O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 80: Enviados do Caos

Inúmeras pessoas gritavam, pediam por socorro e choravam.

Presos em suas celas geladas, não havia nada que podiam fazer exceto esperar aqueles homens buscá-los.

Ninguém sabia exatamente o que faziam com as pessoas que eram levadas, contudo, a maioria não retornava e, se retornavam, era sem vida.

O homem que havia torturado Suzuki se aproximou de sua cela acompanhado da mulher dele, pronto para atormentá-lo mais uma vez.

Yuri estava cheia de hematomas, seu rosto estava irreconhecível e seus olhos haviam perdido o brilho.

— Cheguei! — disse com um animo nojento. — Pronto para o round 2?

Entretanto, Suzuki não o respondeu. Mantinha-se de costas para a entrada da cela e com a cabeça tocando a parede, murmurando várias frases desconexas.

— Porta... Porta — disse com a voz tremulando. — Abrir a porta... preciso abrir...

— EI! FALEI COM VOCÊ, SEU DESGRAÇADO! — O homem bateu em Yuri na tentativa de provocar Suzuki.

Porém, ele permaneceu no mesmo estado e não reagiu.

— Parece que sua mente quebrou — disse outro homem se aproximando. — Foi longe demais com eles, Beirand, muitos enlouqueceram.

O devoto bufou de descontentamento.

Grr... Assim não tem graça — disse. — Pegue logo esse fracote e vamos sacrificá-lo logo. Já temos almas o suficiente para abrir o portal.

— Pare! — gritou Yuri. — Não faça nada com...

— CALADA SUA CADELA! — gritou Beirand conforme socava com força Yuri. — Anda logo!

Sem forças para resistir, o casal foi levado juntos pelos corredores, deparando-se com inúmeros outros homens levando outras pessoas para um mesmo local.

Algumas daquelas pessoas Yuri conhecia, eram seus vizinhos, mas alguns nunca tinha visto antes.

Após alguns minutos de caminhada, sentiram o ar esfriar ainda mais, e chegaram em uma grande área aberta para o céu, mas cercada parcialmente pelas rochas da montanha.

O gelo se acumulava em uma formação peculiar no topo naquela montanha, se assemelhando a cinco garras apontando para o céu.

Um forte vento soprava do lado de fora, porém, por algum motivo, não estava tão forte naquele local.

Inúmeras criaturas de gelo e vento observavam-nos com olhos demoníacos e raivosos.

Yuri nunca tinha visto animais como aqueles antes. Alguns eram criaturas humanoides musculosas e com chifres enormes, outras se assemelhavam a animais e, por fim, havia criaturas cujos corpos eram totalmente diferentes de qualquer coisa.

Apesar das criaturas amedrontadoras, o que mais chamava a atenção eram dois grandes círculos de metal preto e com pedras roxas.

Ambos os anéis estavam um em cima do outro. eram conectados por grossas correntes pretas, e seu diâmetro era de cerca de 25 metros.

A Seita formava uma fila com os prisioneiros e pareciam fazer algum tipo de procedimento.

Um homem estava sentado ao lado de uma caixa com pedras roxas e entregava a um prisioneiro que, quando a tocava, gritava de dor e desmaiava.

No momento seguinte, um homem carregava a pessoa desmaiada enquanto outro devoto — em uma mesa ao lado da primeira — guardava a pedra em uma outra caixa.

Alguns, entretanto, não gritavam de dor nem desmaiavam e, após finalizado o procedimento, eram levados para outro local.

As pessoas estavam todas assustadas com aquilo acreditando que estavam matando-as usando aquelas pedras roxas.

Entretanto, o que estava acontecendo era muito pior.

“O que estão fazendo? E o que aconteceu com Suzuki? Parece desconectado com o que está acontecendo...”, pensou Yuri.

Apesar da humilhação e tortura que passou, apenas foi capaz de manter sua vontade e sanidade por pensar em seu marido. Ambos viveram momentos muito felizes juntos, mesmo após perderem seu filho.

Vê-lo daquela maneira quebrava seu coração, e a fazia querer tentar algo.

Porém, havia centenas de pessoas e criaturas vigiando-os, e ela era apenas uma pessoa fraca.

“Talvez eu devesse ter pegado a pedra daquele homem...”, pensou conforme se lembrava de um homem vestido igual os outros, mas com a peculiaridade de não falar frases coesas.

A fila continuou a andar conforme Yuri se lamentava por não poder fazer nada e já se via diante dos grandes anéis de metais.

Quanto mais perto chegava, mais sentia uma repulsão estranha por aquele objeto. Parecia um simples círculo de metal, contudo, seus instintos diziam que aquele item era definitivamente perigoso.

 — Ora ora, olha só quem está aqui — disse um devoto com uma voz fina e colocando o ombro por cima de Suzuki. — Se não é meu amigo Kuduro...

Yuri imediatamente reconheceu aquele homem, era o devoto que ofereceu a pedra a ela.

— O que você quer, Kromun? — perguntou Beirand com a voz cansada.

— Baband, meu amigo! — disse o devoto ao mesmo tempo que abria os braços. — Que tal uma bebida? — perguntou oferecendo uma garrafa que claramente continha um tipo de ácido, visto a maneira que o vidro derretia devagar.

— Tá querendo me matar, seu desgraçado? — irritou-se Beirand conforme uma espada de gelo roxa surgia em sua mão.

— Acalme-se, Beirand — disse um devoto se colocando entre os dois. — Sabe como ele é, sem contar que é importante para nós.

Tsc! Nunca entendi por que aceitar esse maluco — reclamou.

— Aahh... Vocês são muito chatos... A vida serve para se divertir, veja! — Ao dizer isso, Kromun abriu a garrafa e bebeu todo o ácido de uma só vez.

— O que você...

— AAAAHHH CARALHO! — gritou conforme sua boca derretia e seus órgãos internos se tornavam líquidos. — ISSO ARDE!

Kromun caiu no chão segurando a própria barriga e sangrando pela boca.

Beirand permaneceu em silêncio por um momento, perguntando-se como alguém em sã consciência — mesmo que forte o suficiente para sobreviver àquilo — seria capaz de beber ácido por vontade própria.

— Maluco do caralho... — murmurou.

Yuri observava tudo em choque e até se esqueceu de seu problema atual.

O tempo passou e a fila continuou a andar — enquanto Kromun permanecia no chão — e em breve chegaria a vez de Yuri.

Naquele ponto, toda e qualquer esperança de sobrevivência desapareceu.

“Se ao menos mestre Ping nos ajudasse... Mas ele nem usa magia mais...”, lamentou.

Contudo, no momento mais desesperador de sua vida, uma luz surgiu.

Subitamente, inúmeras estacas de gelo, lâminas de vento e relâmpagos violetas atingiram os devotos que levavam os prisioneiros até o anel.

— POR AQUI! — gritou uma voz que Yuri imediatamente reconheceu.

Ao se virar, percebeu ninguém menos que Feng Ping no fim da fila e com um grupo de pessoas lançando inúmeras magias contra os devotos.

— Destruam o portal! — gritou outra voz conhecida por ela, a voz de Sariel.

Imediatamente, inúmeras pessoas correram na direção do Pilar do Vento.

Yuri correu até sua direção, mas, no meio do caminho, percebeu que seu marido permaneceu atrás.

Não apenas Suzuki, mas outras pessoas, que pareciam desconexas também, permaneceram no mesmo lugar.

— Querido, vamos logo! — gritou enquanto agarrava o braço dele e o arrastava.

— Matem todos! — gritavam os devotos. — Protejam o portal!

Apesar do que diziam, estavam lidando com dois Pilares, além de Sariel que tinha o mesmo nível de poder de um.

O caos se instaurou, entretanto, nenhum dos reféns era ferido, pois o viajante os defendia com magia de Proteção.

Percebendo que em breve seriam derrotados, os devotos mudaram de plano.

— ATIVEM OS PORTAIS! TRAGAM A FÚRIA DE ELGOR!

Imediatamente, os devotos começaram a pegar as pedras de Conjuração para colocar nos anéis.

Yuri puxava seu marido quando, de repente, ele largou de sua pegada e correu até o portal.

— Querido, o que está fa...

No meio de sua frase, Yuri foi derrubada por outra pessoa correndo até o portal.

Olhando para cima ainda no chão, percebeu inúmeros prisioneiros correndo na mesma direção e murmurando palavras incompreensíveis.

— Porta... abrir porta...

— O quê...

Não apenas Yuri, mas tanto os devotos, quanto o grupo de Sariel estavam confusos.

— O que estão fazendo? — perguntou Luna.

— Não sei, mas cuidado com as magias, não podemos atingi-los — disse Feng Ping.

O grupo reduziu suas magias para evitar ferir os inocentes.

— HAHAHA, ÓTIMO! — gritou Kromun com a boca sangrando e correndo até o portal. — ATIVEM O PORTAL! HAHAHA!

Os prisioneiros correram até o portal e cada um tirou uma pedra de Conjuração de dentro de suas roupas.

Os devotos sorriram ao ver aquilo, apesar de estarem confusos por não saberem quando os prisioneiros trocaram suas almas.

— Parece que decidiram se ajoelhar perante o grandioso Elgor! — disse um dos devotos.

— Droga! — O grupo correu rapidamente até o portal na tentativa de impedir as pessoas.

Porém, era tarde.

Os prisioneiros colocaram as pedras no portal, e uma poderosa explosão de Conjuração derrubou todos.

Olhando para onde estava o portal, puderam ver um dos anéis no chão e brilhando intensamente em uma cor roxa escura, emitindo uma energia assustadora.

Já o segundo anel, flutuava 100 metros acima e, pela maneira como as correntes estavam esticadas, provavelmente teria subido mais.

— Destruam o portal! — gritou Feng Ping conforme lançava poderosas magias na direção dele. — Ainda não está totalmente aberto!

Todos do grupo fizeram o mesmo e lançaram magias, porém alguns dos prisioneiros se viraram e criaram um escudo roxo, bloqueando qualquer dano ao portal.

— O que estão fazendo? — perguntou Raymond enquanto lançava poderosos relâmpagos. — Por que estão protegendo o portal?

— Tem algo errado... — disse Sariel. — Elgor apenas dá elementos de combate a seus devotos, mas eles receberam o elemento Proteção.

— Quer dizer que...

— HAHAHA! O PORTAL ESTÁ PRONTO! — gritaram os devotos euforicamente.

Uma luz roxa se estendeu entre os dois anéis e os conectou, criando o formato de um cilindro.

No momento seguinte, a luz se transformou para uma paisagem, quase como uma janela.

Do lado de dentro, era possível ver um mundo totalmente destruído. Criaturas jaziam mortas no chão enquanto outras lutavam entre si. Tempestades, nevascas, tsunamis, terremotos e erupções competiam entre si em quem destruía mais o ambiente, dando àquela paisagem a mais pura imagem do... Caos...

— Espera... Esse não é o mundo do grandioso Elgor — disse um dos devotos.

— HAHAHA! — riu Kromun enlouquecidamente e com os braços abertos, como uma criança animada. — QUE O CAOS VENHA!

Ao dizer isso, inúmeras criaturas diferentes começaram a surgir de dentro do portal e se aproximaram do limiar entre ambos os mundos.

— KROMUN SEU TRAÍDOR DESGRAÇADO! — gritou Beirand segurando o enlouquecido pelas roupas. — EU SABIA QUE DEVIA TER TE MATADO!

— HAHAHA! SEU ESTÚPIDO! — riu Kromun.

— Seu... — Beirand estava prestes a matá-lo, quando Kromun o mordeu no rosto e arrancou seu olho direito, parte de seu crânio e expondo seu cérebro apenas com a força física.

— AAAAH! MALDITO! — urrou de dor Beirand.

Como se não bastasse, Kromun mastigou a carne e osso que acabara de arrancar com os dentes e engoliu.

— Ah, delicioso! — disse sorrindo e com a boca cheia de sangue. — É muito melhor cru do que cozido!

— Seu... — Beirand tentou se levantar, quando uma criatura com metade do corpo com escamas douradas e a outra metade com escamas pretas o levantou com facilidade. Era quadrúpede e com estrutura óssea semelhante de um Drake. Seu corpo possuía inúmeras feridas abertas e em carne viva, bem semelhante com Aegreon, e tinha inúmeros espinhos brancos e pretos.

— SOCORRO! ME SOLTA! — gritou Beirand ao ver a bocarra da criatura se aproximando.

Com seu braço atravessando a fronteira entre os dois mundos, levou o devoto até a boca e, com dentes do tamanho de espadas, o consumiu em uma única mordida.

— EI! Ele era meu, seu arrombado! — protestou Kromun.

Querendo mais, a criatura atravessou completamente o portal, adentrando Vilon pela primeira vez.

Inúmeras outras criaturas variadas atravessaram. Havia algumas que pareciam misturas entre animais e humanos, como cavalos com a cabeça de um torso humano.

Muitas tinham formas estranhas, como se o criador delas tivesse mudado de ideia inúmeras vezes o que queria durante o processo de sua criação, como uma criatura com corpo de jacaré, cauda de peixe, patas de elefante, cabeça de águia e dentes humanos.

Até mesmo surgiram objetos flutuantes que gemiam como aparições.

Vasos de flor, espadas, móveis, roupas e até mesmo rochas murmurantes.

Quando estes seres bizarros atravessaram o portal, olharam ao redor e fizeram seus rugidos ecoarem pelo Pico da Garra Gélida.

Os enviados da loucura chegaram, trazendo consigo a mensagem de seu criador.

Caos e destruição...


Meu pix para caso queiram me ajudar com uma doação de qualquer valor: 6126634e-9ca5-40e2-8905-95a407f2309a

Servidor do Discordhttps://discord.gg/3pU6s4tfT6



Comentários