O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 84: Cem Faces

Sariel, Feng Ping e Aegreon avançaram contra o portal, lançando inúmeras magias durante o caminho.

Cada vento e raio castigava os anéis do portal na tentativa de quebrá-lo, contudo, quando eram atingidos, uma luz roxa brilhava e bloqueava todo o dano.

— Há pedras de Proteção no portal! — disse o Pilar do Vento enquanto matava os últimos devotos, restando apenas as infinitas criaturas bizarras.

— Só alguns raios não serão o suficiente — disse Aegreon.

— Eu já esperava por isso... — disse Sariel calmamente. — Terei de preparar algo maior. Feng Ping, eu foco no anel de cima e você no de baixo. Aegreon, nos consiga tempo.

Erguendo a glaive novamente até o céu, milhares de raios começaram a se reunir na sua arma, produzindo uma luz cegante, trovões que fariam a terra tremer, e uma energia colossal que, em breve, reduziria aquela montanha a pó.

Feng Ping fez o mesmo, com os poderosos ventos girando furiosamente ao redor de sua lança e produzindo um brilho branco que competia com os raios violetas do viajante.

Hmph ­— murmurou o Pilar da Conjuração.

Aegreon avançou ainda mais, cortando, esmagando e desintegrando qualquer criatura que indicasse ir até o viajante e o Pilar do Vento.

Apesar da quantidade, a maioria das criaturas mal podia resistir perante o Pilar da Conjuração, ceifando suas vidas sem o mínimo esforço.

— Sempre assim... — disse Feng Ping. — Focam mais na quantidade do que na qualidade...

— Estamos lidando com Nergal, pode surgir algo perigoso aqui — respondeu Sariel.

E, como se para provar o ponto do Pilar da Conjuração, uma criatura enorme pôde ser vista no mundo de Nergal se aproximando do portal, destruindo tudo em seu caminho.

Com cerca de 25 metros de largura e 100 de altura, uma criatura com centenas de braços e cabeças corria enfurecidamente em direção ao portal. Parecia uma fusão de inúmeros pessoas, como se fossem costuradas em um único corpo.

Apesar de possuir vários membros de tamanho humano — que pareciam pequenos devido sua altura — tinha duas grossas pernas e três pares de robustos braços, cuja grossura era proporcional ao seu corpo.

Cada cabeça parecia se expressar de maneira diferente, e todas murmuravam com dor, sofrendo com sua própria existência.

Sua pele variava da mais pálida cor para a mais escura, cada braço segurava uma arma diferente e emitindo todos os seis tipos de elementos de combate.

Aquela bestialidade era de longe a mais perigosa que poderia passar por aquele portal.

— Vocês dois, destruam esse portal logo! — urgiu Aegreon.

— Não posso apressar isso! — respondeu o viajante. — Não deixe que aquilo passe.

— Maldição...

O Pilar da Conjuração lançou inúmeras chamas roxas portal adentro, que atravessaram o limiar entre os dois mundos e atingiram a monstruosidade que se aproximava.

Porém, seu avanço não parou, nem mesmo desacelerou.

Na verdade, os golpes fizeram-na avançar ainda mais desenfreadamente.

Conforme corria, sua figura se tornou ainda maior, e Aegreon tentava pará-lo da melhor maneira.

Entretanto, era inútil.

Ignorando tudo e todos, a criatura atravessou o portal e adentrou Vilon.

Seu corpo era um pouco maior do que o diâmetro do portal, portanto, quando o atravessou, partes de seu corpo foram arrancadas e permaneceram no mundo de Nergal.

No momento que pisou no chão, um forte tremor abalou a montanha.

Então todas as cabeças ao mesmo tempo gritaram com suas milhares de vozes.

O som produzido por ela era atordoante e confuso, já que cada voz era de um tom diferente, produzindo um ruído bizarro que era agudo e grave ao mesmo tempo.

Assim que percebeu Aegreon diante de si, o atacou com seus vários braços e lançando várias magias.

 

***

 

Luna e Raymond observavam tudo de dentro da barreira — que havia se expandido para várias dezenas de metros — quando Shiina apareceu com um homem desmaiado nos ombros e com as orelhas faltando.

No momento que percebeu Suzuki, Yuri correu até a assassina.

— Ele es-está bem? — perguntou preocupada.

— Ele está vivo — respondeu Shiina. — Mas longe de estar bem.

Ao ouvir aquilo, a expressão de Yuri se tornou levemente aliviada.

— Por que ele está vivo? — perguntou Raymond ainda abraçado com Luna. — Não é um dos devotos de Nergal?

— Sariel quis deixá-lo vivo por algum motivo — respondeu a assassina. — Aliás, ele disse para descermos a montanha.

— Certo. — Raymond olhou para todos as pessoas que foram salvas, totalizando algumas centenas delas que choravam, se abraçavam e tremiam de medo.

O guarda-costas encarou nos olhos da princesa, que ainda se sentia culpada, e perguntou com um tom preocupado: — Luna, tudo bem se eu a soltar agora?

A princesa o encarou com tristeza e concordou com a cabeça.

Raymond desfez seu abraço devagar, como se lutasse contra a vontade de acalmá-la, e se virou para todos.

— Precisaremos descer a montanha agora! — disse com autoridade e potência. — Não se preocupem, não permitirei que nenhum de vocês se machuquem!

Apesar de inseguras, as palavras encorajadoras e fortes do guarda-costas convenceram todos a se levantarem e caminharem montanha abaixo.

Conforme caminhavam, Luna se aproximou de Raymond e segurou suavemente sua roupa.

— Posso... segurar sua mão? — perguntou com o olhar baixo e triste.

Surpreso com o pedido, mas logo entendendo o motivo dele, o guarda-costas ofereceu sua mão.

— Sabe que não precisa pedir minha permissão para isso — disse carinhosamente. — Somos amigos afinal.

Ao ouvir aquilo, Luna ergueu levemente o rosto o suficiente para apenas ver um pouco de seu olhar, que possuía um misto de surpresa e melancolia.

Hesitantemente, a princesa aproximou sua mão de Raymond e ambos as uniram, caminhando devagar montanha abaixo conforme a batalha era deixado a Sariel, Aegreon e Feng Ping.

Fez-se um silêncio que incomodou o guarda-costas, desejando dizer algo mais para animar Luna.

— Sabe, neste ponto você já é um pouco mais forte do que eu... mas sempre estarei contigo para auxiliá-la e protegê-la, portanto, sempre que precisar de ajuda, conte comigo — disse com determinação e empatia.

— Obrigada... Raymond — agradeceu Luna baixinho. — Jamais poderei retribuir tudo que fez por mim...

— Não se preocupe com isso — respondeu o guarda-costas conforme tentava esboçar um sorriso encorajador. — Apenas saber que está bem e em segurança já é o suficiente.

Aquelas palavras abalaram a princesa profundamente e, mesmo que fosse um pouco, sentiu-se feliz por ter uma pessoa tão cuidadosa quanto Raymond ao seu lado.

— Amigos, huh? — perguntou Shiina se aproximando. — Raymond se parece mais com um irmão superprotetor do que um amigo.

— Bem... Tem razão — concordou Luna. — Se Geoffrey era meu pai, então Sophia era minha mãe... e você meu irmão...zão...

Ao ouvir aquelas palavras, Raymond esboçou um pequeno sorriso.

Apesar do estado mental da princesa ainda estar ruim, aquela comparação o fez se sentir aliviado, já que estava ocupando seus pensamentos com sua família.

Raymond estava prestes a dizer algo, porém um forte tremor seguido de um grito estrondoso alarmou todos.

— O que foi isso? — perguntavam os aldeões preocupados.

— Vamos todos morrer!

— Acalmem-se, por favor! — disse Shiina ao mesmo tempo que usava magia de Ilusão para auxiliar na sua tentativa de persuasão. — Há três Pilares lá em cima! Suas vidas estão protegidas agora!

Graças a essas palavras, a maioria das pessoas se acalmou o suficiente para não causarem um tumulto, apesar de ainda estarem nervosas.

Raymond guiou todos lentamente para a base em segurança, conforme inúmeros tremores e gritos podiam ser escutados do alto da montanha.

Enquanto isso, Feng Ping e Sariel ainda preparavam sua magia e Aegreon lidava sozinha com a criatura.

Pelo portal, era possível ver outras criaturas semelhantes àquela com inúmeros braços e cabeças se aproximando.

Lidar com várias criaturas, aquele monstro colossal, e ainda proteger Sariel e Feng Ping era demais para uma pessoa só, mas não deveria ser para um Pilar como Aegreon.

O Pilar da Conjuração lutava e observava a situação, como se planejasse algo, mas hesitasse.

Encarou a criatura enorme, em seguida ao portal.

Se não usasse sua força verdadeira, não conseguiria segurar aqueles monstros, e o portal continuaria aberto por mais tempo, oferecendo um risco gravíssimo.

Aegreon olhou para os próprios braços — sua pele queimada e em carne viva —, ignorando o punho enorme da criatura coberto pelos elementos Fogo, Gelo, Vento, Raio e Natureza que se aproximava.

Fechou os olhos, preparando-se para a dor que sentiria a seguir.

Quando o punho da criatura estava prestes a atingi-lo, uma súbita explosão de chamas roxas a arremessou para longe.

No momento que sua pele tocou aquele fogo maldito, todas as faces da criatura se contorceram de dor e soltaram em uníssono um urro de terrível em agonia.

A temperatura subiu drasticamente, fazendo a neve derreter e transformando a nevasca em uma chuva torrencial.

Todas as criaturas se viraram para a origem daquelas chamas e se encolheram de medo, reconhecendo o horrífico poder e perigo delas.

As chamas se espalhavam por todo lado como se buscassem consumir tudo. Sua força não era enfraquecida pela água, pelo contrário, os pingos evaporavam quando chegavam próximo o suficiente dela.

No meio destas chamas escuras estava uma pessoa.

Ou melhor, estava uma entidade.

Com os olhos brilhando em uma cor roxa escura sinistra, uma foice negra com caveiras flamejantes queimando, suas roupas ardendo e sua própria pele queimando e se ferindo cada vez mais, o que controlava aquelas chamas não possuía uma expressão de dor.

Na verdade, sua respiração ofegante, seu olhar fixo e a expressão que exibia revelava outra emoção.

Raiva.

Aquilo não era um humano.

Aquilo... era a morte!


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