O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 165: Simulação

Aegreon avançou contra Luna como um relâmpago, atacando-a com um poderoso soco.

A princesa desviou para o lado por pouco, o soco antes dirigido a ela atingiu uma parede de rochas que foi instantaneamente pulverizada pela força do golpe.

Contra-atacou com um chute, com força o suficiente apenas para empurrar o Pilar para longe.

Aegreon não continuou a atacar, apenas encarou Luna de longe.

— Se continuar a limitar sua força, não há sentido nesse treino.

— Mas... não quero feri-lo.

— Isso é apenas um treino de luta corpo-a-corpo. Além disso, nada do que fizer será capaz de me ferir gravemente.

Luna permaneceu em silêncio enquanto encarava Aegreon com um olhar indeciso.

— Mais tarde, basta que me cure — continuou o Pilar. — Precisa se esforçar caso queira proteger a si mesma e aos outros.

A princesa o encarou ainda com um olhar difícil, porém, ao mesmo tempo, decidido.

— Está bem. — Assumiu uma postura de combate. — Aqui vou eu.

— Hm.

Luna e Aegreon avançaram um contra o outro, dessa vez lutando com todas as forças.

 

***

 

Sariel despertou por volta das cinco da manhã.

Como havia chegado relativamente tarde na noite anterior, não investigou muito o lugar, por isso decidiu fazê-lo agora.

Não havia nada muito especial, com a única exceção uma escadaria que levava a um porão.

Lá havia o que parecia um outro quarto, porém era muito maior e a cama era uma espécie de cápsula onde deveria entrar e fechá-la.

Havia também muitos equipamentos tecnológicos e cabos bem-organizados por todo o lugar.

“Me pergunto o que será isso... Falarei com Octavius mais tarde.”

Sariel se arrumou e deixou sua residência.

Durante o caminho, passou por um café, onde comeu um ótimo desjejum.

Em seguida, pegou um trem de volta para o píer onde observou o céu na noite passada.

“Esse lugar realmente é completamente diferente do resto do mundo... transporte público de graça, acesso a uma rede de informações, estabelecimentos e restaurantes completamente gratuitos... esse lugar realmente é quase uma utopia.”

Sariel olhou para o teto do trem — que era feito de um vidro resistente — e encarou a parte inferior do reino.

“Ali, por outro lado... é bem distópico.”

Chegou rapidamente ao píer e aguardou até que o sol começasse a nascer.

Não estava sozinho ali, muitas outras pessoas faziam o mesmo.

Com o passar do tempo, o céu começou a ficar cada vez mais claro.

Enfim, além do horizonte, os primeiros raios de sol surgiram.

Lentamente, o sol começou a descer pelos céus.

Era o mesmo nascer do sol como todas as manhãs desde que nascera, porém, pelo simples fato de estar vendo aquilo invertido, tornava aquela uma experiência completamente nova.

“Que estranho... ver o sol ‘descer’ até o céu...”

Talvez pelo fato de estar ali por apenas um dia fosse um fator, mas ver o céu abaixo de seus pés ainda era algo estranhamente hipnótico e encantador.

Assim como na noite anterior, permaneceu lá por um bom tempo.

Quando se deu por satisfeito, deixou o local e pegou outro trem até o centro de pesquisas do Conselho.

Assim que passou pela entrada, um Vigilante começou a acompanhá-lo.

“Muito bem, preciso explorar esse lugar da melhor maneira possível e descobrir como entrar nos aposentos de Koeus...” Sariel observava seu tablet enquanto caminhava, percebendo que a sala do Pilar da Alteração estava localizada no último andar na área superior.

Logo chegou no laboratório de robótica, onde Octavius trabalhava sozinho.

— Bom dia, Doutor Octavius. Vejo que acordaste cedo.

— Digo o mesmo, Doutor Dante, está ansioso para seu primeiro dia?

— Com certeza.

— Ótimo, preciso que me mostre vosso tablet por um momento.

Sariel desbloqueou seu tablet e Octavius se aproximou com seu próprio tablet.

— Se clicar aqui, poderá ver todos os projetos que estão em desenvolvimento agora em Acrópolis, e podes filtrar para mostrar apenas àqueles encarregados por túnicas brancas.

Seguindo aquelas instruções, Sariel pôde perceber que, no momento, havia mais de quinhentos projetos em aberto no momento, apenas para túnicas brancas.

“Não há nem mesmo uma centena de pesquisadores de túnica branca... isso significa que cada pesquisador está trabalhando em seis coisas ao mesmo tempo.”

Sariel também percebeu que alguns projetos tinham avisos buscando por pesquisadores de elementos específicos. No caso dele, por ser de Selagem, projetos que estavam em falta de um pesquisador deste elemento estavam destacados em seu dispositivo.

Apenas por curiosidade clicou em uma pesquisa com foco principal em Reanimação: transplante de membros.

Aparentemente aquele pedido por um pesquisador de Selagem havia acabado de ser emitido

Além disso, havia um projeto focado em Selagem para desenvolver um dispositivo de realidade virtual e aumentada. Aparentemente já havia um dispositivo assim, mas era grande demais e nada prático.

— Há muitos projetos...

— Sim, mas veja isso. — Octavius mostrou uma nova sugestão de um projeto, no caso, era o tal veículo blindado sugerido por Sariel no dia anterior. — Fiz o registro deste projeto, no momento sou o único atribuído, precisamos de no mínimo cinco pessoas para este projeto começar. Vá em seu tablet e se inscreva nele.

Seguindo essas instruções Sariel se registrou como um pesquisador trabalhando neste projeto.

— Bem, agora apenas precisamos esperar que outros se interessem. Se há mais algum outro projeto que lhe interessou, ou deseja iniciar outro, pode fazer isso pelo tablet.

— Me interessei por este dispositivo de realidade virtual e aumentada... — Sariel leu cuidadosamente a descrição do projeto. — Creio que visitarei o local de pesquisa.

— Compreendo, neste caso, nos veremos futuramente quando nosso projeto começar.

— Ah, sim, há algo que gostaria de confirmar, na verdade. Enquanto estava em minha casa, descobri um equipamento no meu porão, porém não tive tempo de analisá-lo.

— Ah... Isso... — A expressão de Octavius se tornou pensativa. — É melhor se eu lhe mostrar, me acompanhe. — Deixou a sala logo em seguida.

Sariel o seguiu e o Vigilante que ficou no lado de fora começou a acompanhá-los.

“Se isso continuar por muito tempo, terei que encontrar uma maneira de afastá-los quando for invadir o quarto de Koeus.”

Pouco tempo depois, entraram em uma sala com várias da mesma cápsula que Sariel encontrou em sua residência.

— Bem, é aqui... Deite-se em um destes, lhe explicarei com mais detalhes no outro lado. — Octavius se dirigiu a uma cápsula, se deitou e aguardou por Sariel.

“Do outro lado...?”

— Feche a cápsula e durma, logo entenderá. — Octavius fechou sua cápsula e não disse mais nada.

Sariel fez o mesmo. Assim que se fechou, ao invés de ficar escuro, toda a cápsula se tornou transparente.

“Bem que notei que havia pedras de Ilusão aqui, além de Alteração e Selagem...” Virou seu rosto para o lado, onde viu a cápsula de Octavius, que não estava transparente. “Creio que só é visível de dentro para fora.”

Fechou os olhos e adormeceu rapidamente.

A princípio não sabia bem o que fazer, pensou em adentrar seu subconsciente, porém logo sentiu algo estranho, como se houvesse uma “consciência” próximo que ele pudesse se conectar.

Sariel não pôde deixar de se sentir apreensivo. Aquela outra consciência havia algo de diferente das outras que não sabia dizer bem, sem contar que, aparentemente, era capaz de entrar nela sem resistência, como se estivesse sempre aberta.

Deixar seu subconsciente exposto dessa maneira nunca era uma boa ideia para si próprio, visto que um estranho poderia entrar e o destruir no nível mais profundo de seu ser.

Após pensar por um momento, decidiu adentrar essa consciência estranha.

Ao abrir os olhos, percebeu um teto branco.

Estava deitado em uma cama dentro de uma sala pequena e simples.

Se levantou, caminhou até a porta e, ao abri-la, deparou-se com Octavius.

— Vejo que conseguiu, me preocupei que talvez não tivesse o instruído.

— Doutor Octavius, onde estamos? Esse é seu subconsciente?

— Não, não sou capaz de acessar meu espaço interno.

— Então...

— Siga-me e lhe mostrarei. — Octavius o interrompeu antes que pudesse continuar.

Sariel o seguiu por um corredor de mármore carrara, com o chão, paredes e teto tão limpos, que era possível ver perfeitamente o próprio reflexo nele.

Ao longo do corredor, havia várias portas levando a outros quartos iguais onde o viajante estava.

Não havia nenhuma janela, portanto não fazia ideia de como era o lado de fora, muito menos em qual subconsciente estava.

Finalmente chegaram em uma sala com um grande arco levando até o lado de fora.

Quando saíram, depararam-se com um cenário ainda mais espetacular do que Acrópolis.

Havia não apenas ilhas flutuantes, como prédios e cidades flutuando no ar, sem a ajuda de nenhuma pedra de Alteração.

O céu estava limpo, o sol tinha uma luz forte, porém confortável.

Havia veículos voadores com um design nunca visto antes, parecendo até mesmo algo de outro mundo — como o mundo dos anjos — de tão futurístico eram.

Os edifícios também possuíam formatos únicos e não-convencionais, que provavelmente seriam uma terrível dor de cabeça de se desenhar e construir no mundo real.

Sariel congelou no mesmo lugar sem saber como reagir diante de tal cenário. Mesmo que aquele fosse o subconsciente de alguém, era tão bem construído que poderia facilmente ser confundido com o mundo real.

— Isso é magnífico... Quem criou este lugar?

— Este lugar... não é o espaço mental de ninguém em específico.

— Como? — Sariel se tornou ainda mais confuso.

— A ilha flutuante da Universidade de Acrópolis possuí a maior gema de Alteração de todo o mundo, uma esfera com cem metros de diâmetro localizado nos aposentos de Koeus... — Octavius tentou explicar tudo da maneira mais curta possível. — Bem, para resumir bem, Koeus descobriu que é possível criar um espaço virtual semelhante ao espaço mental de uma pessoa, usando a gema de Alteração como um servidor...

O viajante continuou encarando Octavius fixamente conforme sua mente rapidamente compreendia tudo.

— Quer dizer que este lugar é como... uma simulação?

— Isso mesmo, por enquanto, Koeus ainda está desenvolvendo este lugar, mas já está avançado ao ponto em que pode se conectar a este lugar a partir de sua casa.

Sariel voltou seu olhar para a paisagem diante de si. Estava profundamente surpreso e curioso sobre aquele lugar, até porque jamais esperava que algo assim fosse possível.

— E qual exatamente é o objetivo deste lugar?

— Bem... É melhor se eu lhe mostrar.  — Octavius estendeu sua mão no ar, e uma interface, semelhante à tela do tablet, surgiu do nada. Em seguida, após clicar na tela holográfica, um veículo voador se materializou no ar. — Entre.

Sariel encarou o veículo que acabara de surgir com uma expressão intrigada, e entrou nele como dito.

— Onde deseja ir? — perguntou uma voz sintética.

— Até a biblioteca, por favor — respondeu Octavius.

— Entendido.

O veículo começou a se deslocar pelo ar totalmente sozinho, sem nem mesmo precisar da interferência de Octavius.


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