O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 86: Estudos Sobre a Conjuração

Vários minutos após a explosão, Luna, Raymond, Shiina e os aldeões resgatados aguardavam ansiosa e acanhadamente.

Apesar da destruição do portal, muito provavelmente ainda havia criaturas por perto que poderiam chegar a qualquer momento.

Contudo, não houve o menor sinal de que as criaturas atacariam novamente.

Talvez a explosão tenha as assustado, talvez o urro de dor da criatura colossal de várias cabeças, ou uma mistura de ambos.

Yuri se mantinha perto de seu marido ainda desacordado, e Shiina estava logo ao lado vigiando-o.

O medo das pessoas começou a ser substituído por ansiedade, desejando sair daquele lugar o mais rápido possível.

Entretanto, precisavam esperar pela aparição de Feng Ping antes.

Após o que pareceu durar horas, o Pilar do Vento finalmente chegou, trazendo alívio a todos.

— Mestre Ping, finalmente acabou?

— Podemos voltar logo?

Feng Ping foi bombardeado por inúmeras perguntas, porém, o que diria a seguir seria como jogar um balde de água fria em todos.

— O perigo acabou, mas precisarei que esperem por um pouco mais de tempo — disse.

Como esperado, tal declaração recebeu inúmeros protestos e lamentos.

— Não se preocupem, não vamos demorar — disse o Pilar do Vento. — Me sigam até a montanha para se protegerem melhor do frio.

O povo reclamou, mas decidiu seguir as instruções dele.

Conforme guiava todos até onde Aegreon e Sariel estava, Feng Ping se aproximou de Luna e Raymond.

— Luna, há algo que precisa ver — disse sorrateiramente.

— O que houve? — perguntou Raymond. — Ela está muito abalada agora.

— Encontramos um santuário — respondeu o Pilar do Vento.

— Aqui?! — surpreendeu-se o guarda-costas. — Foi por isso que a Seita se instaurou aqui?

— É o que tentaremos descobrir.

A multidão foi levada até o que restara da montanha, onde encontraram Sariel e Aegreon aguardando-os.

Quando chegaram lá, foi perguntado aos aldeões se sabiam sobre aqueles tuneis mais profundos, ou se ouviram alguns devotos falando sobre eles, mas ninguém sabia sobre a existência desses corredores.

Sariel, Aegreon e Feng Ping se reuniram longe para conversar sobre assunto.

— Não sabem de nada... Será que o mesmo valia para a Seita? — questionou o viajante.

— Há algumas opções — disse o Pilar do Vento. — Eles sabiam e tinham acesso a esses corredores; sabiam, mas não tinham acesso; ou nem descobriram e só escolheram este local por ser afastado e pela concentração elemental de magia.

— É provável que o santuário estava sendo protegido por magia, mas a técnica combinada de vocês dois destruiu parte dele — supôs o Pilar da Conjuração. — Não deve ter sobrado muito, então é melhor irmos embora antes que comecem a suspeitar sobre esses corredores.

— Não, temos que ver o que há dentro — disse Feng Ping. — Por estar em um lugar tão remoto, pode haver informações importantes.

— De fato — concordou Sariel. — Vamos investigar enquanto eles esperam aqui. Traremos Luna também.

— Ela deve ficar aqui, não percebem que está afetada pelo que aconteceu? — disse Aegreon, percebendo o comportamento melancólico dela.

— Sem mais esconder segredos dela, Aegreon — disse o viajante conforme se afastava e caminhava até a princesa. — Veremos como ela se sente agora. Caso esteja muito afetada, vamos apenas nós três.

O Pilar do Vento o seguiu, e o Pilar da Conjuração, apesar de desaprovar aquilo, também o acompanhou.

Quando percebeu Sariel se aproximando, Luna se sentiu nervosa e se encolheu um pouco.

— Está tudo bem, Luna? — perguntou o viajante. — Sei que é a primeira vez que tem de fazer isso, e sei como é difícil.

— Eu... Estou um pouco melhor agora — disse com dificuldade. — Mas não consigo parar de pensar no que aconteceu.

— Entendo... Feng Ping lhe informou sobre “aquilo”, certo? — perguntou Sariel.

A princesa balançou a cabeça afirmativamente.

— Ela acabou de passar por algo terrível, por que não vão sozinhos? — perguntou Raymond.

— Sei disso, por essa razão estou perguntando como se sente — respondeu o viajante. — Se não quiser vir conosco, está tudo bem.

Luna permaneceu em silêncio por um tempo, desejando continuar ali no conforto de seus aliados.

No entanto, a curiosidade e sua vontade de ser útil falaram mais alto, fazendo-a se decidir.

— Eu... irei com vocês... — disse hesitantemente.

— Luna, tem certeza? — perguntou o guarda-costas.

— Está... tudo bem, Raymond... — disse a princesa de maneira insegura. — Se eu estiver junta, demoraremos menos para analisar qualquer informação...

— Mas Luna... — Raymond se recusava a soltar a mão dela, preocupado com sua condição.

— Todos nós passamos por algo difícil, Raymond — disse a princesa. — Você e seu irmão, Shiina e seus amigos, Feng Ping e sua família... Não posso ser a única incapaz de superar meus traumas...

O guarda-costas, ao ouvir aquilo, permaneceu em silêncio por um tempo, contudo, não pôde ir contra aquelas palavras e a deixou ir.

— Tomem cuidado — disse.

— Certo — concordou Sariel.

A princesa largou a mão do guarda-costas relutantemente e se aproximou do trio devagar e de maneira insegura.

Após Feng Ping dizer para que todos aguardassem — usando o pretexto de que precisavam investigar os tuneis devido a possibilidade de haver devotos escondidos — os quatro se aproximaram do corredor mais próximo e o adentraram, desaparecendo aos olhos do povo.

Caminhando pelos corredores, uma luz mágica criada pelo viajante flutuava adiante e iluminava o caminho.

Ninguém dizia nada, portanto o único som que podia ser escutado era o eco dos passos dos quatro.

Naquele ponto, o som da nevasca do lado de fora já havia sumido.

Todos observavam adiante com atenção, esperando encontrar alguma sala ou local onde poderiam encontrar alguma informação.

Entretanto, devido à batalha, os corredores estavam desabados em vários pontos, portanto precisaram fazer vários desvios.

Finalmente, após algum tempo, os túneis se abriram para uma grande sala conectada com outros corredores.

Havia alguns objetos, móveis e rochas caídos, resultados da batalha, mas era possível notar instrumentos de medição, pedras mágicas e anotações — cuja maioria estava muito danificada para ser lida.

— Parece um centro de pesquisa — disse Feng Ping.

— Vamos olhar ao redor — disse Sariel ao mesmo tempo que sua luz se tornava mais forte e iluminava melhor o local.

Feng Ping e Aegreon foram para lados separados, enquanto a princesa seguiu o viajante de perto.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — perguntou Sariel. — Seria bom se tirasse um tempo para si mesma.

— Eu... Não consigo me perdoar pelo que fiz... mesmo que me digam que fiz a escolha certa... — disse Luna com dificuldade. — Mas não posso parar agora...

— Entendo como se sente, pois passei pelo mesmo quando tive que matar inocentes... — respondeu o viajante com seriedade. — Com o tempo vai se acostumar com isso e não se afetar tanto.

— Não sei se gostaria de me acostumar a matar pessoas... — disse a princesa com insegurança.

Sariel permaneceu em silêncio e focou sua atenção na busca, afinal, nada que dissesse ou fizesse surtiria muito efeito em Luna naquele momento.

Apenas o tempo curaria aquela ferida.

Apesar disso, o viajante sentiu-se compelido a unir sua mão com a da princesa.

Quando percebeu o toque de Sariel, Luna se assustou um pouco e seu corpo tremeu suavemente, mas, ao sentir o calor dele, se acalmou e sentiu-se acolhida.

Como estavam de mãos unidas, o viajante usou magia de Alteração para levitar os objetos que procurava e evitar soltar a mão da princesa.

Olhando com atenção, foi possível perceber que, surpreendentemente, algumas das pedras mágicas ali eram do elemento Conjuração, um item normalmente só encontrado nos esconderijos das Seitas.

— Essas pedras... Será que tinham acesso a esse lugar afinal? — perguntou a princesa.

— São poucas pedras e estão muito abaixo de onde construíram o portal — disse o viajante conforme examinava alguns dos livros, encontrando um cujo conteúdo havia sobrevivido parcialmente. — Provavelmente foram trazidos pelos anjos para serem estudados...

Feng Ping e Aegreon se aproximaram dos dois.

— Parece ser o caso... provavelmente estavam estudando o elemento Conjuração — disse o Pilar do Vento. — O que está escrito nos livros?

— Hmm... “Estudo sobre o surgimento natural do elemento Conjuração em humanos” — disse o viajante pensativamente.

— “Natural”? — perguntou o Pilar do Vento lançando um olhar para o Pilar da Conjuração. — Mas a Conjuração só surge em pessoas através dos Deuses da Escuridão...

Aegreon encarou Feng Ping no fundo de seus olhos.

— Nasci com este elemento — disse o Pilar da Conjuração com a voz grossa e irritada. — Minha pele descarna desde quando sou criança.

— Por que nunca disse isso antes? — perguntou Sariel.

— Por acaso acreditariam nisso? — perguntou Aegreon de maneira levemente agressiva. — Por que não lê o que está escrito aí logo?

Ao perceber a indignação dele, o viajante começou a recitar o conteúdo do livro.

— “A princípio, acreditávamos que o elemento Conjuração só surgia nos humanos através dos Deuses da Escuridão, já que, diferente de todos os outros 11 elementos, é o único cujas pedras mágicas não se formam naturalmente neste mundo, apenas pelas próprias pessoas com tal elemento. Por este motivo, acreditávamos que todos os humanos com este elemento eram membros das Seitas”.

Contudo, após observações e estudos mais detalhados, percebemos que foi um erro assumir que o elemento Conjuração não é natural tanto para este mundo, quanto para os humanos.

Após estudar várias crianças humanas com suas idades variando desde as primeiras semanas de vida até a pré-adolescência, descobrimos que, de fato, o elemento Conjuração pode surgir nas pessoas naturalmente e sem nenhuma interferência das Seitas ou dos Deuses da Escuridão.

Não sabemos por que este elemento só se manifesta em humanos e não surge naturalmente neste mundo, mas descobrimos também que, assim como os outros elementos, pode ser herdado, ou surgir em uma criança cujos pais não possuem o elemento.

Ou seja, se um casal possui o elemento Conjuração, há grandes chances de que seu filho herda este elemento. Por outro lado, mesmo que um casal não possua este elemento, é possível que tenham um filho com o elemento Conjuração.

Ainda não entendemos bem a Conjuração, o motivo dela se misturar com os outros elementos, ou porque ela fere o próprio usuário caso a pessoa tenha muita concentração dele.

Continuaremos nossa pesquisa em busca de descobrir a verdade, mas, tendo em vista que tocar nas pedras de Conjuração é perigoso para qualquer ser vivo, deveremos prosseguir com cautela.

Apesar de termos descoberto tão pouco sobre este elemento, há uma grande resposta que adquirimos nesta pesquisa...

Viemos a este mundo para “concertá-lo”, e o elemento Conjuração é a raiz de todos os problemas.

Inicialmente, acreditávamos que se matássemos todos os humanos que possuíssem o elemento Conjuração, então baniríamos este elemento para sempre.

Porém, o fato dele se comportar como os outros elementos e surgir aleatoriamente prova que, mesmo se eliminássemos os humanos apenas com este elemento, mais nasceriam futuramente.

Ainda é muito cedo para afirmar algo fortemente... Contudo, de acordo com nossas descobertas... A única maneira de banir este elemento totalmente desse mundo...

— “Seria aniquilando completamente a humanidade...” — terminou o viajante.

Após aquelas palavras, fez-se um silencio amargo, e todos se encararam seriamente.

— Por acaso não há outros livros como esse por aqui? — perguntou Luna nervosa.

— Na verdade, encontrei um — disse Feng Ping. — Mas, de acordo com o que está neste livro, parece que encontramos uma explicação do porquê os anjos tentaram aniquilar a humanidade mesmo após nos ajudarem tanto...

— Sim... — concordou o viajante. — De acordo com as palavras deles, vieram aqui por causa de Kura para nos ajudar... Mas, se concluíram que a única maneira de proteger o mundo seria aniquilando a humanidade, então faria sentido que tentaram nos exterminar...

— Então eles realmente tinham boas intenções, mas isso não justifica aniquilar toda a humanidade! — disse Luna em tom de desaprovação. — É... muito extremo!

— Bem, a humanidade é apenas uma das raças que habita este mundo... — disse o Pilar do Vento. — Querendo ou não, se nossa extinção salvasse todo o resto, então seria... válido.

— Mas é muito extremo! Quantos inocentes morreriam pelo simples motivo de existirem? — insistiu a princesa. — E por que apenas os humanos possuem o elemento Conjuração se foram criadas por Kura também?

— Qualquer pergunta relacionada a nossa criação creio que apenas Kura sabe a resposta... ou o Semi-Deus que Feykron comentou sobre — disse o viajante. — Porém, deveríamos deixar isso de lado e ver este outro livro.

Todos concordaram em silêncio e Feng Ping ofereceu o item a Sariel.

Porém, Luna segurou o braço do viajante antes que pudesse pegá-lo.

— Eu... quero ler esse... — disse com a voz baixa.

— Tem certeza? — perguntou Sariel.

A princesa balançou a cabeça afirmativamente.

Apesar de temer um pouco o que leria naquele livro, sentia-se forçada por si mesma a ser útil naquele momento.

Além disso, a curiosidade de descobrir sobre os feitos da própria raça gritavam em sua mente.

— Certo... — Feng Ping entregou o livro para Luna.

Abrindo-o com hesitação, a princesa leu o título e começou a recitar o conteúdo dele.

— “Relatório sobre humanos sem alma”.


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