O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 174: Um Convite Irrecusável

Sariel adentrou outra sala, aquela com o voluntário que teve sucesso em sua cirurgia.

O nome do paciente era Peter, também de túnica marrom, e estava em observação por algum tempo.

— Ah, Doutora Balbina, e Doutor Dante, suponho. — Os cumprimentou assim que entraram. — A que devo a visita?

— Doutor Dante está aqui para vê-lo, portanto não faremos nada especial.

— Entendo, se tiverem alguma pergunta, posso tentar respondê-las.

— Assim farei. — Sariel se aproximou do voluntário e começou a analisar sua aura mágica.

Diferente da paciente anterior, o poder mágico dele havia preenchido o braço transplantado, fluindo por ele naturalmente sem nenhuma dificuldade.

Ainda havia resíduos do poder mágico do dono original, contudo ele lentamente era substituído.

Outra coisa que Sariel notou foi que aquela pessoa tinha bem pouco poder mágico, comparável ao de uma pessoa comum.

— Sentiu algo diferente enquanto passava pela recuperação?

— Um pouco de incômodo enquanto me acostumava com meu braço novo, porém, conforme o tempo foi passando, foi se tornando cada vez mais natural.

— Por que decidiu participar de algo tão perigoso?

— Bem, sou apenas um pesquisador de túnica marrom, e não tenho muito poder mágico, assim como meu companheiro, portanto achei que poderia fazer uma diferença maior se me permitissem que fizessem este teste em mim.

“Assim como seu companheiro? Interessante.” Sariel encarou Balbina. — Gostaria de visitar a dupla dele.

— Entendo, ele está na sala logo ao lado.

— Bem, obrigado pelo seu tempo, estamos partindo agora.

— Espero ter ajudado.

Depois disso, Sariel e Balbina fizeram as mesmas perguntas e analisaram o poder da dupla de Peter, encontrando nada de diferente entre eles.

Em seguida, visitou os outros voluntários — aqueles que não tiveram sucesso na cirurgia — para tentar encontrar alguma ligação.

Surpreendeu-se ao notar que alguns estavam em um estado pior que outros, com não apenas o braço transplantado morrendo, mas até a necrose se espalhando pelo corpo do paciente.

Atualmente ainda estava tudo sobre controle, porém, como aquilo não podia ser curado com Proteção — já que não era bem um ferimento, mas um problema mágico — seriam forçados a amputar inteiramente o braço e antebraço para evitar a morte do paciente caso não encontrassem uma maneira de corrigir o problema.

Depois de visitar o último voluntário, ambos deixaram o quarto do paciente e caminharam pelos corredores.

Sariel observava em seu tablet as informações de todos que foram testados, incluindo os devotos das Seitas.

— Doutor Dante, tens uma expressão pensativa, tens algo em mente? — Balbina inclinou-se levemente em sua direção conforme caminhava.

— Ainda não tenho certeza. — Sariel parou de andar. — Notei que muitos dos voluntários eram ex-Vigilantes.

— Bem, eles geralmente são bem mais corajosos quando vamos realizar algum experimento com voluntários. Talvez por serem mais resistentes a dor.

— E por algum motivo, apenas uma dupla obteve sucesso na cirurgia... — Sariel caminhou até um sofá ali perto e se sentou.

— Já passamos um bom tempo aqui, gostaria que lhe trouxesse algo para beber? Como um café?

— Apenas água está bom.

— Hein...? Que sem graça. Bem, volto logo.

Balbina deixou Sariel por um breve momento e retornou rapidamente com duas garrafas térmicas.

— Tome. — Ofereceu a água que ele havia pedido.

— Obrigado. — O viajante aceitou a garrafa, a abriu e começou a beber enquanto usava seu tablet.

Balbina se sentou ao seu lado e começou a beber o conteúdo de sua garrafa.

— Ah, um café puro em qualquer momento é perfeito... — suspirou após um grande gole. — Por acaso passaste a noite aqui?

— Correto, visitei a simulação, depois trabalhei com a Doutora Septima.

— Ora, que esforçado, gosto de pessoas assim. — Balbina se aproximou um pouco mais dele. — Mas não exagere, nem todos conseguem seguir aquilo ciclo maluco da Doutora Septima.

“Não está um pouco confortável demais?” Sariel a encarou brevemente. — Agradeço a preocupação, contudo conheço bem meus limites.

— Espero que sim. — Balbina se afastou um pouco e assumiu uma postura mais relaxada no sofá. — A propósito, podes ser mais informal comigo, não há necessidade que me chame de Doutora quando estivermos a sós.

— És deveras amigável comigo... — Sariel não negou, nem concordou com o que ela disse.

— Claro, somos os dois pesquisadores de túnica branca mais jovens de Acrópolis, sinto-me muito mais tranquila contigo.

— Compreendo... — Sariel decidiu focar sua atenção no tablet.

— Tu és de uma família pequena, correto? Por que não se une à minha família? Minha família é grande e influente, na verdade é a que mais tem túnicas brancas em Acrópolis, então, se fizeres isso, poderemos bloquear qualquer ação que pessoas como Fabius tentem contra ti.

— Família pequena... Família grande... Influente... Bloquear... — Aquelas palavras ecoaram em sua mente como se tentassem lhe dizer algo.

— Sim, portanto, se quiseres se casar com alguém da minha família... — Balbina voltou a se aproximar dele.

— É isso! — Sariel se levantou abruptamente.

— Quê?! — A pesquisadora se assustou com a reação dele e, como não esperava aquele entusiasmo, corou.

— A diferença no poder mágico, influência, bloquear o poder mágico, finalmente entendi o problema.

— Ahh... Era sobre isso... — Balbina virou o rosto com vergonha. — Espera, como? Ainda não pude compreender.

— Vamos visitar a pesquisadora Ana imediatamente. — Sem esperar uma resposta, Sariel caminhou até o quarto da paciente.

— Ei, espera. — A doutora o seguiu logo atrás.

Ana repousava em sua cama com os olhos fechados, como se estivesse se concentrando para esquecer a dor que sentia em seu braço.

Por esta razão, se assustou um pouco quando Sariel entrou subitamente e caminhou rapidamente até seu lado.

— Doutor Dante, algum pro-problema?

— Preciso fazer algo contigo, espere um pouco, por favor. — O viajante estendeu suas mãos na direção do braço dela.

Balbina apareceu momentos depois e ficou ao lado de Sariel, observando atentamente o que fazia.

Palavras prateadas começaram a surgir por toda a mão do viajante, que então se espalharam pelo braço transplantado de Ana.

— Está selando o poder mágico do braço? — Balbina pôde perceber através de magia de Alteração. — Mas por que...? Espera, será possível? — Logo percebeu a lógica por trás daquelas ações e sua mente começou a ligar os pontos.

— Os devotos que vocês testaram tinham seus poderes mágicos selados, então a magia não entrava em conflito uma contra a outra. — Após selar completamente a magia do braço, Sariel começou a selar o antebraço de Ana. — Aqueles que obtiveram sucesso tinham pouco poder mágico para causar uma instabilidade, enquanto todas as outras duplas tinham pelo menos uma pessoa com alto poder mágico.

— Então era isso! Como não pensamos nesta possibilidade antes? — Balbina encarou atentamente o braço da paciente, notando que, imediatamente após ter sido selado, a magia começou a se estabilizar.

O viajante então selou apenas o antebraço de Ana, visto que era desnecessário selar o poder mágico inteiro dela, além de potencialmente perigoso considerando que ela precisava daquilo para se recuperar mais tarde.

— Há alguma pedra de Proteção que podemos usar?

— Ah, sim, aqui ao lado. — Balbina abriu uma gaveta com vários equipamentos e itens mágicos, retirando uma pedra de Proteção e levando até Ana.

Ativou a pedra e aproximou do braço da paciente, que imediatamente começou a se regenerar até adquirir o tom de pele do dono original.

— Sente alguma dor?

— Nenhuma... Obrigada, Doutor Dante! — Ana esbouçou um sorriso de gratidão a Sariel.

— Ótimo, sinto não poder permanecer por mais tempo, contudo preciso realizar o mesmo procedimento nos outros pacientes antes que sua situação piore.

— Compreendo, obrigada por cuidar de nós, Doutor Dante.

Sariel deixou o quarto acompanhado de Balbina e passaram em todas as salas daqueles que estavam tendo problemas de incompatibilidade.

Repetiram o mesmo processo da mesma maneira: enquanto o viajante selava a magia, Balbina os curava o mais rápido possível.

Assim, o maior problema atual, que era o risco de vida dos pacientes, foi lidado, porém ainda restava saber se a cirurgia seria concluída e a magia do hospedeiro tomaria conta do membro transplantado.

— Doutor Dante, ficarei aqui acompanhando a situação dos pacientes. Sei que está ocupado com outros projetos, portanto deixe tudo comigo.

— Compreendo, obrigado, Balbina. Me chame caso algo aconteça.

A doutora esboçou um pequeno sorriso ao ouvir aquilo e concordou com um aceno.

Sariel então deixou Balbina e caminhou até o setor de Selagem.

“Me pergunto o que aconteceu com Septima...”

Sentiu seu tablet vibrar, portanto decidiu checá-lo enquanto caminhava.

Aparentemente, o protótipo do veículo que estava trabalhando já tinha suas peças individuais produzidas, por isso, após ser montado, seria capaz de testá-lo ainda naquele dia.

“Ótimo, as coisas parecem estar correndo bem.”

Logo chegou à sala onde Septima basicamente nunca saia, ouvindo vozes pela porta aberta.

— O Doutor Dante? Não sei onde está, posso enviar uma mensagem... — Era a voz de Septima.

— Compreendo, aguardarei aqui até que chegue. — Ao notar a voz de Zaphkiela, Sariel permaneceu no corredor por um momento, logo ao lado da porta.

“Zaphkiela, por que ela me procura? Por acaso me descobriu?” Sentiu seu tablet vibrar. “Não... eu não deveria me esconder, ela provavelmente já me percebeu.”

Entrou na sala naturalmente, como se estivesse ignorante da conversa anterior.

— Ah, Doutora Septima e Zaphkiela, por acaso estão discutindo algo em particular?

Sariel imediatamente notou que a especialista em Selagem estava com uma aparência bem mais descansada.

— Negativo, desejava falar contigo, na verdade. — O Pilar da Selagem se virou em sua direção com um sorriso.

— Comigo? No que posso ajudar?

— Doutora Septima e Doutor Dante, por acaso não estariam dispostos a ver os códigos do servidor?

Aquela frase pegou Sariel completamente de surpresa, perguntando-se se havia escutado direito.

Se não tivesse plena confiança em seus sentidos, e se estivesse conversando com um usuário de Ilusão, teria certamente acreditado que ou se enganara, ou fora enganado.

Porém, ao lançar um olhar para Septima, notou que ela também estava surpresa.

— O servidor? Por acaso podemos? — Manteve sua voz calma, pois não podia permitir que Zaphkiela desconfiasse dele.

Aquela era a oportunidade de ouro que tanto desejava. Ao poder ver os códigos do servidor, mesmo que por um breve momento, poderia encontrar uma maneira de sabotá-lo mais tarde, levando-o mais perto de seu objetivo de se infiltrar nos aposentos de Koeus.

— Pensei que apenas tu e Koeus pudessem acessar o servidor... — Septima teve uma reação parecida.

— Contando que não façam nada, apenas vê-lo não será um problema.

— Estou profundamente feliz por essa oferta, mas por que me escolheste? Entendo teres chamado Septima, contudo... — Sariel permanecia extremamente cauteloso.

— Estive acompanhando seu progresso pelos sistemas de Acrópolis, e Doutora Septima me disse como és talentoso, portanto, passar-lhes um pouco de meu conhecimento é apenas uma escolha racional, correto?

“Isso é uma conclusão que uma pessoa comum chegaria, contudo ela não é uma pessoa comum...” Não podia deixar de pensar que aquilo poderia ser algum tipo de armadilha, porém era uma oportunidade que não poderia desperdiçar. — Bem, se realmente não há problema nisso, adoraria ver de perto o trabalho do grandioso Pilar da Selagem, é uma grande honra.

— Vossas palavras lisonjeiam-me. — Zaphkiela se virou para Septima. — E quanto a ti?

— Cla-Claro! Eu também adoraria... — Pela primeira vez desde que chegara, Sariel pôde escutar a voz animada dela.

— Então está decidido, sigam-me. — Zaphkiela caminhou calma e elegantemente até a saída.

Septima a seguiu de perto, com uma expressão claramente entusiasmada.

Quanto a Sariel, seguia um pouco mais afastado e com todos os sentidos em alerta máximo, ao mesmo tempo que realizava uma varredura mágica por toda a área, atento a qualquer possível ameaça.


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