O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 127: A Chegada dos Reforços

Entre as árvores escuras e a água lamacenta, uma vila pequena resistia bravamente à doença.

As casas eram feitas de madeira, telhado triangular e vinhas e musgo crescendo ao redor.

Normalmente haveria várias flores e animais por perto das casas, contudo, devido à corrupção da floresta, as construções estavam mais monocrômicas.

No momento não havia ninguém caminhando do lado de fora, não era seguro sair, principalmente agora.

Em uma dessas humildes residências, em um quarto escuro, uma mulher de cabelos ruivos abraçava com força um garoto de cerca de 8 anos de idade, que tremia e choramingava de medo.

Os sons raivosos semelhante a lobos penetrava as paredes, parecendo estar logo do lado de fora da casa, apesar de estarem, na verdade, um pouco mais distante.

— Mamãe... o papai vai ficar bem? — perguntou a criança entre soluços.

— Não se preocupe, querido — respondeu a mulher acariciando os fios loiros do filho. — Seu pai é um guerreiro forte.

Apesar de estar tentando encorajar seu filho, ela mesma estava apavorada e mal conseguia conter seu próprio corpo de tremer.

Enquanto isso, um pouco distante dali um grupo de guerreiros com armaduras de madeira e ossos lutava contra um grande grupo de Wilkolaks.

Raízes escuras e com aparência podre avançavam como uma onda contra os moradores que fazia o possível para impedir que as casas fossem destruídas por aquele ataque.

Porém era simplesmente uma tarefa beirando o impossível. O vilarejo estava completamente rodeado pela corrupção, e apenas uma parte ínfima das árvores permanecia verde.

— Eles quebraram nossas defesas pelo oeste! Precisamos de auxílio!

— Não podemos deslocar mais ninguém, mal estamos conseguindo resistir aqui!

— Vamos ser massacrados se não fizermos nada!

— Estão indo atrás de nossos curandeiros!

— Não se desesperem! — gritou um homem de cabelos castanhos. — Tentem atrasá-los o máximo possível.

Porém, com as defesas quebradas em um ponto, o caos imediatamente se instaurou e a pouca organização que sobrava desmoronou.

As criaturas esmagavam, devoravam e desmembravam tudo que havia diante de si.

A determinação dos aldeões aos poucos foi se transformando em desespero conforme eram sobrepujados.

“Acabou”, era o que muitos pensavam. Após terem resistido milagrosamente por tanto tempo, finalmente chegou o momento para a vila que tanto lutaram para proteger ser arrebatada pelos Wilkolaks.

Alguns lançavam magias cegamente, outros corriam, enquanto aqueles que perderam todas as esperanças simplesmente se ajoelhavam e observavam a morte e destruição chegando.

Tudo parecia perdido quando, subitamente, poderosas magias de vários elementos atingiram inúmeras das criaturas simultaneamente.

Em um mero segundo a batalha que estava praticamente perdida havia virado completamente, com as criaturas não apenas sendo barradas, mas forçadas a recuarem.

— O quê...? — perguntou o homem de cabelos castanhos como se presenciasse um sonho.

— Boris! Atrás!

Ao se virar, o homem percebeu uma grande garra se aproximando de seu rosto, acertando-o precisamente e tirando-o a visão de um dos olhos.

Boris caiu no chão colocando a mão no rosto, vendo com seu outro olho a criatura se aproximando pronta para finalizá-lo.

Porém uma espada feita de gelo atravessou a criatura e dividiu seu corpo ao meio com facilidade, revelando atrás dela uma bela jovem mulher de cabelos prateados.

— Você está bem? — perguntou ela ajoelhando-se e verificando o ferimento em seu rosto.

— Estou vivo graças a você — respondeu. — Obrigado.

Entretanto ela não se deu por satisfeita e aproximou a mão de seu rosto.

Uma luz dourada surgiu e rapidamente seu olho ferido passou a ver novamente.

— Reúna os feridos e se afastem, vamos lidar com isso — disse ela se levantando e avançando contra o bando de criaturas.

Seguindo-a, outras pessoas — estrangeiros — apareceram e aniquilaram com facilidade os Wilkolaks, sendo auxiliados por soldados de Jawia.

Boris logo reconheceu um de seus amigos comandando e lutando na frente contra as criaturas, com raízes flamejantes surgindo ao seu redor e castigando as criaturas.

Tão rápido quanto apareceram, os soldados de Krajna expulsaram os Wilkolaks, mas Boris sabia que não teria paz por muito tempo.

Após o fim da batalha, os reforços focaram em curar os feridos e juntar os corpos daqueles que caíram.

Boris foi ao encontro do capitão que, ao percebê-lo, também se aproximou.

— Boris, fico feliz em ver que está bem.

— Devo dizer o mesmo, Andrik. Vocês chegaram bem a tempo.

— Eu não diria isso, se tivéssemos chegado mais rápido, poderíamos ter salvado mais vidas... — O capitão olhou com remorso os seus soldados carregando os mortos em combate.

— É sempre muito duro consigo mesmo. Precisa se permitir dar um tapinha nas costas de vez em quando.

Andrik não respondeu aquilo, apenas se limitou a olhar ao redor e calcular os danos causados pelo ataque.

“Você nunca muda...”, pensou Boris consigo mesmo.

Um dos estrangeiros se aproximou do capitão, um homem de cabelos escuros e olhos prateado, que possuía uma expressão e postura semelhante de Andrik.

— Usei minha magia para selar e bloquear um pouco a Conjuração nas árvores de se espalhar, mas estamos cercados, não vai segurar muito.

— Agradeço sua ajuda — disse Andrik. — Boris, este é Louis, um estrangeiro que recebeu um presente de Leshy.

— Mesmo? Não é à toa que Andrik o trouxe aqui — disse Boris. — É um prazer.

— O prazer é meu — respondeu Sariel educadamente.

— Precisamos conversar sobre a situação — disse o capitão. — Consegue reunir os principais guerreiros para discutirmos mais tarde?

— Sim, conte comigo.

 

***

 

Após falar com outros guerreiros, Boris retornou até sua casa.

Assim que abriu a porta, algo pequeno pulou em sua direção como um predador que aguardava pacientemente sua presa.

Abraçando com força aquele ser menor que ele, disse: — Seu pai está bem, Veselin.

— Papai... eu tava com medo... — disse seu filho entre soluços.

Uma mulher apareceu logo em seguida e, assim como seu filho, o abraçou firmemente.

Os três permaneceram assim por um longo tempo, sem trocar palavras e apenas sentindo o conforto do calor um do outro.

Eventualemnte, os três desfizeram o abraço.

— Ainda bem que acabou... Ficamos tão preocupados quando nos disseram que houve muitas mortes... — disse a mulher. — Está ficando tarde, irei preparar um banho para você.

— Está longe de acabar, Misha — respondeu Boris. — Não poderei ficar em casa agora, Andrik vai contar seu plano e nos instruir, voltarei mais tarde.

— Você vai ter que lutar mais, papai? — perguntou Veselin preocupado.

— Por hoje não, filho. — Boris se ajoelhou e bagunçou um pouco o cabelo do filho. — Estamos seguros por enquanto.

Veselin se mostrou relutante, mas acabou permitindo que seu pai partisse.

— Volto em algumas horas. Não esperem por mim, é melhor que durmam.

— Certo.

Após essa breve interação, Boris andou pelos caminhos de terra até uma construção um pouco maior que as outras, onde várias pessoas estavam reunidas dentro esperando por ele.

Assim que entrou, se deparou com uma grande mesa retangular onde dezenas de pessoas estavam sentadas. Alguns eram os aldeões que eram capazes de lutar e usar magia, enquanto o resto eram os soldados e os estrangeiros.

Mais cedo Andrik apresentou brevemente os estrangeiros a ele, mencionando que mataram com facilidade uma criatura poderosa mais cedo.

— Muito bem, todos já estão aqui — disse o capitão. — Sente-se e vamos começar.

Boris se dirigiu até a única cadeira vazia e se sentou.

— Primeiro de tudo, podem nos informar dos acontecimentos recentes mais importantes?

— É um pouco difícil falar de um “acontecimento importante”, ultimamente temos que lidar com essas criaturas o tempo todo — disse um homem de cabelos parcialmente brancos.

— Mas deve ter algo de diferente em cada ataque — insistiu Andrik. — Talvez criaturas mais poderosas tenham aparecido com o tempo, ou o número deles pode ter aumentado.

— Infelizmente nada disso aconteceu — respondeu outro aldeão. — Estivemos bem atentos aos números e ao poder delas, portanto sabemos muito bem que houve pouca mudança entre os ataques.

O capitão soltou um suspiro audível, e sua expressão se tornou levemente irritada.

— Bem, nesse caso, nos conte brevemente sobre cada ataque, começando desde o primeiro dia até o último.

A partir desse momento uma longa conversa se deu início, com os aldeões informando tudo desde o primeiro ataque.

As horas se passaram lentamente, com muitos dos moradores lutando contra o tédio enquanto tentavam encontrar alguma possível anomalia que pudesse ser investigada.

Eventualmente, como passou muito tempo, os outros aldeões — aqueles que não podiam lutar — apareceram com vários pratos de comida, todos vegetarianos.

No fim, mesmo depois de revisarem tudo, não encontraram nada, por isso decidiram terminar a reunião para que enfim todos pudessem descansar.

Boris se aproximou de Stella, aquela que o salvou anteriormente, e disse: — Gostaria de agradecer novamente por ter me salvado, minha família ficaria devastada.

Ela sorriu e respondeu: — Fico feliz que está bem.

— Vocês terão que se dividir e dormir nas nossas casas por enquanto, a minha tem espaço suficiente para duas pessoas.

— Ah, é muito ge...

— Perfeito! Eu e Stella vamos juntas então. — Urash se aproximou de ambos, se aceitando o convite antes mesmo de ter sido feita a ela.

— Certo, me acompanhem então. — Boris se virou e saiu do local, fazendo o mesmo trajeto de volta até sua casa.

Abriu a porta com cuidado para que não fizesse barulho, pois já passara muito a hora em que costumava dormir.

Ao entrar, se surpreendeu ao ver que sua esposa estava sentada em um sofá e com seu filho descansando a cabeça no colo enquanto dormia profundamente.

Misha fez um sinal com o dedo para que fizessem silêncio.

“No fim, ele quis me ver chegar...”, pensou Boris enquanto falhava em conter um sorriso.

— Essa é minha esposa Misha — sussurrou Boris. — Misha, essas são Stella e Urash, vão dormir aqui essa noite.

Misha respondeu com um aceno com a cabeça e disse: — Amanhã poderemos nos apresentar melhor, descansem bem.

Carregando o filho com cuidado, ela caminhou até o quarto dele, retornando depois sozinha.

— Infelizmente não temos nada melhor que os sofás — disse.

— Tudo bem, está fazendo muito em nos deixar aqui — disse Stella. — Obrigada.

Boris e Misha então foram até o próprio quarto enquanto Luna e Shiina permaneceram no mesmo cômodo.

— Se acordar antes de mim, não abra os olhos e finja que está dormindo — disse a assassina.

— Certo.

As duas então se deitaram em dois sofás diferentes e dormiram.


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