O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 125: Graciosidade Letal

Depois de um dia de viagem, o grupo alcançou um ponto onde as árvores começaram a adquirir um aspecto murcho, escuro e com seus galhos retorcidos em direção ao chão, como se estivessem cansadas de permanecerem em pé.

A vegetação tinha um aspecto parecido, com as folhas possuindo uma cor marrom ou cinzenta.

A canção da floresta havia se silenciado completamente. Animais, insetos, nada se ouvia, como se estivessem doentes assim como as árvores.

Uma neblina fina e estranha impregnava o local, reduzindo a temperatura a um ponto onde não era totalmente frio, mas causava um certo desconforto.

Devido uma chuva recente naquela área, a estrada estava totalmente lamacenta, com as poças refletindo a aparência cadavérica da floresta.

— Que bizarro... Parece um cenário de um livro de terror... — disse Luna.

— E essa é a parte mais exterior, mais ao fundo é ainda pior — disse Andrik. — A doença da floresta negra é brutal...

— Para onde estamos indo? — perguntou Aegreon.

— Há um vilarejo que parece ter alguma pista sobre o que iniciou isso tudo — respondeu o capitão. — Eles estão mais ao interior na floresta negra, resistindo com suas últimas forças tentando ajudar a natureza.

O grupo seguiu por mais alguns minutos, quando finalmente deixaram o trecho principal e se afastaram da estrada, adentrando na região adoecida da floresta.

Shiina usava Ilusão para que o grupo todo se deslocasse no mais absoluto silêncio, enquanto permaneciam invisíveis.

Contudo, como estava tudo silencioso, caminhar por entre as árvores sem nenhum som ser produzido ao passarem por alguma folha deixava a jornada ainda mais ameaçadora.

— Acho que prefiro conseguir ouvir nossos próprios passos... — disse Karel com a voz baixa, como se temesse que algo o escutasse.

Todos avançaram em conjunto e rapidamente. Os soldados de Krajna demonstravam toda sua habilidade e sua experiência ao evitar pisar em galhos, tropeçar e fazer sons.

Apesar da atmosfera intimidadora, não havia nenhum indício de que seriam atacados.

Todos estavam relaxando conforme avançavam fundo na floresta, porém isso logo foi quebrado.

Os cavalos começaram a se sentir nervosos, e um grito confirmaria o perigo.

— Nordeste! É um bando de Wilkolaks! — disse Branko. — Estão vindo até nós!

— O que diabos é um Wilkolak? — perguntou Shiina.

— Vocês vão ver...

Sons de inúmeras criaturas correndo pesadamente ecoaram por cada tronco, sendo acompanhados pelas árvores sendo derrubadas.

Ao encarar para a direção indicada pelo rastreador, o grupo se deparou com um grande bando de criaturas de pelos escuros, olhos roxos e longo focinho de um lobo.

Quando viram aquilo, era impossível não os comparar como uma junção de um humano com um lobo. Os dentes pontudos, os sons que produziam, e a maneira como corriam em quatro patas era exatamente igual ao de um canídeo.

Seus corpos eram extremamente fortes e musculosos, e sua altura passava dos dois metros e meio, o que apenas os deixava mais aterrorizantes.

Assim que o contato foi feito com as criaturas, um escudo dourado surgiu ao redor de todos.

— Sabem o que fazer — disse Karel enquanto mantinha sua magia de Proteção. — Evitem destruir a floresta, por favor.

Simultaneamente, de dentro da barreira, os soldados lançaram magias contra as criaturas, abatendo inúmeras antes mesmo de chegarem perto.

Os Wilkolaks que estavam mais avançados se abaixaram e inúmeras raízes negras cresceram da terra, avançando até o grupo ao mesmo tempo que fornecia uma defesa para que as criaturas avançassem.

As raízes atingiram o escudo produzindo um baque seco, causando algumas rachaduras na superfície.

— Maldição, eles são fortes... — disse Karel enquanto tentava manter sua barreira.

Raymond deu um passo adiante e, ao estender sua mão, fez poderosos relâmpagos destruírem as raízes.

Agora que a visão não estava mais bloqueada, todos se surpreenderam ao se virem cercados pelas criaturas.

Todas atacaram ao mesmo tempo, cobrindo totalmente a barreira e tornando impossível ver algo além das Wilkolaks enfurecidos.

Todos tentaram lidar como podiam, mas, quanto mais matavam, mais surgiam, e a barreira se via no seu limite.

O grupo lançava magias, contudo se seguravam já que foram instruídos a não causar algum dano à floresta.

— Não vamos conseguir lidar com isso se não usarmos mais poder — disse Sariel calmamente. — A floresta já está muito afetada, há Conjuração por todo lugar. O trabalho que terão ao reflorestar do zero não será muito diferente.

Andrik, enquanto lançava magias de Água, disse relutantemente: — Tem razão... mas evitem causar muitos estragos.

— Nesse caso... — O viajante, ao receber permissão, imediatamente lançou uma poderosa nevasca contra as criaturas, arrebatando-as junto das árvores.

Ao perceber as árvores sendo arrancadas como mato frágil, o capitão não pôde deixar de suspirar, apesar de ainda se surpreender com aquele poder.

Acompanhando Sariel, o resto do grupo agiu da mesma maneira, aniquilando completamente tudo no caminho e planando o local.

Em pouco tempo, uma grande clareira se formou graças ao poder do grupo e, eventualmente, os Wilkolaks decidiram desistir de sua investida e fugiram.

— Todos fugiram — disse Branko.

— Parece que poderemos seguir nosso caminho em segurança — disse Karel, enquanto desativava seu escudo.

— Ainda não — disse o viajante. — Mantenha o escudo.

— Por quê... — Antes que pudesse terminar sua fala, uma grande baforada de fogo e gelo surgiu do meio da floresta, varrendo completamente as árvores.

O ataque súbito quase os atingiu, mas Raymond agiu rapidamente e criou um escudo que bloqueou o dano.

— O que foi isso?! — perguntou Andrik assustado.

— Algo grande — respondeu Sariel curtamente.

Ao olharem para a origem do ataque, notaram um grande rastro de destruição de algumas dezenas de metros largura e centenas de comprimento, como um enorme fosso.

De longe, uma silhueta alta e musculosa se aproximou lentamente.

Ela tinha cerca de 6 metros de altura, pele morena e segurava em uma de suas mãos uma árvore enegrecida coberta em espinhos e pingando um líquido roxo corrosivo.

O detalhe mais importante era sua cabeça, ou melhor, suas cabeças.

Possuía três cabeças diferentes. Uma delas expirava fogo de suas narinas e boca, enquanto a outra, gelo.

A expressão em seus rostos era quase humana, mas de uma maneira bestial. Os dentes eram todos podres e tortos, as pupilas variavam de acordo com o elemento de cada um: vermelho, azul e castanho, mas a córnea tinha uma coloração amarelada.

Cada cabeça possuía chifres curtos e tortos. O corpo era coberto em uma grossa camada de pelo, e suas unhas eram longas e sujas.

— Maldição... — disse Andrik com uma expressão séria. — O que é essa coisa?

 

***

 

Nas Planícies Vulcânicas, inúmeras criaturas de fogo deixavam um portal criado pela Seita de Elgor.

Seus números demonstravam que o portal estava aberto a algumas semanas, o que era esperado, já que estava localizado em uma região onde ninguém vivia e poucos atravessavam por aquele lugar.

Não muito longe dali uma figura elegante encarava as criaturas.

Os cabelos tinham um comprimento médio — quase o suficiente para alcançar a altura dos ombros — e negros no exterior, mas possuindo um belo tom azul escuro no interior.

Seus olhos eram como ametistas lapidadas, uma cor violeta, delicada e requintada. Devido a uma franja, um dos olhos quase era tampado pelo próprio cabelo, o que a forçava a reajustar a posição dela o tempo todo.

Usava uma maquiagem leve, realçando sua beleza de uma maneira refinada e nobre.

Sua vestimenta era igualmente elegante: usava uma saia escura curta — com um short por baixo — com detalhes azuis e escuros, e um decote revelava muito brevemente seu busto.

Calçava um salto curto escuro, com algumas pedras preciosas decorando-o, e uma meia-calça escura semitransparente exaltava suas belas, compridas e magras pernas, dignas de uma divindade.

Usava duas luvas longas pretas com detalhes azuis que alcançavam até o cotovelo, com alguns anéis de prata e ametista delicados nos dedos.

A única peça que desafiava todo o conjunto era um grande casaco escuro, branco e azul que pendurava nos ombros, sem vesti-lo totalmente e ainda revelando um pouco de seus braços.

— Bem, parece que tenho trabalho a fazer... — disse a si mesma em uma voz madura e elegante.

Dando um grande salto, cruzou os lagos de lava até onde as criaturas se encontravam, caindo graciosamente bem no meio de dezenas delas.

Os devotos imediatamente a perceberam e riram confiantemente.

— HAHA! O Pilar da Água... no lugar mais quente do mundo? Isso vai ser divertido!

Porém ela não se abalou pelo ambiente, criaturas ou os devotos, manteve sua postura confiante com um sorriso suave.

As criaturas avançaram contra ela, enquanto algumas atacaram de longe.

— Hora de colocar uma coleira nesses bichinhos... — O Pilar da Água tirou de dentro de seu casaco um bastão escuro de metal, adornado com pedras de Água e conectado a uma maça por um cabo de aço curto.

Quando os monstros de fogo avançaram, ela balançou o bastão e em um piscar de olhos a corda se estendeu por dezenas de metros, multiplicando em várias vezes seu tamanho original.

A corda era extremamente flexível e era envolto em água, assim como a maça que passou a girar rapidamente, enquanto engolido em uma esfera de água com alguns metros de diâmetro.

Movendo-se com graciosidade como se dançasse, a maça ziguezagueou pelo ar e atingiu inúmeras criaturas em pouco tempo, derrubando-as com um baque audível e deixando grandes buracos em seus corpos.

Devido sua agilidade e precisão, era absolutamente impossível se aproximar dela em um raio de dez metros, tornando-a intocável enquanto balançasse aquela maça.

— Maldição... Acabem com ela! — Os devotos lançaram uma barreira de magias de Fogo contra o Pilar da Água, além de usarem a lava do local para tentar derretê-la completamente.

Entretanto ela estava mais que preparada para isso.

Mesmo naquelas condições extremas foi capaz de criar uma grande esfera de água que avançou contra o fogo dos devotos, não só parando, mas superando seu poder.

— Continuem! Temos a vantagem do ambiente!

— Tem certeza? — O Pilar da Água, em menos de um mero segundo, desapareceu de onde estava e surgiu do lado do devoto.

— O qu... — Antes que pudesse reagir, a corda de água se enrolou em seu pescoço e o decepou.

Os devotos tentaram atacar, contudo a velocidade dela era demasiada alta.

O Pilar da Água ainda tirou de seu casaco outro bastão — segurando na mão livre — e dessa vez na ponta havia inúmeros chicotes.

Fazendo o mínimo de esforço possível, atacou e matou os devotos restantes enquanto mantinha sua pose nobre.

Usando seu chicote, prendeu alguns dos inimigos humanos que seriam interrogados mais tarde.

Restando apenas as criaturas e um portal, fechou-se em uma barreira de água pequena, disparando vários jatos pressurizados que atravessavam a carne dos seres de fogo como papel.

Precisou aguardar alguns segundos enquanto preparava algo, e as criaturas continuavam a sair do portal.

Finalmente, após um minuto, gotas de água começaram a cair do céu, dando início a uma pequena precipitação local.

Cada gota era como uma flecha imparável, atravessando as criaturas e deixando tantos furos quanto um queijo.

Com aquela chuva mortal dando conta de qualquer inimigo restante, o Pilar da Água se viu completamente livre para fazer o que bem entendesse.

— Muito bem... Agora é a vez do portal... — Com um sorriso, retraiu sua maça.

Absorvendo a água ao redor, a maça foi completamente engolida por uma energia azul parcialmente transparente.

Alguns segundos se passaram enquanto a arma brilhava cada vez mais quando, finalmente, o Pilar da Água balançou seu bastão e aquela esfera de energia poderosa voou com violência e graciosidade pelo ar.

Com uma mira impecável, ela atingiu em cheio o anel superior do portal, causando uma explosão de algumas centenas de metros e fechando completamente a conexão com o outro mundo.

Com os devotos ainda presos pelo seu chicote, os puxou para perto e pisou em cima do mais próximo.

— Muito bem... Espero que estejam dispostos a falar... Caso contrário, terão um péssimo dia...

— Nós nunca va... — Antes que pudesse finalizar sua fala, o Pilar da Água o atingiu com um golpe e o desmaiou, repetindo o processo com os outros.

— Não lhes dei permissão para falar...

Com a missão finalizada, sentou-se e aguardou alguns minutos até que alguns soldados da Vigília apareceram.

— Senhorita Jeanne — disse um soldado vestindo sua armadura prateada. — Agradeço a ajuda.

— Bem, era meu trabalho afinal — disse ao mesmo tempo que ajustava sua franja de maneira inconscientemente elegante. — Capturei esses aqui para serem interrogados.

O soldado observou os devotos capitulados — pouco mais de uma dúzia —, sorriu e disse sem jeito: — Apenas um já seria o suficiente, mas obrigado.

Outro soldado tomou a frente — esse vestindo-se da maneira de um dos espiões do setor de inteligência — e, com uma voz distorcida, disse: — Senhorita Jeanne, vim entregar uma mensagem.

O espião ofereceu uma pedra de Alteração, que o Pilar aceitou e imediatamente assimilou a mensagem em sua mente.

— Entendo... Minas Belvuch...


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