O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 3

Capítulo 123: Rumo ao Sul

Algumas horas antes do dia amanhecer, nas Montanhas Prateadas, Yukinoshita Yuu já despertava e começava sua rotina.

Seu cotidiano começava sempre com um banho no ofurô da residência de Feng Ping. Em seguida limpava a neve acumulada nos caminhos e telhados, para depois ferver água e preparar o desjejum para ela e seu mestre.

Agora, mesmo com dois novos moradores, pouco havia mudado, exceto que depois que tomavam o café da manhã tinha de treiná-los um pouco enquanto o Pilar do Vento não retornava.

Após organizar sua muda de roupa, entrou na água quente e permitiu que seu corpo relaxasse com o calor.

Seus longos fios de duas cores flutuaram na água, fazendo parecer que seu cabelo realmente estivesse coberto de neve do começo até a metade, apesar de sua coloração branca e escura ser natural.

Sem demorar muito, lavou-se rapidamente, secou-se e vestiu-se, indo até sua próxima tarefa em limpar a neve.

Para muitos seria uma tarefa longa e cansativa. Felizmente Yuu podia usar magias de Vento e terminar tudo eficientemente.

Enquanto estava concentrada em sua tarefa, seus sentidos captaram alguém se aproximar furtivamente, deixando-a em alerta.

Subitamente, um vulto avançou em sua direção por trás, dando-a pouquíssimo tempo para reagir e bloquear um golpe.

Criando uma lâmina de Vento rapidamente, o som de metal colidindo ecoou, e Yuu encarou a figura “misteriosa” com um leve sorriso.

— Bem-vindo de volta, mestre — disse respeitosamente.

— Seus sentidos estão afiados como sempre — disse Feng Ping calorosamente. — Estou de volta, Yuu.

Os dois se afastaram e o Pilar olhou ao redor.

— Ainda falta um pouco a ser feito aqui... — disse. — Neste caso, vou ajudá-la.

— Obrigada, mestre.

Trabalhando juntos, a tarefa de limpar a neve acumulada foi finalizada ainda antes que o normal.

Depois disso, ambos entraram no castelo.

— Como estão Xiao Lu e Kiyo Aika? — perguntou o Pilar.

— Se acostumaram bem com o local, e aprendem rápido o pouco que ensinei a eles — respondeu a aprendiz.

— E quanto a Suzuki?

— Da mesma maneira de quando Sariel o selou. Nada mudou.

— Não entendo o que ele acha que vai conseguir fazer com ele...

A partir desse momento, a rotina seguiu da mesma maneira. Eventualmente os dois novos pupilos despertaram no horário de sempre — geralmente pouco antes do desjejum — e se surpreenderam quando viram Feng Ping.

— Me-Mestre Ping, bem-vindo de volta — disse Aika acompanhado de uma reverência.

— Bem-vindo — disse Xiao Lu curtamente.

— Ótimo, estão todos aqui. Sentem-se e comam, há muito que preciso falar.

Assim que todos se sentaram, o Pilar começou a contar sobre tudo que acontecera em Yggdrasil.

— Ymir foi selado, e o Conselho está nesse exato momento se preparando para investigar as minas Belvuch — disse Feng Ping. — Portanto não ficarei muito tempo aqui. Por isso é bom que se preparem, pois os treinarei o máximo possível até minha próxima missão.

Ao ouvir aquelas palavras, os dois aprendizes não podiam deixar de se sentirem animados e nervosos.

— Muito bem, assim que acabarem aqui, vamos começar o treinamento.

 

***

 

Antes do sol nascer, os cinco despertaram e se prepararam para tentar conseguir permissão para ir até Acrópolis.

Luna percebeu que o viajante estava ainda mais quieto e distante se comparado com o dia anterior.

Até tentou falar com ele para tentar animá-lo, mas apenas recebeu respostas distantes e curtas.

Vendo-o dessa maneira, era impossível não se lembrar de como ele era quando se encontraram pela primeira vez: despreocupado, brincalhão e seguro.

Era impressionante o quanto havia mudado após alguns meses...

Depois de se prepararem, deixaram a estalagem, caminharam até os limites de Krajna e, como era de se esperar, os guardas não os permitiram passar.

— Sinto muito, mas não podemos permitir que se coloquem em perigo. Ordens de cima.

— Com quem podemos falar a respeito disso? — perguntou Raymond.

— Entendam, sei que têm pressa, porém não há exceções.

— Ontem mesmo uma pessoa chegou de Acrópolis pela estrada que desejamos usar — disse Sariel. — Há sim exceções.

— Ah... isso... — O guarda, ao ouvir aquilo, claramente foi pego desprevenido e não sabia como contornar aquilo. — É um caso especial...

— Nos explique o motivo disso — insistiu o viajante. —  Por acaso estão escondendo algo?

— Bem... Se vocês querem tanto, podem falar com Andrik, o responsável pelas investigações. — Após ser pressionado tanto, o guarda decidiu que seria mais fácil jogar o problema nas mãos de alguém preparado do que correr o risco de deixar algo escapar. — Ele está na árvore no centro de Krajna.

Agora com a informação de onde ir e quem encontrar, o grupo seguiu pelos galhos até uma grossa árvore com várias construções onde várias pessoas transitavam, sendo a maioria guardas ou soldados.

Ao entrarem, encontraram-se em uma espécie de quartel e se dirigiram até um balcão onde havia um homem responsável por atender as pessoas.

— Posso ajudar?

— Gostaríamos de falar com Andrik — disse Sariel. — Os guardas na estrada para Acrópolis nos disseram para vir aqui.

— Ah, capitão Andrik está um pouco ocupado no momento...

— É sobre Klara...

Ao ouvir aquele nome, a atitude do atendente mudou completamente.

— Ce-Certo, esperem um momento, por favor. — O homem se afastou e atravessou uma porta.

— Você parece saber exatamente o que dizer a eles... — comentou Aegreon.

— Fiz algumas investigações ontem de noite — disse o viajante.

Alguns minutos se passaram, e eventualmente o atendente retornou com um homem alto, musculoso, com cabelos ruivos, uma barba curta e bigode da mesma cor.

Os olhos eram verdes e sérios, com uma leve olheira, resultado de noites sem dormir tentando lidar com a doença da floresta.

— Prazer, meu nome é Andrik. Em que posso ajudá-los? — perguntou com uma voz levemente cansada, mas não muito grossa.

— Desejamos ir até Acrópolis, por isso viemos aqui para conseguir permissão para passar — disse Sariel.

Ao ouvir aquilo, o capitão os encarou e coçou a cabeça.

— Sinto muito, mas a floresta está muito perigosa no momento. O que acontece com qualquer pessoa que se aventura por esse caminho é totalmente responsabilidade minha, espero que entendam isso.

— Nós somos aventureiros, já enfrentamos muitos perigos antes — disse Raymond.

— Posso perceber o poder de vocês, mas já carrego o peso de dezenas de vidas perdidas. Além disso, não devem se superestimar, pois não têm ideia do perigo na floresta atualmente.

Andrik se demonstrava irredutível, forçando Sariel a usar sua carta na manga.

— Me encontrei com Leshy ontem de noite — disse. — E ele me entregou uma fruta...

Assim como nas últimas duas vezes, os olhos de Andrik se arregalaram e sua atitude mudou um pouco, assim como o atendente que estava ao seu lado.

— Tem certeza disso? — perguntou com desconfiança e estreitando os olhos.

O viajante balançou a cabeça em concordância.

Apesar de Leshy não ser algo muito conhecido fora de Jawia, o capitão não pôde deixar de desconfiar daquela história.

— Está dizendo que Leshy se aproximou de você, um estrangeiro, aqui em Krajna, que é a segunda maior cidade de Jawia? — perguntou. — Sinto muito, mas isso me parece improvável.

— Ele diz a verdade, eu mesma vi isso acontecendo — disse uma voz feminina atrás.

Quando todos se viraram, perceberam uma jovem mulher logo atrás.

— Klara... É verdade? — perguntou Andrik.

— Sim, pode confiar nele.

O capitão encarou o viajante por um breve momento e ponderou sobre algo.

— Bem, se esse é o caso, permitirei que vocês usem a estrada até Acrópolis, com uma condição — disse. — Vocês terão que nos ajudar a lidar com a doença da floresta.

O grupo se encarou por um breve momento e concordaram entre si em silêncio.

— Feito — disse Sariel.

— Bem, então nos encontramos no portão sul em meia hora — disse Andrik. — Já estávamos nos preparando para ir em uma expedição, portanto não se atrasem. — Então se virou e retornou pela porta que veio.

Depois que o capitão partiu, todos encararam Klara.

— Bem, obrigado — agradeceu o viajante. — Mas por que está aqui?

— Preciso conversar sobre algo com Andrik — respondeu ela de maneira evasiva. — Vocês têm que se preparar, certo? Melhor não demorar.

Sariel a encarou de maneira desconfiada e, agora que estava um pouco mais calmo se comparado com a noite anterior, decidiu fazer algo que deveria ter feito antes.

Com Alteração, chegou o poder dela e percebeu que possuía uma quantidade enorme de magia, sendo comparável a um Pilar.

Não apenas isso, grande parte do seu poder magico era constituído de Reanimação, tanto que nem era possível detectar outros elementos.

“Suspeito... vou aproveitar que Andrik estará conosco e tentar descobrir algo sobre ela...”

Como tudo fora resolvido, o grupo retornou até a pousada, se arrumaram e foram a cavalo até o sul de Krajna, chegando antes mesmo de do comandante e seus soldados.

Havia cerca de 30 deles, e a maioria ou usava equipamentos feitos de ossos, ou usavam armaduras e armas de madeira.

Quando o capitão apareceu, se surpreendeu por ser ele o atrasado.

— Ora, parece é a primeira vez que isso me acontece — disse. — Bom, vamos.

Então o grupo, acompanhados dos soldados de Krajna, partiram pela estrada até Acrópolis.

Enquanto isso acontecia, em outro lugar, outra partida acontecia.

— Não pode ficar pelo menos alguns dias? — perguntou um idoso de cerca de 50 anos e pele morena de maneira levemente triste.

— Você acabou de voltar depois de algumas semanas... — disse logo ao lado uma mulher com cerca da mesma idade.

— Sinto muito, mas é algo realmente importante... — disse Klara melancolicamente. — Não se preocupem, vou voltar em segurança.

— Mas a pouco tempo algo grande aconteceu em Helheim... Dezenas de milhares morreram... — disse a mulher.

— Não se preocupe, mãe. Estarei com pessoas fortes. — Klara segurou as mãos da mãe na tentativa de acalmá-la.

Ambas se entreolharam por um momento, quando sua mãe baixou a cabeça e disse: — Não nos deixe sem notícias, certo?

Klara concordou silenciosamente com a cabeça, e em seguida a deu um grande e apertado abraço.

— Na próxima vez que voltar, fique por mais tempo, certo? — disse seu pai quando ela o abraçou.

— Certo...

Klara estava pronta para partir, quando sua mãe se lembrou de algo e retirou algo de seus bolsos.

Se tratava de um broche prateado com uma pedra brilhando em um tom azul levemente transparente.

— Fique com isso para se lembrar de nós, certo? — disse oferecendo o item.

— Mãe... Tem razão? — pergunto Klara hesitantemente. — Isso não é uma herança da vovó?

— A mãe de minha mãe também entregou a ela quando alcançou sua idade, portanto você merece estar com ele.

Klara encarou o broche por um breve momento, mas eventualmente cedeu e o pegou, com a pedra imediatamente mudando para uma coloração lima.

— Obrigada, mãe — disse. — Vou trazê-lo de volta.

Seu pai encarou de maneira estranha o broche, porém nada disse.

Depois da despedida, Klara se afastou dos pais e se virou para a saída da floresta, deparando-se com um grupo da Vigília.

— Pronta? — perguntou um dos Vigilantes.

— Sim, vamos. — Dito isso, todos deixaram Krajna e se dirigiram até a Árvore do Mundo.

Os pais observaram a filha desaparecer no meio das árvores, sentindo uma dor no coração por ter de se despedir novamente.

— Necalli, eu vi a maneira como você olhou o broche... — disse a esposa. — Sei que os anjos destruíram seu lar, a floresta ao redor de K’ak’, mas para mim, ele é uma lembrança de nossa família...

— Eu entendo, Morana, mas não é algo que posso esquecer facilmente — respondeu ele. — Meu lar, meu povo, minha família... Eu só espero que ela não sofra o mesmo destino...

— Ela é nossa filha, é uma garota forte — respondeu Morana com um leve sorriso melancólico.

Depois disso, os dois retornaram para a própria casa, onde passariam as próximas semanas ansiosos pelo retorno segura da filha.


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