O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 99: Armadilha

Um homem bem idoso sentava-se atrás de um balcão — com uma grande estante de bebidas atrás dele — enquanto anotava os pedidos de seus clientes e lidava com os visitantes que alugavam um quarto em sua taverna.

A anos mantivera aquele negócio, vendo-se várias vezes prestes a falir, mas sua determinação manteve o local aberto, mesmo após a guerra com os anjos e as tensões recentes de Fordurn com a Vigília.

Apesar do nome “Taverna Cervo Manco”, também oferecia serviços de hospedaria.

No momento, devido ao fato da noite começar a cair, o salão começava a lotar com trabalhadores e viajantes.

Devido sua idade, seu trabalho era apenas anotar e repassar os pedidos, enquanto seus filhos — que trabalhavam no local — preparavam e levavam a comida e bebida.

— Três copos de cerveja e um de rum na mesa 4! — disse com sua voz debilitada pela idade.

— Saindo! — respondeu um dos filhos que logo começara a encher os copos com as bebidas.

Apesar de não ser uma das maiores tavernas de Fordurn — longe disso —, era bem movimentada, portanto conhecia muitos de seus fregueses.

Talvez pelo fato de a freguesia ser de longa data, talvez por sua idade avançada e serem consideráveis com ele. De qualquer maneira, poucas brigas ocorriam ali, algo bem raro para tavernas.

É claro, como também oferecia quartos para dormir, era bem comum que pessoas de outros reinos — viajantes — passassem por lá.

E, para provar este ponto, um grupo de três homens totalmente desconhecidos e com roupas diferentes entraram pela porta.

Todos vestiam roupas de viajantes em um tom azul, tinham pele clara e cabelos castanhos ou escuros.

Os três se aproximaram da bancada e falaram com o idoso.

— Boa noite! — disse o homem mais alto com um sotaque carregado característico do reino de Bourrasque. — Gostaríamos de alugar um quarto por uma noite.

— Ah, claro! — disse o idoso. — Seria para os três em um quarto?

— Sim, por favor — disse outro homem.

— Certo, custará 30 moedas de bronze — disse o taverneiro.

O homem mais alto vasculhou os bolsos com as mãos, retirou algumas moedas e entregou ao idoso.

Após conferir o valor, o taverneiro procurou pelas chaves e saiu de trás do balcão.

— Vou guiá-los até o quarto, me acompanhem, por favor.

— Certo, merci!

Caminhando lentamente, o idoso guiou os três visitantes para o andar acima.

Como andava extremamente lento, tentou buscar algum assunto para lidar com o silêncio e a jornada.

— Vocês são de Bourrasque por acaso? — perguntou.

— Sim, estamos de passagem por aqui — respondeu o homem alto. — A princípio pensamos em contornar Fordurn, mas já que as coisas se resolveram decidimos passar por aqui.

— Ah, entendo, faz sentido — disse o taverneiro. — Os negócios ficaram terríveis por causa do anjo... quase pensei mais uma vez que teria que vender esse lugar...

— Mais uma vez?

— Ah sim, tenho essa taverna a anos — respondeu o idoso. — Abri mais ou menos na época que a guerra estava acabando, e quase tive que fechar a loja várias vezes...

— Oh, então deve ter conhecido muita gente diferente aqui...

— Sim, gente de muitos lugares do mundo — confirmou o taverneiro. — Mas nunca vou me esquecer que abriguei o homem que matou a rainha Elise...

Ao dizer aquilo, os três homens demonstraram surpresa.

— Tinha ouvido falar sobre isso, mas nunca imaginaria que seria justo aqui! —disse um deles surpreso.

— Sim... Os guardas apareceram um dia atrás de um estrangeiro que estava a minha taverna e prenderam ele — explicou o idoso. — Ele esteve o tempo todo no quarto dele, pelo menos eu achava... Mas ele deve ter saído escondido pela janela do quarto e matado a rainha...

Após ouvir aquilo, todos permaneceram em silêncio.

Devido o rumo que a conversa tomou, o clima se tornou estranho, e não disseram mais nada até chegarem em seus quartos.

— Aqui está, sintam-se à vontade — disse o taverneiro ao mesmo tempo que entregava a chave para os visitantes.

Merci — agradeceram.

Após isso, o idoso retornou lentamente até o andar térreo e os três entraram no quarto.

No momento que fecharam a porta, começaram a vasculhar o local todo como ninjas a procura de qualquer escuta ou maneira de bisbilhotá-los.

Quando confirmaram que não havia nada, expandiram suas magias e cobriram a sala toda com uma luz rosa.

Em seguida, puseram-se a discutir.

— Aquele homem definitivamente não é o assassino de Elise — disse Shinokage. — Ele não tem elemento Ilusão e, de acordo com o relatório, não foi visto por ninguém. É impossível que ele tenha deixado a taverna ao meio-dia, horário de pico de estabelecimentos como esse, ido até o local onde Elise estava, cometido o crime e retornasse sem ser visto.

— Concordo — disse Lobo. — Mas não há nada que nos leve ao culpado verdadeiro...

— Esse caso é muito estranho, deveríamos tentar investigar o cadáver da rainha — sugeriu Águia.

O Pilar da Ilusão permaneceu em silêncio por um tempo.

— De fato, mas faremos isso de madrugada — disse. — Vamos passar um tempo com as pessoas na taverna, adquirir mais informações e então investigamos Elise.

— Entendido.

Depois disso, os três desceram ao andar térreo da taverna, se alimentaram e socializaram com os outros clientes.

Muitos perguntavam a eles coisas sobre Bourrasque, o que teria sido um problema para muitos, mas todos os espiões da Vigília estudam muito bem cada reino e já os visitaram pelo menos uma vez, justamente para situações como essa onde precisariam fingir ser de outra nação.

Ninguém suspeitou de suas origens e, graças à Ilusão, logo conversavam como se fossem velhos amigos.

Apesar disso, não descobriram nenhuma informação que achassem relevante para a missão.

As horas se passaram rapidamente, dando lugar à tarde.

Os três decidiram caminhar por Fordurn como turistas, já que poderia ser suspeito se permanecessem o dia todo na taverna.

É claro, já estavam lá a algum tempo, portanto conheciam bem as ruas e comércios.

Quando a noite caiu, retornaram à taverna, beberam, comeram e conversaram mais com as pessoas e, por fim, se dirigiram ao quarto para “dormir”.

Após esperar pacientemente para que a taverna se esvaziasse, tornaram-se completamente invisíveis e indetectáveis e partiram até o palácio.

Outro trio de seu grupo já havia invadido o local anteriormente, portanto sabiam muito bem a situação da segurança.

Escalando as muralhas com a agilidade de um felino, logo viram-se no topo e dirigiram-se até o jardim.

Após examinar bem os arredores antes de entrar em meio das flores, esgueiraram sorrateiramente até onde a lápide da rainha Elise estava.

Seus pés se moviam com a suavidade de uma pena e a precisão de um predador aproximando-se de sua presa, evitando pisar nas inúmeras flores.

O mais impressionante era que seu ritmo não diminuiu. Conseguiam pisar nos espaços vazios minúsculos entre cada flor com velocidade e sem precisar olhar para baixo.

Quando chegaram na lápide, o Pilar da Ilusão criou uma área ao redor com uma ilusão, permitindo-os que pudessem fazer o que quisessem sem serem vistos.

— Cavem, rápido — disse Shinokage.

— Entendido.

Os dois Vigilantes retiraram duas pedras de Alteração e apontaram para a lápide.

A terra passou a brilhar em uma cor marrom, igual a pedra nas mãos dos espiões, e um buraco perfeitamente retangular começou a se formar.

Após alguns segundos, a terra baixou o suficiente para verem um túmulo de pedra.

O Pilar da Ilusão encarou ambos os Vigilantes, que balançaram a cabeça em afirmação.

Em seguida, desceu até o túmulo com cuidado e se preparou para abri-lo.

Suas mãos seguraram a pedra e deslizou a tampa do túmulo, revelando dos ombros até a cabeça os ossos de Elise.

Havia alguns itens caros, provavelmente objetos especiais que a rainha era apegada e desejava tê-los consigo em seu túmulo.

Contudo, antes que pudesse abrir mais, um grande feixe de luz branca e ofuscante iluminou toda aquela parte do castelo por um momento, acompanhado de um som alto como um estalo.

No momento que aquilo aconteceu, os três imediatamente abandonaram tudo e se afastaram dali, escondendo-se no telhado do palácio.

Segundos depois, vários guardas apareceram e perceberam o buraco.

Foi apenas uma questão de tempo para mais guardas surgirem, procurarem ao redor e começarem a mover o túmulo de Elise.

— O que foi isso? — perguntou Lobo com sua voz podendo ser escutada apenas pelos seus companheiros. — Uma armadilha? As pedras de Alteração não detectaram nada.

— Sim, algo para alertar os guardas caso alguém tentasse profanar o túmulo de Elise — disse Shinokage conforme escutava bem a conversa de cada guarda e observava-os.

— Mas por quê? — perguntou Águia. — Será que era para evitar que algum ladrão roubasse algo dentro? Ou havia outro motivo? Por que não a enterraram em um local protegido?

— Talvez o jardim tenha sido um local simbólico para a rainha... E havia itens que valeriam a pena roubar e vender, então compreendo essa armadilha... — disse o Pilar da Ilusão. — Mas é estranho... Não consegui ver muito, portanto gostaria de tentar investigar novamente... Porém creio que devemos tentar investigar esse assunto novamente no futuro. Agora estarão muito em alerta.

— Tem razão, devemos ir ao nosso ponto de encontro? Já está quase na hora. — disse Lobo.

— Sim, vamos — disse Shinokage conforme saltava para longe do local, seguido pelos Vigilantes.


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