O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 90: Teses Intermináveis

Koeus encontrava-se em sua enorme sala de estudos, cujo tamanho era até maior do que a pirâmide de K’ak’.

Um grande telescópio estava no cento de sua sala, onde poderia fazer observações astronômicas, pois o teto de sua sala podia se abrir.

Um modelo do sistema solar simulado e alinhado perfeitamente com cada planeta estava logo abaixo, sendo possível ver — se olhar bem atentamente — o movimento dos planetas, luas e cometas, além de vários pontos pequenos que eram todos os asteroides descobertos no momento.

Havia microscópios, instrumentos de medição, pedras elementais e muito mais em várias largas mesas organizadas metodicamente.

Milhares de estantes de livros se espalhavam por toda a sala, contendo cópias de todas as teses, pesquisas, descobertas e invenções da humanidade do último século.

E em sua mesa, com uma pilha de livros tão grande que quase tocava o teto, estava o Pilar da Alteração, lendo cada tese e aprovando, recusando ou arquivando-as.

Acrópolis era um reino composto de, em sua esmagadora maioria, de pesquisadores; portanto, o mínimo que se ausentasse resultava em um acúmulo intimidador a qualquer pessoa das teses.

Por este mesmo motivo, Koeus raramente deixava seu escritório, mesmo sendo um Pilar.

Porém, apesar da pilha ser tão grande que qualquer especialista correria de medo dela, o Pilar da Alteração encontrava grande prazer naquilo.

Mesmo para um homem com mais de um século de idade, ainda havia muito a aprender.

“Quanto mais estudo e mais vivo, mais percebo o quão pouco sei...”, era o seu lema e uma frase que repetia inúmeras vezes sempre que perguntado por que continuava estudando tanto.

É claro, nem sempre era um trabalho prazeroso, pois o Pilar da Alteração sentia-se profundamente irritado ao ver uma tese malfeita ou que não fora bem pensada.

E isso estava prestes a acontecer.

Koeus aprovou uma tese e logo fez o livro do topo da pilha flutuar até ele, contendo uma pedra de Alteração preso nele.

Abrindo o livro, seus olhos brancos e cegos leram o título da tese, percebendo os rastros elementais da tinta com Alteração.

— “Expandindo a exploração espacial: proposta de um dispositivo para sair do planeta” — recitou.

De acordo com a Terceira Lei de Nill Tom, e como descrito por sua fórmula Fa = Fb, toda ação tem sua reação, por isso, é teoricamente possível criar um mecanismo que seja capaz de voar até a exosfera e colocá-lo em órbita com uma pessoa tripulando-o.

Para que isso seja possível, seria necessário construir um objeto no formato de uma flecha, mas com cerca de 100 metros de altura e 10 de largura. O nome provisório deste objeto será “foguete”.

Para enviar o foguete ao espaço, colocaríamos na base várias pedras elementais de combate direcionadas para o chão e conectadas em um sistema que pode ser controlado com o elemento Selagem.

 As pedras elementais seriam todas ativadas ao mesmo tempo e, devido sua força sendo exercida contra o chão, faria o objeto decolar.

É claro, um objeto deste tamanho seria extremamente pesado, por isso usaríamos pedras de Alteração para reduzir seu peso, que também seriam responsáveis para permitir a navegação e controle de direção.

Os projetos, modelos, dimensões e maneira de construir o foguete se encontra a partir da página 87.

Koeus leu por um bom tempo, depois pegou a pedra de Alteração — que possuía uma cópia exata da tese — e largou o livro na sua mesa.

— Hmm... é uma tese interessante, mas precisa ser refinada... — disse para si mesmo. — Vou arquivá-la no momento e discutir sobre isso com o autor...

O Pilar da Alteração fez o livro e a pedra flutuarem até uma das milhares de estantes e os deixou lá, sem nem deixar seu acento ou olhar até a direção da estante.

Afinal, já havia feito aquilo incontáveis vezes. Sabia muito bem onde estava cada coisa em sua sala.

Sem demorar, fez o próximo livro levitar até sua mesa.

— “Projeto para a construção de um dispositivo para transformar energia mecânica em elétrica” — recitou.

O Pilar da Alteração leu rapidamente a tese, que consistia na construção de algo chamado de “hidrelétrica”, que envolveria usar um rio, criar uma barragem que bloquearia a passagem de água e, por meio de grandes pás, seriam abertas comportas que permitiriam a água passar ao outro lado, girar as pás e transformar a energia mecânica exercida pela água em energia elétrica.

Ao ler aquilo, o cenho de Koeus se fechou rapidamente e, sem nem mesmo terminar de ler o projeto, fez o livro flutuar até a sessão de teses recusadas.

— Que ideia terrível! — disse com raiva. — Por que criar algo tão pouco eficiente e com tamanho impacto ambiental?! Quem diabos foi o tutor deste ignorante?

A proposta da “hidrelétrica” fora tão absurda que o Pilar da Alteração estava prestes a explodir. O que era justificado, afinal, o autor daquela tese nem mesmo considerou as complicações que seu projeto criaria.

Koeus estava tão irado que quase se levantou de sua mesa para ir atrás do autor daquela tese, mas se controlou e voltou a focar em seu trabalho.

— Mais tarde vou colocar um pouco de juízo na cabeça desse inapto — disse conforme outro livro flutuava até sua mesa.

— Vamos lá... — disse conforme se recompunha e começou a ler a tese.

Este se tratava de uma pesquisa, e o título chamou sua atenção.

— “Hereditariedade genética dos elementos Natureza e Reanimação” ...

O Pilar leu com bastante atenção a pesquisa e, quando terminou, releu tudo prestando bastante atenção e se lembrando de tudo que sabia relacionado ao assunto.

Os olhos de Koeus se arregalaram por um breve momento, pois, se aquela pesquisa estivesse correta, uma grande descoberta teria sido feita.

— É muito hipotético, mas pode estar correto... — disse. — Precisarei arquivar esta pesquisa no momento e conduzi-la através do Conselho...

O Pilar pegou livro e dessa vez, ao invés de colocá-lo em uma estante, abriu uma gaveta que era reforçada com inúmeras pedras de Proteção e Selagem, e colocou o livro lá dentro.

Quanto à pedra de Alteração com a cópia da pesquisa, absorveu ela e criou várias outras pedras usando sua própria magia, algumas destinadas a Ardos e Clementius.

Com uma pedra sobrando, o Pilar a fez voar até o modelo em tempo real do sistema solar, onde havia um pequeno buraco no planeta Vilon — que se abriu assim que o objeto se aproximou — e a inseriu nele.

A pedra brilhou por um tempo e se desfez lentamente.

— Muito bem... Agora basta aguardar o próximo mensageiro... — disse com um sorriso misterioso. — A propósito, preciso verificar a simulação...

 

***

 

Em uma floresta afastada, uma batalha intensa acontecia.

Raios verdes iluminavam os céus por quilômetros e castigavam a terra.

Enquanto isso, a própria terra parecia lutar contra os céus, com árvores enormes crescendo em questão de segundos, e uma poderosa energia verde colidia contra os relâmpagos.

De um lado, Indra, O Pilar do Raio, brandia uma estranha espada longa de cor bronze e lâmina negra coberta em raios verdes. Ao longo da lâmina, havia várias ramificações da lâmina como as pontas de um relâmpago.

Do outro, estava Erandi com seu enorme martelo — quase do seu tamanho — de madeira negra com espinhos em ambos os lados, emitindo uma energia verde constantemente, assim como sua armadura.

Essa armadura possuía forma e design semelhante a armaduras de aço, contudo havia vários animais talhados em toda a madeira, como aves, primatas e felinos, dando a ela uma beleza única e superior do que o simples aço. Além disso, era pintada com cores bem vibrantes e decorada com penas verdes.

Indra avançou com vários raios cobrindo sua lâmina e cortou horizontalmente, e Erandi bloqueou com seu grande martelo — como um escudo — criando uma explosão verde no processo.

Ambos foram arremessados para longe no processo e, quando o Pilar do Raio estava prestes a atacar novamente já com relâmpagos em sua lâmina, percebeu que a candidata a Pilar já estava atrás dele, com seu martelo descendo furiosamente e deixando um rastro de energia verde que surgia do chão e das árvores.

Apesar do tamanho do objeto, era um martelo de madeira, portanto era mais leve do que se fosse de metal.

Além disso, Erandi era rápida e balançava aquela arma enorme com facilidade e destreza, e ainda estava do lado direito de Indra, o lado sem o braço.

— Te peguei! — gritou com uma voz confiante.

Entretanto, quando estava prestes a atingi-lo, o Pilar do Raio moveu rapidamente sua lâmina e inúmeros cortes de relâmpagos voaram na direção de Erandi, forçando-a a recuar.

Mesmo se movendo o mais rápido possível, as lâminas atingiram-na profundamente, cortando e danificando a armadura em várias partes.

Vários pedaços da armadura cederam e caíram, porém, isso não era um problema.

Subitamente, a madeira começou a brilhar em uma luz verde, e a armadura se reparou sozinha, tapando todos os pontos danificados.

Era como se a madeira da armadura ainda estivesse viva e, através do elemento Natureza, crescia e conectava com as partes intactas.

O processo era bem parecido com o elemento Proteção ao curar ferimentos.

Erandi estava prestes a avançar novamente, quando percebeu que Indra havia desaparecido.

Antes mesmo que pudesse procurar por ele, sentiu uma lâmina tocando seu pescoço e com raios queimando-a.

— Acabou — disse Indra calmamente e retirando sua espada. — Seu treino por hoje está terminado. — Então deu as costas e se afastou.

Erandi mordeu os lábios em frustação por não ter conseguido atingir o Pilar do Raio nenhuma vez durante o treinamento.

Mesmo após ele ter perdido um braço e ter que forjar uma espada nova, era tão veloz e poderoso quanto antes.

Na verdade, parecia que havia se tornado mais forte agora, mesmo tendo que se adaptar a usar apenas a mão esquerda.

Indra percebeu a frustação de Erandi e parou de se andar.

— Você quase me atingiu naquela vez — disse. — Se conseguir segurar um pouquinho sua vontade de me atingir, talvez consiga na próxima.

— Como diabos vou segurar minha vontade de lutar e combater usando todo meu potencial ao mesmo tempo? — perguntou levemente irritada.

Indra sorriu suavemente, o que apenas deixou Erandi ainda mais frustrada.

Antes dele perder o braço, ela conseguia sentir e prever os movimentos do Pilar do Raio. Contudo, depois que perdeu seu braço e voltou a lutar, a cada dia que se passava se tornava cada vez mais difícil sentir sua presença e prevê-lo.

Atualmente, Indra era totalmente invisível para Erandi.

— A resposta está dentro de você — disse o Pilar do Raio. — Agora, vamos retornar.

“Desde quando responde de maneira tão indireta?” reclamou internamente Erandi conforme acompanhava seu tutor.


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