O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 148: Lembranças da Guerra

Em um curto período de tempo, o santuário subterrâneo se tornou um campo de guerra.

De um lado, a Seita e as criaturas lançavam uma barragem de magias. Como a distância era grande, a precisão era baixa, mas, devido à grande quantidade de ataques, aquilo não importava, pois causava inúmeros danos em uma grande área.

Do outro lado da fenda, como o Conselho e a Vigília estava em menor número, focavam apenas em buscar abrigo e aguardar que os devotos se esgotassem.

Por causa disso, em pouco tempo as casas e construções dos Anjos se tornaram uma pilha de escombros e fogo.

Koeus e Jeanne se protegiam atrás de algumas casas que começavam a receber danos, já que as construções mais adiantes já haviam caído.

— Isso me trás lembranças desagradáveis... — reclamou o Pilar da Água.

— De fato, não esperava me encontrar em uma situação como essa novamente após a guerra. — O Pilar da Alteração lançou um breve olhar ao redor, percebendo que os Vigilantes veteranos da guerra tinham expressões perturbadas. — A guerra nunca muda...

Apesar da situação parecer desfavorável, era evidente que os devotos tinham nenhum experiencia com ataques de grande escala ou cercos, gastavam suas magias com ataques inúteis que nem atingiam o alvo.

Claro, isso não impedia os Vigilantes veteranos da guerra contra os Anjos de se lembrarem das sangrentas e violentas batalhas que participaram.

O som das explosões, o calor do fogo, o frio do gelo, as rajadas de vento poderosas, o tremor do chão, as luzes que traçavam a rota das magias... tudo trazia de volta as memórias que tanto desejavam esquecer.

Os Vigilantes mais novos, que vivenciaram pouco ou nada da guerra, estavam bem mais tranquilos. Talvez o fato de não terem os mesmos traumas ajudasse, mas tinham total confiança de que sairiam vivos dali.

Afinal, se fosse fácil assim derrotar um Pilar, os acentos de dez dos doze Pilares não teriam permanecido inalterado por tantos anos, em especial Koeus, que viveu por quase dois séculos, grande parte dela na guerra.

Sem contar que havia quatro deles ali, sete, se considerassem as candidatas, cujo poder era equivalente.

Em outro flanco, onde Feng Ping e Lily se encontravam, os devotos davam sinais de cansaço.

As magias diminuíam cada vez mais, o que, em breve, abriria a oportunidade para um contra-ataque.

— Lily, está pronta? — Feng Ping encarou a candidata.

— Sim, mestre Ping. Mas tem certeza de que é uma boa ideia?

— Não podemos esperar aqui para sempre, será apenas uma questão de tempo até não termos onde nos proteger, e sabemos que há pelo menos dez vezes o número deles em comparação a nós. Devemos exterminá-los antes que cheguem reforços para substituir os cansados.

A análise de Feng Ping fez todos por perto se lembrarem de sua inteligência e habilidade.

Mesmo após tantos anos distante do Conselho, sua experiencia nunca seria apagada.

Alguns segundos se passaram e, enfim, nada mais era possível ouvir.

— Agora!

Lily saiu da proteção dos escombros, criou uma lança de madeira e a arremessou contra o outro lado da fenda.

Ao cair, a madeira cresceu exponencialmente, destruindo casas, esmagando inimigos e causando o caos contra os devotos.

Em um mero segundo, havia árvores e raízes o suficiente para sobrepujar completamente quaisquer construções, não era nem possível vê-las agora, era como se uma floresta surgisse de uma hora para outra.

Em seguida, correu até o abismo e começou a criar uma larga ponte.

— Não a deixe se aproximar! — Um grito fraco pode ser ouvido do outro lado, acompanhado de alguns ataques direcionados para Lily.

— Protejam-na! — Alguns Vigilantes com magia de Proteção correram em sua direção e criaram uma barreira.

Enquanto isso, Feng Ping estendeu sua palma aberta na direção dos oponentes e uma rajada de vento comprimido voou contra a Seita.

Os devotos nem tiveram tempo de reagir, suas mentes nem foram capazes de compreender o que acontecera, pois morreram antes que pudessem pensar em algo.

Em um instante, a pedra que compunha as construções foi transformada em pó, os inimigos foram desmembrados, e uma grande porção da área do outro lado da fenda foi nivelada.

— Mestre Ping, cuidado — alertou Lily ao notar o tremor causado por aquele ataque. — Estamos no subsolo.

— Sim, usei força demais.... Odeio lutar nessas condições, meu elemento não é compatível com esse ambiente. Ainda bem que temos vocês e Jeanne.

A ponte enfim tocou o outro lado, permitindo que os Vigilantes atravessassem.

— Há alguém vivo? — perguntou o Pilar do Vento a um batedor.

— Sim... alguns estão quase mortos, outros estão fingindo.

— Neste caso... — Feng Ping preparou outro ataque.

— Deixe isto comigo, mestre Ping. — Lily o interrompeu.

No momento seguinte, as árvores — que foram destruídas parcialmente pelo ataque de vento — cresceram novamente.

Então, flores com uma cor azul vibrantes desabrocharam e começaram a expelir um gás venenoso, tão poderoso que transformava os pulmões daqueles que o inalavam em água.

Um por um, o batedor viu os devotos sucumbindo imponentemente.

— Estão todos mortos — informou.

— Bom trabalho, e boa decisão estratégica. — Feng Ping não escondeu sua satisfação pelas ações de Lily. — Devo me desculpar, a subestimei muito. Age e pensa como um verdadeiro Pilar.

— Obrigada, mestre Ping, sinto-me lisonjeada. — Mesmo recebendo tal elogio, a candidata continuava humilde.

Após isso, Feng Ping, Lily e os Vigilantes atravessaram a ponte para auxiliar os outros flancos.

 

***

 

Clementius defendia seu flanco com um grande escudo dourado de uma centena de metros, com os ataques inimigos ricochetando inutilmente em sua barreira indestrutível.

Mesmo com inúmeros devotos e criaturas atacando, e o Pilar da Proteção usar seu escudo em um ângulo quase reto, eram incapazes de sequer causar uma lasca.

Erandi e Klara observavam aquilo maravilhadas. Claro, sabiam que ele possuía uma quantidade descomunal de poder, mas outra razão da sua barreira ser tão resistente se devia pelo seu escudo.

Com várias gemas mágicas elementais, eram ainda mais eficientes em absorver qualquer uma das magias de Combate, além de sua ideia engenhosa de poder alterar o ângulo de impacto.

— Fiquem atentas. — Apesar de estar protegendo aquela área sozinho, Clementius falava calmamente. — Seus ataques estão enfraquecendo, preparem-se para o contra-ataque.

— Entendido. — Ambas responderam em uníssono.

Pouco mais de um minuto se passou enquanto os ataques inimigos foram enfraquecendo.

Antes mesmo que parassem, Clementius decidiu agir.

Segurando seu escudo, caminhou em direção ao abismo, ganhando cada vez mais espaço.

— Erandi...

— Entendido! — Erandi se aproximou do Pilar da Proteção e começou a criar uma ponte.

Graças ao escudo inquebrável de Clementius, ele era capaz de atravessar a ponte enquanto era construída.

Ao chegar no outro lado, a Vigília e as candidatas avançaram desenfreadamente.

Erandi foi na frente de todos, basicamente se jogando no meio dos inimigos, ansiosa por derrotar o maior número de devotos possível para provar seu valor.

Klara a seguiu de perto, parte por também querer aprovação, quanto por saber que Erandi era imprudente demais e sentir-se compelida a protegê-la.

Assim como Lily fizera, Erandi fez surgir uma floresta, coletando várias baixas de uma só vez.

Mesmo assim, ainda havia muitos oponentes que conseguiam se aproximar.

Com Erandi causando os maiores danos, Klara cuidava de sua retaguarda, algumas vezes até se jogando na frente de alguns ataques já que sua armadura de ossos era capaz de reduzir bastante os danos.

Ambas eram uma dupla perfeita: Enquanto Erandi agia sem pensar e possuía um poder ofensivo alto, Klara era aquela quem lidava com as consequências de suas ações e agia como um escudo resistente.

De certa forma, graças ao elemento de Klara, ela era quase como Clementius: uma oponente quase impossível de se matar.

Alguns fugiram por um buraco que havia na parede da caverna ali perto, tão grande que era possível ver mesmo do lado oposto do abismo.

Em pouco tempo, todos os devotos foram derrotados, e Clementius se reuniu com ambas.

— Muito bem, aparentemente Feng Ping e Koeus também controlaram a situação. — O Pilar se virou ao batedor. — Há algum sobrevivente?

— Hmm... Parece que está tudo limpo. — O batedor fechou os olhos e se concentrou por um momento, quando percebeu inúmeras auras grandes se aproximando vindo da parede. — Droga, ali...

Antes que pudesse terminar, tremores interromperam sua fala.

Uma grande criatura com o corpo parecido com o de um javali, porém com dezenas de metros de comprimento, presas flamejantes, corpo escuro e envolto em lava roxo, surgiu lentamente do buraco.

Veio acompanhado de outros monstros também, igualmente grandes e lembrando vagamente algum animal.

Havia algumas dezenas daquelas criaturas ali, e quando atravessaram o buraco, explosões fizeram a parede desmoronar, tapando-o e prendendo o Conselho ali dentro.

Como se não bastasse, o batedor também captou criaturas escalando o abismo logo atrás deles, algumas até maiores daquelas diante de si.

— Então esse era seu plano... Recuar! — Sob as ordens de Clementius, todos retornaram pela ponte, seguidos de perto pelas criaturas corrompidas, rápidas apesar de seu tamanho.

 

***

 

Feng Ping e seu grupo retornou imediatamente assim que perceberam o perigo de serem cercados.

Aquelas que saíram do buraco eram rápidas, mas, felizmente, aquelas que escalavam o abismo eram mais lentas.

Graças a isso, eram capazes de abater todas elas à distância.

Contudo possuíam poucos números, e muitas criaturas escalavam ao longo de toda a fenda.

Portanto, mesmo que defendessem aquele flanco com facilidade, não poderiam proteger todo o local.

Em pouco tempo criaturas enormes conseguiram escalar dos lugares mais distantes e se aproximaram do grupo de Feng Ping.

— Todos fiquem juntos, será mais fácil lidar com eles assim — instruiu Feng Ping.

— Tem uma criatura perigosa se aproximando por trás!

O Pilar se virou e seus olhos se arregalaram ao reconhecer outra criatura que vira nas memórias de Sariel.

Uma espécie de dragão, com asas enormes como martelo, garras e presas longas como lanças, e um rabo que era como uma espada flamejante roxa.

Seu corpo já era comprido, mas também era alto. Provavelmente era ele que causava tremores tão intensos, já que mal cabia na fenda.

Na verdade, comparado com a memória de Sariel, ela parecia ainda maior.

“Sariel e Luna também a mataram, mas ela retornou...” Feng Ping sabia que deveria focar nela. — Todos vocês, tomem cuidado!

— Te ajudarei, mestre Ping. — Lily ficou ao seu lado, com um semblante sério.

O Pilar pensou em retrucar, mas reconsiderou ao se lembrar o quão competente ela era.

Sem dizer mais nada, partiu como o vento contra a criatura reerguida, acompanhado de Lily.


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