Volume 2
Capítulo 98: Vigilantes das Sombras
Pessoas seguiam suas vidas normalmente. Os adultos trabalhavam duro para trazer comida para casa, enquanto as crianças brincavam e os jovens já começavam a seguir os caminhos dos pais e aprendiam o ofício deles.
Após meses de tensão e insegurança, o povo de Fordurn finalmente podia viver normalmente.
Contudo, mal esperavam que seus segredos eram escutados constantemente pelas sombras.
Enquanto as pessoas trabalhavam na superfície, tais sombras se esgueiravam nos esgotos de Fordurn, movendo-se tão sorrateiramente que nem mesmo os ratos notavam sua presença, mesmo que passassem a alguns centímetros de distância.
Após caminhar por um momento, Shinokage e um grupo de 11 espiões da Vigília pararam para discutir seus planos.
— Todos parecem ser bem hostis contra o anjo, mas ninguém a viu — disse um deles. — Nem mesmo há relatos de Aegreon, ou o guarda-costas do anjo.
— Ouvi uma conversa de Geoffrey com uma de suas empregadas sobre ela, mas por algum motivo os dois apenas se referiam sobre o anjo com pronomes — disse outro espião. — Devemos sequestrar a empregada e interrogá-la?
— Isso deverá ser decidido pelo Conselho — disse o Pilar da Ilusão com usa voz sussurrante ecoando por todos os lados. — Mas provavelmente recusarão essa ideia, apenas pioraríamos nossa relação com Fordurn se fizéssemos isso.
— Estamos aqui a algumas semanas e ainda não descobrimos nada. Talvez devêssemos investigar sobre a morte de Elise...
— De fato — concordou Shinokage. — Lobo, águia, me acompanhem. Investigaremos sobre Elise. Quanto ao resto, continuem suas investigações.
— Entendido. — Movendo-se no mesmo exato segundo, todos se afastaram em trios, com dois Vigilantes seguindo o Pilar da Ilusão.
***
Correndo como o vento e sorrateiro como as sombras, Shinokage e os dois Vigilantes se dirigiam até ao bosque onde Elise fora assassinada.
Os três permaneciam em silêncio o tempo todo, com seus sentidos atentos o constantemente ao redor.
Após poucos minutos procurando, encontraram a caverna onde a rainha de Fordurn fora assassinada.
Os três se recostaram na entrada, lançando um olhar cauteloso dentro e tentando escutar qualquer som.
Quando confirmaram de que não havia ninguém tanto dentro quanto fora, adentraram.
Durante todo esse tempo estavam invisíveis e seus passos completamente mudos devido à magia de Ilusão, mas Shinokage era extremamente cauteloso.
Movendo-se rápida e cautelosamente, seguiram pela caverna atentos a qualquer pista sobre o crime.
No momento, a única coisa que encontraram foi sangue seco seguindo um rastro fino e finalmente parando fundo em um ponto mais concentrado, provavelmente onde o corpo fora abandonado.
Daquele ponto não havia mais nada a ser explorado, era o final da caverna.
Porém, como espiões sabiam muito bem que poderia haver algo escondido por ali, portanto começaram a vasculhar todo o local.
A princípio acreditavam que poderia ter alguma passagem secreta, contudo não encontraram nada que ativasse um mecanismo ou até mesmo algum orifício para inserirem algo.
Também buscaram por qualquer objeto no chão, escondido atrás de estalagmites e até embaixo de pedras que poderia ter sido derrubado por Elise ou o assassino.
Apesar de investigarem o local minuciosamente, Lobo e Águia — os dois Vigilantes — não encontraram nada.
Shinokage — conforme procurava — acreditava que também não encontraria algo, quando notou na poça de sangue seco um delineado estranho.
Usando as mãos e tentando mover aquela marca, percebeu se tratar de um pedaço de papel rasgado.
Provavelmente o sangue enxarcou a folha, tornando-a quase da mesma cor, por isso ninguém percebeu aquilo.
Analisando com atenção tentou decifrar se havia algo escrito, porém o papel além de velho e manchado, também era muito pequeno, cabendo na palma da mão.
O Pilar da Ilusão encarou bem a folha, quando percebeu algo que chamou sua atenção.
Era absolutamente impossível ler qualquer coisa, mas havia um símbolo, um selo que conhecia muito bem.
O símbolo do Conselho.
Quando percebeu aquilo, Shinokage mediatamente guardou consigo o papel antes que os outros Vigilantes vissem.
— Encontraram algo? — perguntou.
— Negativo — responderam ambos ao mesmo tempo.
— Certo... Vamos para a prisão de Fordurn e tentar interrogar o suspeito que prenderam — disse o Pilar da Ilusão.
— Entendido.
Os três partiram imediatamente, retornando à capital.
Em apenas alguns minutos chegaram até a prisão principal de Fordurn, a mais segura.
Contudo, não era segura o suficiente para Shinokage e a Vigília.
Passando pelos guardas, pulando pelos muros e se esgueirando, entraram com a maior facilidade do mundo.
O lado de dentro não era muito diferente do que outras prisões: paredes de pedras, corredores estreitos e celas de metal com vários prisioneiros juntos.
Como não sabiam exatamente quem era o suspeito, procuraram pela sala onde estaria o arquivo de todos os detentos.
Esgueirando-se invisíveis enquanto passavam a alguns centímetros por guardas em patrulha, chegaram em uma porta de metal.
Quando tentaram abri-la, perceberam que estava trancada.
Shinokage apontou um de seus dedos até a fechadura, revelando um anel com uma pedra de Alteração nele.
A pedra brilhou e o som da fechadura se abrindo ecoou — teria, se não estivessem usando magia de Ilusão e silenciando totalmente o barulho.
O Pilar da Ilusão encarou ambos os agentes, que balançaram a cabaça afirmativamente, e entrou.
O interior possuía vários armários de arquivos enumerados por datas.
Os Vigilantes entraram e logo fecharam a porta.
Lembrando-se bem que a data do assassinato de Elise fora cerca de 20 anos atrás, foram diretamente até o armário correto.
Com uma praticidade incrível e veloz, revistaram o armário, encontraram o documento, leram e partiram, deixando tudo exatamente da mesma maneira antes de entrarem.
Os três se moveram até encontrarem uma escadaria que ia para os andares superiores e inferiores e desceram até o andar mais fundo, a ala de segurança máxima.
Depararam-se com um corredor e alguns guardas sentados, portas de metal reforçadas com pedras de Proteção e, dos dois lados das paredes, perceberam pedras de Alteração.
“Provavelmente vão disparar algum tipo de alarme... A segurança aqui é melhor do que eu esperava...”, pensou o Pilar da Ilusão. “Mas cometeram o mesmo erro que muitos... Deixam o local fortificado, contudo não tomam medidas para proteger os guardas...”
Shinokage encarou os dois Vigilantes, que concordaram silenciosamente com a cabeça.
Em seguida, o Pilar da Ilusão fez sua magia se espalhar por todo o ambiente, como um gás invisível, indolor e perigoso.
Imediatamente, os guardas se sentiram incrivelmente sonolentos, cedendo e adormecendo em apenas alguns segundos.
Em seguida, ambos os Vigilantes ergueram os braços — onde havia mini bestas equipadas — e miraram nas pedras.
A ponta dos virotes possuía uma pedra de Selagem pequena, dando uma luz prateada a ela.
Então dispararam simultaneamente mirando duas pedras de Alteração, cravando logo ao lado e, com o impacto, palavras prateadas surgiram e cobriram a pedra.
Os dois repetiram o processo com todas as pedras ao longo do corredor, atingindo seus alvos em distâncias cada vez maiores e com uma precisão absurda.
Cada virote, além da pedra, também possuía uma corda fina conectada ao braço dos Vigilantes.
Quando a última pedra fora atingida, amarraram cada corda presa aos virotes com um pino no chão, adentraram o corredor e revistaram os guardas à procura das chaves, encontrando-as rapidamente e dirigindo-se até o fim.
Uma porta especialmente reforçada encontrava-se no fim do corredor, a cela onde estava o suspeito pelo assassinato de Elise.
Antes de entrarem, os três desfizeram a invisibilidade e alteraram sua própria aparência e roupas, tornando-se idênticos aos guardas.
Em seguida, inseriram a chave, abriram a porta e se depararam com um homem acorrentado contra a parede, com grilhões forçando seus braços e pernas abertos.
Assim que viu os guardas, os encarou com ódio e, com uma voz rouca e rasgada, disse raivosamente: — O que vocês querem, desgraçados? Ainda não é hora de me entregarem aquela merda que chamam de comida!
Os três adentraram a cela, fecharam a porta e usaram Ilusão para tornar a sala à prova de som.
— Viemos fazer perguntas... — disse Shinokage copiando perfeitamente o sotaque, o tom de voz e o comportamento de um guarda de Fordurn. — Por que assassinou rainha Elise?
— Vão se fuder! — gritou o homem enfurecidamente. — Já disse inúmeras vezes que não fui eu!
De fato, o relatório dizia que o motivo de sua prisão fora apenas por uma marca de arranhão no rosto, e as unhas de Elise estavam manchadas de sangue, além dele ser um estrangeiro que poucos conheciam.
— Onde e com quem estava no momento da morte? — continuou Shinokage.
— Eu já disse inúmeras vezes! Bebendo na taverna cervo manco! O estalajadeiro testemunhou a meu favor, mas vocês ignoraram!
— A quanto tempo havia chegado em Fordurn? — perguntou o Lobo.
— Eu estava de passagem caralho! — gritou o suspeito. — Eu havia chegado na noite anterior, acordei ao meio-dia porque estava exausto!
— Por qual motivo veio para Fordurn? — perguntou Águia.
— Indo para Lorelia, porra! — gritou. — Eu tinha trabalho lá!
Os três permaneceram em silêncio por um tempo, quando se deram por satisfeitos e começaram a ir embora.
— É só isso?! — perguntou o homem irado. — ME TIREM DAQUI, SEUS FILHOS DA PUTA!
O trio ignorou completamente o ataque de fúria do suspeito.
Quando chegaram ao início do corredor, devolveram as chaves ao guarda, agarram as cordas conectadas aos virotes e puxaram, recuperando os virotes e permitindo que as pedras de Alteração voltassem a funcionar.
Se tivessem derrubado as pedras com os virotes, não poderiam colocar de volta, pois isso reativaria o sistema de segurança, o que deixaria provas de sua presença.
Eram profissionais no que faziam, e já realizaram aquele tipo de operação inúmeras vezes.
Então, o trio deixou a prisão e se moveram até o próximo alvo.
Meu pix para caso queiram me ajudar com uma doação de qualquer valor: 6126634e-9ca5-40e2-8905-95a407f2309a
Servidor do Discord: https://discord.gg/3pU6s4tfT6