O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 139: Resgate

Mesmo sentindo-se assustadas devido às criaturas ao redor, as cinco jovens irmãs seguiram a bruxa até dentro de sua casa.

Ao contrário do que esperavam, o interior era bem-organizado, com várias plantas estranhas e retorcidas crescendo — porém podadas —, pedras mágicas, em sua maioria de Conjuração, e pequenos animais desconhecidos deitados confortavelmente em vários pontos.

Apesar disso, a atmosfera era um tanto quanto bizarra. Claro, os animais não pareciam se importar com a presença das garotas, mas suas aparências, a pouca luminosidade, e a cor predominante preta das madeiras e móveis tornava o lugar um pouco ameaçador.

— Muito bem queridinhas, gostam de chá mais forte ou fraco? — A bruxa se aproximou de algumas plantas com aparência perigosa.

— Pode ser fraco, tia! — Radica era a única que parecia confiar na bruxa.

— Prefiro... forte... — Devana sussurrou.

As outras permaneceram em silêncio e olhavam ao redor o tempo todo.

— Não precisam ficar envergonhadas, são minhas visitas, afinal. — A bruxa encarou as três, depois coletou mais algumas plantas. — Vou fazer um de cada então, podem escolher depois.

Em seguida, ela se aproximou de dois caldeirões pequenos, colocou água neles, adicionou as folhas — separando-as pela potência do sabor — e colocou no fogo.

— Ei, Jasna! Não vou beber aquilo nem fudendo! — Mokosh se aproximou da irmã e sussurrou.

— Deveríamos sair daqui! — Sonya fez o mesmo.

— Eu sei! Mas aquelas coisas lá fora não vão deixar. Quando encontrarmos uma oportunidade, vamos correr.

A bruxa se virou para as irmãs, se aproximou de uma mesa e se sentou.

— Vamos queridinhas, sentem-se. — Ela exibiu um sorriso amarelo e com dentes tortos.

Radica e Devana se sentaram sem hesitar, enquanto as outras três se entreolharam e, então, fizeram o mesmo.

— O que fazem aqui, queridas?

— Ah, viemos ver Leshy! — Radica disse como se conversasse com um amigo.

Ao ouvir aquilo, Mokosh a chutou fraco por debaixo da mesa.

— Aí!

— Foi mal, foi sem querer. — A terceira irmã a encarou, deixando bem claro que estava mentindo.

— Ah, Leshy! São amigas daqueles jovens que vieram na floresta ontem? — A bruxa pareceu não perceber aquele gesto.

— Ah, sim, você conhece eles? — Radica se animou.

— Sim, sim, fui eu quem guiou eles ao Leshy.

— Sério? Pode levar a gente tam- Aí! — Mais uma vez, ela foi chutada por Mokosh.

— Ora, claro! Ah, o chá. — A bruxa se levantou e caminhou até os caldeirões.

Depois de perceber que já estava bom o suficiente, colocou a água em vários copos e levou até as irmãs.

— Obrigada, er... senhora. — Radica aceitou o chá, e se lembrou que não havia perguntado o nome de sua anfitriã.

— Irmã, por que não diz a ela como chegamos aqui? — sugeriu Sonya em uma tentativa de impedir que Radica bebesse aquele chá suspeito.

— Ah, é verdade! — Felizmente, a distração funcionou e ela começou a narrar como chegaram lá.

As outras seguravam os copos em suas mãos, mas não bebiam, e olhavam o tempo todo para Radica.

Conforme o tempo foi passando, as irmãs começaram a se sentir cada vez mais nervosas à medida que a história chegava perto do momento atual.

— Ah, parece que você já bebeu tudo. — A bruxa encarou Devana e sorriu.

Todas encararam a terceira irmã com preocupação estampado em seus rostos.

No fim, se concentraram tanto em Radica que se esqueceram dela.

— Sim... Obrigado... — Devana ofereceu o copo de volta.

Apesar de tudo, ela parecia bem.

A bruxa pegou o copo e se afastou para enchê-lo novamente.

— Devana, por que você bebeu aquilo? — Radica sussurrou.

— Olha quem fala! Você quase bebeu aquela merda!

— Quê? Claro que não, eu estava fingindo!

— Então por que pediu praquela velha levar a gente conhecer Leshy?

— Se a gente se afastar dessa casa, podemos fugir!

— Era por isso? Puta merda, foi mal pelos chutes, vacilei.

Enquanto as cinco discutiam, a bruxa retornou.

— O que estão conversando, queridas?

— Ah... Na-Nada! — Radica tentou acobertá-las.

— Entendo... — A bruxa sentou-se novamente na mesa e colocou em cima dela mais um copo de chá, além de algumas pedras roxas.

— O que são essas pedras, se-senhora? — Sonya encarou o brilho hipnotizante delas, mas algo dentro dela dizia para não as tocar.

A bruxa, contudo, encarou Devana com curiosidade.

— Menina, sei que há algo dentro de você... — Ela disse de maneira enigmática. — Consegue sentir o chamado?

A irmã do meio encarava as pedras fixamente e sem piscar os olhos, como se estivesse em uma espécie de transe.

A bruxa sorriu ao perceber aquilo.

— Vamos, pegue a pedra... — Sua voz soou irresistível a todas, mas surtiu muito mais efeito em Devana, como se o propósito de sua vida fosse aquele pequeno objeto diante de si.

Sua mão se aproximou devagar da pedra, e suas irmãs observavam, quando Jasna segurou seu braço.

— Me deixa... tocar...

— Irmã, isso pode ser perigoso! — Apesar de ser a primeira a se colocar em problemas, ela ainda era a irmã mais velha e sempre era mais responsável com suas irmãs do que consigo mesma.

— Não se preocupem, queridas. Lembram-se dos seus amigos? Se tocarem a pedra, Leshy vai encontrá-las. — Mais uma vez, a voz da bruxa pareceu fazer todo o sentido do mundo.

“É claro! Pegue-as! Por que você não iria querer fazer isso?” Era algo que se repetia em suas mentes.

Era como se algo dentro delas as fizesse, loucamente, desejar tocar a pedra.

Aquele era o mesmo sentimento que tiveram quando se aproximavam daquele lugar.

E agora que estavam tão próximas daquilo que as atraía, era impossível resistir a esse impulso.

As mãos de cada uma se moveram sem que percebessem e se aproximaram das pedras.

Sempre estiveram unidas, até mesmo compartilharam o mesmo útero.

Nasceram juntas, brincavam juntas, sofriam juntas.

E, como sempre fizeram, tocaram aquelas pedras juntas.

No momento que suas mãos encostaram nelas, todas sentiram toda a realidade ao redor ruir.

Não havia matéria, não havia seus próprios corpos, tudo era feito de uma energia roxa indescritível.

Nada era exato naquele lugar.

A única constante, era a mudança, a transformação.

Não havia ordem... apenas caos.

— Hahahaha! Parece que tenho visitas... — Uma voz poderosa ecoou como se viesse de todos os lados, uma voz feminina, a voz... de Baba Yaga.

 

***

 

As cinco bruxas ainda estavam reunidas ao redor de Luna, porém, após dois dias, finalmente haviam lascado o gelo o suficiente para que partes de seu corpo fossem expostas, incluindo sua cabeça.

A princesa estava acordada, observando-as impotente conforme se aproximavam cada vez mais dela.

Assim que despertou, tentou usar magia para se defender, mas a bruxa Sonya havia selado sua magia.

Apesar da situação, ela e Sariel haviam conversado, então estava tranquila.

Luna tentou conversar com as bruxas para arrancar informações delas, porém sem muito sucesso.

Por isso, atualmente estava calada e meditando com os olhos fechados.

— Eiii... Garotinha... — Jasna se aproximou da princesa e, usando suas mãos sujas e com unhas enormes, apertou suas bochechas de maneira bruta e a forçou a encará-la. — É falta de educação ignorar...

Luna encarou aqueles olhos roxos sem demonstrar medo, e não disse nada.

— Oh? Corajosa heinnn... — Porém, a bruxa não se irritou, na verdade, pareceu até gostar de sua atitude. — Adoro esses olhos... São tão bonitos. Olhos de anjinho...

— Ei! Já falei, caralho! Os olhos são meus! — Mokosh se aproximou de ambas.

— Queeeê... Pelo menos me deixa comer um....

Tsc! Tá bom, porra... Mas só dessa vez!

— Ebaaa. — Jasna abraçou sua irmã, que claramente não estava apreciando muito. — Te amo, irmã!

— Tá bom! Tá bom! Também te amo. Agora me solta!

Luna apenas as observava silenciosamente.

As bruxas continuaram a lascar o bloco, enquanto mais criaturas surgiam do portal, e os outros devotos focavam nas próprias atividades.

A princesa não demonstrava nenhuma emoção, mas, no interior, estava cada vez mais ansiosa conforme esperava por algo.

As horas se passaram, e o sol eventualmente alcançou seu zênite.

Foi então que, subitamente, várias raízes avançaram contra os devotos e inúmeras magias atingiram a Seita.

Algumas raízes envolveram Luna e forçaram as bruxas a se afastarem, e logo a princesa percebeu seus companheiros, além dos soldados de Jawia.

Graças ao fator surpresa, foram capazes de alcançar a princesa e danificar o portal, mas não o suficiente para fechá-lo.

— Não deixem recuperarem o Anjo! — Sonya começou a disparar ordens. — Mokosh, proteja o portal! Matem-nos.

Jasna apontou a mão para Luna e tentou puxá-la, mas um escudo dourado surgiu ao redor da princesa.

Cada um do grupo avançou contra uma irmã diferente, exceto por Sariel que correu direto até a princesa.

— Luna! — O viajante basicamente se jogou em cima do bloco, e seu rosto demonstrava uma aflição que a princesa apenas vira uma vez antes. — Você está bem? Consegue sair daí?

— Estou bem, mas selaram minha magia. Não consigo sair.

— Espera um segundo, vou resolver isso. — Os olhos do viajante, que estavam verdes, trocaram para uma cor prata, e ele a tocou no rosto.

Palavras prateadas surgiram ao redor do corpo de Luna, além de algumas cuja cor era roxa.

— Ufa... Elas não sabiam que seu poder já estava parcialmente selado... Vou poder usar meu selo original para quebrar o resto.

Então, as palavras prateadas começaram a atacar as de cor roxa, rompendo a ligação e quebrando o selo.

— Tente agora.

Luna se concentrou e, em um piscar de olhos, o gelo se quebrou inteiramente, finalmente libertando-a.

A princesa quase caiu, afinal, esteve imóvel por dias, porém o viajante a segurou momentos antes de atingir o chão.

— Você está bem? — Sariel a encarou nos olhos e tocou seu rosto gentilmente.

— Sim, obrigada por ter me salvado... — Luna esboçou um sorriso puro e tocou o rosto do viajante.

— Graças à Kura... — Sariel a abraçou firme, mas gentilmente.

Apesar da batalha que acontecia neste exato momento, a princesa se esqueceu completamente de tudo e o abraçou calorosamente.

Aquele simples abraço os fez se sentirem ainda mais conectados um com o outro, e ambos desejaram que pudessem permanecer daquela maneira por quanto tempo quisessem.

Porém, contra a vontade dos dois, se afastaram logo para focarem no que importava.

Sariel ofereceu sua mão para Luna e a ajudou a se levantar.

— Consegue lutar?

— Sim, mas e quanto a você? — Ao contrário da princesa, o viajante não estava exatamente totalmente recuperado.

— Consigo lançar minha técnica uma ou duas vezes, conservarei minhas energias até lá.

— Certo, vamos acabar com isso então. — Luna se virou para a direção das bruxas e começou a caminhar.

— Espere. — Contudo Sariel a parou, tirou algo comprido coberto em um pano de suas costas, e ofereceu a ela. — Tome.

A princesa não tinha percebido aquele objeto já que seus olhos enxergavam apenas o rosto do viajante naquele momento.

— Isso é... — Luna pegou e tirou o pano, revelando algo que a deixou sem palavras.

Era uma espada longa, cuja metal possuía uma belíssima cor azul e branca, além de emitir um brilho mágico devido ao poder da lâmina.

O pomo tinha o formato de uma lua crescente, imitando o broche de Luna, e o guarda-mão era como um floco de neve cristalizado, e toda a espada era gelada.

Luna pôde sentir o poder daquela arma no momento que a empunhou, e sua beleza era tamanha que parecia ter sido feita por um escultor, um artista.

— Uau... Ela realmente caiu muito bem em você... — Sariel ficou impressionado ao ver o quão natural a espada combinava com Luna.

— Obrigada... Nunca vi algo tão belo... — A princesa ainda estava sem palavras.

— Claro que já, basta olhar para mim.

Ao ouvir aquilo, Luna deixou escapar uma risada.

— Realmente, tem razão. — A princesa voltou sua atenção novamente para as bruxas. — Bem, vamos ver como ela se saí.

Em simultâneo, ambos dispararam até o portal, que estava rodeado por um escudo roxo de Mokosh.


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