O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 146: A Seita da Sombra Eterna

Koeus se aproximou lentamente da criatura para tentar analisá-la, mas o corpo logo começou a se diluir e evaporar.

— Tsc, esses seres são complicados de se lidar... — O Pilar da Alteração se virou para Clementius, que o seguiu logo depois. — Precisarei de algumas cobaias para estudá-las mais tarde.

— Faremos o possível — respondeu o Pilar da Proteção, que lançou um olhar aos devotos capturados. — Tens um grande trabalho pela frente.

— De fato... — Koeus retornou para onde as candidatas estavam, junto dos vários devotos capturados.

O alvo mais importante, o possível líder, fora capturado tranquilamente, porém era impressionante quantas pessoas Lily fora capaz de aprisionar.

Quarenta e sete, uma grande conquista considerando que era cerca de um terço de todos os devotos naquele lugar.

— Bom trabalho, Lily — parabenizou Koeus. — Fizeste um trabalho excepcional.

— Obrigada, senhor Koeus. — Lily tentou manter sua expressão o mais neutra possível, mas ainda deixou transparecer sua felicidade na voz.

— Quando a você... — O Pilar da Alteração, enquanto encarava Erandi, disse no mesmo tom de quando reprimia um aluno teimoso que se recusava a aprender. — Teria se ferido desnecessariamente se eu não tivesse agido. A menos que faça algo grandioso, está quase garantido que não serás escolhida.

Erandi não respondeu, mas pôde-se ouvir sua língua estalando, e perceber seu rosto se contorcer em frustração.

— Klara, fizeste bem em dar apoio à Erandi, porém tenho expectativas altas quanto a ti. Espero perceber mais sua presença em campo.

— Entendido, senhor Koeus.

O Pilar da Alteração voltou sua atenção ao devoto coberto por seus grãos metálicos, se aproximou e ajoelhou ao lado dele.

Os grãos se afastaram, revelando apenas o rosto.

— Pretende ver minhas memórias? — perguntou ele em tom de deboche. — HÁ! Boa sor...

— Calado... — Koeus cobriu todo o rosto dele com sua grande mão, e começou a vasculhar suas memórias.

Enquanto isso, Clementius se afastou para recolher seu escudo e conversar com os Vigilantes, que lutaram com outros devotos ou criaturas que estavam fora do templo.

— Relatório.

— Senhor Clementius, conquistamos todo o santuário que está desse lado do abismo — explicou um soldado. — Há uma ponte que leva a outro lugar, porém está destruída. Não tivemos nenhuma baixa ou feridos, e capturamos com sucesso cinco criaturas reerguidas.

— Ótimo, envie uma mensagem a Ardos, precisaremos de mais Vigilantes do que imaginávamos. — O Pilar da Proteção olhou para cima, onde nem era capaz de ver o teto devido a altura da “caverna”. — Teremos que ocupar o santuário... É perigoso avançar mais com as buscas com nossos números atuais.

— Entendido! — O soldado se dirigiu até uma construção que haviam escolhido como QG momentâneo.

Ao mesmo tempo, Feng Ping e Jeanne trocavam algumas palavras.

— Continua em forma, na verdade, parece ter melhorado — comentou o Pilar da Água.

— Obrigado, você também evoluiu bastante.

Jeanne o encarou por um longo momento.

— Se passaram vinte anos, e não parece ter envelhecido nem um pouco... diria até mesmo que seu rosto ficou mais jovem. — Sem pedir permissão, nem hesitar, colocou ambas as mãos no rosto de Feng Ping e começou a apertá-lo gentilmente e virá-lo, analisando atentamente.

O Pilar do Vento se surpreendeu, mas permitiu que ela continuasse.

— Era muito estressado antigamente por causa dos anjos. Estava franzindo o tempo todo...

— Se me lembro bem, uma vez me disse que isso me traria rugas.

Jeanne soltou seu rosto e esboçou um pequeno sorriso.

— Sabe, apesar de kimono combinar com você, é um desperdício que um homem com você vista sempre a mesma coisa. — O Pilar da Água começou a andar ao redor de Feng Ping enquanto o olhava de cima a baixo. — Por que não visita Bourrasque um dia? Tenho certeza de que algo de nossa moda lhe agradará.

— Creio que não será possível tão cedo agora que estou de volta à ativa.

— Hmm, entendo. — Jeanne pareceu desapontada. — Mas, se um dia passar por lá, e eu estiver por perto, podemos dar uma volta. — Depois de fazer o convite, se afastou.

 

***

 

Nas profundezas da terra, abaixo até mesmo do santuário dos anjos, havia um grande lago de magma com centenas de criaturas dormindo profundamente lá dentro.

Mais distante dali havia um grande arco de metal negro construído na parede da caverna, longe o suficiente para que estivesse completamente envolto pela absoluta escuridão.

Qualquer um que colocasse seus olhos naquilo, acreditaria que estava fechado já que não era possível ver o outro mundo do qual aquele portal deveria estar conectado.

Porém era possível notar brevemente luzes roxas na distância, mas era impossível, estava tão longe que deveria estar além das paredes da caverna.

Então, essas luzes roxas atravessavam o arco.

O portal estava aberto, era apenas o outro mundo que era coberto na mais profunda, eterna e fria escuridão.

Por esse motivo o portal estava afastado do magma, pois a luz poderia ferir ou matar as sombras sem hospedeiro.

E em meio daquele ambiente extremo, milhares de pessoas, com pele pálida e olhos brancos, reunia um exército.

— Ancalion, o Conselho atacou o santuário que ocupamos. Alguns conseguiram fugir e nos avisar — disse uma mulher.

— O Conselho, huh? — respondeu um belo rapaz de cabelos longos e escuros, e que vestia um manto negro com detalhes em roxo e ametistas. — Envie um grupo até lá e destruam qualquer saída, assim morrerão de fome.

— Certo.

Ancalion caminhou lentamente até o lago, sentou-se na beirada e mergulhou os pés no magma, como se fosse água.

Seus olhos não eram capazes de captar a luz, como a esmagadora maioria daquela Seita.

Ancalion lembrou-se de quando se tornou um devoto. Ainda podia ver, mas Artemis, a Deusa da Sombra Eterna, lhe tirou a visão e lhe entregou, além de mais poder, Alteração para que pudesse enxergar sem a necessidade da luz.

Inicialmente, achou estranho que todos tivessem a visão roubada, mas logo entendeu: humanos são dependentes da luz para ver, mas ele fazia parte de uma Seita cujas criaturas prosperam na escuridão.

Enquanto pensava, uma criatura enorme saiu de dentro do lago: suas asas eram metálicas e grandes com um martelo, o rabo era comprido e afiado, e suas presas e garras eram como espadas.

Ancalion lançou um olhar a ela e sorriu confiantemente.

— Obrigado, Elgor, faremos bom uso de seus bichinhos...

 

***

 

Algumas horas se passaram, dando lugar à noite... Era o que os dispositivos chamados de “relógios” usados pela Vigília diziam, pois era impossível saber exatamente a hora no subterrâneo.

Dentro de uma construção espaçosa, aparentemente uma espécie de estufa cujas plantas estavam já mortas a muito tempo pelo abandono, os Pilares discutiam os próximos passos.

Koeus, após analisar as memórias dos devotos por horas, compartilhou o que descobriu com todos, principalmente Clementius.

— Graças à Koeus e Lily, fomos capazes de mapear os túneis que levam até o portal desta Seita. — O Pilar da Proteção apontou para um mapa que desenhara. — Infelizmente, está mais fundo ainda...

— Há muitos oponentes na área do portal... — comentou Koeus. — Todos eles são cegos, mas podem usar Alteração. Devemos assegurar primeiro o santuário para, depois, fechar o portal.

— De fato, os reforços já estão a caminho. Por hora, passaremos a noite aqui — disse Clementius.

— Também necessito descansar, usei muita magia analisando as memórias deles. — Koeus se levantou e começou a deixar a sala. — Lily fez um trabalho demasiado bom.

Depois disso, os Pilares se separaram e cada um usou uma casa para passar a noite.

Enquanto o Conselho se retirou para descansar, Lily decidiu caminhar um pouco pelo santuário antes de deitar-se.

Havia algo encantador sobre aquele lugar. Apesar de chamarem de santuário, que era o termo usado para descrever qualquer construção dos Anjos, a palavra mais apropriada deveria ser “reino” pelo seu tamanho.

Lily chegou a uma espécie de praça com uma grande fonte no meio. Como todo o resto daquele lugar era monótono, decidiu se sentar perto para observar e escutar a água correndo.

Deixou escapar um suspiro. Fora um dia longo, e esteve dando o seu melhor para atender as expectativas do Conselho.

Retirou o broche que estava preso em sua armadura e o encarou. Aquilo sempre a ajudava a se acalmar ao se lembrar de sua casa, uma vila minúscula do outro lado do mar de El Dorado, relativamente próximo do Éden.

— Então você também tem um... — A voz de Klara despertou Lily de seus devaneios.

— Também?

Klara alcançou usando as mãos um tipo de bolsa pequena no seu cinto e retirou um broche, com o design basicamente igual ao de Lily, exceto pelo formato da pedra.

— Então você também tem descendência de Anjos... — Lily a encarou por um momento, quando se moveu um pouco pra beirada e deu um tapinha no espaço logo ao lado dela.

Klara a encarou por um momento e não pôde deixar de achar a maneira como ela se comportava, combinado com sua aparência, um tanto quanto fofa.

— Sabe, você é bem forte e inteligente. — Klara se sentou ao seu lado. — Me surpreendi quando vi tantos devotos capturados, e nem te notei na batalha. Consegue usar a mesma técnica de Feng Ping, de esconder suas intenções, certo?

— Ah, sim... — Lily pareceu ter ficado tímida quando ouviu aquilo.

— Como aprendeu isso? Não foi pelo Pilar do Vento, né? — Klara, apesar disso, estava curiosa e tinha um olhar de admiração.

— Eu... aprendi sozinha...

— Entendo... De onde você vem? Sou de Krajna, ao pé da Árvore do Mundo.

— Sou de uma vila pequena, nem nome ela tem... — Lily não pôde evitar olhar para o broche de Klara, afinal, além do que possuía, só viu um daqueles. — Posso ver o seu? — Ela ofereceu o próprio.

— Claro. — As duas trocaram os broches e os olharam de perto.

— Então você também tem um... — Ambas se surpreenderam ao notar Erandi se aproximando com um olhar de repreensão. — Esperava mais de você... Como podem usar algo que pertenceu àqueles que tentaram nos exterminar?

— Talvez você veja dessa maneira, mas para mim é algo que me lembra de minha família... — Lily manteve sua postura.

— Você pensa do mesmo jeito? — Erandi encarou Klara, com um semblante irritado.

— Bem, eu... — Klara estava insegura de como responder. Não queria que Erandi a odiasse por causa daquilo, afinal, ambas se apoiaram na batalha mais cedo. — Minha mãe me entregou isso, então...

Ao notar o que ela realmente queria dizer, Erandi se virou e se afastou a passos pesados.

— Não se preocupe muito com isso, ela não tem a mesma experiencia como nós sobre isso — disse Lily. — Eu nasci no fim da guerra, então não sofri tanto por causa dos Anjos, mas a família dela...

— Entendo... — Klara a observou se afastar e, embora insegura, se levantou. — Vou falar com ela.

Dito isso, foi atrás de Erandi na tentativa de conseguir conversar melhor com ela.


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