O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 78: Mar Branco

O grupo tentou falar com vários moradores, entretanto todos reagiram da mesma maneira quando viram Feng Ping.

No momento, estavam reunidos discutindo o motivo disso.

— Por que estão agindo dessa maneira? — perguntou Raymond. — Só agem dessa maneira quando veem o senhor Ping.

— Hmm... Feng Ping nunca voltou aqui desde a guerra, certo? — perguntou Sariel. — Será que o culpam por isso? Acham que abandonou seu reino?

— Parece ser o caso... — disse Luna. — Mas não conhecem a história de mestre Ping? Como podem ser tão insensíveis?

— Eles... não estão totalmente errados — disse Feng Ping com certa dificuldade. — Eu temia voltar aqui devido ao que aconteceu... Apenas aceitei o caminho mais fácil que era desistir lutar contra meus traumas e nunca visitar minha própria terra natal...

— Não pense nisso, qualquer um teria dificuldade se estivesse no seu lugar — confortou o viajante. — Tentarei falar com um deles a sós, esperem por mim.

Após dizer isso, Sariel partiu em direção a outra casa para tentar conversar.

Enquanto isso, o grupo permaneceu longe.

Feng Ping, apesar de sua expressão permanecer neutra, estava visivelmente afetado. Como se não bastasse ter de enfrentar um passado difícil, agora tinha de lidar com a rejeição dos próprios compatriotas.

— Não pense sobre isso, senhor Ping — disse Luna gentilmente percebendo o incomodo do Pilar do Vento. — Lidar com nosso passado não é fácil...

Feng Ping esboçou um leve sorriso e disse: — Agradeço a preocupação, Luna. Infelizmente não sou tão forte como você.

— É muito gentil, mas sou a mais fraca aqui... — disse a princesa.

— Não digo força física, mas mental — disse o Pilar do Vento. — Muitas pessoas tirariam a própria vida por muito menos, e você suportou tudo.

Luna sorriu com um misto de felicidade e tristeza, parte disso por causa do elogio, e a outra por se lembrar pelo que passou em Fordurn.

O grupo esperou por algum tempo, percebendo que Sariel parecia ter alcançado êxito em conversar com um dos moradores.

Conforme aguardavam, a princesa se sentiu estranhamente observada, fazendo-a a olhar ao redor.

Não foi necessário muito para se deparar com alguns animais observando-os de longe e se aproximando cautelosamente.

Havia alguns cervos, carneiros, tigres e águias, porém, havia algo de diferente sobre eles.

Devido ao frio extremo, todos tinham pelugem e penas brancas, e seus chifres e bicos tinham uma cor azul-claro, quase como se fossem feitos de gelo.

Luna, inconscientemente se aproximou deles devagar.

— Aonde está indo? — perguntou Shiina, percebendo sua movimentação.

— Não parece que querem falar algo? — perguntou a princesa.

— Parece que estão só curiosos.

Luna continuou a se aproximar dos animais devagar e, aos poucos, ficaram pertos o suficiente para que ela pudesse tocá-los.

Imediatamente, os animais se tornaram dengosos e ofereceram o rosto para a princesa, que os acariciou cuidadosamente.

O grupo se aproximou da princesa.

— Os chifres, bicos e garras tem um pouco de elemento Gelo — disse Luna. — São capazes de usar magias?

— Alguns animais que vivem em regiões com grande concentração de magia podem nascer com um pouco de magia a mais e serem capazes de causar danos passivos — disse Feng Ping. — Mas é muito raro...

— O que eles querem? — perguntou Aegreon.

— Não sei, deixe-me perguntar — disse a princesa. — O que foi? Querem me dizer algo?

Os animais fizeram vários sons, dizendo várias coisas para Luna.

A princesa os ouviu por um bom tempo, fazendo o resto do grupo se esquecer de Sariel.

Quando finalmente pararam, Luna se virou.

— Parece que viram para onde a Seita foi... — disse.

— Como...

— Muito conveniente — disse o viajante se aproximando do grupo. — Descobri o que aconteceu aqui, mas os moradores não viram para onde a Seita foi.

Sariel se aproximou dos animais e começou a acariciar um tigre.

O animal imediatamente se levantou em duas patas e se jogou em cima do viajante — quase como se o abraçasse — e o lambeu inúmeras vezes. Se não fosse pela sua força, Sariel com certeza teria caído devido ao peso do tigre.

— Ei, calma aí! Haha! — riu. — Vai me deixar todo cheio de baba desse jeito.

— O que aconteceu aqui? — perguntou Raymond.

— A Seita passou por aqui e capturou os moradores. Os que sobraram fugiram, mas retornaram por não ter outro lugar para morar — disse o viajante. — O que eles viram?

— De acordo com eles, a Seita foi ainda mais para o norte — disse Luna.

— Mais para o norte... Será que estão indo para o Pico da Garra Gélida? — perguntou Feng Ping. — Pode pedir que expliquem melhor?

— Eles não conseguem explicar muito bem, mas podem nos guiar — disse a princesa. — Estão se oferecendo como montaria, o que acham?

— Não temos outra opção — disse Sariel ao mesmo tempo que montava no tigre. — Obrigado pela ajuda, amigo.

O viajante acariciou o animal, e ele ronronou alegremente e com os olhos fechados.

Os outros seguiram o exemplo dele e cada um montou em um animal.

Contudo, quando Aegreon se aproximou de um cervo, o animal começou a ficar nervoso e mostrar sinais de medo.

O Pilar da Conjuração parou de se aproximar e encarou o animal com um olhar conflitado.

Percebendo isso, Luna se aproximou de ambos e acalmou o animal.

— Está tudo bem, ele é um amigo — disse carinhosamente. — Ele não fará nenhum mal a você.

O cervo se acalmou um pouco.

— Pode subir — disse a princesa para Aegreon.

O Pilar da Conjuração se mostrou hesitante, encarou o animal mais uma vez e se aproximou.

O cervo ficou nervoso mais uma vez, mas, graças à Luna, permitiu que Aegreon montasse nele.

— Muito bem, levem-nos até onde aquelas pessoas foram, por favor — disse Luna.

Sob as palavras da princesa, os animais partiram e começaram a levar todos ainda mais para o norte.

 

***

 

O sol havia se posto, entretanto, mesmo que estivesse de dia, a escuridão seria ainda mais intensa do que uma simples noite.

O grupo se encontrava agora no extremo norte do mundo e avançavam até o Pico da Garra Gélida, um local tão escuro e frio que nenhum ser vivo — além de humanos, anjos ou dragões — seria capaz de sobreviver.

Todos ainda montavam os animais, que já estariam mortos — mesmo possuindo um pouco do elemento Gelo — se não fosse por Luna e Feng Ping.

A pouca luz do viajante iluminava apenas alguns metros à frente, servindo mais para que os animais não tropeçassem em algo do que para o grupo ver algo.

A nevasca era arrebatadora, mais poderosa do que qualquer outra.

— Por que este lugar é tão frio? — perguntou Luna. — Lembro de ler em um livro que este lugar é famoso.

— É uma questão de autossustentabilidade — disse Sariel. — Este lugar está no polo norte, portanto o sol tem dificuldade em aquecer essa área. Por causa disso, há uma grande tendencia em o elemento Gelo se acumular. Como a neve e as nuvens são brancas, refletem com mais facilidade o calor e a luz, o que reduz ainda mais o aquecimento aqui e fazendo o frio se acumular cada vez mais. É um ciclo difícil de quebrar.

— Não é à toa que a Seita de Elgor veio até aqui — disse Feng Ping. — Além de ser um local isolado, tem uma concentração elemental altíssima.

— Nós estamos nesse exato momento em cima do mar de Báishui, a propósito — disse Shiina.

— Suponho que encontraremos criaturas de Gelo quando chegarmos — disse Luna.

— Gelo e talvez vento.

O grupo continuou seu caminho sem ter noção nenhuma do espaço ao redor. Alteração também não ajudava muito, já que tudo o que viam ao redor eram silhuetas azuis e, devido ao vento, brancas.

Luna focava sua atenção e tentava ver — e sentir — o melhor que podia com Alteração.

Entretanto, como era de se esperar, apenas podia sentir os próprios companheiros.

Sariel, por outro lado, estava com os olhos castanhos e era capaz de ver e sentir em uma área bem maior e com mais precisão.

Todos estavam despreocupados por acreditarem que não seriam atacados, quando o viajante parou subitamente e disse: — Esperem.

Todos pararam ao mesmo tempo.

— Qual o problema? — perguntou Luna.

— Sinto uma criatura feita de Conjuração em algum lugar... mas não sei dizer exatamente onde.

Sariel se concentrou por algum tempo, tentando sentir com mais precisão a aura.

— Está se aproximando — disse. — É grande e com certo poder... Mas ainda não consigo saber onde está...

Luna focou sua atenção na tentativa de sentir a criatura, porém, como possuía pouco do elemento Alteração, conseguia detectar a aura com muita dificuldade.

— Está mais perto — disse o viajante. — E está vindo de... baixo?

No momento que disse isso, um forte tremor vindo de baixo surpreendeu a todos, fazendo-os se desequilibrarem e assustando os animais.

— De baixo?! — perguntou Raymond incrédulo. — O gelo deve ter algumas dezenas, senão centenas de metros de profundidade!

— Precisamos nos afastar! — disse Feng Ping.

Rapidamente, todos se moveram o mais rápido que podiam para longe de onde estavam.

Os tremores se tornaram cada vez mais fortes, criando uma grande fissura no gelo onde o grupo estava momentos atrás.

— Tem mais vindo! — disse Sariel. — Pelos céus também!

Os tremores se multiplicaram, e a ventania subitamente se tornou mais forte.

Os sons secos das criaturas batendo contra o gelo podiam ser ouvidos e eram apenas superados pelo som cortante do vento.

Então, com um estrondoso som, o gelo se partiu violentamente e uma grande criatura saltou para fora.

Seu corpo era comprido e esguio — semelhante a um dragão —, possuía duas patas dianteiras e traseiras com membranas — provavelmente para nadar —, tinha espinhos violetas que iam desde o rabo, indo até as costas e chegando até a cabeça com eletricidade constante formando uma crina. Suas escamas eram azul-escuro, e por baixo delas era possível ver uma luz violeta.

Uma criatura semelhante a uma baleia, mas com um enorme par de chifres azuis e brilhantes emergiu. Sua carne era parcialmente transparente e era possível ver alguns órgãos brilhando com uma luz azul meio translucida — semelhante a seus chifres — e seu corpo era dourado.

Do ar, criaturas semelhantes a serpentes voadoras apareceram. Eram tão grandes quanto às criaturas que surgiram da água, seus corpos eram largos e inflados — semelhantes a um balão — pareciam feitos de um tecido branco rasgado que flutuava no ar, e possuíam uma boca com dentes enormes e um chifre escuro.

Era difícil dizer o que era cada parte de sua estrutura, quase como se um amontoado de roupas penduradas em um varal tivesse se emaranhado e adquirido vida.

Também havia outra criatura semelhante, mas seu corpo era azul-claro.

Sariel imediatamente fez sua luz brilhar mais forte para revelar as criaturas e ajudar o resto do grupo a vê-las.

Todos, assim que se deram conta de quantos monstros haviam, imediatamente sacaram suas armas e se prepararam para a batalha.



Comentários