Volume 2
Capítulo 114: Vampirismo
A glaive de Sariel cortou novamente na direção de Adalhard que, sentindo um estranho medo, desviou.
Feng Ping e Aegreon não demoraram e logo surgiram ao lado do viajante, focando mais em manter o lorde no mesmo local do que em de fato matá-lo.
Apesar de sua armadura e sangue serem muito efetivos contra todos os elementos, lidar com aquelas três pessoas era demais.
O Pilar do Vento e da Conjuração uniram seus poderes, com uma poderosa ventania de chamas roxas, buscando engolir completamente o lorde.
Adalhard fez o sangue da fonte jorrar para formar uma espécie de barreira, e em seguida, atacar o viajante.
— Tem medo de fogo, é? — perguntou Sariel com um sorriso confiante. — Então o que acha disso? — Em seguida, todo seu corpo se cobriu em chamas roxas claras na direção de seu inimigo.
Diferente das chamas de Aegreon, que quanto mais poder usava mais escura se tornava, a do viajante se tornava mais branca, como um fogo intangível.
Antes mesmo daquela chama tocá-lo, a armadura de sangue de Adalhard começou a ferver, borbulhar e evaporar.
Sentindo o perigo, tentou desviar para a direita, sendo surpreendido por um corte roxo mirando seu pescoço.
Por mais que fosse um simples golpe, a aparência dele parecia que a própria realidade estivesse sendo distorcida e rasgada.
Por muito pouco, foi capaz de desviar e ter parte de sua mandíbula cortada.
Um sentimento de perigo tomou conta de cada célula de seu corpo, fazendo-o se afastar o máximo que podia inconscientemente.
O lorde tocou o próprio rosto, sentindo uma dor estranha que jamais havia experenciado.
Sua ferida não se curava, semelhante a ferimentos causados por Conjuração, contudo havia algo de diferente sobre aquilo.
— O que é isso...? — perguntou tentando esconder seu medo com um tom intrigado. — Um Volátil usando Conjuração?
Sariel não esperou e atacou novamente, com uma energia roxa rodeando seu corpo no formato de esfera que mudava constantemente, um momento era como eletricidade, no outro parecia fogo ou vento, e em um certo momento era algo totalmente indescritível.
Não era possível ver nada dentro dessa esfera além do viajante e essa energia estranha.
Todos — sem exceção — não podiam deixar de ficar surpresos e olhar para Sariel. Seu poder, apesar de ser Conjuração, era como algo próprio, e não uma mistura de dois elementos como era o caso.
A única coisa que a Conjuração fazia por si só era trazer criaturas de outro mundo e “reanimar” os mortos, mas para todos os outros casos se mesclava com algum outro dos 11 elementos, como as chamas de Aegreon.
Contudo, aquele poder de Sariel não era algo assim, era como se fosse a mais pura forma daquele elemento.
Ver aquela figura se aproximando fez Adalhard hesitar por um breve momento.
Ninguém poderia culpá-lo, afinal, quem seria capaz de permanecer calmo naquela situação?
Entretanto, seu orgulho falou mais alto e o lorde se forçou a avançar contra o viajante.
Ao redor de Sariel, inúmeras esferas roxas com o núcleo branco surgiram e voaram contra Adalhard, criando explosões que pareciam devorar a realidade.
O lorde desviou de todos como podia, mas era impossível não ser atingido.
Sabia perfeitamente que se não matasse o viajante de forma rápida, morreria, portanto, sua única opção era um ataque suicida.
Percebendo que usar sangue para se proteger de Sariel era inútil, usou para atacar e ambos entraram em uma batalha corporal.
Apesar do poder do viajante, a velocidade de ambos estava a par, ainda mais que o lorde estava literalmente lutando por sua vida.
As garras de sangue penetravam e rasgavam a carne de Sariel, os elementos nele presente o queimavam, congelavam, cortavam e corroíam seu corpo todo, acumulando cada vez mais feridas terríveis.
Quanto ao viajante, sua magia atravessava facilmente as defesas do lorde, arruinando cada vez mais suas belas roupas, causando feridas indescritíveis e fazendo-o — assim como Sariel havia prometido — sentir o gosto do próprio sangue.
Apenas de estar dentro daquela aura esférica roxa ao redor do viajante já causava ferimentos que seriam mortais aos outros devotos, e Adalhard sentia cada vez mais como se aquela magia apagasse sua existência, como se cada parte tirada de seu corpo também levasse consigo sua alma.
Sua regeneração, tanto natural quanto mágica não surtiam efeito.
Nada podia parar aquele monstro diante de si, o lorde caiu cada vez mais ao desespero conforme sua visão se tornava cada vez mais branca.
Feng Ping e Aegreon não ousavam se aproximar, pois sabiam que aquilo seria extremamente prejudicial a eles também.
Ambos cogitaram atacar Ubel, que se mantinha parado e com a mesma expressão neutra de sempre, mas, como já tinham muito com o que lidar, decidiram cuidar dos devotos enquanto mantinham um olhar vigilante nele.
A luta entre Sariel e Adalhard seguiu da mesma maneira, com o viajante sobrepujando completamente o lorde sem dificuldade.
Eventualmente, Adalhard foi lançado para longe por uma das explosões de energia, caindo no chão e levantando-se com extrema dificuldade.
Seu corpo estava pesado, ferimentos por todo lado e cortes profundos em sua carne que pareciam corroê-lo.
Agarrando-se à última gota de orgulho que tinha, pôs-se de pé e encarou Sariel.
— Eu não posso morrer... Eu não vou morrer! — vociferou.
Numa medida final, todo o sangue e os cadáveres se reuniram ao redor do lorde, que possuía um olhar totalmente sanguinário.
O viajante, o Pilar do Vento e da Conjuração se prepararam para atacá-lo antes que fizesse algo.
Contudo, quando menos esperavam, uma mão atravessou o peito de Adalhard por trás com seu coração em mãos.
Devido ao que o lorde estava fazendo — reunindo uma quantidade enorme de magia —, ninguém percebeu Ubel se aproximando por trás dele.
Todo o sangue e ossos que protegiam o lorde se desfez e caiu no chão, enquanto ele cuspia sangue pela boca.
— Ubel... o que você... — Tentou dizer Adalhard com dificuldade.
— Sinto muito, meu pai, mas você não é forte o bastante... — disse com sua voz calma e aveludada. — Pelo bem de nossa missão, tomarei emprestado seu corpo — finalizou ao mesmo tempo que puxava sua mão com o coração.
— Ubel... — O lorde teria caído no chão, contudo seu filho o abraçou com seu braço livre, mantendo-o de pé.
Levou alguns segundos, mas Adalhard, pelas mãos do próprio filho, fora morto.
Porém, a luta estava longe de acabar.
Tudo que fora ou pertencera a algo vivo um dia começou a se concentrar ao redor de Ubel, e seu corpo começou a emitir uma aura roxa poderosa.
— Parem ele! — gritou o viajante com urgência ao mesmo tempo que lançava suas esferas brilhantes contra o oponente.
Todo o resto do grupo ignorou os outros devotos e lançaram inúmeras magias contra Ubel.
Entretanto, com tanto sangue, ossos e carne bloqueando o caminho, apenas as magias de Sariel eram capazes de atingi-lo, e de maneira superficial ainda.
No momento seguinte, o corpo de Adalhard começou a se contorcer de uma maneira impossível para o ser humano.
Seu esqueleto fora arrancado de dentro da carne, seu sangue fora sugado para dentro da pele de Ubel, e seus membros se desmontaram como se fossem peças de um quebra-cabeça.
O peito de Ubel começou a se rasgar e se abriu, mostrando seus pulmões e seu próprio coração batendo.
Em seguida, colocou o coração do próprio pai dentro de si, que usou as veias dele para conectar com o resto de seu corpo e começar a bater novamente.
Os braços de Adalhard se conectaram nas costas de Ubel, abaixo de suas escápulas.
A pele do lorde fora esfolada, revelando seus músculos, e se uniu ao segundo par de braços de seu filho, formando uma espécie de asa feita de pele humana.
Os olhos foram arrancados e se alojaram acima dos de Ubel, como se apenas um par não fosse o suficiente.
Ainda com o tórax aberto, os órgãos do pai foram alojados dentro de seu filho.
Com o crânio, espinha, músculos e as duas pernas, Ubel aumentou o tamanho de seu corpo em duas vezes, transformando-o em uma monstruosidade de 4 metros de altura.
Suas mãos humanas se transformaram em garras afiadas, assim como seus dentes que adquiriram um formato semelhante às presas de uma cobra.
Seu corpo todo era extremamente forte e musculoso, mais do que qualquer humano possivelmente teria.
Todos — até os devotos restantes — entraram em choque quando viram aquilo. Se as criaturas que conjurassem tomassem uma forma humana, então aquela era a mais perfeita representação de um demônio.
Ubel encarou todos com seus quatro olhos escarlates, sorriu e, como se não bastasse sua aparência diabólica, bateu suas “asas” e voou, encarando todos de cima.
A maneira como a pele que outrora pertencia a Adalhard se movia era bizarra e desconfortável de se olhar, fazendo alguns devotos vomitarem de nojo.
— Vampiro... — sussurrou Sariel, lembrando-se de devotos que transplantavam partes de outros humanos com Reanimação para se tornarem mais fortes.
Ubel permaneceu no ar por um breve momento, quando encarou Sariel, Feng Ping e Aegreon friamente.
— Seu tempo acabou, “heróis”... — disse em um tom majestoso e desdenhoso.
Sem esperar um único segundo, voou como um relâmpago até o viajante com seu olhar sanguinário.
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