fogo, tamanho era a quantidade de conhecimento ali armazenado.
Claro, também era um dos lugares mais protegidos de Acrópolis, perdendo apenas para os aposentos de Koeus no andar de cima.
Sariel, da entrada da biblioteca, encarou o interior, surpreendendo-se com as inúmeras estantes contendo toda as mais avançadas pesquisas de descobertas do mundo.
Porém não permaneceu muito tempo e logo seguiu por um corredor que subia diretamente até os a sala de Koeus.
Aqueles corredores eram totalmente fechados, sem nenhuma janela para observar o exterior, além de serem totalmente reforçados com Proteção e patrulhados por inúmeros Vigilantes, que nada diziam ao viajante.
Sariel precisou de algum tempo para chegar ao seu destino, já que era a localização mais alta de Acrópolis, mas eventualmente chegou em uma ampla sala vazia com uma espécie de portão branco imponente do lado oposto em que estava.
Apesar daquela área vazia, havia oito Vigilantes protegendo o local, quatro no portão que levava até a sala de Koeus, e quatro no fim do corredor, onde Sariel se encontrava.
— Doutor Dante, o que deseja aqui? — Um dos Vigilantes se virou para ele ao notar sua presença.
— Apenas estou conhecendo algumas áreas que não visitei, como a biblioteca e a sala de Koeus.
— Compreendo, sinto que não poderá ver muito aqui, contudo.
— De fato. — Sariel encarou o enorme e imponente portão branco. — Posso me aproximar?
— Sim, contudo não tente nada.
— Entendido.
Sariel caminhou a passos lentos por cerca de vinte metros até o outro lado.
Pôde sentir perfeitamente todos os oito pares de olhos presentes naquela sala encarando-o atentamente.
Parou alguns metros de distânica da porta e a encarou.
“Inferno... com meu poder selado, não tenho como sentir qualquer magia por aqui...”
Sariel fechou seus olhos por um momento e se concentrou em seu poder mágico.
Mesmo que Zaphkiela o tivesse selado, ele já havia feito isso consigo mesmo anteriormente, portanto seu selo original ainda existia.
Da mesma maneira de quando ele selou parcialmente o poder de Luna, e as bruxas a selaram em seguida, ele poderia remover seu próprio selo e liberar parte de sua magia.
Claro, uma parte ainda estaria selada por Zaphkiela, mas ainda não seria tão ruim quanto estar totalmente incapaz de usar magia.
Sariel removeu seu próprio selo, na esperança de ter alguma porção de sua força restaurada.
Contudo...
“Merda... o poder de Zaphkiela é tão tremendo, que ela acabou corrompendo e sobrescrevendo parte do meu selo... a quantidade de poder que tenho livre agora é ainda menor de antes dela me selar...”
Rangeu os dentes em frustração. Com aquele poder, não seria capaz de usar sua própria Conjuração para quebrar o selo à força, portanto teria que encontrar outra maneira de fazer isso.
“Poderia usar alguma pedra de Conjuração que a universidade possuí, ou pedir para alguém com este elemento me ferir... Não, vão desconfiar de mim por estar tão desesperado para me livrar deste selo, sendo que, na visão deles, basta esperar o retorno de Zaphkiela.”
No fim, não havia outra escapatória.
“Só resta uma opção... Visitarei a biblioteca e aprenderei todo tipo de criptografia existente e tentar quebrar este selo...”
Sariel usou o pouco de Alteração que tinha disponível, conseguindo detectar que a porta era reforçada com Proteção, mas não sabia dizer quanto.
“Estou apenas perdendo tempo aqui. Vou para a biblioteca imediatamente.”
Ele então retornou pelo corredor para passar algum tempo estudando.
***
Após inúmeras horas de estudos, Sariel encontrava-se esparramado em um sofá na biblioteca de Acrópolis.
Ao seu lado, dezenas de pedras de Alteração estavam jogadas, e estas eram as que ele pegou emprestado alguns minutos atrás, todas as outras centenas foram devolvidas ao seu devido lugar, visto que isso acabaria criando uma bagunça.
Sariel estava com um braço cobrindo seus olhos. Estava esgotado mentalmente, visto que forçou sua mente além dos limites ao aprender, em um curto período, milhares de códigos e selos diferentes.
Mesmo assim, havia ainda muitas pedras para analisar, pois havia criptografias documentadas que ainda nem haviam sido desvendadas completamente.
“Minha cabeça... sinto que vai explodir.” A dor aguda que sentia era tamanha que rangia os dentes fortemente, como se desejasse desgastá-los pelo atrito.
Sariel encarou as pedras ao seu lado e, contra sua vontade, as reuniu e começou e levá-las de volta ao seu lugar.
A biblioteca era um lugar imenso, cujas estantes eram tão altas que era preciso um pequeno elevador para alcançar os arquivos no topo.
Após guardar as pedras em seu devido lugar, sentou-se no chão mesmo, ao lado de uma estante, com os olhos fechados.
Se concentrou em seu poder mágico, mais especificamente o selo que se alterava a todo momento.
“Já sou capaz de identificar o tipo de codificação algumas vezes... mas para conseguir quebrar isso, terei que aprender todos os códigos existentes... isso sem desconsiderar de que haverá criptografias não documentadas...”
Deixou seu corpo relaxar enquanto mantinha-se concentrado.
Zaphkiela havia deixado Acrópolis durante a manhã, e começava a anoitecer agora mesmo, isso significava que Sariel passou quase dez horas estudando.
“Talvez ainda consiga absorver mais algum conhecimento antes de me exaurir completamente.”
Naquela posição mesmo, adormeceu e entrou em seu subconsciente.
A visão da biblioteca quase infinita onde guardava seu conhecimento o fez retorcer o rosto em uma expressão desagradável.
“Tsc! Melhor mudar esse ambiente pelo bem da minha sanidade.”
Imediatamente tudo se desfez e se transformou no espaço sideral, por onde Sariel flutuava por planetas, estrelas e galáxias.
A princípio, aquele universo parecia extremamente organizado e calmo, sem nenhum evento astronômico violento como supernovas ou, até mesmo, colisão de buracos negros.
Algo completamente estranho considerando que tudo no universo tendia ao caos, à destruição e escuridão, mas essa foi uma maneira de interpretar diferentemente o seu conhecimento organizado, tal como as estantes com livros enumerados corretamente, aquela realidade era organizada e pacífica.
Porém logo chegou em uma galáxia disforme, com seu buraco negro supermassivo ativo e engolindo a matéria ao redor.
Sariel se viu diante daquele objeto ofuscante. A matéria das estrelas ao seu redor girava e caía tão rápido em seu horizonte de eventos, que seu disco de acreção emitia um brilho absoluto.
“Buracos negros... absorvi o conhecimento deles quando entrei na simulação ontem... Que objeto estranho, tão poderoso capaz de engolir a luz... Será que não estão relacionados de alguma forma com os Deuses?”
Logo se lembrou que a única divindade da Luz que conhecia era Kura, enquanto havia inúmeras outras Seitas venerando Deuses da Escuridão.
Os cálculos e modelos atuais demonstravam que a entropia e a energia escura — um forma pouco conhecida de energia — ganhariam da luz e gravidade e mergulhariam o universo na absoluta escuridão, um processo que, inclusive, estava acelerando cada vez mais.
“Imagino se Kura esteja travando alguma batalha sozinha contra todos os Deuses da Escuridão existentes...” Sariel voltou seu olhar ao buraco negro e balançou a cabeça. “Não importa, vamos organizar isso e descobrir se poderei adquirir mais conhecimento sem precisar descartar outros em troca.”
Passou algum tempo arrumando aquela bagunça cósmica, que deixou de ser um amontoado de estrelas sem forma e violenta para uma galáxia espiral, cujo buraco negro estava completamente inativo.
“Sobrou mais espaço do que imaginava... Por acaso minha capacidade de armazenar conhecimento aumentou? Bem, de qualquer maneira, está na hora de despertar e estudar mais.”
Sariel acordou, percebendo que não estava mais no chão, e sim em um sofá próximo.
— Hm? O que?
— Ah, desculpe, por acaso lhe acordei?
Sariel virou seu rosto para aquela voz e percebeu Balbina ao seu lado.
— Não, eu estava apenas...
— Não deve se forçar demais, sei que está ansioso com suas pesquisas, mas deve dormir um pouco. — A pesquisadora mostrava uma preocupação genuína.
— Não estou cansado, não se preocupe com isso.
Balbina o encarou em silêncio por um momento, se aproximou dele e se sentou ao seu lado.
— Enviei várias mensagens, mas tu não me respondeste. Acabei me encontrando com a Doutora Septima, e ela me contou o que aconteceu.
“Que atenciosa... atenciosa demais para alguém que me vê como um colega.” Sariel a encarou por um breve momento, e decidiu ignorar a preocupação dela. — Aconteceu algo com os pacientes do transplante?
— Ah, sim! Claro, sobre isso. Eles estão se recuperando, todos eles.
“Claramente uma mentira... Ela realmente apenas queria me ver.” Sariel pegou seu tablet e checou suas mensagens. — Oh, parece que o tanque foi montado, e vão testá-lo agora. Devo ir.
— Espera! Não está cansado?
— Olhe para mim, o que acha? — Sorriu confiantemente para ela.
— Bem... — Desviou o olhar timidamente. — Me parece bem...
— Então, com sua licença... — Sariel começou se afastou a passos rápidos.
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