O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 91: Um Coração Puro

Um homem alto, jovem e vestindo longas roupas brancas e douradas — semelhante às vestes de um padre — caminhava calmamente pela estrada.

Um grande manto branco por fora e dourado por dentro ocultava seu corpo, que não era musculoso apesar de sua altura, e um grande escudo dourado estava pendurado em suas costas.

Esse escudo era levemente curvado, extremamente grosso e pesado, possuía uma grande gema de Proteção em seu centro — que era visto de ambos os lados —, e outras 8 gemas dos elementos Gelo, Água, Fogo, Vento, Raio, Natureza, Conjuração e Selagem ao redor, formando as pontas de um octógono.

Seus cabelos eram compridos e dourados, estavam soltos e seu brilho poderia ser comparado com o próprio sol.

Os olhos eram azuis, calmos, gentis e belos. Seu olhar sempre demonstrava compaixão pelo próximo, e encará-lo seria o mesmo que observar o céu durante um lindo e ensolarado dia.

Seu rosto era atraente, mas possuía feições suaves, o que o tornava ainda mais belo.

Contudo, apesar de sua beleza, pouquíssimas pessoas se sentiram atraídas romanticamente e se apaixonariam por esse homem.

O motivo disso era devido a aura de bondade e empatia que emitia, fazendo com que fosse admirado e amado por todos que o viam.

Este era Clementius, o Pilar da Proteção, braço direito de Ardos e mais popularmente conhecido como “Curandeiro Divino”.

No momento, dirigia-se a um grande reino.

O motivo? Não era nenhuma missão especial ou algo relacionado ao Conselho, estava apenas fazendo sua atividade preferida quando tinha algum tempo livre.

A estrada era feita de terra e estava lamacenta devido uma chuva recente.

Porém, sua graciosidade parecia torná-lo imune à sujeira, pois suas roupas estavam tão limpas quanto seu coração.

Após caminhar por um bom tempo, avistou alguns casebres e algumas pessoas trabalhando, cuidando de animais, plantando e trazendo água.

Finalmente havia chegado no reino litorâneo de Bourrasque, famoso por seus moinhos de vento, comércio e seu enorme porto, onde navios do mundo todo atracavam.

Não demorou muito para que algumas pessoas o percebessem e imediatamente se aproximarem com respeito e cordialidade.

— Se-Senhor Clementius, bem-vindo a Bourrasque! — disse um dos habitantes. — Peço desculpas por não termos uma maneira melhor de recebê-lo!

O Pilar da Proteção sorriu gentilmente, encantando todos no processo.

— Não se preocupem, apenas sua recepção já é mais que uma benção — disse com uma voz calma, profunda e divina.

O povo permaneceu em silêncio por um momento, esquecendo-se completamente como se falava. Afinal, não só estavam cara a cara com um Pilar, mas sim, Clementius em pessoa.

— É muito humilde, senhor Clementius — disse uma mulher nervosa por ter deixado o Pilar da Proteção esperando. — Podemos ajudá-lo com algo?

— Sim, por acaso há alguém doente? — perguntou.

— Bem... Temos algumas pessoas... — disse um jovem. — Minha mãe está com algum problema no coração. Alguns estão tossindo e com febre, e um homem perdeu o braço recentemente e está com uma infecção...

— Certo, me levem para aqueles que estão em um estado mais crítico, por favor.

— Certo!

Após essa troca de palavras, Clementius foi guiado até uma casa enquanto era acompanhado por inúmeros olhares de admiração, e foi levado até o homem que perdeu o braço.

Este homem estava em uma cama desarrumada, com inúmeras bandagens sujas no chão, um curativo com uma cor misturada entre vermelho e amarelo, o rosto pálido e grunhindo de dor.

Sem fazer nenhuma pergunta, o Pilar se ajoelhou ao lado do homem, estendeu sua mão e uma luz dourada começou a curá-lo.

Em apenas alguns segundos, a febre, dor e o ferimento infeccionado foram curados completamente, fazendo o paciente recuperar as forças imediatamente e com uma aparência totamente saudável.

Após perceber o Pilar, ligou os pontos e soube o que havia ocorrido.

— Senhor Clementius! Muito obrigado por ter me curado! — disse com a voz carregada de gratidão, na beira das lágrimas e segurando uma das mãos dele. — O que posso fazer para agradecê-lo?

— Apenas viva de maneira saudável, e certifique-se de não se ferir novamente, certo? — disse com uma voz gentil e um sorriso acolhedor. — Quanto ao seu braço perdido, verei o que posso fazer.

Foi neste momento que o homem percebeu que estava sujando Clementius com suas mãos sujas de sangue, poeira e pus, e as retraiu imediatamente.

— Ah! Sinto muito por isso! — disse nervosamente.

Contudo, o Pilar continuou a sorrir e disse: — Está tudo bem, se isso te deixa calmo, então pode segurar minha mão mais um pouco.

— Já estou bem, muito obrigado! — disse o homem com gratidão.

— Fico feliz — disse Clementius em um tom puro. — Adoraria conversar mais um pouco, contudo há outras pessoas necessitando de minha ajuda.

— Tudo bem, não se preocupe comigo! E muito obrigado novamente!

Dito isso, o Pilar da Proteção se levantou e foi curar as outras pessoas.

Qualquer um que estivesse minimamente doente, ou até mesmo estivesse com sintomas, mas parecia bem, era tratado por Clementius.

O Pilar da Proteção passou cerca de uma hora curando todos no vilarejo e, quando terminou, se despediu das pessoas e caminhou até a capital do reino para ajudar ainda mais pessoas.

Esse era seu hobby. Visitar vários reinos e curar o máximo de pessoas possíveis.

Seu trabalho salvava milhares de vidas, já que, em muitos lugares do mundo, curandeiros precisam ser pagos para tratar alguém, portanto pessoas de baixa renda tinham de recorrer a métodos ortodoxos e ultrapassados.

Por exemplo, uma simples apendicite, que poderia ser curado em alguns segundos, teria de ser realizado um procedimento onde o corpo do paciente era cortado, removiam a inflamação, e costuravam o corte, deixando uma cicatriz.

Por esse motivo, Clementius insistiu por muito tempo em introduzir alguma política que tornaria o acesso à saúde gratuito a todos, e um projeto até estava sendo desenvolvido; mas, nesse meio tempo, continuava a fazer isso com suas próprias mãos.

Quando chegou na capital de Bourrasque, não demorou muito para a notícia de sua chegada se espalhasse como fogo em um palheiro, fazendo inúmeras pessoas correrem atrás dele por ajuda.

O Pilar passou dois dias inteiros curando incessantemente todos os habitantes em necessidade, trocou algumas palavras com o govenador, e partiu para o próximo reino.

 

***

 

Passaram-se dois dias e Clementius se encontrava agora em outro reino, onde já curara boa parte dos doentes.

Estava de noite, e o Pilar da Proteção estava em um quarto no palácio do reino descansando, sendo iluminado por uma fraca vela.

Por mais que amasse ajudar os outros, era apenas um humano, portanto precisava repousar de tempos em tempos.

Caso contrário, se esgotasse totalmente sua magia, correria o risco de até mesmo morrer.

Clementius estava sentado em uma mesa de frente para uma janela fechada e lendo rabiscando ideias e projetos para o Conselho.

Quando estava concentrado, ouviu o som de alguém batucando na janela.

O Pilar da Proteção ficou atento, prestando atenção no ritmo da batida.

Após alguns segundos, foi capaz de perceber o ritmo: uma batida curta seguida de duas longas e outra curta, uma pausa, e depois duas batidas curtas.

Quando ouviu isso, abriu a janela e voltou a se sentar.

— O que o trás aqui, Shinokage? — perguntou no mesmo tom gentil de sempre, mas um pouco sério.

Após dizer isso, as sombras do quarto começaram a se comportar de maneira estranha, movendo-se até um ponto — bem atrás do Pilar da Proteção —, e se levantando, tomando uma forma humana.

Passados alguns segundos, uma figura estranha surgiu. Suas roupas eram compridas, cobriam todo o corpo, e pareciam — de alguma forma, se camuflar com o ambiente.

Até a menor alteração na luz ou nas sombras fazia as roupas daquele individuo mudarem, tornando quase impossível detectá-lo.

A única maneira visual de perceber aquela pessoa era pelos olhos: dois pontos rosas brilhando e flutuando fracamente no ar.

Na verdade, aquela pessoa estaria totalmente camuflada, mas estava se deixando ser vista para que pudesse conversar.

— Trouxe um relatório — disse o Pilar da Ilusão em uma voz que parecia vir de todos os lados, carregada de mistério, abafada e ecoando várias vezes como um sussurro.

Shinokage — o seu codinome, já que há muito abandonara seu nome veradeiro — retirou de seus bolsos uma pedra de Alteração e entregou a Clementius.

Como a camuflagem de sua roupa ainda estava ativa, pareceu que a pedra surgiu do nada e flutuou até o Pilar da Proteção.

Clementius pegou a pedra e absorveu o conhecimento, levando um breve momento para compreender tudo.

A pedra continha um relatório de Koeus sobre algumas descobertas e pesquisas, e o Pilar da Proteção, obviamente, já sabia de tudo, pois recebeu inúmeros mensageiros do setor de inteligência da Vigília, uma medida de segurança para evitar que a informação fosse adulterada.

Além disso, havia alguns relatórios sobre o paradeiro de Aegreon, do anjo desaparecido de Fordurn, e uma breve mensagem de Feng Ping descrevendo que estava investigando os possíveis devotos de Shiva nas Montanhas Prateadas.

A maioria do conteúdo era sobre a pesquisa de Koeus que, caso se provasse verdadeira, responderia inúmeras perguntas.

Depois de analisar e perceber que não havia nada de errado encarou os dois pontos rosas brilhantes no ar.

— Um tanto quanto incomum você trazer uma mensagem — disse Clementius. — Estava por perto de Acrópolis quando Koeus preparou esse relatório?

— Hm — concordou o Pilar da Ilusão com um murmúrio.

— Hmm... Nenhuma notícia do anjo ou Aegreon... — disse pensativamente. — Isso está muito estranho e perigoso. Se uma Seita a capturou, ao invés de Aegreon como pensamos, temos que encontrá-la o mais rápido possível.

O Pilar da Ilusão permaneceu em silêncio.

— Precisamos daquele anjo do nosso lado — continuou Clementius. — Se tivermos outro como Ardos aliado conosco, teremos uma grande ajuda contra os anjos caso retornem...

O Pilar da Ilusão continuou em silêncio.

— Shinokage, pedirei por um grupo de dez pessoas para acompanhá-lo em uma investigação em Fordurn — disse o Pilar da Proteção com preocupação. — Descubra tudo que puder e, se em 3 meses nada lhe der pistas do paradeiro do anjo, vá até K’ak’ e refaça todo o caminho de Indra

— Certo... — disse o Pilar da Ilusão, tornando-se totalmente invisível e deixando o aposento.


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