O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 163: Notícias Distantes

A noite caia lentamente em Eribur, o que resultava na maioria dos comerciantes fechando suas lojas.

Uma mulher por volta dos cinquenta anos, com olhos e cabelo castanhos, caminhava tranquilamente pelas ruas parcialmente escuras carregando sacolas de comida.

Antigamente não ficaria tão calma, mas graças aos esforços de Erish, a princesa de Eribur, e Kesh, seu sobrinho, mais conhecido como “Herói Viajante”, tornaram o reino muito mais seguro.

Caminhava felizmente pelas ruas. Eribur era um reino bem planejado, com setores bem divididos e localizados, ruas largas e arborizadas, e o magnífico cenário das montanhas cercando o reino.

O inverno ainda estava um tanto longe de chegar, porém os dias já estavam levemente mais frios.

Eventualmente, a mulher chegou no seu destino, uma casa particularmente grande com uma placa que dizia “Orfanato Duas Irmãs”.

Ao abrir a porta, foi recebida por várias crianças de idades variadas, que a abraçavam calorosamente.

— Bem-vinda de volta, tia Nina!

— O que vamos comer hoje?

— Acalmem-se, crianças, a tia Nina acabou de chegar. — Nonna, sua irmã mais nova, apareceu para ajudá-la. — Por que não ajudam ela com as compras? — Aproximou-se e pegou uma das sacolas.

— Obrigada, irmã. — Nina, agora com uma mão livre, fez carinho nas crianças. — Vamos, quem quer me ajudar com o jantar?

— Eu! — Todas gritaram em simultâneo, tirando uma risada doce de ambas as irmãs.

— Certo, certo, vamos para a cozinha então!

— Eba!

As crianças dispararam em direção à cozinha com as sacolas, deixando as irmãs a sós.

— Quem diria que teríamos uma casa tão grande, e que poderíamos cuidar de tantas crianças — refletiu Nina.

— Tem razão... Tudo isso é graças a Kesh... Nunca vou me esquecer de quando ele fugiu da casa de nossa prima e cuidamos dele em segredo aqui...

Uma brisa levemente fria fez Nonna encarar a janela, para em seguida fechá-la.

— Parece que o inverno vai ser mais frio esse ano... Acha que as passagens ficarão bloqueadas com a neve?

— É possível. — Nina a ajudou a fechar outras janelas. — Mas, mesmo se isso acontecer, Kesh ainda será capaz de retornar, visto que seu elemento é Gelo.

— Já faz meses, e não temos nenhuma notícia... Onde ele está?

— Tenho certeza de que ele está fazendo algo importante, conhece ele.

— Tem razão...

As irmãs se dirigiram até a cozinha e começaram a guardar e organizar as compras.

As crianças ainda davam um certo trabalho, pois queriam sua atenção, mas aquilo não era de todo um mal, na verdade, vê-las tão animadas as enchia de alegria.

Pouco antes de começarem os preparativos para o jantar, uma batida soou contra a porta.

— Vou atender. — Nina se afastou e se dirigiu até a entrada.

Ao abrir a porta, se surpreendeu ao se deparar com ninguém menos que um Vigilante em sua armadura prateada padrão.

— Como posso ajudar? — perguntou com um misto de cautela e surpresa.

— Com licença, por acaso é a senhora... Nina, ou Nonna?

— Nina, minha irmã está preparando o jantar. — Aquela pergunta a deixou curiosa, pois, a princípio, acreditou que ele havia batido na porta errada, mas, aparentemente, procurava por ela.

— Sinto por interromper, porém pode chamá-la? Preciso falar com ambas.

— Está bem...

Nina se apressou e voltou até a cozinha.

— Irmã, preciso que venha aqui. — Se aproximou bem perto. — Há um Vigilante desejando conversar conosco — sussurrou em seu ouvido.

Nonna a encarou surpresa e otimista. Seu primeiro pensamento fora que recebera notícias boas sobre Kesh, deixando-a ansiosa para ouvir mais.

— Crianças, já volto. — Deixou o que estava fazendo e acompanhou a irmã até a porta.

Já Nina possuía uma expressão nervosa, acreditando que, assim como a irmã, era relacionado a Kesh, porém era algo ruim.

— Boa noite, Nina e Nonna Leonhardt, sou Heleno, Vigilante. Gostaria de confirmar algo. — Assim que ambas retornaram, o Vigilante se apresentou. — Por acaso aqui morou Dante Leonhardt?

Ambas se surpreenderam profundamente após ouvir o nome de seu avô, um nome que, até mesmo na família, era esquecido.

— Sim... Por que a pergunta? — Nina questionou demonstrando uma expressão claramente confusa.

— Esta pessoa se tornou um novo pesquisador da Universidade de Acrópolis, e em seu formulário disse se chamar Dante Leonhardt, que morou neste orfanato. — O Vigilante tirou uma foto e mostrou a ela. — Reconhecem ele?

Assim que viu a foto de Kesh, seu sobrinho, Nina arregalou os olhos em surpresa, que logo foi substituída por ainda mais confusão, ainda mais porque seus olhos estavam diferentes.

“Agora entendo porque o nome de nosso avô veio à tona, lembro-me de contar sobre ele a Kesh... mas por que ele está usando o nome dele?”

— Ah! Um pesquisador da Universidade de Acrópolis?! Sempre soube que ele era inteligente, mas essa é uma surpresa tão boa! — Nonna, entretanto, se esqueceu completamente sobre a questão do nome e focou apenas em Kesh, o que era algo habitual dela, ignorar coisas suspeitas e focar apenas no bom, o que quase a fez cair em inúmeros golpes.

— É por isso que ele não voltou, nem mandou notícias... — Nina possuía uma expressão reflexiva.

— Ele não lhes disse nada a respeito sobre isso?

— Não, isso também é uma surpresa para nós.

— Entendo, então vocês realmente cuidaram dele, certo?

— Sim! Ele sempre foi um garoto tão doce inteligente e maduro... — Nonna estava profundamente orgulhosa, mesmo que Kesh só tenha vivido com ela por algumas semanas.

— Entendo, por acaso não teriam algum documento, como registro de nascimento?

— Infelizmente não, nosso orfanato é grande hoje, mas antigamente era uma casa pequena onde recebíamos algumas crianças desabrigadas... Mal tínhamos comida para nós mesmas, era difícil — explicou Nina.

— Compreendo... — O Vigilante permaneceu pensativo por um momento, mas parecia estar acreditando. — Bem, isso é tudo, muito obrigado. — Dito isso, se virou e começou a se afastar.

— Ah, não poderia enviar uma... — Nonna começou a dizer, mas Nina a calou com a mão e a puxou para dentro.

Assim que entraram, Nina fechou a porta rapidamente.

— Ei... por que fez isso? — reclamou Nonna em um tom fofo.

— Ele deve estar ocupado, não vamos tirar mais do seu tempo.

— Ah, tem razão... não pensei nisso... — Nonna subitamente captou um cheiro queimado pairando no ar. — Ah não! Crianças, esperem! — Saiu correndo em direção à cozinha.

“Não sei o que diabos Kesh está fazendo, mas tenho certeza de que prolongar aquela conversa seria ruim.” Foi até a cozinha para ajudar na janta.

A noite prosseguiu como sempre, mas Nina continuou a pensar o tempo todo sobre aquele Vigilante e Kesh.

 

***

 

Algumas dezenas de quilômetros a oeste de Acrópolis, estava localizada uma região montanhosa que, devido seu terreno acidentado, era evitado por viajantes e comerciantes.

Já era noite, portanto não era difícil encontrar muitos animais vagando por aí.

Entretanto um cavalo podia ser visto correndo pelos céus, com a luz da lua iluminando seu belo pelo.

E montada nele estava Luna. O sentimento do vento em seu rosto e seus cabelos balançando a fizeram se sentir tão livre quanto nunca, e a visão do solo tão distante tornava tudo pequeno.

— Então essa é a sensação de voar? — Seus olhos emocionados eram capazes de ver até além no horizonte, proporcionando uma vista magnifica. — É tão libertador...

Sleipnir soltou um relincho, e a princesa entregou a ele uma cenoura.

— Coma devagar, hein. — Luna acariciou o belo pelo do animal enquanto ele comia lenta e obedientemente.

A princesa continuou a dar algumas voltas enquanto esquadrinhava toda a área, quando eventualmente se deu por satisfeita.

— Vamos voltar — sussurrou ao cavalo, que começou a descer.

Conforme se aproximava do solo, Luna pôde ver uma figura escura ao lado de um pequeno riacho aguardando-a.

— Então? — questionou Aegreon assim que ela pousou.

— Não há ninguém em um raio de quilômetros, estamos seguros. — Luna desceu habilmente de Sleipnir.

— Ótimo. — Aegreon se sentou em um tronco caído, acendeu uma fogueira e começou a preparar algo para comer.

Luna se sentou ao seu lado sem pensar duas vezes.

Ambos permaneceram em silêncio por um momento. Aquela era a primeira vez em muito tempo que ficavam completamente sozinhos, sem Raymond, Shiina, ou Sariel estarem sequer próximos.

— Faz tempo que não ficamos a sós... A última vez foi quando... nos encontramos em Fordurn — comentou Luna, sentindo que havia uma distância estranha entre ela e Aegreon.

— Hm. — O Pilar se limitou a apenas murmurar em resposta.

— Aconteceu tanta coisa... jamais imaginaria que descobriríamos um possível traidor no Conselho, muito menos que ficaria tão forte.

— Sim...

Luna manteve seu olhar fixo na comida, porém seus olhos se tornaram brevemente melancólicos.

— Aegreon... — Tocou gentilmente o braço dele. — Você... está irritado comigo?

— Hm? Por que esta pergunta? — O Pilar finalmente voltou sua atenção a ela.

— Você tem me evitado, e não tenta conversar comigo, mesmo considerando que Sariel não está aqui. — Luna afastou sua mão e o encarou com uma expressão culpada. — Eu fiz algo que o irritou?

Aegreon a encarou nos olhos brevemente, e logo em seguida voltou a se concentrar na comida.

— Não tem culpa de nada, não se preocupe.

— Entendo... — Luna permaneceu pensativa por um breve momento. — Gostaria de conhecê-lo melhor, por que não me conta sua história?

Os movimentos de Aegreon travaram subitamente, como se tivesse congelado no tempo.

— Já lhe contei antes...

Luna pôde perceber claramente uma amargura na voz dele, por isso decidiu não insistir naquilo, por mais que desejasse saber o que aconteceu após o ponto que ele a contou.

— Por que insistiu em me trazer aqui? Poderíamos ter ficado mais perto de Acrópolis, caso aconteça algo e precisássemos ajudar Sariel.

— Você vai treinar comigo.

— Treinar? — Aquilo a pegou de surpresa, pois acreditava que Sariel já havia ensinado tudo.

— Até agora, você apenas lutou contra criaturas ou alguns devotos, não são oponentes dignos. — A encarou com seriedade. — Não possuí experiencia o suficiente para lutar contra um Pilar, isso ficou evidente na batalha contra Ubel.

— Tem razão... Então passaremos os próximos dias treinando?

— Exato. — Aegreon tirou a comida do fogo e começou a servir. — Começaremos depois de comer. Não pegarei leve.

— Certo. — Luna aceitou a comida e começou a comer rapidamente. Estava ansiosa por ser ensinada e animada por poder conhecer Aegreon melhor.

 

***

 

Duas pessoas, um homem e uma mulher, caminhavam pelas ruas dos subúrbios de Acrópolis.

Ambos usavam longos mantos e capuzes para esconder os rostos.

Se dirigiram até a melhor estalagem que encontraram, um lugar relativamente grande, bem cuidado, e até possuía um bom atendimento.

Aproximaram-se do estalajadeiro; o homem colocou sob o balcão um saco de moedas.

— Gostaríamos um quarto para nós dois, camas separadas.

O estalajadeiro conferiu pegou o saco, o abriu e conferiu o dinheiro.

— Por quanto tempo pretendem ficar?

— Não mais que uma semana.

— Entendo, isso será o suficiente. — Abriu uma gaveta, guardou o dinheiro, e retirou uma chave. — Os levarei até seu quarto.

Deixou seu posto e subiu algumas escadas, seguido pelos dois visitantes.

Ao chegar no quarto, entregou as chaves e se despediu.

Ambos entraram, fecharam portas e janelas, e enfim removeram os capuzes, revelando seus rostos.

— Não é dos melhores, mas vai dar pro gasto. — Shiina se jogou em sua cama e se espreguiçou. — Devia ter escolhido um quarto com uma cama de casal...

— Para ter toda a cama para si mesma enquanto durmo no chão? Dispenso.

— Claro que não, bobo... — A assassina o encarou sedutoramente. — Para compartilhar, claro.

Raymond jogou suas coisas no chão e se sentou na sua cama.

— Sariel já deve ter se infiltrado, deveríamos caminhar por perto da Escola Preparatória para descobrir se tudo foi como planejado?

— Se algo tivesse dado de errado, ele teria se comunicado conosco.

— Talvez, mas e se...

— Ah, esquece isso! — Shiina jogou um travesseiro contra ele. — Acabamos de chegar, é a primeira vez em sei lá quanto tempo que me deito em uma cama tão macia, vamos relaxar por hoje.

Raymond pegou o travesseiro arremessado e a encarou brevemente.

— Não me sentirei bem ficando aqui enquanto Sariel está literalmente no covil dos lobos.

— Já lhe disse, não deu nada de errado, e ele não vai fazer nada arriscado tão cedo, podemos descansar por hoje.

Raymond ainda não estava totalmente convencido, evidenciado por sua expressão indecisa.

— Vamos, tenho certeza de que também está cansado... Veja, a cama está te chamando...

Subitamente, a voz de Shiina soou extremamente convincente a Raymond, fazendo-o ceder lentamente aos encantos do colchão macio.

— Tem razão... Podemos descansar por hoje.

— Magnífico! — A assassina subitamente pulou em sua direção e o abraçou pelas costas, porém logo se afastou. — Precisamos de um banho antes, vou na frente. — Deixou o quarto com Raymond sozinho.


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