O Primeiro Serafim Brasileira

Autor(a): Anosk


Volume 2

Capítulo 116: O Peso de Uma Montanha

A terra tremia sob seus pés, enquanto o gigante, avançando lenta e imparavelmente, destruindo e derrubando qualquer montanha no caminho.

Não havia nada que pudesse desacelerá-lo, apenas com sua força física era capaz de causar uma catástrofe só de se mover.

Percebendo que Ymir se dirigia em sua direção, Sariel não demorou e logo ergueu sua glaive no alto, fazendo-a girar e cobrindo-a com uma energia roxa.

— Sariel, vai gastar muita magia — disse Feng Ping.

— Não temos escolha! — respondeu o viajante. — Duvido que os outros elementos vão funcionar contra um Semideus da escuridão.

Sabendo que aquilo era verdade, todos encararam o gigante e Sariel atentamente com expectativa e nervosismo.

Ymir parecia se mover mais rápido agora que precisavam de tempo, mas não havia nada que podia ser feito para acelerar aquela técnica.

O viajante estava preparando sua técnica, quando, da direção de Ymir, um ponto rubro distante se aproximou como um raio e voou na sua direção.

Por muito pouco, Aegreon conseguiu se colocar entre ambos e impedir que a magia de Sariel fosse interrompida, recebendo o dano no lugar dele.

As garras de Ubel perfuraram seu corpo, mas o Pilar da Conjuração o empurrou para longe com sua força.

— Hahaha! Acha que isso será o suficiente para derrotar Ymir? — riu o vampiro confiantemente.

— Se não fosse, por que tentou me parar tão desesperadamente? — retrucou o viajante.

— Está bem calmo para alguém que acabou de ver milhares de vidas inocentes morrendo pelo despertar do gigante de gelo! — Ubel tentou manter um tom confiante, mas era possível notar que estava inseguro devido à Conjuração de Sariel.

Uma barreira dourada surgiu ao redor do grupo, enquanto Feng Ping, Aegreon e Luna saíram de dentro para afastar o vampiro de lá.

Leif, Shiina e Raymond ficaram dentro lançando magias à distância, finalmente podendo usar mais poder agora que não estavam mais no subsolo.

Apesar da batalha ter mudado a favor de Ubel, o gigante ainda estava relativamente longe, portanto a luta estava no momento, equilibrada.

O vampiro tentava a todo custo se livrar dos três, contudo, sem a fonte de sangue, seu poder ofensivo à distância havia reduzido.

Com a glaive coberta em energia roxa e com o centro branco, Sariel viu-se diante de uma escolha.

Deveria lançá-la contra o alvo mais fácil — o gigante —, mas com risco de o golpe não ferir, ou seria melhor jogá-la contra Ubel e finalizar a luta ali mesmo?

No fim, decidiu seguir pelo caminho mais seguro.

“Tentar matar Ubel é muito arriscado... Com sua velocidade pode desviar de meu golpe... Enquanto se eu derrubar o gigante, ele não terá mais nenhum trunfo.”

Encarando o gigante que se tornava cada vez maior em sua linha de visão, mirou bem no centro de seu corpo, onde a explosão seria o suficiente para desmembrá-lo completamente.

Pisando com força no chão, arremessou sua glaive contra o gigante, viajando quilômetros em um curto espaço de tempo.

Vendo aquele rastro roxo viajar pelos céus, Ubel não pode deixar de se sentir inseguro e tentou parar o golpe.

— Não vai sair daqui! — disse Feng Ping colocando-se diante dele e bloqueando seu caminho.

— Maldição! Saia da minha frente! — gritou o vampiro temendo o pior.

Porém, não havia nada o que pudesse fazer além de assistir a glaive viajando e se aproximar do gigante, finalmente tocando-o e explodindo violentamente em um brilho roxo e com o interior branco.

Por um momento, todos os olhares se concentraram naquela esfera roxa brilhante, com grande expectativa para saber qual seria o desfecho do gigante.

Os segundos pareciam durar horas, e até mesmo Feng Ping, Aegreon e Ubel se esqueceram de lutar e observavam ansiosos a explosão.

O tempo pareceu congelar assim como aquele local quando, antes mesmo da explosão terminar, o vampiro sorriu de ponta a ponta com os olhos arregalados.

— Ha... Haha... HAHAHAHA! VOCÊS ESTÃO TODOS ACABADOS! — gritou euforicamente.

— Não é possível... — disse Sariel com a voz trêmula e encarando a explosão, com Ymir saindo de dentro completamente ileso.

O único dano causado foi por sua glaive que permaneceu cravada no osso do gigante, mas logo caiu após ele dar alguns passos.

As esperanças de todos foram completamente esmagadas, reduzidas a pó pelo simples caminhar de Ymir.

Ubel, agora sabendo que o gigante era imparável, voou até Ymir e sumiu em meio de seus ossos.

O gigante se aproximou cada vez mais, enquanto o grupo o encarava sem saber o que fazer a seguir.

— Sa-Sariel, o que devemos fazer? — perguntou Raymond nervosamente.

— Eu... Não sei... — respondeu o viajante com o folego vacilando.

— Ele definitivamente está atrás de nos matar — disse Shiina. — E se... fugirmos?

— Se fizermos isso, incontáveis pessoas morrerão! — discordou Feng Ping. — Além disso, e se ele decidir usar Ymir para destruir a Árvore do Mundo?

— Não podemos fugir, temos que encontrar alguma maneira de lidar com isso... Mas como? — perguntou Luna.

O grupo permaneceu no mesmo lugar, discutindo conforme a figura do gigante se tornava quase próxima o suficiente para que conseguisse atacá-los.

— Só há uma maneira —disse Aegreon. — Matar Ubel.

— Ele não vai sair de dentro do gigante — disse Leif. — E não temos nada que pode feri-lo.

— Há algo que posso tentar... — disse o viajante com insegurança. — Posso tentar selá-lo, isso talvez quebre o controle dele sobre o gigante...

— Nem pensar, isso é arriscado demais! — protestou Luna. — Ele está atrás de você, lembra?

— Ou é isso, ou fugir e abandonar Yggdrasil à própria sorte... — Após o viajante dizer isso, todos ficaram em silêncio e concordaram com ele.

— Bem, todos devemos proteger e dar apoio a Sariel — disse Feng Ping. — Fiquem atentos com Ubel.

Os olhos do viajante começaram a mudar lentamente para a cor prateada, e todo o grupo correu contra o gigante, ignorando completamente a destruição que causava.

Raymond foi o único que permaneceu atrás cuidando dos cavalos com uma barreira ao redor protegendo-os.

Um deles, entretanto, parecia querer sair de dentro da barreira e avançar contra Ymir.

— Acalme-se, está a salvo aqui. — Raymond tentou acalmar Sleipnir, confundido seu comportamento com nervosismo.

O cavalo de 8 patas se acalmou por um momento, mas manteve os olhos fixos no grupo.

Com o gigante perto o suficiente, cada um se dividiu, mas ainda permanecendo próximos para ajudar Sariel caso algo inesperado acontecesse.

Antes que pudessem fazer algo, Ymir atacou primeiro e, com uma velocidade surpreendentemente veloz para seu tamanho, socou na direção do viajante.

Seu golpe era tão poderoso e devastador que criou uma forte ventania, quase como se sua mera força física fosse capaz de criar catástrofes.

Sariel fora pego totalmente desprevenido pela velocidade do gigante, portanto a única coisa que poderia fazer era tentar bloquear o ataque de alguma forma.

Pisando firmemente no chão, recebeu o soco e tentou segurar Ymir.

O golpe foi mais que o suficiente para quebrar ambos os braços, mas a força física do viajante conseguiu desacelerar aos poucos o punho do gigante até pará-lo completamente.

Sariel tentou manter Ymir parado e palavras prateadas surgiu na sua pele e se espalharam na direção da monstruosidade diante de si.

Porém, a gigante não permaneceu parado e usou a outra mão para esmagar o viajante como um inseto.

O golpe afundou o solo, causou um tremor poderoso e desabou parte da montanha que estavam.

Sariel desapareceu embaixo da mão de Ymir, dezenas de metros abaixo na terra.

O grupo tentou se aproximar para libertar o viajante, mas o gigante abriu sua grande boca esquelética e soltou um poderoso feixe de energia azul, causando uma enorme explosão que terminou de desintegrar a montanha e arremessando todos para longe.

Aquele golpe feriu todos gravemente, exceto por Luna que era totalmente imune a magias de Gelo.

A princesa tentou se aproximar da mão de Ymir que continuava a pressionar o viajante com força contra o chão, mas ele usou sua mão livre para estapeá-la e arremessá-la a quilômetros de distância, batendo contra outra montanha e afundando várias dezenas de metros dentro dela.

Luna sentiu todos os seus nervos do corpo gritarem de dor, aquele golpe havia quebrado a maioria de seus ossos e sua consciência quase apagou.

A princesa imediatamente usou sua magia para se curar, mas o processo era demorado visto a quantidade de ferimentos.

Antes de estar totalmente curada, tentou sair do buraco causado pelo próprio corpo, cuspindo uma grande quantidade de sangue pelo esforço.

Enquanto isso, o resto do grupo tentou retornar aonde Sariel estava, sentindo uma urgência em salvá-lo visto o poder do gigante, mas Ymir os afastava sempre.

Foi então que a palma do gigante onde o viajante estava começou a ser levantada contra sua vontade e uma figura pode ser vista embaixo dela.

Sariel, totalmente ferido, com ossos quebrados e encharcado de sangue, erguia com suas próprias mãos a palma de Ymir, tão pesado quanto uma montanha.

Seus músculos estavam totalmente rígidos e saltados pelo tremendo esforço físico, dando-lhe uma aparência parruda que ninguém ali tinha visto antes.

Com sua respiração pesada como de um touro, reuniu todas suas forças e empurrou a mão do gigante para longe, que se desequilibrou por um breve momento.

O plano do viajante era derrubá-lo e mantê-lo imobilizado no chão, contudo, a força de Ymir era demasiada.

O gigante se recuperou e não caiu, e logo se preparou para lançar uma sequência de socos contra Sariel.

O viajante encarou aqueles punhos tão pesados quanto uma montanha se aproximarem.

Não havia nada que pudesse fazer. Apenas o primeiro golpe o deixou extremamente ferido e ainda não havia se recuperado ainda, portanto não conseguiria bloqueá-lo como fez antes.

Sua única opção era desviar.

Porém, se ficasse na defensiva não teria como selar o gigante, e era impossível saber se conseguiria desviar por sabe-se quanto tempo iria durar aquela batalha.

“Cometi um erro... Talvez teria sido melhor trocar meu elemento para Natureza e usar a Árvore do Mundo para segurá-lo...”, lamentou-se internamente.

Pela primeira vez em sua vida, Sariel congelou no mesmo lugar sem saber o que fazer.

Não havia nada que pudesse ser feito.

A batalha já estava decidida.

O tempo pareceu desacelerar por um momento, e o viajante pôde ouvir claramente seus amigos gritando seu nome desesperadamente.

“Então é assim que acaba...?”

Os punhos de Ymir se aproximavam cada vez mais, e Sariel apenas aguardava o inevitável.

Não havia uma saída daquela situação desesperadora.

Ou era isso que o viajante havia pensado.

Quando os punhos do gigante estavam prestes a atingi-lo, enormes galhos e madeira surgiram de baixo da terra e se enrolaram ao redor de todo o corpo de Ymir, segurando-o brevemente.

Percebendo aquilo, Sariel — apesar de confuso — não esperou e se afastou o mais rápido que pôde, escapando por pouco dos golpes do gigante quando ele quebrou os galhos com sua força física.

Mais galhos surgiram na tentativa de segurar Ymir, mas tudo o que conseguiam era apenas atrasá-lo um pouco.

Todos ficaram confusos com o que estava acontecendo, apesar de aliviados por Sariel ter sobrevivido.

A princesa finalmente retornou para o viajante após ter sido lançada para longe.

— Sariel, você está bem? — perguntou Luna extremamente preocupada.

— Estou melhor — respondeu o viajante conforme se curava. — Mas o que é isso?

Como se fosse para respondê-lo, um enorme dragão cujas escamas se assemelhavam a madeira surgiu de um buraco no chão causado pelo gigante e lançou várias magias contra ele.

Quando viram aquela criatura majestosa, todos se lembraram dela.

Estava bem maior do que na última vez que o viram, mas era impossível se esquecer dele.

— Feykron! — gritou Sariel esboçando um grande sorriso aliviado.

Ao ouvir aquela voz, o dragão imediatamente se virou para o viajante, voou em sua direção e pousou diante do grupo.

— Vocês... o que diabos está acontecendo aqui? — perguntou.

— É uma longa história. O que está fazendo aqui? — perguntou Luna.

— Eu... — Antes que Feykron pudesse responder, Ymir abriu sua boca e uma quantidade colossal do elemento Gelo começou a se concentrar.

— Está preparando outro golpe! — gritou Shiina.

— Obrigado por nos dizer isso, caso contrário não teria notado — respondeu Sariel em um tom irônico.

— Não é hora para ironia agora! Temos que pará-lo! — rebateu a assassina.

O viajante encarou o dragão por um breve momento, quando um sorriso surgiu em seu rosto.

— Feykron, pode me dar uma carona até aquela coisa? — perguntou.

O dragão, ao ver a tonalidade dos olhos de Sariel, imediatamente entendeu seu plano.

— Entendido. — Feykron abaixou sua cabeça e o viajante subiu em suas costas, levantando voo rapidamente na direção de Ymir.


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