O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 166: Sala de Testes

Octavius e Sariel foram levados pelo veículo voador até um dos prédios flutuantes.

Sariel observou de cima a paisagem das inúmeras construções futuristas, e de vez em quando passavam perto de algum outro veículo voador, porém, mesmo que estivessem sendo conduzidos automaticamente, nunca colidiam.

Quando chegaram no local desejado, desceram em uma espécie de plataforma com uma entrada para o interior.

Ao entrar, Sariel se surpreendeu com um ambiente ainda mais avançado tecnologicamente do que Acrópolis.

Havia telas holográficas exibindo projetos e diagramas, autômatos transitando, computadores, máquinas e maquetes de vários locais do mundo real, incluindo Acrópolis.

— Esse lugar é impressionante, mas o que fazem aqui? Sinto-me perdido. — Sariel observava atentamente os arredores.

— Creio que ainda não percebeste que, apesar do centro de pesquisas do Conselho ser grande, não há um lugar específico onde podemos testar algumas coisas, como máquinas e armas. — Octavius guiou o viajante através de um corredor.

— Bem, agora que mencionaste isso...

— Este era um problema que enfrentamos a algum tempo. Testar protótipos em segredo era extremamente difícil. Por este motivo, Koeus e Zaphkiela desenvolveram este lugar para que simulássemos nossos projetos em segredo.

— Testar? Como?

Octavius se virou subitamente para uma porta no corredor, que se abriu sozinha, e entrou.

Lá, Sariel percebeu estar em uma sala de testes. O local que estava era onde cientistas assistiriam através de um vidro blindado os testes conduzidos em um espaço quadrado abaixo.

Havia computadores que permitiam ver as condições dos protótipos testados, além de poderem mudar a sala abaixo.

— É feito o upload das teses aprovadas por Koeus nos sistemas de Acrópolis e neste local também. Aqui, por ser uma simulação, podemos construir um projeto baseado na tese com cem porcento de precisão, portanto, se ocorrer algum problema aqui, um ambiente perfeitamente controlado, sabemos que acontecerá no mundo real, e se funcionar aqui, mas falhar no mundo real...

— Sabemos que cometemos algum erro ao construir tal projeto no mundo real. — Sariel completou o raciocínio.

Octavius sorriu por um breve momento, depois se dirigiu até um computador bem diante do vidro reforçado e digitou algumas coisas nele.

Em seguida, na sala de testes, que estava vazia, foi materializado o mesmo canhão que Sariel viu em Acrópolis, apontando diretamente para um alvo que consistia basicamente em um grande bloco de metal reforçado.

— Muito bem, veja isso. — Octavius chamou o viajante para perto, então pressionou um botão na tela holográfica que dizia “iniciar teste”.

No momento seguinte, o estrondo do canhão disparando uma gema de Fogo contra o bloco pôde ser ouvido, atingindo o bloco de metal e destruindo-o completamente com uma explosão que cobriu a sala inteira.

— Que poder de fogo impressionante...

— De fato, porém há outros testes ainda. — Octavius digitou novamente no computador, aparecendo agora um bloco de metal com uma barreira de Proteção baixa.

Ao clicar em iniciar teste, o canhão disparou novamente, quebrando a barreira e danificando profundamente o bloco, apesar de não ter sido pulverizado como na vez anterior.

O processo se repetiu outra vez, com uma barreira ainda mais forte. O resultado foi ainda pior, com o bloco apenas tendo algumas partes rachadas.

— Vejo que não é bom em perfurar barreiras mágicas... Como a explosão acontece em um único momento, o dano todo é dispersado.

— De fato, ainda estamos pensando em uma maneira de contornar isso, alguns sugeriram aumentar o calibre do canhão, como criar uma versão deste canhão de 183 milímetros, porém outros, como eu, acreditam que não é uma solução ideal. Aumentar seu tamanho traria problemas de transporte e de operação.

Sariel observou o canhão, agora imóvel, lembrando-se de suas batalhas anteriores.

O que o canhão estava fazendo, era basicamente imitar um ataque baseado apenas em magia. Esse tipo de ataque geralmente não funciona bem em alvos muito resistentes, ou capazes de usar magia de Proteção, já que magias de combate tem uma capacidade mais explosiva do que perfurante — com exceção do elemento Água —, portanto o dano geralmente apenas se dispersa, e não se concentra em um único ponto.

É por esse motivo que sua técnica suprema era justamente usar sua glaive como um objeto para moldar o formato de sua magia para um elipsoide, que não apenas permitia reunir muito mais poder mágico, como também, devido ao formato, ajudava a perfurar defesas.

Foi então que uma ideia inusitada surgiu em sua mente.

— Doutor Octavius, como sabemos, uma barreira magia pode ter seu formato alterado, certo? Como Clementius faz com seu escudo para torná-lo ainda mais resistente apenas pelo ângulo.

— Exatamente, apesar de que criar qualquer barreira com um formato mais complexo, ou seja, que não seja uma esfera ou elipsoide, é muito mais demorado e exige mais magia.

— Diga-me, o que acha que aconteceria se cobríssemos a ponta de uma flecha com uma barreira, e disparássemos ela contra outra barreira?

— Uma barreira contra outra... — Octavius permaneceu pensativo.

— Não é possível testar isso aqui? A magia aqui deveria funcionar como no mundo real.

— Isso é verdade apenas para aquilo que conhecemos sobre a magia, porém isso nunca foi testado antes... Não podemos testar algo assim, pois pode ser perigoso não apenas para nós, mas também pode até mesmo danificar e corromper a simulação, o que poderia levar ao maior projeto de Koeus desaparecendo. Esse tipo de interação precisa ser programado antes.

— Bem, basta testarmos isso no mundo real então. — Sariel encarou o canhão pelo vidro. — Minha ideia era criar uma cápsula, onde a ponta seria reforçada com uma barreira de Proteção para perfurar outra barreira. A gema, ou seja, a carga explosiva, ficaria no centro, e atrás colocaríamos uma pedra de Alteração para aumentar ainda mais a velocidade, potencializando o poder de penetração a partir da energia cinética.

Octavius recriava em sua mente o projétil que Sariel descrevia, parando para pensar por algum momento, já que o viajante explicou relativamente rápido.

— Entendo... Isso pode funcionar, mas devemos entender exatamente o que acontece quando se usa uma barreira para destruir outra... Essa seria a primeira vez que o elemento Proteção poderia ser usado diretamente para combate. — Octavius encarou Sariel com clara animação. — Devemos retornar imediatamente.

Sem esperar pelo viajante, fez uma tela surgir diante dele e, após pressionar alguns botões, desapareceu em partículas azuis.

Sariel, agora sozinho, encarou o espaço vazio antes ocupado por Octavius.

— Bem... como eu saio daqui agora? — Sariel tentou mentalizar aquela mesma tela e, para sua surpresa, conseguiu. — Ah, interessante...

Pensou em ficar ali por um tempo para descobrir todas as funcionalidades daquele lugar, mas teria tempo de sobra durante a madrugada.

Clicou no botão “log off” e despertou na mesma cápsula de antes.

“Isso é absurdo... Jamais pensaria que uma gema de Alteração grande o suficiente tornaria possível a criação de um lugar assim... Preciso visitar a área superior mais tarde.”

Abriu sua cápsula e se deparou com Octavius esperando por ele.

— Vejo que descobriste como desconectar, peço desculpas por minha pressa.

— Sem problemas. — Sariel se levantou. — O que faremos agora?

— Encontrar-nos-emos com um pesquisador do elemento Proteção, siga-me. — Octavius começou a sair da sala.

“Aparentemente, ficarei grudado com ele mais um dia...”

 

***

 

De volta à região onde Luna e Aegreon se encontravam, o relevo agora havia sofrido alterações drásticas devido à destruição causada pelo treino de combate do Pilar, e havia uma constante nuvem de poeira, como se uma tempestade de areia estivesse em andamento.

Naquele exato momento, um vulto negro podia ser avistado avançando contra outro vulto branco.

Assim que ambos se encontravam, uma poderosa onda de choque causada pelos punhos de ambos abria crateras e levantava poeira.

Antes mesmo da poeira baixar, um dos vultos se deslocava em uma velocidade espetacular para, longe em seguida, o outro o seguir e causar mais um impacto.

Em um embate de forças, ambos, ao levantar outra nuvem de poeira, se afastaram rapidamente.

Luna escutou, cheirou e observou com atenção. Aquele treino era apenas baseado em força física, portanto não podia usar Alteração para detectar a aura de Aegreon.

Estava suando, com o corpo todo e suas roupas sujas, e teria vários hematomas e arranhões se não fosse pela sua regeneração natural.

Estavam lutando desde a noite anterior e não pararam nem por um segundo, a ainda tinham energias mais que suficientes para continuar lutando até o próximo dia.

Aegreon não disse mais nada desde que começaram a lutar sério, portanto, Luna não fazia ideia de quando aquele treino terminaria.

“Por onde...? Preciso me concentrar...” Fechou os olhos e tentou captar qualquer sinal do Pilar.

Até o momento, não foi capaz de atingi-lo em cheio. Mesmo que fosse tão forte quanto ele, a diferença na experiência de combate era óbvia.

Além disso, como aquilo era um treino, Luna não podia perceber Aegreon pelas suas intenções, já que ele não tinha o objetivo de feri-la de fato.

Eventualmente, seus ouvidos capturaram um som quase imperceptível, fazendo-a virar para trás.

Quase não conseguiu reagir a tempo para desviar de um poderoso soco de Aegreon, que passou tão perto de seu rosto que deixou um pequeno corte ao lado do olho onde o punho dele passou.

Seus olhos se arregalaram ao perceber que finalmente foi capaz de desviar de um golpe, e não foi forçada a bloqueá-lo.

Isso não era muito impressionante, contudo, ao se lembrar que estavam lutando a horas, portanto esteve lentamente aprendendo cada vez mais como Aegreon agia.

Porém não havia tempo de ficar feliz. Luna aproveitou essa oportunidade e desferiu um soco poderoso no estômago de Aegreon.

Aquele poder explosivo foi equivalente ao de uma bomba. O Pilar teve seu corpo inteiro curvado para frente, para em seguida ser arremessado para longe, batendo contra rochas e mais rochas antes de parar.

O impacto fez o ar ao redor se deslocar, criando uma pequena região onde, finalmente, não havia poeira, e o estrondo da pancada foi tão alto quanto um trovão.

Luna congelou no lugar, em um misto de cautela — esperando outro ataque —, surpresa e preocupação — por ter ferido Aegreon.

Foi quando, tarde demais, sentiu a presença dele novamente ao seu lado.

Se virou para tentar atacá-lo, mas ele segurou seu punho.

— Isso é o bastante, terminaremos por aqui. — Seus olhos não pareciam demonstrar nenhuma emoção, mas Luna pensou ter percebido um leve indício de felicidade.

— Você está bem? — Tateou a região onde o socou. — Posso curá-lo se necessário.

— Não é, vamos comer. — Aegreon começou a se afastar sem esperar uma resposta.

Luna se aproximou ao seu lado, lançou um leve olhar para ele, depois continuou olhando para frente.

Então, segurou gentilmente seu braço. Aegreon não reagiu a princípio, porém isso logo mudou assim que sentiu as feridas em sua carne, causada pelo seu próprio elemento e que nunca sumiam, começarem a se fechar lentamente.

Encarou Luna, que mantinha os olhos no caminho adiante. Pareceu estar prestes a dizer algo, porém desistiu.

Ambos ficaram em silêncio enquanto caminhavam juntos, com a luz dourada da magia de Luna fechando os ferimentos de Aegreon.  


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