O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 126: Balachko

A criatura de 3 cabeças se aproximou a passos lentos e pesados na direção do grupo.

— Fogo, Gelo e Alteração... — disse Branko. — Ele tem uma quantidade absurda de poder mágico...

— Meu escudo não vai ser capaz de resistir um ataque desses... — disse Karel, observando a criatura com um medo contido.

— Se ele lançar um ataque mais concentrado, minha Proteção também não será o suficiente — disse Raymond. — Qual o plano?

Andrik observou a criatura se aproximando, pensando em uma estratégia o mais rápido que conseguia.

— Klaus e Karel, no próximo ataque, criem duas camadas de Proteção, isso deve ser o suficiente — instruiu o capitão. — Vamos nos aproximar e, quando ele atacar, esperamos.

Imediatamente depois dessas ordens, a criatura abriu novamente suas bocas e lançou outra poderosa baforada de fogo e gelo.

Dessa vez seu ataque foi concentrado. Um rastro de magia avançou rapidamente contra os soldados, mal dando tempo para que o escudo fosse criado.

Duas camadas douradas surgiram momentos antes de uma explosão arrebatar ainda mais a área ao redor, ainda destruindo a proteção externa e lascando a interna.

Após a explosão terminar, a criatura observou o grupo por um breve momento e se preparou para lançar outro ataque, dessa vez carregando magia por mais tempo.

— A quantidade de poder dele diminuiu bastante nesse último ataque — disse o batedor. — Se ele lançar mais um desses ataques, creio que se esgotará.

— Mas se continuar desse jeito, aquilo vai acabar destruindo nossas barreiras! — urgiu Karel.

Após presenciarem o poder da criatura, os soldados começaram a se desesperar e pressionar Andrik.

— Capitão, o que vamos fazer?!

— Tem algum plano?

— O senhor já nos salvou de situações semelhantes!

Andrik alternava entre encarar seus soldados e a criatura, buscando qualquer solução que pudesse salvá-los.

— Mantenham a barreira de acordo com o plano — ordenou tentando conter a insegurança que sentia.

Mesmo assim, os soldados não podiam deixar de se sentirem nervosos.

O grupo, contudo, permanecia tão calmo que nem pareciam se dar conta do que estava prestes a acontecer.

— Parece que vamos ter que resolver as coisas aqui... — Aegreon bufou ao mesmo tempo que caminhava para fora da barreira.

— Se espalhem e dividam a atenção das cabeças. — Sariel acompanhou o Pilar, seguidos de Shiina e Luna.

— O que pensam que estão fazendo? Vão morrer desse jeito! — Andrik tentou sair da barreira para impedi-los, mas Raymond o segurou. — Esperem!

Os quatro ignoraram os gritos do capitão e dispararam na direção da criatura, com o viajante e a princesa avançando pela direita, e a assassina e o Pilar pela esquerda.

Andrik imediatamente se surpreendeu e se calou quando os viu desaparecerem de sua frente em um piscar de olhos.

Como avançaram por entre as árvores, apenas o batedor foi capaz de perceber o quão rápidos eram.

O monstro, notando sua aproximação, dividiu seu ataque que antes seria destinado à barreira, com a cabeça da direita — de gelo — atacando Sariel e Luna, e a cabeça da esquerda — de fogo — mirando em Shiina e Aegreon.

Ambas dispararam ao mesmo tempo, causando uma grande explosão que congelou e queimou mais uma parte da floresta.

Apesar daquele poder, os quatro receberam o ataque valentemente, seguindo seu avanço até a criatura.

Surpreso, o monstro tentou preparar outro ataque, mas já era tarde, eles chegaram enquanto ainda preparava sua magia.

Ao mesmo tempo, parte de sua perna direita fora decepada, uma chama escura começou a queimar a mão que segurava a árvore, a cabeça central fora esmagada e um curto profundo surgiu em seu abdômen.

Confusa, as duas cabeças restantes gritaram em desespero, sem saber como reagir a tanta dor causada ao mesmo tempo.

Percebendo que morreria caso não fizesse algo, a criatura acelerou o ataque que estava preparando, usando uma quantidade colossal do próprio poder para finalizá-lo rapidamente.

Antes que os quatro pudessem finalizá-la, a criatura lançou sua magia no chão, bem embaixo de seus pés, esperando que aquilo seria o suficiente para matar todos.

Uma explosão de fogo e gelo varreu tudo em algumas centenas de metros, com a onda de choque atingindo até mesmo os soldados que estavam longe.

Depois da explosão, tudo que sobrou ali perto foi um misto de cinzas e solo congelado.

A criatura saiu gravemente ferida pelo próprio ataque, mal conseguido se pôr de pé.

Foi então que, ainda caída, quatro figuras se erguiam imponentemente.

Todos não apenas haviam sobrevivido, como saíram totalmente ilesos daquela explosão.

A criatura, percebendo isso, tentou preparar outra magia, mas havia se esgotado completamente.

— Ora, foi mais fácil do que eu esperava... — disse a assassina se aproximando lentamente e finalizando a criatura de vez com uma espada de ventos.

— Essa coisa tinha poder, mas nenhuma vantagem do ambiente — disse o viajante. — Para aqueles que não são muito fortes, parece que o melhor método de lidar com isso é usando algumas magias de Proteção e esperar que ele se esgote. Não parece muito inteligente.

— Vocês acham mesmo que isso é uma criação de Baba Yaga? — perguntou a princesa. — Esse tipo de combinação parece mais algo de Nergal.

— Difícil saber o que se passa na cabeça desses Deuses da Escuridão — disse o Pilar.

Enquanto conversavam, Andrik os alcançou acompanhado de seus soldados, e sua expressão era uma mistura de espanto e admiração.

— Quem... diabos são vocês? — perguntou assustado.

— Já dissemos, somos aventureiros — respondeu Raymond. — Já enfrentamos muitas coisas desse tipo antes.

— Entendo... — O capitão pareceu não ter acreditado nisso, porém, por algum motivo, não insistiu mais.

— Isso foi incrível! Acabaram com ele em um piscar de olhos!

— Não sentiram medo?

— Como aprenderam a lutar assim?

Os soldados, todos veteranos, se animaram como jovens vendo um guerreiro em ação pela primeira vez.

O grupo desviou das perguntas comprometedoras e lidaram com eficiência a atenção que ganharam.

Enquanto isso, Andrik ignorou a agitação e se aproximou do cadáver da criatura, examinando-a cuidadosamente com seus olhos e andando ao redor dela.

Após um breve momento, abandonou o monstro morto e decidiu que era hora de continuar sua missão.

— Muito bem, sei que todos estão animados, mas devemos prosseguir. Podemos conversar em paz com os estrangeiros assim que chegarmos na vila Kutno.

Ao ouvir a voz do capitão, todos os soldados imediatamente assumiram sua postura séria e atenta e partiram novamente.

 

***

 

A noite caiu, tornando a floresta — já assustadora — em um cenário de pesadelos.

A névoa havia se tornado levemente mais densa, diminuindo brevemente a temperatura.

O único som produzido era das folhas balançando eventualmente por alguma brisa suave, ou de algum animal gritando de dor ao ser brutalmente morto por alguma criatura, mas isso era mais raro, a maioria deles já deixaram totalmente a área.

No momento todos descansavam em pequenos abrigos de madeira criados por usuários do elemento Natureza.

A maioria se sentava próximo de uma fonte de luz criada por Branko onde terminavam suas refeições, que consistia principalmente em frutas.

Alguns conversavam com o grupo, enquanto outros cuidavam dos cavalos, checavam seus equipamentos ou patrulhavam a área.

O rastreador, no momento, estava ao lado de Luna, que tinha um falcão em um de seus braços.

Enquanto a princesa esperava, Branko colocava uma pequena pedra de Alteração em um bolso em uma das patas da ave.

— Essa é a maneira como normalmente nos comunicamos quando estamos em missões, exceto em casos de emergência que uso telepatia à distância, já que consome muita magia — explicou o rastreador. — Pode soltá-la.

Dada a permissão, Luna ergueu o braço e o falcão levantou voo, sumindo imediatamente no vasto céu noturno.

A princesa então encarou os piercings de ossos em Branko momentaneamente, quando desviou a atenção.

— Algum problema? — perguntou ele notando aquilo.

— Ah, nada, apenas que... A maioria do povo de Krajna fala com os animais, certo? — perguntou Luna que recebeu um aceno afirmativo como resposta. — Então por que usam os restos deles dessa maneira?

— Ah, bem, como temos muitos amigos animais ao longo de nossa vida, costumamos usar uma parte deles como piercings para que, mesmo após partirem, continuem ao nosso lado — explicou Branko ao mesmo tempo que tocava alguns dos ossos em seu rosto. — É uma maneira de nos lembrarmos deles.

— Então é por isso... Que significado... Bonito.

— Ora, não é comum estrangeiros dizerem isso mesmo após ouvir nossa explicação, a maioria acha estranho. — O batedor se surpreendeu, e ficou visivelmente feliz ao ouvir aquilo. — Talvez seja porque também pode entendê-los.

Durante essa conversa, Andrik, um pouco mais afastado dos outros soldados, estava concentrado em algo nas suas mãos, com uma pequena pedra de Alteração iluminando-o.

Sariel, que havia adentrado a floresta para caminhar, retornou e percebeu o capitão, aproximando-se com uma leve curiosidade para saber o que ele fazia.

Logo notou que ele estava desenhando a criatura que mataram mais cedo com um lápis.

O viajante se surpreendeu com as capacidades artísticas de Andrik, visto que era tão semelhante com o objeto estudado que parecia capaz de se tornar vivo a qualquer momento.

Além disso também havia medidas, ângulos diferentes e textos detalhando as habilidades da criatura.

— Você desenha bem... — comentou Sariel. — Pela maneira que detalha a criatura, imagino que não é seu primeiro desenho de um monstro.

— Sim, eu sempre tento fazer desenhos detalhados para servir de guia para os próximos que se encontrem com alguma criatura — disse Andrik.

— E o que mais há neste caderno?

O capitão folheou o livro e parou em um desenho bem similar com as criaturas canídeas de mais cedo, com um grande texto dizendo “Wilkolak”.

— Essa criatura, fui eu quem encontrou pela primeira vez em uma missão. Também dei esse nome a ela. A maneira como agimos antes foi o que planejamos em uma situação quando encontramos um bando deles.

Andrik continuou a mostrar as criaturas desenhadas, não porque queria mostrar seus dons artísticos — muito pelo contrário, sentia raiva daquelas criaturas —, mas por ser informação importante a se compartilhar com os estrangeiros.

Eventualmente, retornou ao desenho da criatura de 3 cabeças, e o viajante percebeu o nome “Balachko” escrito em um canto tímido da folha.

O capitão mostrou quase todos seus desenhos enquanto contava seus encontros com as criaturas e suas habilidades quando, ao chegar ao fim de seu livro, virou uma página com uma pequena garota com cerca de 7 anos, cabelo curto e um doce sorriso no rosto.

Imediatamente Sariel percebeu algo diferente naquele desenho. Diferente das criaturas, que tinham um estilo mais realista, aquele era mais suave e caloroso, demonstrando que Andrik havia colocado seus sentimentos naquela arte.

O capitão travou seu olhar por um momento naquele desenho, sorrindo suavemente e um brilho surgindo em seus olhos.

— Quem seria ela? — perguntou o viajante.

— Minha filha, Katerina — respondeu Andrik calorosamente. — Sempre que saio em missões, faço desenhos dela para me lembrar de que há alguém aguardando meu retorno...

Sariel encarou o capitão brevemente, tocou seu ombro e disse: — Tem sorte que estamos aqui então, pois me certificarei de que poderá retornar a salvo para casa.

Andrik o encarou nos olhos, percebendo a sinceridade contida neles, apesar de haver um resquício longínquo de dor, uma pista de alguém que já passou por muito.

— Obrigado — agradeceu puramente. — Ainda não sei o que diabos estão fazendo aqui, ou quem são... mas posso sentir que são boas pessoas.

O viajante sorriu quase imperceptivelmente, contudo sua expressão logo se tornou séria novamente.


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