Volume 3
Capítulo 141: Brutalidade
Aegreon lutava contra Sonya e Jasna ao mesmo tempo, quando ambas subitamente entraram em frenesi completo.
Seus gritos perturbados superaram qualquer outro som da batalha e ecoaram pela floresta.
As bruxas se viraram para onde Luna estava com olhos completamente insanos, ignoraram o Pilar e tentaram ir atrás da princesa.
Para impedir isso, Aegreon incendiou a área ao redor — criando um círculo de fogo — e se colocou no caminho delas.
Apesar disso, elas não pareciam se importar com ele ou o fogo. Suas expressões enlouquecidas mostravam que estavam mais do que dispostas a se jogarem nas chamas.
Ao ver aquilo, Aegreon decidiu não poupar esforços para proteger Luna e matá-las.
— Não vão passar... — declarou com uma voz ameaçadora enquanto bufava.
Seu corpo foi envolvido pelas próprias chamas roxas que começaram a consumir sua carne, causando uma dor terrível e insuportável que faria muitos desejarem pela morte.
Contudo o Pilar da Conjuração não era alguém comum, estava mais do que acostumado com aquela dor inimaginável.
Movendo-se como um raio, lançou uma labareda contra Sonya e golpeou Jasna com sua foice.
Os ataques atingiram ambas em cheio, com as chamas começando a derreter a carne e a foice flamejante perfurando o torso das bruxas.
Aqueles ataques pareceram ter despertado ambas de sua fúria colérica, que tiveram seus instintos de protegerem umas às outras ativados.
— NÃO OUSE FERIR MINHA IRMÃ! VOU TE ESTRAÇALHAR! — Ambas gritaram ao mesmo tempo. O Pilar não soube se era pelo vínculo que possuíam, ou se era a telepatia compartilhando os sentimentos delas.
— Hm... — Aegreon bufou de dor conforme as chamas chegavam cada vez mais fundo em sua carne.
O Pilar avançou contra as duas. Sonya tomou a frente e tentou afastá-lo com um empurrão telecinético, mas isso nem mesmo foi capaz de desacelerá-lo, era como se toda a dor auto-inflingida aumentasse sua raiva e sua força.
Em um piscar de olhos, sua foice se moveu novamente e errou por muito pouco a bruxa, causando, ainda assim, um corte profundo e uma queimadura borbulhante.
Jasna não permaneceu parada e surgiu atrás dele. Sua palma carregava uma explosão roxa e o atingiu em cheio pelas costas.
Aegreon foi arremessado, e Jasna continuou com seu ataque, esperando que ele não se recuperaria a tempo para se proteger.
Entretanto o Pilar se colocou em pé e lançou um chute rápido, que a fez voar e pulverizar uma pedra com o impacto de seu corpo.
— MALDITO! VOU TE MATAR! VOU MATAR VOCÊ E AQUELA GAROTINHA! — Sonya vociferou e se preparou para uma investida, quando, atrás dela, algo caiu do céu e causou uma explosão roxa.
A bruxa soltou um grito de dor como se tivesse sentido aquele golpe, então olhou para a origem da explosão com olhos preocupados.
— Irmã... — No meio de sua frase, Aegreon apareceu do seu lado e atacou com sua foice mirando o pescoço.
Jasna apareceu a tempo, se jogou na frente do golpe e o parou com os braços, com a lâmina decepando seu braço direito, parte do esquerdo e ainda atravessando até a metade seu corpo.
— NÃO TOQUE NELA! — O rosto de Jasna estava completamente contorcido, não de dor, mas raiva.
Aegreon usou de sua força monstruosa para forçar a foice através do corpo da bruxa e cortá-la ao meio. Ao mesmo tempo, agarrou Sonya pelo pescoço e começou a queimá-la.
Palavras roxas surgiram na pele de Jasna e se espalharam pelo corpo do Pilar, enfraquecendo assim sua magia e suas chamas.
Apesar disso, Aegreon não recuou. Sua magia poderia estar enfraquecendo pela Selagem, mas bastaria quebrar o pescoço de Sonya.
— Ir...mã... — Sonya sussurrou conforme era estrangulada e sua consciência vacilava.
— SOLTA ELA! — Jasna tentou proteger sua irmã, mas, assim como ela, o Pilar estava com sangue nos olhos.
Ter ameaçado Luna foi o pior erro que podiam ter cometido.
Com força descomunal, Aegreon quebrou o pescoço da bruxa em suas mãos com um barulho audível.
— NÃÃÃO! — Jasna soltou um grito desesperado digno de pena, ao mesmo tempo que lágrimas escapavam pelos seus olhos.
A voz cheia de tristeza e o choro da bruxa teriam feito algumas pessoas — até mesmo Luna — hesitarem antes de a finalizarem, sua dor de ver a própria irmã morrer diante de si era genuína e humana.
Porém Aegreon não a perdoaria, não alguém que causou tanto sofrimento e ameaçou matar Luna.
O Pilar soltou Sonya — que caiu morta no chão — então agarrou Jasna pela cabeça.
Com uma brutalidade de um animal enraivecido, bateu a cabeça da bruxa contra o chão, afundando o solo e abrindo uma grande cratera.
Enquanto fazia isso, as chamas em seu corpo recuperaram força e se tornaram mais escuras.
Sua respiração estava acelerada e bufava o tempo todo como um urso.
Seus olhos não enxergavam nada além da bruxa em suas mãos. Estavam arregalados de fúria e ódio, e não descansariam até ver o cérebro dela espalhado pelo chão.
O primeiro golpe não foi capaz de matá-la, mas a deixou desnorteada e com a cabeça já aberta.
Enquanto soltava um rosnado feroz, golpeou a cabeça de Jasna no chão múltiplas vezes.
Já na terceira vez foi o suficiente para finalizá-la, porém não foi capaz de perceber isso e continuou até que não houvesse nada que sua mão pudesse segurar.
Assim que, por fim, percebeu que estava morta, permaneceu ajoelhado enquanto rosnava como um animal e as chamas o queimava.
O chão estaria cheio de sangue e pedaços de cérebro espalhado se seu fogo não houvesse vaporizado tudo, deixando apenas o corpo carbonizado da bruxa.
Sua mente estava entorpecida devido à dor causada pelas chamas, portanto ainda estava mais que pronto para lutar.
Tanto que, quando sentiu algo tocar seu ombro, se virou rapidamente e atacou com a foice o inimigo.
Seu golpe quase atingiu o alvo, mas ele se abaixou com reflexos surpreendentes.
O Pilar preparou um soco, mas duas mãos seguraram seu rosto com firmeza e gentileza, e uma voz o despertou de seu transe de batalha.
— Aegreon, pare! Sou eu, Luna!
Ao ouvir aquela voz, o Pilar finalmente voltou a enxergar o que estava diante de si.
Apesar das chamas que feria até mesmo Aegreon, a princesa segurava seu rosto com gentileza enquanto era queimada profundamente, contorcendo o rosto pela dor, mas suportando-a.
— Luna... — Aegreon sussurrou. — Me solte! Está se queimando!
— Você precisa parar esse fogo!
— Nesse ponto eu preciso cortar fora as partes que estão queimando... — O Pilar segurou sua foice com firmeza e se preparou para cortar vários pedaços de sua carne que queimavam, mas Luna segurou sua mão e o parou.
— Seu corpo inteiro está pegando fogo! Tem que ter outro jeito!
— NÃO! SE AFASTE! — Aegreon tentou empurrá-la para que não se ferisse ainda mais por sua causa, mas aquela garota agora tinha uma força física comparável à dele.
Então o Pilar sentiu uma outra mão tocar seu ombro por trás, e suas chamas começaram a diminuir.
Ao virar o rosto, percebeu Sariel com o corpo ferido pelas chamas da Conjuração, além de seus braços estarem cobertos com palavras prateadas que se espalhavam no seu corpo.
— Você...
— Não precisa agradecer. — O viajante sorriu, mas seu tom de voz indicava preocupação.
Conforme o poder de Aegreon era selado, suas chamas eram apagadas, até que, finalmente, seu corpo parou de queimar.
Apesar disso, a dor permaneceria.
— Por que você tem que ser tão imprudente? — Luna perguntou preocupada. Seus olhos mostravam pena, e parecia próxima das lágrimas.
Sem dizer nada, Sariel começou a curá-lo, e a princesa fez o mesmo.
— Você deveria se curar primeiro — sugeriu o viajante. — Está bem ferida.
— A pouca magia que você recuperou acabou gastando nessa luta, não vou deixar você fazer todo o trabalho sozinho de novo... — Luna encarou os dois em silêncio por um momento. — Vocês dois fazem coisas tão descuidadas.
— Olha quem fala, que ideia foi essa de se congelar no meio de uma Seita com um portal aberto? — rebateu Sariel que, apesar do que dissera, não foi em tom de repreendimento.
A princesa sorriu em silêncio, percebendo que também havia feito coisas imprudentes.
Durante esse tempo, Shiina, Raymond e Andrik se aproximaram.
— As bruxas? — perguntou Aegreon.
— Nós matamos — disse Raymond. — Quer dizer, Sariel matou uma com aquele ataque aéreo de Conjuração, aquele escudo de ossos dela era um problema. Eu e Shiina lidamos com a última.
— Eu esperava que seriam capazes de lidar com as duas, não esperava que seria tão difícil para vocês — provocou Sariel.
— Disse o Volátil... — Shiina rebateu. — Da próxima vez quero ver matar um inimigo de Reanimação sem usar sua Conjuração.
— Quer fazer uma aposta?
Ao ouvir aquilo, a assassina se lembrou da última aposta que fez.
— Para vocês roubarem de novo? Nem morta!
A atmosfera se tornou mais leve com essa conversa, apesar do lugar ainda ser ameaçador.
— Bem, o problema da Seita foi resolvido, mas a floresta vai levar um bom tempo para se recuperar — disse Andrik enquanto observava o pântano com árvores retorcidas.
Nesse momento, Leshy se aproximou com outros como ele o acompanhando.
— Ah, verdade, vocês nunca nos contaram que Leshy era mais de um. — Sariel encarou o capitão como se o jugasse.
— Peço perdão por isso, mas sim, Leshy é o nome do povo, chamamos todos da mesma maneira.
Ao observar aquela figura, e comparando com os outros, o viajante percebeu que o Leshy que ele conhecia era bem mais velho, e sua simpatia o tornava adorável.
— Mas te chamar pelo mesmo nome é complicado... Posso te chamar de vovô? — perguntou Sariel, recebendo um sorriso e um balanço de cabeça como resposta.
— A área afetada foi muito grande, vamos ajudar vocês para curar a floresta. — Andrik ofereceu sua ajuda, e o “vovô” se aproximou e chacoalhou suas mãos como agradecimento.
Depois disso, vovô encarou o viajante e os outros, como se quisesse dizer algo.
— O que foi? — perguntou Sariel curioso com o comportamento dele.
Ele se aproximou e o pegou pela mão, puxando-o como se quisesse levá-lo a algum lugar.
— Ah, querem levar eles para aquele lugar... — Branko comentou enquanto se aproximava.
— Bem, se Leshy deseja isso, não vejo problemas — comentou Andrik. — Vamos?
O grupo ficou curioso com aquilo, portanto decidiram acompanhá-lo.
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