O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 97: Ladrão Misterioso

Próximo do meio-dia, mais uma vez Lucy se encontrava caída no chão e suada.

Assim como no dia anterior, treinou por várias horas com algumas pausas curtas, drenando totalmente sua energia.

Observando a garota descansando após finalmente ter chegado a hora de almoçar, Gilbert se aproximou novamente trazendo comida consigo.

— Muito bem, coma enquanto tem tempo — disse.

— Tá bom... — disse a escudeira se levantando com dificuldade e se sentando em um banco.

Assim como no dia anterior, devorou a comida e se esqueceu completamente da presença do cavaleiro.

Quando terminou, se lembrou da maneira nada delicada que agira e desviou o olhar com vergonha.

Porém, Gilbert nada disse, estava mais que acostumado com aquelas cenas.

Na verdade, muitos nem mesmo usavam os talheres e comiam diretamente com a mão.

Se comparado com os outros, Lucy era como uma dama da alta nobreza.

— Muito bem, terei de voltar ao palácio — disse conforme remexia seus bolsos. —, mas antes vamos verificar qual seu elemento.

O cavaleiro então retirou uma pedra de Alteração bem pequena e segurou com seus dedos diante da escudeira.

Em seguida, a pedra brilhou em marrom por um breve momento e logo se apagou completamente.

Hmm... — murmurou contemplativamente. — Selagem... Em uma boa quantidade...

— O que esse elemento faz mesmo? — perguntou Lucy.

Gilbert suspirou audivelmente conforme coçava a cabeça e pensava cuidadosamente o que diria a seguir.

— Senhorita Lucy, sinto em informar, mas você não é apta a se tornar uma cavaleira — disse. — Selagem é um elemento que apenas funciona bem quando trabalhado em conjunto com outros... Seria melhor se estudasse e trabalhasse com arranjos...

— Em outras palavras, é completamente inútil em combate? — perguntou a escudeira.

— Sim, mas é muito útil em outras áreas — explicou o cavaleiro. — Por isso seria melhor se...

— Não me importo, continuarei com meu treinamento! — disse Lucy determinada. — Mesmo que eu não tenha nascido com o elemento certo, ou o talento para isso, me tornarei uma cavaleira pelo trabalho árduo!

Ao ouvir aquilo, Gilbert a encarou por um tempo com um olhar conflitado.

— Senhorita, muitos temos sonhos e ambições que nunca se concretizarão não importa o quão duro tentamos — disse. — Talvez o que Kura planejou para sua vida fosse algo diferente...

— Não vou desistir só porque não nasci apta para isso — reafirmou a escudeira. — Devemos dar nosso melhor em busca de nossos sonhos, e não desistir antes mesmo de tentar!

Percebendo o tom irredutível dela, o cavaleiro suspirou novamente se se virou.

— Bem, não posso recusar um desejo de alguém tão determinado — disse conforme se afastava. — Até amanhã.

— Sim senhor!

Gilbert se afastou com um sorriso quase imperceptível em seu rosto.

“Essa garota... É do tipo que é tão insistente que ganharia uma batalha contra um oponente mais forte após cair e se levantar dezenas de vezes...”, pensou consigo mesmo.

— Devo admitir, apesar de não ser apta, possuí a vontade de um verdadeiro cavaleiro... — admitiu conforme caminhava pelas ruas de Fordurn até o palácio.

 

***

 

A tarde terminava e a noite começara a cair.

Lucy caminhava pelas ruas de Fordurn, mais especificamente na região mais próxima do palácio onde as casas eram mais sofisticadas, e o chão ladrilhado e bem cuidado.

Carregava consigo uma cesta com algumas mercadorias de uma feira por perto, caminhou até uma das casas e bateu na porta.

— Pode entrar... — disse uma voz feminina do outro lado.

Abrindo a porta e adentrando a casa, se deparou com uma mulher por volta dos 50 ou 60 anos, cabelos loiros levemente esbranquiçados e olhos azuis.

— Lucy, minha querida, estava demorando tanto que comecei a me preocupar... — disse em um tom aliviado.

— Desculpe, senhora Clara, hoje o dia foi corrido... — desculpou-se. — Espero que não tenha jantado sem mim.

— Claro que não, me sentiria mal em jantar sem sua companhia... — disse em um tom levemente triste. — Afinal, nem mesmo tenho Raymond mais...

— Não diga isso dessa maneira! Tenho certeza de que ele está bem! — disse a escudeira.

— Obrigada por me confortar, mas ninguém me diz o que aconteceu com ele desde o ataque... Como podem fazer isso com uma mãe? — perguntou com a voz trêmula. — Sempre tentei convencer ele de desistir de se tornar um cavaleiro... Tanto o pai dele quanto Leopold perderam suas vidas por seguir esse caminho...

Lucy permaneceu em silêncio por um breve momento, tentando encontrar as palavras certas para aquele momento.

— Eu estou procurando por ele, e tenho certeza de que conseguirei alguma informação em breve! — disse. — Não se preocupe, ele voltará para casa e te dará um longo e apertado abraço!

Clara permaneceu em silêncio por um momento, com um olhar distante e sorriso melancólico.

— Obrigada, querida... — agradeceu. — Me desculpe por lhe dar tanto trabalho...

— Não diga isso, eu que deveria agradecer na verdade, cuidou de mim como se fosse sua própria filha... — disse Lucy em um tom gentil. — Eu até mesmo a considero minha segunda mãe...

— É muito modesta, apenas fiz o que qualquer outra pessoa faria... — disse Clara.

A escudeira sorriu ao ouvir aquelas palavras e continuou conversando com ela sobre assuntos triviais ao mesmo tempo que preparava o jantar.

Essa havia se tornado a rotina das duas desde que Raymond se tornou um cavaleiro e passou a permanecer a maior parte de seu tempo no palácio de Fordurn do que em casa.

Naquela época, ambos já eram amigos próximos e Lucy já era tratada como uma convidada bem-vinda naquela casa.

Sua vida havia sido difícil. O pai era um criminoso e roubava as pessoas, além de violento e abusivo com ela e sua mãe.

Depois que foi preso e a escudeira finalmente se viu livre dele, a paz em sua casa finalmente fora alcançada.

Isso aconteceu logo depois da morte de Leopold, portanto fora a primeira vez em muito tempo que algo de bom acontecera a ela.

Ambas tinham de trabalhar para se sustentar. Era uma vida difícil, mas feliz.

Entretanto, essa felicidade durou pouco.

Sua mãe adoeceu e ficou passou a ficar 24 horas na cama.

Lucy tentou usar algumas ervas medicinais para tratá-la, porém não surtiram efeito.

Percebendo que a única maneira seria pagando um curandeiro, passou a trabalhar mais que nunca para juntar dinheiro e salvar sua mãe.

Contudo, seu esforço foi em vão.

Um dia, quando chegou em casa feliz, entrou no quarto de sua mãe prestes a dizer que em alguns dias conseguiria o dinheiro para curá-la.

Logo seu sorriso se desmanchou ao perceber que ela não respondia.

Tentou tocá-la, chamá-la e chacoalhá-la.

No entanto, os olhos de sua mãe nunca mais se abriram novamente.

Depois disso, Clara, após saber disso, a encontrou vagando pelas ruas e trouxe até sua casa, onde passou a viver desde então.

Quando começou a morar lá, Raymond já estava prestes a se tornar um cavaleiro, portanto raramente aparecia.

Mesmo assim, quando retornava, os três conversavam bastante e se divertiam.

Agora que Clara estava ficando debilitada devido à idade, Lucy lidava com todos os afazeres domésticos.

— A comida está pronta! — disse conforme colocava na mesa um jantar saboroso.

— Obrigada — agradeceu Clara e logo apreciando a comida.

Ambas conversaram bastante durante esse momento, e quando terminaram dirigiram-se direto para cama já que Lucy havia chegado mais tarde por causa de seu treinamento.

 

***

 

Gilbert patrulhava ao redor do palácio atento a qualquer movimento suspeito, mas as ruas estavam completamente desertas e ninguém se aproximava das muralhas.

As coisas haviam se acalmado desde o ataque, e o povo nunca tentou invadir o palácio novamente.

Apesar disso, ou melhor, por este motivo deveriam se manter atentos. Após tantos meses sem nenhuma agitação era de se esperar que os guardas eventualmente relaxariam.

A noite estava relativamente fria, portanto, vários dos guardas vestiam uma camada extra de roupas, enquanto aqueles cujos esperavam seu turno conversar bebiam chocolate quente.

— Senhor Gilbert, tem certeza de que não podemos tomar pelo menos um gole de rum? — perguntou um dos guardas em espera. — Apenas um não vai fazer mal...

— Depois de tomarem um gole vão querer outro, e então esperarão o momento que não estou presente para beberem escondido — disse o cavaleiro. — O chocolate quente exerce a mesma função que o rum: mantê-los acordados e aquecidos.

Ao ouvir aquilo, os guardas reclamaram um pouco, mas logo se calaram.

A noite progredia e a lua começava a cair, quando um outro cavaleiro apareceu caminhando rapidamente.

— Senhor Gilbert, há algo que precisa ver! — disse com urgência. — Alguém abriu o túmulo da rainha Elise!

— O quê?! Vocês três, venham comigo! — disse apontando para alguns guardas e partindo imediatamente para o local onde Elise havia sido enterrada.

— Sim senhor! — Os guardas se levantaram imediatamente e o seguiram.

Em menos de um minuto, Gilbert, os três guardas e o cavaleiro que aparecera chegaram no local, com já vários outros guardas com tochas iluminando e vasculhando o local.

O túmulo ficava no jardim — o mesmo que Luna gostava de ficar um tempo — rodeado por várias flores e bem cuidado.

Contudo, no momento a lápide havia desaparecido, e um grande buraco na terra, mas um esqueleto ainda jazia ali dentro.

Apesar de se tratar de uma profanação de túmulo, não havia nada no local que desse pistas do suspeito: As flores ao redor não estavam pisadas, não havia marcas de pegada, rastro de terra ou qualquer outra coisa.

— Relatório — disse Gilbert assim que chegou.

— Estávamos patrulhando perto quando ouvimos um som parecido com um estalo e uma luz vindo do jardim — disse um dos guardas. — Quando chegamos perto, o buraco já estava assim.

— Só isso?! — perguntou o cavaleiro. — Ninguém viu ou ouviu nada?

Todos os guardas balançaram a cabeça em negação.

— Maldição... Pelo menos deixaram o corpo...

— Por que alguém iria querer verificar o túmulo da rainha Elise? Será que era um ladrão de túmulos? — perguntou um guarda. — E como fizeram isso de maneira tão sorrateira?

— Não sei, mas isso é muito estranho... — disse Gilbert. — Continuem procurando ao redor! Enquanto isso, vamos mover o corpo para um lugar mais seguro.

— Sim senhor! — Imediatamente, todos os guardas prosseguiram com suas buscas enquanto outros ajudaram o cavaleiro a levar o corpo até outro lugar.

A noite passou rapidamente e logo vários guardas foram despertados para ajudarem, porém não conseguiram nem mesmo uma pista do que acontecera...


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