Volume 3
Capítulo 171: A Dura Vida de um Programador
Sariel e Lucius estavam, naquele momento, na parte de trás do dispositivo de realidade aumentada, ou seja, a armadura em que Septima estava dormindo dentro.
Um compartimento localizado logo abaixo do pescoço estava aberto, onde havia uma gema de Selagem, com cerca de vinte centímetros de diâmetro.
Retiraram a gema e colocaram em cima de uma mesa, onde Sariel começou a revisar os códigos criados a partir da Selagem, reescrevendo-os de maneira mais eficiente, o que, por sua vez, reduziria bastante o tamanho da pedra de Selagem necessária para aquele dispositivo.
Na verdade, o viajante reescrevia grandes porções do código, partes essas que Lucius nem imaginava que poderiam ser alteradas sem afetar o funcionamento do dispositivo.
— Doutor Dante, vosso conhecimento em Selagem é tremendo! Se juntaste à Acrópolis apenas ontem, mesmo assim, já conhece as criptografias que usamos, e ainda podes sintetizar os códigos neste nível! — O especialista em Alteração não escondia sua admiração.
— Agradeço vossas palavras, Doutor Lucius.
— Além disso, esses códigos complexos foram todos escritos pela Doutora Septima, e mesmo os lendo pela primeira vez, é capaz de compreendê-los.
Sariel não respondeu imediatamente, e lançou um breve olhar para Septima, ainda dentro da armadura e dormindo.
— A propósito, a quanto tempo a Doutora Septima está ali?
— Creio que uns quinze minutos.
“Então ela deve acordar em cinco minutos.” Voltou seu olhar ao pesquisador ao seu lado. — Por que ela está sempre cansada?
— Bem, o Doutor Octavius é a segunda maior referência no elemento Selagem, perdendo apenas para Zaphkiela, porém Doutora Septima o supera no quesito criptografia e programação. Por isso, ela passa noites acordada programando inúmeras coisas diferentes e tentando otimizar os códigos. — Lucius olhou ao redor da sala. — Só possuímos itens como computadores e tablets por sua causa.
“Então esses computadores devem ter surgido recentemente... Não posso negar que é uma criação impressionante.” Lançou outro olhar para a pesquisadora adormecida. — Mas Zaphkiela poderia criar algo assim também, correto?
— Bem, isso é verdade, mas Zaphkiela é mais jovem do que qualquer pesquisador em Acrópolis, e ela é um Pilar, portanto hora ou outra ela é chamada para uma missão, então raramente permanece em Acrópolis.
— Compreendo, creio que depois que a simulação foi criada, isso apenas dificultou as coisas ainda mais para ela.
— Exato, quando ela vem para Acrópolis, passa todo seu tempo trabalhando na simulação. Por isso Doutora Septima é quem trabalha nesses tipos de dispositivos. Na verdade, creio que ela aprendeu algumas coisas com Zaphkiela, portanto seu conhecimento nesse quesito é vasto. Por isso me surpreende que consegue ser mais eficiente do que ela.
— Bem, a falta de sono te deixa menos produtivo, então...
— Hm, de fato.
“Então essa é a dura vida de um programador...” Sariel continuou focado no seu trabalho. “Me pergunto quando foi a última vez que dormiu apropriadamente.”
Cinco minutos se passaram, quando Septima finalmente acordou.
Dando um bocejo longo e audível, libertou-se de dentro da armadura e se espreguiçou.
Sua aparência ainda permanecia cansada, o que apenas comprovava aquilo que Lucius disse anteriormente.
— Bom dia... — Com uma voz e rosto igualmente sonolentos, aproximou-se dos dois. — Ah, olá... Doutor Dante...
“Juro por Kura que ela quase me faz ficar cansado.” Sariel forçou-se para não deixar um bocejo escapar. — Bom dia, Doutora Septima, apesar de ser quase oito da noite agora...
— A noite ainda faz parte do dia... — Sentou-se em uma cadeira ao lado de seus companheiros.
“Bem, considerando seu ciclo de sono bagunçado, é uma abordagem plausível.”
— Ah... estão reduzindo os códigos. — Com um único olhar, já foi capaz de compreender o progresso do projeto. — Doutor Dante, cuidarei da segunda metade da programação, assim será mais rápido.
— Certo.
— Enquanto isso, trabalharei no desenho técnico do capacete. — Lucius se dirigiu até um computador e começou a operá-lo.
Então, com cada um focado em algo específico, o projeto começou a avançar mais rapidamente.
Apesar disso, mesmo que tanto Sariel, quanto Septima estivessem revisando os códigos, aquilo tomou a grande maior parte do tempo.
Quatro horas se passaram em um piscar de olhos, porém conseguiram resolver a parte mais complicada ao sintetizar os códigos, que por sua vez reduziria o tamanho do dispositivo significativamente.
Mesmo que Septima tivesse sugerido que cada um resolvesse metade, Sariel foi tão rápido que ajudou a pesquisadora com a parte dela.
— Doutor Dante... agradeço a ajuda... — Septima encarou Sariel com seus olhos sempre caídos e com olheiras profundas. — Trabalhaste ainda mais veloz do que eu... Não teríamos terminado esta fase nem mesmo essa semana sem vossa ajuda...
— Fico feliz que pude ser útil. — Sariel quase deixou um bocejo escapar. Ter trabalhado por tantas horas seguidas ao lado dela o fez se sentir sonolento, mesmo que estivesse cheio de energia.
— O que fará agora, Doutor Dante? — questionou Lucius, que havia criado várias versões diferentes do desenho do capacete.
— Bem, a parte mais demorada foi resolvida, ainda temos que decidir algumas coisas e enviar o pedido para a produção das peças, porém isso pode ser feito sem mim... — Considerou bem o que faria agora. — Por enquanto tirarei uma folga curta, talvez volte em alguns minutos.
— Certo, esperaremos por ti!
— Peça a um Vigilante para trazer um... café... se precisar... — Septima estava ficando cada vez mais sonolenta conforme o tempo passava.
— Certo, até breve... — Sariel deixou a sala.
Caminhou devagar pelos corredores com uma expressão pensativa, porém seus pensamentos foram interrompidos por um bocejo.
“Por Kura... receio que se ficar mais um pouco ao lado dela, acabarei adormecendo antes de perceber.”
Balançou a cabeça para se concentrar e se dirigiu até a ala de Reanimação, entrando na sala onde encontrou Tacitus, Balbina e Fabius algumas horas mais cedo.
Esperava que aquele mesmo trio estaria lá, porém percebeu que apenas Fabius estava presente.
Antes que fosse notado, deixou a sala e se dirigiu até uma sala com terminais para adentrar a simulação.
Não havia ninguém na sala que escolheu, o que significava que havia poucos ou nenhuns pesquisadores na simulação.
Deitou-se em uma cápsula aleatória e se conectou.
Acordou na mesma sala totalmente branca e reflexiva de antes.
“Muito bem, vejamos...” Usando suas mãos, uma tela holográfica surgiu em pleno ar. “Este lugar é quase como um mundo novo, preciso saber o que posso fazer aqui.”
Havia tantas interfaces diferentes que se sentiu perdido, porém logo notou que a primeira opção era um tutorial, ensinando tudo sobre aquele lugar.
Clicou nessa opção e vídeos interativos começaram a tocar.
Os primeiros vídeos explicavam sobre aquele lugar e como funcionava, algo que já sabia por meio de Octavius.
Aparentemente, entretanto, Koeus tinha uma sala na simulação como no mundo real, portanto era possível que encontrasse as informações que desejava ali... claro, contanto que pudesse quebrar a segurança dela de alguma maneira.
Quando passou para as explicações sobre as funções, descobriu muitas coisas novas.
Além de ser capaz de materializar basicamente qualquer objeto em pleno ar, seja um veículo, uma roupa, um dispositivo, também podia se teleportar utilizando um mapa.
Também, por motivos óbvios, não era possível usar magia naquele lugar. Era impossível ferir alguém, e por mais que fosse impossível materializar armas fora das salas de testes, a “função” de se ferir estava desativada.
Não apenas isso, mas cansaço, sono e fome também não funcionavam na simulação.
Mas é claro, como seria perigoso ficar tempo demais ali, a simulação enviaria notificações a uma pessoa que estivesse com sinais vitais afetados no mundo real, já que as capsulas liam seus batimentos, nível de hidratação, temperatura... tudo para evitar um acidente.
E caso a pessoa insistisse em permanecer na simulação, ela seria desconectada à força até que cuidasse de sua saúde.
“Impossível ferir, huh? Bem, tecnicamente estou dentro da consciência de outro, portanto faz sentido que eu não consiga quebrar essas limitações...”
Como Sariel sabia pouco sobre Acrópolis, sua ideia era primeiro se infiltrar, entender o funcionamento da universidade e invadir a sala de Koeus.
Quando descobriu sobre a simulação, considerou que talvez pudesse fazer algo dentro dela, ou talvez até sabotá-la para que pudesse distrair todos, incluindo Zaphkiela, e invadir a sala de Koeus no mundo real.
Contudo...
“Não vai ser tão fácil... A segurança deste lugar é perfeita... e não tenho como causar algum erro aqui sem verificar primeiro o código fonte, que também está protegido na sala do servidor.”
Sariel coçou a própria cabeça de maneira pensativa. Mesmo que tivesse descoberto algumas coisas que pudesse explorar, suas alternativas ainda não levavam a lugar nenhum.
“Amanhã visitarei a entrada da sala de Koeus, por enquanto explorarei esse lugar.”
Abriu um mapa, que o surpreendeu pela extensão e variedade de biomas e terrenos.
Teleportou-se até uma enorme esfera negra que flutuava acima das nuvens.
A entrada era similar com o prédio que Octavius o levou pela primeira vez, com uma espécie de plataforma para veículos voadores estacionarem.
Tentou adentrá-la, porém não havia nenhuma entrada visível.
Acessou seu terminal e materializou um veículo voador, o adentrou, e voou ao redor da esfera à procura de uma entrada.
Aquilo levou bem mais tempo do que esperava, cerca de quinze minutos, já que era bem grande.
A superfície da esfera era perfeitamente lisa, além de polida, permitindo que pudesse se ver com clareza.
Entretanto, como era de se esperar, não encontrou nada.
“Uma tentativa inútil, mas não custava nada.” Sariel considerou por um breve momento o que faria a seguir. “Vou apenas explorar melhor esse lugar, se não conseguir nada, me desconectarei.”
Operou o terminal holográfico e se teleportou para outra região.
Meu pix para caso queiram me ajudar com uma doação de qualquer valor: 6126634e-9ca5-40e2-8905-95a407f2309a
Servidor do Discord: https://discord.gg/3pU6s4tfT6