O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 82: Sangue Inocente

Kromun, ainda de dentro da barreira, se preparou para lançar magias contra o trio, sem se importar com seus “companheiros” enlouquecidos.

Ferir aqueles que faziam parte do próprio grupo não era absurdo ou surpreendente aos devotos de Nergal, afinal, não tinham noção nenhuma do que faziam.

Contudo, nem mesmo Kromun esperava o que aconteceu a seguir.

No intervalo de um único relâmpago, centenas de vidas humanas e bestiais foram ceifadas.

Antes mesmo que pudessem reagir, os azarados que estavam do lado de fora da barreira que protegia o local foram dizimados por três das poderosas forças elementais.

Um vento capaz de cortar qualquer material, um fogo corrupto que queima a própria alma, e o relâmpago que castiga a terra em poucos milésimos de segundos.

A montanha teve sua altura reduzida drasticamente em várias dezenas de metros, e suas cinco garras apontadas para o céu se quebraram, tornando-a menos intimidadora.

É claro, apesar de tamanho poder, o trio era extremamente habilidoso com suas magias, e atingiram apenas os inimigos, poupando a vida dos prisioneiros que se encontravam no meio dessa confusão e corriam até onde os outros estavam.

E com inimigos, isso inclui os moradores das Montanhas Prateadas e Bàishui que entregaram suas almas a Nergal.

Sariel, Feng Ping e Aegreon faziam aquilo todos com pesar e desejando o contrário. Sabiam muito bem que haviam sido enganados, torturados e forçados até chegarem naquele ponto.

Porém, por mais que estivessem assassinando pessoas inocentes, tinham de fazê-lo para proteger aquelas que ainda podiam ser salvas.

Era difícil, mas, após tantas batalhas, os três haviam se acostumado parcialmente com aquilo.

Afinal, a única salvação que restava a aquelas pessoas era a morte.

Conseguiram pegar a Seita desprevenida, obtendo uma brecha para destruir a barreira. Contudo, ainda havia muitas criaturas vindo do portal e dos arredores da montanha, e em breve a brecha seria perdida.

— O quê?! — surpreenderam-se os devotos que estavam protegidos pela barreira. — Não hesitaram nem em matar os pri...

Antes que pudesse terminar, uma espada de Raio o degolou.

— Ótimo! Isso é perfeito! — gritou Kromun conforme dançava de alegria e matava os devotos de Elgor. — São tão loucos quanto eu! Matando inocentes! HAHAHA!

— Sariel, agora! — gritou Feng Ping. — Vamos ganhar tempo para que destrua a barreira.

— Certo!

O viajante ergueu sua glaive e inúmeros relâmpagos começaram a se concentrar nela.

Enquanto isso, Luna, Raymond e Shiina lutavam para proteger os sobreviventes.

O guarda-costas, por estar praticando magia de Proteção ultimamente, foi quem criou uma barreira dourada — de cerca de 10 metros de diâmetro — para proteger os resgatados.

Luna percebeu que, curiosamente, os civis que corriam até a barreira conseguiam atravessá-la, mas as criaturas eram barradas por ela.

— Como faz isso, Raymond? — perguntou do lado de fora da barreira, lutando contra qualquer criatura que se aproximasse das pessoas.

— Sariel não te contou? — perguntou o guarda-costas. — Você pode definir quem pode atravessar ou não a barreira.

— Entendo — respondeu. — Parece bem... cuidado!

Uma mulher corria em sua direção, quando uma criatura com o corpo de um lobo de gelo e uma cabeça de peixe espada elétrico tentou perfurá-la.

A princesa saltou e, com apenas sua força física, esmagou o que julgava ser o crânio da criatura.

— Obrigada! — agradeceu a mulher ao mesmo tempo que se levantava e corria para dentro da barreira.

Luna continuou lutando e protegendo o maior número de pessoas que conseguia, quando um homem — que parecia ser um dos reféns — correu até sua direção.

— A barreira vai protegê-lo, vá até lá, por favor! — disse a princesa.

Contudo, o homem continuou a correr em sua direção e tentou agarrá-la.

— QUEIMA, QUEIMA, QUEIMA! — gritou enlouquecidamente.

Luna, com seus reflexos rápidos, segurou ambas as mãos do homem e tentou acalmá-lo.

— Acalme-se, por favor! — disse. — Estou aqui para ajudá-lo!

— QUEIMA! — Chamas roxas começaram a surgir dos braços do homem, queimando e causando uma dor terrível para a princesa.

— Me escute! — gritou Luna, acreditando que ainda era possível conversar com aquela pessoa. — Não sei o que fizeram, mas sou sua amiga!

— Luna, conversar com ele não adianta! — gritou Raymond. — Nocauteie ele antes que se machuque.

— Mas...

— QUEIMA!

A dor da chama corrompida aumentou cada vez mais, e o corpo do homem se incendiou também, com sua pele se queimando devido ao próprio poder.

A princesa tentou pensar em uma solução que não envolvesse machucá-lo, porém, como o homem estava ferindo a si mesmo, não viu uma alternativa.

— Me desculpe! — disse conforme atingia fortemente a cabeça do homem com o punho, fazendo-o desmaiar.

Luna agarrou o homem, impedindo que caísse e batesse a cabeça mais ainda.

— SOCORRO! — gritou uma voz feminina.

Ao se virar, Luna percebeu uma mulher caída que tentava se levantar — provavelmente havia tropeçado — e uma outra mulher, vestida de maneira parecida, estava prestes a atingi-la com uma espada de Água.

Como estava distraída com outra pessoa, não percebeu que havia mais alguém em perigo.

Seu primeiro instinto foi de tentar impedir o golpe, mas não chegaria a tempo, mesmo que se colocasse na frente.

Só havia uma coisa que podia ser feita.

A princesa hesitou, e a lâmina chegou cada vez mais perto.

Era uma escolha cruel demais. Principalmente para alguém disposta a se sacrificar por um bem maior como Luna.

“Eu só... preciso acertar um lugar não-letal!”, pensou conforme lançava duas estacas de gelo, uma na perna e outra no braço que segurava a espada.

Entretanto, a mulher não parou e acertou um corte superficial, derrubando sua vítima no chão e se colocando em cima dela.

Mesmo com tais ferimentos, levantou a espada de Água para ceifar completamente a vida da mulher.

— NÃO! PARE! — gritou Luna, temendo lançar outra magia potencialmente fatal. — NÃO FAÇA ISSO!

Porém, sua voz não foi ouvida.

De fato, não havia outro caminho.

A inocente e a enlouquecida, a vida de uma delas teria de ser tirada para que a outra vivesse.

Luna estendeu a mão hesitante, pronta para lançar uma magia, mas temendo fazê-lo.

“Não posso... fazer isso...”, lamentou.

No fim, falharia em proteger a vítima.

Era o que pensou no início, mas, quase como se uma força interior tomasse conta, Luna lançou uma estaca de gelo mirando a cabeça.

A estaca voou rapidamente até a agressora, contudo, aos olhos da princesa, parecia se mover estranhamente devagar.

“Não!”, gritou internamente.

A estaca seguiu seu caminho, e estava prestes a atingir o alvo.

— Irmã! Por favor, pa...

A mulher que estava caída e prestes a ser morta pela própria irmã teve sua frase interrompida por uma estaca de gelo que atravessou o crânio dela.

O sangue dela caiu em seu rosto, e sua irmã caiu sobre ela sem vida.

Luna, ao perceber o que acabara de fazer, congelou.

Sua mente ficou em branco, e apenas um pensamento a ocupava.

“Eu... matei um inocente...”

Até o momento, foi apenas forçada a lutar contra criaturas ou devotos de Seitas, mas, dessa vez, havia tirado a vida de alguém que não merecia.

E o pior de tudo, havia matado um ente querido diante de outro.

“Não, não, não! O que eu fiz?!”, desesperou-se.

Sua respiração se tornou ofegante, e seus batimentos aceleraram.

Sua visão se tornou turva e, em um delírio, viu-se em meio a inúmeras sombras aladas negras que a agarravam.

Então, uma mão agarrou seu rosto e a forçou a olhar para ela.

Era o rosto da pessoa que acabara de matar.

— Assassina! — acusou.

— Não! Eu não fiz por querer! — desesperou-se Luna com as lágrimas quase saindo.

— Não matou por querer? Vocês anjos são todos iguais, matando-nos e criando desculpas!

— Não! — gritou conforme desabava em lágrimas. — Não...

— Como pôde... — A voz começou a dizer, quando, subitamente, todas as sombras desapareceram e Luna se encontrou encarando o céu atormentado por raios e nevasca.

Logo sentiu algo pesado em cima de seu corpo, e não tardou a perceber uma criatura semelhante a um rato branco com uma cauda de uma serpente cuspindo fogo mastigando a carne de seu estômago.

Antes que pudesse reagir, uma lâmina invisível cortou a cabeça da criatura, revelando Shiina atrás dela.

— O que diabos está fazendo? — perguntou a assassina enquanto a ajudava a se levantar. — Quer morrer?!

Luna não respondeu e procurou ao redor, buscando confirmar se a visão de ter matado um inocente foi real ou um delírio.

E, para seu azar, encontrou no mesmo lugar o cadáver com três estacas de gelo perfurando-o.

— Anda logo e se cura! — disse a assassina. — Você está san...

No meio de sua frase, Shiina percebeu a expressão atormentada e as lágrimas da princesa.

Virando-se rapidamente e vendo o cadáver, logo ligou os pontos.

— Acorda! Não é hora para isso! — disse enquanto chacoalhava Luna.

— Eu matei... um familiar na frente dela... — disse de maneira distante, quase como se não acreditasse no que acabara de fazer.

— Todos nós já fizemos isso! — gritou Shiina. — Eu, Raymond, Sariel, Feng Ping e Aegreon! Todos nós tivemos que matar quem não merecia por causa dessas malditas Seitas! Agora se recomponha e lute! Tem pessoas aqui que apenas viverão se você lutar!

Diante de tais palavras, Luna tentou conter as próprias lágrimas e chacoalhou a própria cabeça.

— Como poderei me desculpar para a irmã dela? — perguntou ainda abalada.

— Pensa nisso depois, agora foque apenas em proteger eles, mesmo que tenha que matar mais inocentes, entendeu? — perguntou Shiina. — Vou tentar lidar com os enlouquecidos para que não tenha que repetir isso, mas não garanto nada, certo?

A princesa permaneceu em silêncio por um breve momento quando, por fim, encarou a assassina com um olhar ainda abalado.

— Certo...

— Então se cura logo e anda! Suas entranhas estão quase saindo.

Shiina se afastou, tornando-se invisível e matando inúmeras criaturas.

Luna logo curou seu ferimento e, segurando sua espada com insegurança, voltou para a batalha.

Enquanto isso acontecia, Feng Ping e Aegreon faziam o possível para evitar que um inimigo interrompesse a magia de Sariel.

Dessa vez, entretanto, a magia que o viajante preparava era de poder bem menor, portanto não precisava de muito tempo.

Após alguns segundos com sua glaive condensando centenas de raios, Sariel a agarrou no centro.

No momento que sua mão tocou a arma, um poderoso brilho violeta cegou todos os presentes, com um poder capaz de destruir qualquer coisa.

Então, com um único movimento, o viajante cortou com sua glaive horizontalmente, mesmo estando a algumas dezenas de metros da barreira corrompida que protegia o portal.

Apesar disso, graças aos raios contidos na glaive, um corte limpo e devastador dividiu rochas, criaturas e qualquer coisa em um raio de algumas centenas de metros.

A barreira ruiu instantaneamente e, quase como se ainda não tivesse percebido o golpe, a montanha ruiu e desmoronou.

O golpe de Sariel havia cortado completamente o topo da montanha, transformando o pico uma espécie de arena e totalmente aberta para a nevasca.

O principal motivo do porquê a nevasca não soprava tão forte naquela região era devido a várias pedras de Gelo e Vento que formavam uma espécie de escudo, bem similar com o que o viajante fazia quando viajava e reduzia a força da neve.

Entretanto, seu golpe havia dizimado quase tudo.

Em uma situação normal, os devotos de Elgor teriam se alegrado por terem acesso a tanto poder elemental do ambiente.

Contudo, naquele caso, estar exposto à nevasca também significava estar ainda mais desprotegido perante os poderosos relâmpagos de Sariel.

E o viajante, apesar do golpe, aumentou ainda mais seu poder e suas magias.

— A tempestade está aqui — disse para si mesmo. — Eu estou aqui!


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