O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 149: O Poder dos Mortos

Ao notar a aproximação de Feng Ping e Lily, a criatura abriu a bocarra e cuspiu um mar de chamas rochas.

O Pilar do Vento parou e lançou um vendaval que colidiu contra as chamas, parando seu avanço e permitindo que Lily continuasse.

A partir da armadura, raízes cresceram na direção da boca da criatura, fechando-a à força.

Como resposta, uma de suas asas desceu rápida e poderosamente, buscando esmagar Lily como um inseto.

Percebendo que seria péssimo se não tentasse desacelerar aquele ataque, tão pesado quanto um martelo demoníaco, Lily fez suas raízes a envolverem em um formato triangular.

A asa a atingiu, mas não foi capaz de causar danos. Além disso, graças à forma que Lily usou, o impacto não atingiu um único ponto, dissipando-se por todo o chão e evitando o que poderia causar um soterramento.

Antes que a criatura pudesse agir novamente, Feng Ping cortou o ar com sua lança, empurrando uma lâmina de vento contra a asa.

O ataque foi capaz de perfurar fundo, mas falhou em desmembrá-lo.

Em resposta, a criatura balançou seu rabo e lançou uma estocada contra o Pilar.

Apesar do tamanho, a criatura era extremamente rápida.

Sua cauda, que era como uma espada incandescente, destruiu inúmeras construções no caminho, parando apenas quando atingiu Feng Ping.

Usando sua lança, o Pilar parou o golpe deslocando-se apenas alguns centímetros.

Tsc! Coisa complicada.

A criatura conseguiu quebrar à força as raízes que prendiam sua boca, virou sua cabeça na direção do Pilar, e preparou outro golpe.

Dessa vez, Feng Ping percebeu que ela estava concentrando muito mais magia, portanto não seria algo que pudesse parar tão facilmente.

Então, a madeira que havia barrado a asa cresceu no formato de grandes e afiados espinhos, que perfuraram o corpo da criatura, a empurraram e interromperam seu ataque.

Não foi o suficiente para atravessar completamente seu corpo, mas foi mais que suficiente para evitar o próximo ataque e mudar seu foco.

Enfurecida, a criatura abriu sua boca e um feixe de fogo roxo concentrado traçou uma linha reta onde Lily estava, atravessando ainda todo o local e causando explosões no chão e nas paredes do santuário.

Por causa disso, partes da parede e do teto desabaram parcialmente.

— Droga... — praguejou Lily. — Se eu tivesse a madeira da Yggdrasil... ele teria morrido nessa.

A candidata olhou para trás para ver os danos, e reparou que havia algumas outras criaturas em outros setores de tamanho similar àquela.

Sabendo que seria ruim caso a batalha se prolongasse, decidiu acabar com aquilo de uma vez por todas avançando direto contra a criatura.

A criatura tentou atacar, mas a madeira que havia a perfurado e permanecido em seu corpo começaram a brilhar em um tom verde e detonaram.

Lily não poupou esforços e fez inúmeros espinhos de madeira perfurarem o corpo dela, enrolarem ao seu redor e detê-la.

A criatura entrou em combustão intensa, causando um incêndio tão quente que seria insuportável ficar algumas dezenas de metros perto dele.

A madeira começou a queimar, tornou-se cinzas, enquanto ela, em seu último ato, começou a cuspir fogo e explodir todo o local.

Conforme Lily se aproximava junto de Feng Ping para finalizá-la, uma dúvida surgiu em sua mente.

Será que aquela criatura fazia aquilo por medo? Desespero? Ou talvez se sentisse enfurecida por estar perdendo e decidiu que iria, pelo menos, morrer soterrando o maior número de vítimas possíveis?

“O Conselho tem lidado com essas criaturas por décadas, e eu mesma tenho anos de experiencia contra elas... Mesmo assim, sabemos tão pouco.”

E mesmo após tantos anos, novas criaturas desconhecidas surgiam, com habilidades e comportamentos ainda mais estranhos.

Era impossível saber se essas criaturas eram racionais como humanos, ou agiam instintivamente como animais. Pela experiencia com batalhas, o segundo caso parecia mais provável, mas a maioria delas obedecia aos devotos.

Claro, tentativas de estudar a fundo esses seres foram feitos, com espécimes mortos e vivos.

Lily tinha certa noção que Koeus fez tantos experimentos que eram até assustadores, e até seriam considerados crimes pelo próprio Conselho, se não fossem seres de outros mundos.

Mesmo assim, sabia-se muito pouco do que era desejado sobre elas.

“Parece que nunca seremos capazes de entender essas coisas... Muito menos nos comunicar com elas...” Afastando esse breve devaneio, Lily saltou até a cabeça da criatura e, segurando uma espada de madeira com várias vezes seu tamanho, perfurou o crânio.

Veneno começou a invadir o sistema da monstruosidade, atacando seus órgãos, enfraquecendo-a e desacelerando-a.

Subitamente, a criatura sentiu suas pernas falharem e seu corpo ceder.

Sua cabeça atingiu o chão com força, já que suas patas que deveriam sustentá-la foram cortadas por Feng Ping.

Tudo acontecera muito rápido, tanto que havia perdido de vista seus inimigos.

Porém sabia que seu fim estava próximo.

— Mestre Ping, ajude-me com a cabeça! — gritou Lily no meio de um ataque ao pescoço.

— Entendido!

Ambos partiram para o golpe final e acabar com aquela coisa antes que fossem enterrados sob a montanha.

Contudo a criatura em seu ato final abriu a boca mirando o teto e disparou uma poderosa explosão, momentos antes de ter sua cabeça cortada.

 

***

 

No flanco de Clementius, uma batalha difícil estava em andamento.

O Pilar da Proteção pôde ver que Feng Ping e Lily enfrentavam uma criatura parecida com um dragão, enquanto Koeus e Jeanne uma espécie de cobra com duas patas dianteiras.

Ambas eram igualmente grandes e poderosas, um padrão bem como das criaturas de Elgor.

E, como as sombras possuíam qualquer coisa que vissem, era de se esperar que iriam seguir o comportamento do hospedeiro.

Contudo diante de Clementius, Erandi e Klara havia uma criatura humanoide, com duas patas e quatro braços, extremamente musculosa e com dois chifres.

Como toda sombra, seu corpo era escuro e roxo, mas o que chamava atenção era o fato de ser pouco maior que um humano: entre duas e três vezes a altura de uma pessoa, bem diferente das outras com suas dezenas de metros, chegando perto de uma centena.

Aquela era, de longe, a criatura mais forte ali. Sua velocidade, resistência física e poder só não era maior que o de um Pilar.

Normalmente, ela já teria sido derrotada, já que havia três pessoas no nível de um Pilar presentes, mas havia algo nela que causava incomodo, em especial a Erandi e Klara.

Aquela coisa era astuta. Não era sua primeira vez lutando contra oponentes humanos.

— Morra! — Erandi avançou contra ela, brandindo seu grande martelo para esmagá-lo.

Ao invés de desviar do ataque, a criatura enrijeceu seus braços e desferiu dois socos envoltos de uma chama roxa.

O ataque não apenas quebrou o martelo, como atravessou direto e atingiu em cheio Erandi no peito, que foi arremessada para longe levando consigo inúmeras construções.

Antes que a criatura se movesse novamente, Klara se aproximou com seu grande machado para tentar atingi-la.

Porém, ao contrário do que fizera com Erandi, a criatura se afastou do golpe.

Clementius observava tudo atento, pronto para intervir caso fosse necessário.

Era mais do que capaz de matar aquele monstro com suas mãos, mas também devia analisar o desempenho das duas candidatas, e aquela criatura era perfeita para testar como se sairiam.

— Por que ela fugiu de mim, mas atacou Erandi? — Klara perguntou a si mesma em voz alta. “Não me diga que... Ela percebeu que Erandi é temperamental enquanto eu ajo com cuidado?”

Como se fosse para provar sua teoria, Erandi avançou novamente contra a criatura.

Sua armadura estava parcialmente queimada, e o peito, a região atingida, possuía um buraco.

Se esse dano tivesse sido causado por qualquer outra magia, a madeira teria crescido novamente, mas havia Conjuração nas chamas.

— Vou acabar com tua raça! — Dessa vez, segurando um martelo e um escudo em cada mão, Erandi tentou encurralar a criatura.

Suas vinhas cresciam ao redor para deixá-la sem saída.

A criatura, novamente, não recuou.

Uma explosão de chamas roxas queimou todas as raízes que se dirigiam até sua direção, e ainda atingiram Erandi.

Ela, entretanto, não recuou.

— Precisa mais do que isso para me machucar! — Erandi desceu seu martelo com força.

A criatura tentou desviar, mas não era rápida o bastante e foi atingida em cheia, sendo forçada contra o chão.

Algumas construções ao redor desabaram pelo impacto, e uma cratera se formou ao redor dela.

— Ainda tem mais! — Erandi manteve seu martelo imobilizando a criatura, transformou seu escudo em uma espada e se preparou para finalizá-la.

Contudo, para sua surpresa, a criatura reduziu de tamanho — agora possuía cerca de uma vez e meia a altura de uma pessoa — permitindo-a se livrar e escapar.

Sua velocidade era ainda superior, o que a permitiu atingir Erandi novamente com socos.

Erandi recebeu os ataques, mas manteve-se perto da criatura.

— Maldito! — Tentou atacá-la, mas Klara apareceu na sua frente e atacou o oponente, fazendo-a recuar. — O que tá fazendo?

— Olha pra você! Não tem nenhuma madeira para usar de armar agora!

Erandi examinou o próprio corpo e percebera que, de fato, não havia mais armadura. Apesar disso, possuía apenas queimaduras leves e alguns arranhões.

— Não importa, ainda posso...

— Basta. — Um escudo dourado surgiu, isolando Klara e a criatura de Erandi. — Isso está nas mãos dela agora.

— Mas senhor Clementius!

— Nada de mas. — O Pilar disse seriamente, demonstrando que havia se decidido. — Não posso permitir que se machuque mais, minha criança.

Tsc! — Erandi estalou sua língua e mordeu os lábios na tentativa de conter sua irritação.

— Conto com você, candidata.

Klara encarou Clementius. Sua voz gentil e calma, além de sua expressão bondosa lhe deram confiança.

Ao voltar seu olhar para a criatura, segurou seu machado com força e avançou em sua direção.

Devido à barreira, havia pouquíssimo espaço para lutarem, era quase como uma arena.

A criatura, ao notar a aproximação, preencheu todo o local com chamas.

Contudo Klara seguiu sem demonstrar medo.

As chamas tocavam sua armadura, que emitia um brilho lima, e nada lhe acontecia.

Ao notar aquilo, a criatura tentou fugir.

E Klara, ao perceber que seu adversário estava dando suas costas a ela, se encheu de coragem e orgulho.

— Eu sou uma péssima combinação para você, huh?! — Com um sorriso no rosto, se moveu como um raio e desceu seu machado, arrancando com facilidade um braço da criatura.

Aquela era a primeira vez que se sentia tão poderosa. Apesar de seu enorme poder, em Krajna, era um crime imperdoável usar os restos mortais de qualquer humano ou animal como arma, portanto ela nunca pôde usufruir de seu potencial verdadeiro.

Uma vez, quando matou uma certa criatura de gelo, usou seus restos para criar aquele machado. Houve uma grande briga, e muitos de Krajna a viram como uma herege, uma criminosa, porém ela se safou por serem os ossos de um ser de outro mundo.

Agora, como o Conselho lhe ofereceu uma armadura inteira com várias partes — apesar de não possuir ossos de todos os elementos — ela tinha um poder defensivo que só não era comparado ao de Clementius, além de possuir uma larga variedade de ataques mágicos também.

— Morra! — A criatura tentou fugir, mas Klara estendeu sua mão na direção dela.

Raios saíram de sua manopla e atingiram a criatura, imobilizando-a devido à intensidade do poder.

“Essa armadura nem é a melhor que eu posso ter, mesmo assim posso realizar ataques tão fortes!”

Sabia muito bem que o Conselho provavelmente providenciaria ossos das criaturas mais poderosas caso fosse aprovada, e só de se lembrar do incidente de Ymir, ficou se perguntando a quão poderosa seria.

Quem diria que vestir os mortos seria tão incrível?

— Hora da acabar com isso! — Girou seu machado contra a criatura, dividindo-a em dois pela cintura e acabando com a luta em instantes.

As chamas deixaram de queimar, a barreira foi desfeita e Clementius se aproximou com uma expressão orgulhosa.

— Bom trabalho, minha criança. — O Pilar colocou a mão em sua testa. — Foi capaz de usar o potencial total da criatura transformada nessa manopla. Isso só é possível porque és uma escolhida, alguém com 100% do elemento Reanimação!

— Senhor Clementius... — Klara era incapaz de esconder seu sorriso. — Eu... — Porém, ao ver a expressão derrotada de Erandi, sua expressão murchou.

— Algum pro... — Antes que o Pilar pudesse responder, explosões começaram a atingir as paredes e teto do santuário.

— O que é isso? — Klara voltou seu olhar para a fonte daquilo: a criatura que Feng Ping e Lily enfrentavam. — Se isso continuar seremos sote...

Então, uma explosão final atingiu o teto, que começou a desabar.

Clementius agiu rapidamente, colocou seu escudo no chão e puxou as duas candidatas para perto de si.

A barreira poderia proteger elas, Koeus — com sua telecinese — poderia salvar a si mesmo e Jeanne, mas Feng Ping, Lily, e os Vigilantes, não.

Foi então que, do local onde Lily estava, uma grande árvore branca começou a crescer em direção ao teto, além de seus galhos se espalharem por todo o santuário.

Aquela imensa árvore, que fez Klara se lembrar, de certa maneira, de Yggdrasil, começou a servir de sustentação para as paredes e teto do santuário, impedindo o desabamento.

Assim, como se fosse plantada por uma divindade, uma árvore branca pura segurou todo o peso da montanha e abençoou o santuário com sua beleza, além do perfume de suas flores afastar o cheiro de fogo e cinzas.


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