O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 175: Encurralado

Sariel e Balbina seguiam Zaphkiela até o servidor.

A pesquisadora sonolenta — agora desperta — se aproximou do viajante para falar com ele.

— Tens sorte, faz meses desde a última vez que sequer tive a oportunidade de ver Zaphkiela — cochichou enquanto cobria a boca com a mão, se esquecendo de que ela poderia ouvir tudo de qualquer maneira.

— De fato, ainda nem posso acreditar nisso... Poder ver de perto o trabalho do Pilar da Selagem... É como um sonho...

— Nem mesmo eu tive tal oportunidade... — Balbina encarou Sariel por um momento. — Até me esqueci que estava brava contigo por ter me feito dormir demais. — Sua expressão escureceu um pouco.

— Não precisa me agradecer tanto por isso, tenho certeza de que foi um belo sono. — Porém o viajante respondeu com ironia.

Balbina o encarou por algum tempo, tentando parecer brava — que era uma visão um tanto adorável, considerando o quão mais alto Sariel era —, contudo foi incapaz de manter essa máscara e acabou deixando um sorriso escapar.

— Bem, creio que isso é verdade...

Durante toda essa conversa, Sariel constantemente usava Alteração para detectar as auras mágicas ao redor, não percebendo nada de estranho até agora.

Ou melhor, quase nada.

“Zaphkiela tem uma pedra de Alteração embaixo de seu manto que está ativo, será uma mensagem do Conselho? Aconteceu algo em Belvuch? Mas se for o caso, por que ela está o ignorando? É impossível ela não ter notado...”

Claro, como estava desconfiado, qualquer coisa parecia suspeito, portanto, decidiu apenas continuar atento.

Os três logo chegaram na parte superior do centro de pesquisas e pegaram um elevador até o servidor.

Como da primeira vez, Sariel se deparou com um corredor onde, no final, havia alguns Vigilantes e uma porta blindada.

Os guardas logo notaram Zaphkiela e aguardaram que se aproximasse.

— Zaphkiela, como podemos ajudá-la?

— Mostrarei à Doutora Balbina e ao Doutor Dante a programação do servidor e ensiná-los um pouco.

— A programação?! Senhorita Zaphkiela, peço perdão, porém eles precisam de permissão...

— E estou cedendo tal permissão.

— En-Entendo, contudo não é algo que pode ser mostrado a qualquer pessoa...

— Estes dois não são “qualquer pessoa”. Ambos são especialistas em Selagem, portanto, se eu lhes compartilhar um pouco de meu conhecimento, crescerão ainda mais como pesquisadores, correto? — O Pilar sorriu simpaticamente ao Vigilante.

— Bem...

O Vigilante acreditava que aquilo era muito súbito, ainda mais considerando que um recém-chegado estava ali, porém também sabia que, caso ela estivesse séria sobre isso, não teria escolha senão obedecer.

— Se insiste nisso, então deveremos selar o poder mágico de ambos.

— Eu mesma cuidarei disso. — Zaphkiela se virou para Balbina e Sariel.

“Selar? Não estou gostando disso...” O viajante imediatamente percebeu o perigo que corria.

Se o Pilar apenas selasse seu poder sem analisá-lo antes, não haveria problema, porém, se ela acabasse o checando cuidadosamente, poderia perceber o selo já existente colocado por ele mesmo, pondo em risco seu disfarce.

Além disso, não podia deixar de pensar que aquilo poderia ser uma armadilha para capturá-lo.

Zaphkiela primeiro se aproximou de Balbina.

— Selarei vosso poder mágico, alguma objeção?

— Negativo, pode me selar.

Balbina permaneceu imóvel enquanto Zaphkiela, em apenas alguns segundos, selava completamente sua magia, impedindo-a de usar nem mesmo uma gota de seu poder.

Então, o Pilar se aproximou de Sariel.

— Permite-me?

O viajante a encarou de maneira neutra, apesar de, interiormente, estar nervoso como nunca esteve.

Se permitisse, poderia ser descoberto, ou era até mesmo possível que ela já havia percebido seu disfarce e estava usando aquilo como uma desculpa para capturá-lo.

Se negasse, partindo da suposição que ela não sabia, Zaphkiela provavelmente desconfiaria por ter recusado uma oportunidade de aprender com a mais poderosa usuária do elemento Selagem, além de perder uma chance única para seu plano de infiltração.

Pesou os pontos positivos e negativos de cada escolha. No fim, decidiu ir pelo caminho mais arriscado.

— Claro, sem problema.

Zaphkiela estendeu a mão em sua direção e inúmeras letras, números e símbolos prateados no formato de correntes dispararam em sua direção, envolvendo todo seu corpo.

Sariel sentiu instantaneamente todo seu poder sendo completamente bloqueado, como se correntes invisíveis o prendesse de uma maneira tão apertada, que não seria capaz de mover um milímetro.

Aquilo o intimidou um pouco, mas já sabia o que esperar, afinal podia usar a si mesmo como base para saber quão poderosa seria Zaphkiela.

— Feito. — O Pilar se afastou dele. — Quando terminarmos, libertarei os selos.

“Parece que ela não percebeu... mas ainda não posso relaxar, ainda há a possibilidade de haver algo aguardando por mim lá dentro.”

— Certo, faremos uma revista agora. Poderão entrar logo depois.

Um Vigilante homem e uma mulher vasculharam Sariel e Balbina. Ao constar que não carregavam nada perigoso, permitiram que entrassem.

Seguindo o mesmo processo, a primeira porta se abriu e os três entraram.

Então a porta se fechou, e esperaram que a segunda se abrisse.

— Mal posso acreditar que poderei ver a programação do servidor... Terei certeza de analisá-los minuciosamente. — Balbina era incapaz de permanecer parada no mesmo lugar, e andava de um lado para o outro.

— Devo lembrá-los que não devem expor o que virem aqui a ninguém, até mesmo a outros pesquisadores de túnica branca.

— Manteremos isso em mente. — Sariel, em contrapartida, estava rígido de antecipação.

Logo a segunda porta se abriu e os três adentraram a sala do servidor.

Sariel estava atento o máximo possível, o que não era muito, já que agora só podia confiar em seus cinco sentidos.

Apesar de toda sua preocupação, não parecia haver mais pessoas ali, portanto, pelo decorrer da situação, era provável que realmente não havia nenhuma armadilha.

“É melhor eu relaxar um pouco, meu poder está completamente selado. Se for uma armadilha ou não, há pouco que poderei fazer.”

Zaphkiela os guiou até uma terceira porta com um terminal, que desta vez levava diretamente até a enorme gema de Alteração.

— Virem-se.

— Certo. — Ambos Sariel e Balbina olharam para a direção contrária.

— Pronto. — E nesse breve momento que não estavam olhando, Zaphkiela inseriu a senha para abrir a porta.

Sariel se virou e viu a porta se abrir automaticamente, seu coração batendo ligeiramente mais rápido.

— Não toquem em nada sem permissão, e não façam nada que possa danificar a gema. — Deu suas últimas instruções antes de finalmente entrar. — Agora, sigam-me.

Sob a liderança de Zaphkiela, Sariel e Balbina entraram juntos no local da gema de Alteração.

Devido seu tamanho colossal, havia várias plataformas ao longo de toda sua circunferência e altura, com vários computadores e equipamentos conectados diretamente a ela.

Os três subiram alguns andares até chegar bem na metade da altura da gema, com uma plataforma se estendendo até ela, permitindo que alguém — como Zaphkiela — pudesse se aproximar e tocá-la.

Balbina agia como uma criança animada em um festival pela primeira vez, encarando as telas dos computadores e surpreendendo-se ao notar como era incapaz de entender o conteúdo, sempre voltando o olhar à gema de Alteração logo em seguida.

— Os códigos estão invisíveis no momento, os tornarei visíveis para que possam vê-los. — Zaphkiela se aproximou da gema.

Sariel a acompanhou com os olhos. Naquele ponto, já se sentia um pouco mais seguro, e a curiosidade começava a tomar conta de si.

O Pilar tocou na superfície da gema por um breve momento, e a superfície marrom dela instantaneamente foi tomada por outra cor, prata.

Havia tantos códigos naquele objeto, que qualquer pessoa que o visse pensaria se tratar de uma gema de Selagem.

Como se não bastasse, a Selagem não permanece apenas na superfície, mas penetra adentro de qualquer coisa mágica, seja um ser vivo ou objeto.

Por isso, se a superfície já era totalmente tomada pelos códigos de Zaphkiela, o interior estaria ainda mais preenchido.

— O quê?! Isso é... — Sariel, pego totalmente de surpresa pela dimensão e complexidade da programação, acabou deixando escapar uma reação audível, quase como um grito.

Já Balbina ao seu lado, estava totalmente congelada e de queixo caído, tentando processar o que via.

— Algo nessa magnitude... como esperado do Conselho... — Sua voz mal podia ser ouvida.

— Gostariam de se aproximar um pouco? — Zaphkiela se virou para eles com um sorriso.

— Claro! Adoraria! — Balbina ergueu a mão como uma criança chamando atenção de sua professora, e se aproximou a passos largos da gema, travando novamente no lugar após estar alguns passos de distância.

— Algum problema? — perguntou Zaphkiela à doutora, que não respondeu.

“O que ela percebeu?” Sariel também se aproximou e, ao ficar mais ou menos na mesma distância, também travou. — Isso é...

Surpreendeu-se novamente ao notar que as linhas de código eram de um tipo de criptografia totalmente desconhecido. Normalmente isso não causaria nenhuma grande impressão nele, visto que normalmente seria capaz de decifrá-las após estudá-las brevemente, mas logo notou que isso era impossível.

Isso se deve ao simples e, ao mesmo tempo, complexo fato de que os códigos estavam mudando a cada segundo, se recriptografando de maneira que tornaria impossível decifrar uma linha, pois ela se alteraria no momento seguinte.

Como se não bastasse, as mudanças não pareciam seguir nenhum padrão, nem se repetiam, isso significava que, em um período de um dia, o código se alterava em um número absurdo e inimaginável de códigos diferentes.

Aquilo ia além de qualquer coisa que Sariel esperava sobre o servidor e Zaphkiela. O conhecimento dela em várias linguagens códigos diferentes era algo que consideraria loucura, e o fato que isso se repetia por toda a extensão de um objeto com cem metros de diâmetro apenas provava como aquela garota era um gênio.

— Senhorita Zaphkiela, há quanto tempo têm trabalhado nisso? — A voz de Sariel vacilava pelo misto de surpresa, admiração e nervosismo.

— Cerca de três anos.

“Três anos... Eu não vejo como algo assim seria possível de construir em uma vida com uma equipe inteira, e ela conquistou isso em três anos... Não é à toa que ela não ensina ninguém, ela realmente passa todo seu tempo aqui...”

Também se lembrou de que três anos atrás ela tinha treze, um feito digno de um membro do Conselho.

— Por questões óbvias, não poderei descriptografar os códigos para que o entendam, além disso, eu e Koeus somos os únicos que conhecem o código verdadeiro, e como ele muda constantemente, não há uma maneira de decifrá-lo.

— Compreendo, como esperado do Pilar da Selagem! — Balbina estava completamente extasiada apenas por ter tido a oportunidade de ter visto aquela obra-prima. — Obrigado por ter nos deixado vir aqui!

— Vossa animação me alegra, contudo não posso deixá-los sem ensinar nada. Apesar de não existir uma maneira de decodificar isso, ainda posso ensinar como fazer uma criptografia como essa.

— Quer dizer que podes nos ensinar a como criar um código que se modifica constantemente? — A curiosidade de Sariel atingiu seus limites.

— Correto, o que dizem?

Sariel e Balbina se entreolharam brevemente, depois concordaram com um aceno.

— Ótimo, prestem atenção...

 

***

 

Algum tempo se passou e os três deixaram a sala do servidor.

Após passaram pelas duas portas de segurança, encontravam-se no corredor com os Vigilantes de guarda.

“Aprendi algo novo sobre Selagem, porém não descobri uma maneira de atacar a simulação sem poder decodificar a programação, e isso infelizmente é impossível.” Sariel possuía sentimentos mistos. Aprendeu muito menos do que desejava, mas mais do que esperava.

— Agora, removerei seus selos. Começarei por ti, Doutora Balbina. — Zaphkiela se aproximou dela e, em apenas alguns meros segundos, removeu o selo no poder mágico dela.

“Bem, depois disso vou passar pela entrada da sala de Koeus e ver os arredores.” O viajante já estava totalmente à vontade, mesmo que seu poder estivesse selado, e sua mente trabalhava a mil para tentar encontrar uma alternativa para sua missão.

— Agora, Doutor Dante... — Zaphkiela se aproximou de Sariel e estendeu a mão em sua direção. — Huh? — Contudo travou por um momento.

“O que foi isso? Ela sentiu algo?” O viajante ficou em alerta novamente.

O Pilar da Selagem então procurou dentro de seu manto por algo, até que retirou uma pedra de Alteração que brilhava.

A pressionou e se concentrou por alguns segundos, então a guardou novamente.

— Sinto muito, mas aparentemente houve um contratempo com o Conselho em sua missão nas minas Belvuch, e necessitam de minha ajuda imediata. — Zaphkiela deu as costas a Sariel.

— O quê? Espere...

— Devo partir imediatamente, até breve. — Ignorando completamente o viajante, disparou e sumiu em um piscar de olhos.

Sariel observou o corredor com uma expressão complicada no rosto.

Agora estava óbvio, Zaphkiela fingiu não ter percebido a mensagem de Koeus para enganá-lo e selá-lo, porém, se desconfiava dele, por que decidiu agir de uma maneira tão estranha? Por que não o capturou ali mesmo, e ainda ensinou algo a ele?

Não importava agora. O fato era que ele baixou sua guarda e agora se encontrava com seu poder totalmente selado. A única maneira da situação piorar seria se ele realmente fosse capturado.

O viajante fechou os olhos por um breve momento, analisando a situação da maneira mais calma possível.

“Bem... fudeu de vez...”

Foi sua conclusão.


Meu pix para caso queiram me ajudar com uma doação de qualquer valor: 6126634e-9ca5-40e2-8905-95a407f2309a

Servidor do Discordhttps://discord.gg/3pU6s4tfT6



Comentários