O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 160: Um Resultado Inesperado

Algumas semanas atrás, nas Montanhas Prateadas...

Sariel e Feng Ping encontravam-se na sala de estar do Pilar e discutiam em particular o plano de infiltração na Acrópolis.

— Primeiro, preciso explicar como funciona a Universidade de Acrópolis. — Feng Ping permaneceu em silêncio antes de continuar, pensando por onde deveria começar. — Primeiro, os ranks. Os pesquisadores são divididos de acordo com seu conhecimento e conquistas cientificas. Quanto maior seu nível, mais privilégios receberá.

Há lugares que você não pode visitar se tiver um rank baixo. Como pode imaginar, os aposentos de Koeus é um deles.

Seu rank é identificado de acordo com a túnica, seu uniforme. As túnicas pretas são as de mais baixo nível, vestidos pelos estudantes da Escola Preparatória, e quanto mais clara a cor se torna, maior o nível. Branco é o nível mais elevado, com exceção do dourado, que é usado apenas por Koeus.

As cores, em ordem crescente, são: Preto, marrom, castanho, castanho-claro, bege, creme e, por fim, branco. Preto e marrom são vestidos por estudantes da Escola Preparatória, já a partir do castanho é dos estudantes da Universidade de Acrópolis.

Para ingressar na Universidade, deverá fazer uma prova de admissão. Quanto mais perguntas acertar, maior será seu nível quando atribuído.

O tempo total é de cinco horas, para um total de trezentas perguntas. Em outras palavras, deve responder uma pergunta a cada um minuto.

A prova incluí duzentos e cinquenta perguntas de múltipla escolha sobre matemática, história, geografia etc.

Ainda há mais cinquenta perguntas dedicadas apenas sobre magia, mas não se engane, essas são as mais importantes. Estas são escritas, e quanto mais desenvolver sua resposta e mais demonstrar seu entendimento no assunto, maior será sua avaliação por parte dos professores.

Por exemplo, se uma pergunta é “descreva as características únicas do elemento Conjuração” e responder com “este elemento se mescla com outros, formando um novo elemento”, será uma resposta muito básica. Contudo se elaborar mais em como esse elemento pode ferir o próprio usuário e a maneira como permite a comunicação com Deuses de outros mundos, sua pontuação será bem maior.

— Isso é o que sei dizer por agora, infelizmente não sei os detalhes sobre as atividades e regras da Universidade, mas creio que, uma vez infiltrado, poderá descobrir sobre.

— Entendo... — Sariel tocou o queixo de uma maneira pensativa, absorvendo as informações que aprendera. — Então se eu responder da maneira mais elaborada possível, receberei direto minha túnica branca?

— Exato, porém eu tomaria cuidado — advertiu o Pilar. — Se responder todas as cinquenta perguntas dissertativas perfeitamente, causará uma desconfiança bem grande não apenas dos professores, como talvez até mesmo do Conselho, visto que é um acontecimento extremamente raro.

— O que devo fazer então? Koeus ficará afastado por apenas alguns dias, tenho que receber a túnica branca a todo custo.

Feng Ping copiou o gesto anterior de Sariel, refletindo sobre o melhor curso de ação.

Naquele momento, começou a se arrepender por nunca ter se interessado pelo trabalho de Koeus, nem por ter visitado Acrópolis antes.

— Bem... creio que há uma brecha...

Sariel o encarou curiosamente.

— O elemento Selagem pode interagir com os outros elementos, e até formar arranjos mágicos que permite a criação de máquinas, por exemplo. — Feng Ping explicou sua ideia lentamente. — Portanto, um pesquisador que possuí o elemento Selagem, e o pesquisa, precisa ter conhecimento profundo em todos os outros elementos também, isso poderá reduzir quaisquer suspeitas que tenham sobre você.

— Entendo, é uma boa ideia.

— Apenas tome cuidado, Zaphkiela, o Pilar da Selagem, costuma passar muito tempo em Acrópolis, e ela muito provavelmente estará lá para proteger o local enquanto Koeus estiver fora. — O Pilar se lembrou de sua companheira, uma pessoa que ele não conseguia decifrar. — Eu não a conheço bem, se tornou um Pilar após a guerra, além de ser a mais nova do Conselho, com quinze anos de idade, portanto seja cauteloso.

— Manterei isso em mente, obrigado.

 

***

 

— E isso é tudo. — O professor responsável por vigiar os alunos finalizou as explicações. — Agora, suas provas serão entregues fechadas. Podem preencher seus dados, porém não olhem o conteúdo antes do permitido.

Dito isso, inúmeras folhas flutuaram da mesa do professor até as mesas dos alunos.

Quando Sariel recebeu sua prova, se impressionou com a grossura dela. Claro, já sabia que seria um teste longo, porém devia ter mais de uma centena de páginas.

— A partir de agora, o uso de toda e qualquer magia, por menor que seja, resultará em sua desclassificação imediata. Colar, falar, e fazer qualquer sinal também será punido da mesma maneira. Além disso, devem ficar aqui até o fim da prova, mesmo se terminarem antes.

Sariel lançou um breve olhar para o teto, notando inúmeras pedras de Alteração, que muito provavelmente ativariam com qualquer manifestação mágica.

“Parece um sistema infalível, mas não funcionaria se eu cobrisse uma magia de Ilusão com uma camada de Selagem... Bem, não é como se eu precisasse colar de qualquer maneira.”

Preencheu seus dados na prova e aguardou alguns minutos.

— Comecem. — Sob a autorização do professor, o som de todas as folhas sendo viradas por uma centena de alunos reverberou pela ampla sala.

“Vejamos... resolva o cálculo integral a seguir... Fácil.”

A primeira matéria na prova era matemática e física. Sariel pôde ouvir claramente alguns dos alunos estalando a língua, ou soltando suspiros surpresos assim que viram as questões, mas ele as respondeu sem problemas.

A educação que recebera de Erish, quando esteve sob seus cuidados, definitivamente fora uma das melhores que podia ter, mesmo assim, também possuía seu próprio mérito, afinal, todos seus professores o consideraram um gênio.

Sariel passou pelas perguntas rapidamente, gastando apenas dez segundos para cada questão.

Em seguida, resolveu as questões de química e biologia na mesma velocidade.

Depois, vieram questões de história e geografia, sendo a grande maioria perguntas sobre acontecimentos mais importantes durante a guerra.

Como a guerra foi intensa, muito da história da humanidade antes dela foi perdida no tempo, portanto aquelas matérias eram mais fáceis do que as anteriores.

Para finalizar as questões de múltipla escolha, uma matéria que surpreendeu Sariel: Latim.

Bastou apenas um segundo, contudo, para entender o motivo daquilo: os Anjos eram muito mais avançados que os humanos em todos os aspectos, e havia muito de seu conhecimento perdido em suas ruínas, ou que simplesmente não podiam ser extraídos pela barreira linguística.

Portanto, saber a língua deles também seria importante.

“Feng Ping não mencionou isso, talvez seja algo novo... Bem, não que seja um problema...” Assim como nas outras matérias, respondeu todas as questões perfeitamente.

Finalmente, chegou nas perguntas dissertativas.

As primeiras doze perguntas eram dedicadas aos elementos de Combate, ou seja, Fogo, Gelo, Água, Vento, Raio e Natureza.

“Muito bem... dentre todos esses elementos, o único que é levemente diferente é Natureza, portanto posso respondê-las elaboradamente.”

Estas perguntas levaram mais tempo, porém respondeu cada uma em cerca de trinta segundos.

Enquanto respondia uma das perguntas, sentiu o professor — que até o momento estava em sua mesa, em silêncio — aparecer diante de si rapidamente.

— Desclassificado, levante-se e saia — disse seriamente.

O viajante não ergueu o rosto, continuou respondendo às perguntas.

— O que?! Eu não fiz nada! — Um aluno que estava ao seu lado, que não era Felix, protestou.

— Tentou espiar a prova deste jovem. — Mesmo sem olhar, Sariel sabia que se referiam a ele. — Cale-se e vá.

Percebendo que não havia escapatória, o infrator levantou-se e deixou a sala com a cabeça baixa.

Depois disso, o professor retornou ao seu assento.

“Que estupidez tentar colar, ele não percebeu que o professor é um ex-soldado da Vigília?”

Talvez por ser acostumado a lutar e estar constantemente avaliando o poder das pessoas ao lado, era mais fácil a ele perceber que o professor não era alguém comum.

Além disso, não era nenhum segredo que muitos Vigilantes, ao ficarem velhos, decidiam trocar de profissão e se tornar um pesquisador na Universidade de Acrópolis.

“Vamos continuar.” Sariel passou para as últimas questões, que eram sobre os elementos de Suporte.

Isso significava que 38 das 50 perguntas eram apenas sobre estes elementos.

“Vejamos... interessante... apenas dez dessas questões são relacionadas ao elemento Selagem... Realmente estão muito interessados nisso...”

Sariel pensou por um tempo em como deveria responder as questões sobre os elementos Alteração, Reanimação, Proteção, Conjuração e Ilusão.

“Acho que o mais seguro é mostrar todo conhecimento que tenho em Selagem, e me segurar um pouco com os outros elementos.”

Respondeu às perguntas com menos descrição que os anteriores, quando, enfim, chegou nas perguntas sobre Selagem.

Descreva por que o elemento Selagem interage com outros elementos.

“Uma questão aberta, mas que há muitas camadas...”

O elemento Selagem é capaz de sincronizar com a frequência mágica dos outros elementos, podendo ativá-los sem a necessidade do comando de um ser vivo. Em outras palavras, a Selagem funciona como nosso cérebro, e os outros elementos, nossas mãos.

Além disso, a Selagem pode bloquear a manifestação de magia, uma vez que é capaz de assumir controle total sobre o fluxo mágico dos outros elementos.

Sariel passou para a próxima pergunta.

Como o elemento Selagem controla outros elementos?

“Essa é uma pergunta mais técnica...”

Todos os usuários deste elemento colocam sua intenção em uma criptografia, onde cada código diferente contém uma ordem específica — de acordo com a intenção original do criador — que ativa um outro elemento de determinada forma. Muitos usam palavras como, por exemplo, “explodir”, para que uma pedra de Fogo detone, porém não é muito seguro visto que um outro usuário pode decifrar facilmente este código e desativar o selo. Por esse motivo, é preferível que se usem códigos secretos que apenas um seleto grupo de pessoas conheçam. Mesmo assim, é possível quebrar o selo à força com Conjuração, por isso é necessário criar contramedidas de segurança.

Sariel chegou, enfim, na última questão.

De que maneira Selagem pode ser usado?

“Já posso ver que essa é uma questão crucial para minha avaliação, vejamos...”

Aquela foi, de longe, a questão que mais escreveu, ocupando todas as linhas na resposta.

Após escrever as últimas palavras, largou sua caneta e lançou um olhar ao professor em sua mesa.

“No fim, respondi tudo em uma hora...” Percebeu que o ponteiro maior do relógio, na parede atrás do instrutor, havia completado apenas uma volta.

O professor, como de se esperar, percebeu o comportamento de Sariel e o encarou de longe com curiosidade.

 

***

 

— Muito bem, o tempo acabou — anunciou o professor. — Larguem suas canetas imediatamente.

Pôde-se ouvir os suspiros e lamentos desesperados de muitos que, muito provavelmente, não haviam conseguido responder tudo a tempo.

— Ah... que droga... Tive que chutar as perguntas de latim para ter tempo de responder as dissertativas — lamentou Felix. — Ei, como foste?

— Estou satisfeito com o resultado, respondi todas. — Sariel respondeu francamente.

— Uau... Deves ter estudado muito. — Felix pareceu feliz pelo companheiro que conhecera apenas algumas horas atrás.

O professor se aproximou e recolheu a prova de ambos, não antes de lançar um olhar um pouco mais longo para Sariel.

— Ei, a propósito, como não se apavoraste quando ele apareceu diante de ti? — Felix se inclinou para perto do viajante e cochichou. — Jurava que ele estava falando contigo.

— Bem, eu sabia que não tinha feito nada de errado.

— Haha! Tá brincando né? — Felix soltou uma risada descontraída. — És uma pessoa muito interessante.

Quando terminado de coletar as provas, o professor disse: — Os resultados sairão em uma hora, na área de anúncios. Estão livres para fazer o que desejarem até lá.

— Vamos para o refeitório comer algo? — sugeriu Félix.

— Claro, lidere o caminho.

Sariel o seguiu pela enorme Escola Preparatória, o que o fez entender melhor o real tamanho daquele lugar.

Apenas os corredores já eram tão largos quanto de um palácio, e sempre havia dezenas de estudantes transitando.

Havia praças, bibliotecas, refeitórios, quadras para esportes, dormitórios... todo tipo de instalação possível que poderia imaginar havia ali.

“Não é à toa que tanta gente deixa o próprio reino para ingressar aqui... Essa escola te oferece uma vida de luxo, me pergunto como será a Universidade de Acrópolis.” Lançou um olhar para cima, avistando as torres invertidas.

Aquele lugar era capaz de comportar milhares de estudantes, sendo maior que, até mesmo, outras universidades.

Quando chegaram no refeitório, Sariel surpreendeu-se com o que seria uma praça de alimentação. Havia centenas ali, e o barulho de suas vozes se mesclavam em um ruído branco irritante.

O viajante e Felix pegaram suas comidas e, após procurar um pouco, encontraram uma mesa vaga.

— Assim que terminarmos, veremos os resultados em seguida.

Sariel concordou silenciosamente e começou a comer.

— Felix, vejo que fizeste um novo amigo. — Um homem alto, forte, de cabelos castanhos e olhos lima, se aproximou e sentou-se ao lado de Felix. — Apresente-nos.

— Dante, este é Frederic Richard, meu colega de classe e um ex-Vigilante. — Felix sorriu e parecia confortável ao lado daquela pessoa. — Frederic, este é Dante Leonhardt, um órfão de Eribur que chegou hoje e fez a prova para ingressar na universidade.

— É um prazer. — Frederic estendeu a mão para um aperto. — Vens de longe.

— Igualmente. — Sariel retribuiu o cumprimento, recebendo um aperto mais forte do que o comum, mas que era de se esperar considerando a identidade dele. — És deveras novo para um Vigilante aposentado.

— Ah, sim... Eu entrei na Vigília, pois acreditava que seria capaz de melhorar o mundo, mas veja, meu elemento principal é Reanimação, com alguns outros misturados, e não me encaixei bem na Vigília. — Frederic disse em um tom distante. — Foi então que me disseram sobre a Universidade de Acrópolis, e decidi que poderia melhorar o mundo através dos estudos.

— Entendo, é um objetivo nobre. — O viajante expressou seu respeito. — Não há nada de errado em tentar algo diferente.

— Realmente — concordou Frederic. — Mas basta de falarmos de mim, conte-me sobre você.

— Ah, veja bem, Dante... — Felix começou a contar como conheceu Sariel.

Inicialmente, Frederic também se surpreendeu ao saber que ele decidiu fazer a prova para a Universidade, mesmo sem ter passado pela Escola Preparatória.

Porém suas expectativas aumentaram ao ouvir sobre o incidente do aluno ao seu lado que tentou colar.

— Mantiveste concentrado, mesmo nessa situação? Diante de um ex-Vigilante veterano? Até mesmo eu ficaria assustado...

— Não é? — Felix concordou. — Além disso, depois ele...

— Ora, ora, o que temos aqui. — Uma voz interrompeu Felix. — O plebeu que ousou me insultar...

Ao olhar para trás, Sariel se deparou com aquele homem que insistia em atazaná-lo.

Estava acompanhado por outros quatro rapazes que, a julgar pelas suas roupas, eram burgueses que fizeram a prova de admissão para a Escola Preparatória.

— Lucius Amulius... — disse Felix em um tom amargo. — O que queres conosco?

— Não dirija palavra a mim, plebeu, estou falando com este inseto.

— Parece que esquecestes seus modos, lembra-te que sou seu veterano, deves respeito. — Felix retrucou em um tom irritado, aparentemente ambos se conheciam e não tinham uma boa relação.

— Podes dizer isto, contudo, está há sete anos tentando ingressar na Universidade, enquanto eu entrarei na Escola Preparatória após meu primeiro teste. — Lucius possuía uma confiança arrogante enquanto dizia. — Aguarde e verás, o superarei antes que perceba.

Felix estalou a língua em frustração, porém não respondeu.

Enquanto tudo isso acontecia, Frederic apenas observava a situação.

— Se não tens nada a dizer, deveria nos deixar em paz — disse Sariel indiferentemente.

— Seu... — Lucius se aproximou dele e o agarrou pelo colarinho. — Podem ensinar plebeus, mas nunca serão capazes de aprenderem modos, muito menos compreender que teu lugar é na lama!

— Pelo que percebo, o único que age como um banido valente és tu.

Aquelas palavras fizeram o rosto de Lucius se contorcerem imediatamente de raiva profunda.

— Não sei dizer se és corajoso, ou apenas extremamente estúpido! — vociferou com os dentes rangendo de fúria. — Minha família tem mais de trinta pesquisadores em Acrópolis, e três deles possuem a túnica branca!

— Disseste bem, eles possuem, tu não tens nem mesmo a túnica preta.

Aquilo foi a gota final para Lucius, que ergueu seu punho cerrado.

— Minha paciência se esgotou contigo, plebeu! — Socou na direção do viajante, mas surpreendeu-se ao notar que seu braço fora segurado com firmeza. — Como?

— Já basta, Lucius. Vá embora. — Ao olhar para trás, notou Frederic encarando-o com um olhar pouco amigável.

Tsc! — Retraiu o braço e se virou. — Nos veremos novamente, plebeus.

Os três observaram Lucius partir com seu grupo.

— Devo concordar com ele em um ponto, não sei dizer se és corajoso ou estúpido — disse Frederic a Sariel assim. — A família de Lucius é uma das cinco mais influentes de Acrópolis, deves tomar cuidado para não o insultar.

— E o que ele poderia fazer? Me atacar? A Vigília não iria gostar disso.

— Claro, não podem cometer nenhum crime, porém ainda podem fazer outras coisas, como atrapalhar o comércio de sua família.

— Não tenho família aqui, de qualquer maneira. — Sariel continuava indiferente. Não poderia ligar menos para briguinhas entre famílias, sem contar que não havia nada, absolutamente nada que Lucius poderia sequer fazer para prejudicá-lo.

— Eles ainda são influentes o suficiente para agir em outros reinos, portanto tome cuidado — disse Felix.

Um alarme alto soou, indicando que os resultados das provas finalmente estavam disponíveis.

— Finalmente! Vamos juntos? — convidou Felix.

— Com certeza. — Sariel se levantou e foi guiado por Felix e Frederic pela enorme escola.

Novamente passaram pelos corredores, que estavam ainda mais agitados, já que centenas de alunos desejavam ansiosamente ver os resultados.

O sol estava se pondo, portanto as lâmpadas da escola já estavam acesas.

Finalmente chegaram em uma ampla sala, cujo propósito era de, única e exclusivamente, ter os resultados anunciados, além de outros avisos.

Ali, tanto os resultados das provas da Escola Preparatória, quanto da Universidade de Acrópolis, eram publicados.

Com muita dificuldade, os três chegaram no quadro de avisos desejado.

Os resultados da prova para ingressar na Universidade de Acrópolis era diferente do que da Escola Preparatória, já que havia um sistema de ranks dos pesquisadores.

Ao invés de conter todos os nomes junto em uma única lista, eram separados pela túnica que o estudante receberia, portanto havia cinco quadras diferentes.

— Vejamos, Frederic... Frederic... — A voz do ex-Vigilante estava claramente trêmula pelo nervosismo. — Ah! Ali! Passei! Eu passei!

Sua postura séria quebrou instantaneamente assim que encontrou seu nome.

— Eu... Passei também! Frederic, finalmente passei! — Felix, ao encontrar seu nome, abraçou Frederic. — Nosso rank é o mesmo ainda! Seremos colegas!

— Haha! Estou tão feliz...

Embora ambos tenham recebido a túnica castanho, o que significava que passaram raspando, estavam tão felizes que saiam abraçando seus outros colegas, mesmo sem nem os conhecer, afinal, havia milhares de alunos ali.

Sariel passou o olhar rapidamente pelos quadros.

Felix e Frederic eventualmente desfizeram o abraço e foram procurar o nome de Sariel na lista castanho, porém, como não encontraram, passaram para a lista castanho-claro, que também faltava seu nome.

— Ah... Dante... — A voz de Felix, que estava animada até então, saiu em um misto de pena e tristeza. — Tu...

— Hahaha! Parece que o plebeu foi reprovado! Bem-feito! — Pela quarta vez naquele dia, Lucius apareceu para atormentar Sariel. — E olha que surpresa! Eu passei! Em minha primeira tentativa!

— Lucius, não tem o mínimo de compaixão?! — Felix se irritou com o comentário e se aproximou dele.

— Compaixão pela ralé?! Não seja ridículo! — Lucius se aproximou de Sariel e passou o braço por cima de seu ombro, puxando-o para um abraço. — Não vai chorar, vai? — disse em um tom desprezível, enquanto o cutucava no rosto.

O viajante, entretanto, manteve o olhar fixo nas listas, agindo como se Lucius não existisse.

— Lucius... Estive me segurando até agora... — Felix se aproximou dele com os punhos cerrados. — Não o perdoarei por isso!

— Hahaha! O que estas dizendo? Estou apenas confortando o fracassado aqui...

Enquanto tudo isso acontecia, Sariel mantinha seu olhar nas listas.

Frederic, que estava logo ao lado do viajante e observando a cena, pensou por um momento que Sariel estava em choque, sem acreditar que havia falhado.

Contudo, quando notou seu olhar despreocupado, e um pequeno sorriso surgir em seu rosto, sentiu que estava errado.

Procurou novamente o nome dele na lista castanho e castanho-claro, mas definitivamente não estava lá.

“Não vai me dizer que... Não, isso é impossível...” Começou a buscar pela lista bege, nada.

Procurou na lista creme, nada.

Como a dificuldade de cada cor aumentava exponencialmente, a quantidade de nomes na lista creme já era de apenas meia dúzia de pessoas, então seria fácil encontrar qualquer nome.

Foi então que um pensamento maluco, completamente absurdo e impossível passou pela sua mente, olhar a lista branca, a lista com apenas um nome.

— Não é possível... — sussurrou em descrença e com os olhos arregalados. — A lista branca...

Felix percebeu o comportamento do amigo e esqueceu sua raiva por um momento.

— Frederic, o que houve? — perguntou preocupado e seguiu seu olhar, tendo a mesma reação a encarar a lista branca. — ...Como?

— Isso mesmo, o que houve? — Lucius provocou. — Surpreso que o plebeu falhou?

Contudo nenhum dos dois responderam.

Só então Lucius percebeu como a sala estava muito mais quieta do que anteriormente.

Todas as vozes se reduziram a murmúrios, o assunto, o mesmo: o nome na lista branca.

Os alunos olhavam ao redor incessantemente, buscando encontrar o portador daquele nome.

Lucius, curioso com o clima estranho da sala, olhou para a lista branca.

Para sua surpresa, um nome.

— O que...? Como... isso é... possível...? — Afastou-se de Sariel com as pernas bambas por um misto de medo e descrença, os olhos grudados na pessoa que tanto desprezou.

Não demorou muito para que as pessoas percebessem a agitação e voltassem seus olhares para uma única pessoa.

Todos os olhares observavam o mesmo ponto.

E nesse ponto, Sariel permanecia imóvel, com um pequeno sorriso satisfeito no rosto.

— Dante Leonhardt... Túnica branca. — Uma voz poderosa e séria ressoou pela sala, fazendo os alunos se virarem imediatamente.

Devido a multidão, o viajante não era capaz de ver o dono da voz, contudo as pessoas abriam caminho para um homem se aproximava.

Sariel se aguardou até que a pessoa em questão se aproximasse.

Vestia uma bela e longa túnica branca, tão limpa que reluzia na luz das lâmpadas ao redor, um sinal de sua excelência.

Seu rosto idoso trazia inúmeras rugas, e os cabelos longos e brancos eram a marca, o resultado do estresse de incontáveis noites perdidas em prol da ciência e do futuro da humanidade.

Os alunos encaram aquela figura como se encarassem um Deus. Raramente tinham a oportunidade de sequer ver alguém de túnica castanho-claro ou acima, já que passavam todos os dias em Acrópolis e não havia nada que lhes interessasse ou beneficiasse para descer.

Porém hoje era um dia diferente, muito diferente.

Sariel encarou aquele homem, que parou a alguns passos de distância.

O homem o analisou dos pés até a cabeça lentamente.

— Hm, interessante. — Esboçou um pequeno sorriso. — Será um prazer trabalhar contigo, Doutor Dante Leonhardt.


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